segunda-feira, julho 30, 2007

REVERENDISSIMO SENHOR DOUTOR

Carta XI

« Viva Jesus !
Balasar, 21 de Janeiro de 1934
Reverendíssimo Senhor Doutor :
Tomei a pena na mão para escrever a Vossa Reverência, eram nove horas da noite, mas as lágrimas quase que me cegavam, que mal via para seguir direito, mas tinha razão de sobra para assim fazer, porque se acabaram quase todas as minhas esperanças de Vossa Reverência aqui voltar dar-me alguma consolação espiritual. Ai de mim ! Só Nosso Senhor sabe como eu esperava esse dia feliz ! Tornará o meu bom Jesus a conceder-me esta tão grande graça ? Não Lha mereço ; mas Nosso Senhor que tudo conhece e sabe bem todos os meus desejos, há-de ter misericórdia de mim.
Senhor Doutor, no dia 8 do corrente tive aqui a visita da Candidinha Almeida juntamente com um Senhor Padre que, por algumas palavras, entendi que Vossa Reverência me tinha recomendado a ele. Mais uma vez lhe agradeço a caridade que teve para comigo. Ele consumiu-se para que eu ficasse bem e perguntava-me se eu ficava contente, e eu dizia-lhe que sim. Nem mentia, nem falava verdade : ficava contente porque não tem comparação com o nosso, mas ficava muito triste porque de Vossa Reverência para ele tem uma distância que nem posso comparar. E mais motivos tinha para me causar tristeza, mas fica para lhe dizer, se tiver a alegria de o ver outra vez ao pé de mim, pobre pecadora. Ou Vossa Reverência vai esquecer-me de todo, não voltando a visitar-me e a escrever-me ? Oh ! peço-lhe, por amor de Jesus e de Maria, que isso não pense, porque para mim seria como tirar-me a luz dos meus olhos, o tirar-me a luz da alma. Oh ! como eu preciso de quem me auxilie na santificação, para assim no Céu poder viver mais junto de Nosso Senhor !
Senhor Doutor, já lá vai um mês sem que eu tenha tido umas palavrinhas de Vossa Reverência para meu conforto. Bem sei que tem muito trabalho e muito em que pensar, mas já acho uma demora grande. Será por estar melindrado comigo ? Se assim for, peço que me perdoe, que não fiz nada com o fim de o ofender.
Então como passou o dia de anos ? Eu há meses que tinha este papel para lhe escrever no dito dia 16, juntamente com este santinho que tinha mandado comprar para este fim, a final não escrevi porque estava tão triste e tão desanimada, que não me senti com coragem de escrever. À vista lhe contarei quanto tenho sofrido nestes tristes dias, mas não o esqueci de um modo especial, assim como a minha irmã e a minha mãe. Elas se recomendam muito.
Adeus, até não sei quando.
Peço desculpa por ir muito mal escrita, mas nem sei, nem posso melhor. De saúde continuo na mesma : dias pior, dias melhor, mas sempre fraquinha. Peço para pedir muito a Jesus por mim e também para me abençoar com uma benção muito grande.
Esta que não o esquece em minhas pobres orações.
Alexandrina Maria da Costa ».

* * * * *
Nesta carta, como na precedente, Alexandrina volta a chamar ao seu Director espiritual “Reverendíssimo Senhor Doutor”, “título” que talvez não seja muito do agrado do bom sacerdote, visto que aqui mesmo termina essa “apelação” pomposa e contrária ao espírito humilde do Jesuíta.
Alexandrina sente a partida do seu Paizinho e, o seu coração está triste por causa desta separação ; tem mesmo dificuldades em escrever, por que chora :
“Tomei a pena na mão para escrever a Vossa Reverência, eram nove horas da noite, mas as lágrimas quase que me cegavam, que mal via para seguir direito”.
Apenas cinco meses separavam esta data daquela em que o Padre Mariano Pinho tinha assumido o encargo de dirigir a alma da Alexandrina, mas os seus modos calmos, o seu falar meigo, mas sem pieguices, a persuasão natural ao falar das coisas de Deus e os seus conhecimentos teológicos postos à medida das almas simples, tinham de tal maneira penetrado a alma da “Doentinha de Balasar” que ver-se privada de tão precioso Cireneu, lhe causou uma pena muito grande, sobretudo sabendo que agora seria muito mais difícil encontrarem-se de outra maneira que por intermédio de cartas, por isso ela pensa que “tinha razão de sobra para assim fazer, porque se acabaram quase todas as minhas esperanças de Vossa Reverência aqui voltar dar-me alguma consolação espiritual. Ai de mim !”.
Ela voltará a encontrá-lo em Balasar, porque o Padre Pinho será diversas outras vezes convidado a pregar tríduos na periferia daquela aldeia e virá visitar a sua dirigida. Mas isso, ela não o sabe nem o adivinha.
“Só Nosso Senhor sabe como eu esperava esse dia feliz ! Tornará o meu bom Jesus a conceder-me esta tão grande graça ?”
A sua humildade vem de novo à tona e hei-la conformada com a vontade do Senhor, reconhecendo no entanto que não merece tal dádiva.
“Não Lha mereço ; mas Nosso Senhor que tudo conhece e sabe bem todos os meus desejos, há-de ter misericórdia de mim”.
De vez em quando a “Doentinha de Balasar” recebe visitas, não só dos conhecidos e amigos da aldeia ou aldeias vizinhas, mas também pessoas que tendo ouvida falar dela desejam encontra-la e conversar das coisas de Deus.
Aqui tratam-se de pessoas que conhecem o Padre Pinho, como se pode verificar pelas palavras que a Alexandrina escreve :
“Senhor Doutor, no dia 8 do corrente tive aqui a visita da Candidinha Almeida juntamente com um Senhor Padre que, por algumas palavras, entendi que Vossa Reverência me tinha recomendado a ele”.
Não sabemos qual tenha sido este sacerdote, porque a Alexandrina não o nomeia, mas o que certo é que “ele consumiu-se” para que ela ficasse bem e perguntava-lhe se ela ficava contente, e ela dizia-lhe que sim.
Mas este dizer que sim tem explicação : “Nem mentia, nem falava verdade : ficava contente porque não tem comparação com o nosso, mas ficava muito triste porque de Vossa Reverência para ele tem uma distância que nem posso comparar”.
No entanto a lembrança de lá o enviar a visitar a sua dirigida não fica sem agradecimento. A Alexandrina escreve : “Mais uma vez lhe agradeço a caridade que teve para comigo”. E aqui ela é verdadeiramente sincera.
Outros pormenores há que a Alexandrina não pode revelar por carta, o que muitas vezes acontecerá, mas fá-los-á de viva voz, quando voltarem a encontrar-se :
“E mais motivos tinha para me causar tristeza, mas fica para lhe dizer, se tiver a alegria de o ver outra vez ao pé de mim, pobre pecadora”.
Mas, de repente, como um relâmpago, uma dúvida dolorosa lhe atravessa o espírito e ela pergunta :
“Ou Vossa Reverência vai esquecer-me de todo, não voltando a visitar-me e a escrever-me ?”
Depois, como se se encorajasse a ela mesma ou quisesse conjurar a sorte, continua :
“Oh ! peço-lhe, por amor de Jesus e de Maria, que isso não pense, porque para mim seria como tirar-me a luz dos meus olhos, o tirar-me a luz da alma”.
Mas não pode ser, não pode ser porque precisa de ajuda, precisa “de quem a auxilie na santificação, para assim no Céu poder viver mais junto de Nosso Senhor !”
A instalação do Padre Mariano Pinho em Lisboa, a sua adaptação ao cargo que lhe fora confiado, não lhe deixavam muito tempo para escrever, sobretudo se temos em conta que a Alexandrina não é a sua única dirigida, por isso tarda em responder às missivas da “Doentinha de Balasar”. Ela queixa-se desta situação, mas compreende que ele não tenha muito tempo livre :
“Senhor Doutor, já lá vai um mês sem que eu tenha tido umas palavrinhas de Vossa Reverência para meu conforto. Bem sei que tem muito trabalho e muito em que pensar, mas já acho uma demora grande”.
Esta demora inspira-lhe também um receio, receio que em qualquer coisa o tenha ofendido e que ela agora esteja a procurar esquecê-la...
“Será por estar melindrado comigo ? Se assim for, peço que me perdoe, que não fiz nada com o fim de o ofender”.
O dia 16 de Janeiro era o dia aniversário do bom Jesuíta; Alexandrina nunca mais esquecerá esta data. O padre Pinho acabava de festejar os seus quarenta anos ; era portanto um homem relativamente novo e cheio de boa vontade e de coragem, mesmo se sujeito a pequenas enxaquecas motivadas sobretudo pelo trabalho que infatigavelmente, dia após doa levava a cabo.
“Então como passou o dia de anos ? ― pergunta a Alexandrina. Eu há meses que tinha este papel para lhe escrever no dito dia 16, juntamente com este santinho que tinha mandado comprar para este fim”.
Mas, “a final não escreveu porque estava tão triste e tão desanimada, que não se sentia com coragem de escrever”.
Muito mais tem para lhe dizer de quanto sofre não só desta separação, mas também outros sofrimentos inerentes à sua doença e bem mais... que ela voluntariamente aqui não exprime.
“À vista lhe contarei quanto tenho sofrido nestes tristes dias, mas não o esqueci de um modo especial, assim como a minha irmã e a minha mãe. Elas se recomendam muito.
Adeus, até não sei quando”.

Este adeus não termina a carta : ela ainda tem mais alguma coisa a dizer :
“Peço desculpa por ir muito mal escrita, mas nem sei, nem posso melhor”.
Quanto à saúde ela diz, um pouco desapontada : “dias pior, dias melhor, mas sempre fraquinha”.
E, desta vez, para terminar, pede, como de costume, que ele ore “muito a Jesus por ela e também para a abençoar com uma benção muito grande”.
E assina depois, como as grandes almas :
“Esta que não o esquece em minhas pobres orações.
Alexandrina Maria da Costa”.

sábado, julho 28, 2007

TU ÉS O JARDIM PERFUMADO

Primeiro sábado do mês, o dia 2 de Outubro de 1943 é sinónimo da visita de Jesus e Maria.
As primeiras palavras que Jesus dirige à Beata Alexandrina, são palavras de louvor, são títulos de glória, como muitas vezes sucede quando a visita :
“Estou a recrear no meu palácio”, diz o Senhor, o palácio humilde da alma e do coração da Alexandrina e, para que nada falte, para que tudo seja beleza, aquele palácio vai ficar “entesourado com os tesouros divinos”, porque Jesus quer lá viver, quer nele fazer a sua morada na terra. “Que belo adorno para mim, minha filha. Gozo em ti, alegro-me em ti”, continua o Senhor.
Mas aquele palácio é também jardim, “jardim perfumado” e “adornado com todas as flores”, porque o Senhor “goza por possuir o aroma de flores tão belas”. Estas flores tão belas são as virtudes da Alexandrina e, como são virtudes por excelência, exalam um perfume celeste, um perfume que inebria o coração de Jesus.
Mas a estas qualidades vão juntar-se outras, porque o Esposa quer a esposa seja não somente bela e perfumada, mas também rica, rica das riquezas celestes : “És bela, és bela, és rica, rica serás na terra e no Céu”.
“Quem chamar pelo teu nome quando estiveres no Céu, nunca o chamarão em vão”. Esta é uma das grandes promessas feitas pelo Senhor à Alexandrina. Fez-lhe muitas outras e disse-lhe mais : “Vais ser poderosa com o Todo-Poderoso”.
E na verdade ― a prova está feita ! ― o poder impetratório da Beata Alexandrina é extraordinário ; para isso bastará consultar os registos paroquiais de Balasar para ter uma pequena ideia desse poder que ela tem junto do Coração do Esposo, como aliás o confirmou Jesus, Ele mesmo : “As palavras do teu Esposo Jesus vão cumprir-se, vão cumprir-se à letra, à letra, minha amada”.
“Brilha agora a luz dos humildes, triunfam e são exaltados”. Palavras semelhantes àquelas do Magnificat, oração que a Alexandrina tantas vezes rezou.
Mas a mensagem deste dia destina-se também àqueles que colaboram com Jesus, que ajudam e defendem a “pobre Alexandrina”. Jesus começa pelo Padre Mariano Pinho, primeiro Director espiritual : “Diz ao teu Paizinho que o fogo do meu divino Coração se estende sobre ele” ― informa Jesus. Mas não é tudo, Jesus tem mais para lhe dar, para lhe comunicar : “Vou pela humanidade dele dar-lhe o poder de atrair a mim todas as almas, ansiosas por me possuírem e as que andam arredadas do meu divino Coração”.
É sabido que o valoroso Jesuíta era um homem zeloso pelas coisas de Deus e um director de almas exímio, por isso mesmo não é de admirar que Jesus assim se “ocupe” dele.
Proverá ao Senhor que os homens do nosso tempo tenham esse mesmo desejo, essa mesma vontade de ver aquele servo de Deus ser glorificado, como o foi a sua dirigida de Balasar. Efectivamente, vozes se fazem ouvir, cada vez com mais persistência para que se comece o processo de beatificação e de canonização do bom e humilde Padre Mariano Pinho.
“A minha morada divina é a morada dele ― previne Jesus ―, é a fornalha onde ele há-de habitar sempre, sempre na terra e no Céu”. E mais adiante ― é Jesus quem fala ― diz ainda : “Quando ele estender a bênção sobre os filhos meus, sou eu que os abençoo. Dou-lhe todo o poder na terra para ele abrasar os corações e as almas e converter os pecadores”. Jesus termina afirmando : “Que espere tudo de mim, assim como Eu dele tudo recebo”.
Aqui fica, para meditação de muitos, algumas das palavras que Jesus dirigiu ao bondoso Director espiritual da Beata Alexandrina.
Jesus fala depois do médico, do Dr. Manuel Augusto de Azevedo, homem íntegro e dedicado à causa da “Doentinha de Balasar” que ele sempre defendeu, mesmo nos momentos mais críticos e difíceis.
“Diz, minha filha, diz ao teu médico ― convida Jesus ―, que à sombra do manto da minha bendita Mãe e ao calor dos raios do meu divino Coração está o lar dele por Nós abençoado”.
Família numerosa e profundamente católica, a família do bom Doutor foi na verdade abençoado pelo Senhor e por Maria : daquele lar saíram vocações religiosas, porque “será o jardim cultivado por Nós”, prossegue Jesus que precisa ainda melhor o que acaba de dizer, pois afirma que “Eu e Maria seremos os jardineiros”. Com tão bons Jardineiros como não devia aquele jardim dar flores senão perfumadas e belas !
E, para terminar, esta promessa : “Se ele me for fiel, será o lar mais rico de todo o Portugal. Rico de graças, rico de amor, rico para o Céu”.
O “bom Samaritano” ― foi Jesus que assim o intitulou : ― da Beata Alexandrina foi fiel e teve mesmo a honra e o grande prazer de testemunhar sobre ela aquando do processo diocesano : foi uma das mais valiosas testemunhas da sua antiga “paciente”.
Antes da Virgem Mãe deixar à Alexandrina a demonstração do seu amor maternal e de lhe oferecer o poder divino, Jesus termina o seu colóquio por esta oferta generosa e redentora :
“Dou-te tudo o que é meu para tu tudo dares a toda a humanidade, de quem te nomeio protectora”.
Sobre a humanidade da qual se torna aqui protectora, já falámos noutro trabalho, por isso mesmo não iremos mais longe do que esta citação das palavras de Jesus [1].

* * * * *

― « “Estou a recrear no meu palácio ; palácio entesourado com os tesouros divinos. É riquíssimo o teu coração, que belo adorno para mim, minha filha. Gozo em ti, alegro-me em ti, tu és o jardim perfumado, tu és o jardim adornado com todas as flores. E eu gozo por ser Senhor de tudo isto ; eu gozo por possuir o aroma de flores tão belas. O mundo não te conhece, minha amada ? Conheço-te eu, conhece-te Jesus. És bela, és bela, és rica, rica serás na terra e no Céu. Quem chamar pelo teu nome quando estiveres no Céu, nunca o chamarão em vão. Vais ser poderosa com o Todo-Poderoso. As palavras do teu Esposo Jesus vão cumprir-se, vão cumprir-se à letra, à letra, minha amada. Os teus espinhos transformaram-se em rosas, o teu martírio num paraíso. Tudo, tudo, salvação para os pecadores, consolação para mim. Brilhou o sol, apareceu a luz. Brilha agora a luz dos humildes, triunfam e são exaltados. Minha filhinha, minha filhinha, encanto meu. Diz ao teu Paizinho que o fogo do meu divino Coração se estende sobre ele. A minha morada divina é a morada dele, é a fornalha onde ele há-de habitar sempre, sempre na terra e no Céu. Vou pela humanidade dele dar-lhe o poder de atrair a mim todas as almas, ansiosas por me possuírem e as que andam arredadas do meu divino Coração. Sou eu, Jesus, que falo sempre em seus lábios. Quando ele estender a bênção sobre os filhos meus, sou eu que os abençoo. Dou-lhe todo o poder na terra para ele abrasar os corações e as almas e converter os pecadores. Que espere tudo de mim, assim como Eu dele tudo recebo. Diz, minha filha, diz ao teu médico, que à sombra do manto da minha bendita Mãe e ao calor dos raios do meu divino Coração está o lar dele por Nós abençoado. Será o jardim cultivado por Nós; Eu e Maria seremos os jardineiros. Se ele me for fiel, será o lar mais rico de todo o Portugal. Rico de graças, rico de amor, rico para o Céu. Dou-te tudo o que é meu, meu amor, para tu tudo dares em meu nome aos que te amam, aos que te rodeiam, aos que te amparam e protegem. Dou-te tudo o que é meu para tu tudo dares a toda a humanidade, de quem te nomeio protectora”.
― Ó meu Jesus, estou envergonhada. Oh ! Como eu me sinto tão pequenina. Eu só merecia o inferno, não sou digna das vossas graças. Distribuí vós as vossas graças. Tomai as minhas mãos, manejai com elas ; aceitai todo o meu corpo, seja ele o vosso instrumento ; trabalhai, Jesus, não cesseis. As almas perdem-se, o mundo está em perigo.
― “Recebe, filhinha, as carícias do teu Jesus, da tua Mãezinha ; recebe o nosso poder. És toda nossa, és toda nossa, és filhinha, és esposa do meu Jesus. Recebe dos nossos ósculos conforto para tudo”.
Obrigada, obrigada, Mãezinha! Obrigada, obrigada, Jesus! »[2]

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[1] Afonso Rocha : Alexandrina e a Segunda Guerra Mundial ; Reims (França), Maio de 2007.
Ver igualmente no Sítio oficial :
http://alexandrinabalasar.free.fr
[2] Sentimentos da alma : 2 de Outubro – Primeiro sábado.

terça-feira, julho 24, 2007

A INTERCESSÃO DA ALEXANDRINA

Como é de notoriedade pública, a beatificação da Alexandrina foi possível graças a uma cura inexplicável, verificada sobre uma senhora que sofria de grave doença. Este milagre obtido pela intercessão potente da “Doentinha de Balasar”, não foi o único que ela obteve do Senhor : muitos outros, de certo menos notáveis aos olhos do mundo, foram obtidos ; basta para isso consultar os “Boletins de graças” publicados antes e depois da beatificação.
Esta poderosa intercessão foi notória mesmo durante a vida terrena da Beata, visto que muitos testemunhos provam que “curas” espirituais extraordinárias foram operadas junto do seu leito de dor.
Nesta carta dirigida ao seu “Paizinho” espiritual, Padre Mariano Pinho, ela explica uma dessas intervenções : uma cura espiritual obtida pela oração impetratória da Alexandrina em favor duma família sua conhecida, vivendo como ela em Balasar e que já há muito tinham abandonado a prática religiosa : já há muitos anos que não se confessavam nem comungavam...
A alegria de Beata está aqui patente, não porque se queira gloriar da dádiva obtida do Senhor, mas de constatar quanto o Senhor é bom e atende aos pedidos sinceros vindos de um coração puro e zeloso.

* * * * *

Balasar, 2 de Julho de 1934
Viva Jesus !
Senhor Padre Pinho :
Não calcula a consolação que me veio trazer a cartinha de Vossa Reverência ; recebi-a no dia de S. Pedro, mas não foi ele que ma veio trazer. Tinha passado uns dias tristes, tão tristes que nem lhe posso explicar. Mas, no meio de tanta tristeza, graças a Nosso Senhor, estava conformada com a sua Santíssima vontade.
Senhor Padre Pinho, ainda não falei há mais tempo no assunto em que hoje vou falar, porque isso tornava as cartas muito longas e isso seria abusar demais. Nosso Senhor não deixou sem recompensa as minhas lágrimas do dia 13 de Maio.

“Há tempos que eu me esforçava quanto podia para que uma família, casal e um filho, da minha aldeia se confessassem, o que já há muitos anos não faziam. Tudo o que se passou só à vista lhe poderei contar. Tinha-lhes dito que no dia em que eles se confessassem, eles comungavam na igreja e eu comungava aqui em casa, já que não podia ir à igreja. A resposta que me deram foi que vinham eles comungar aqui, ao que eu respondi que, certamente, não poderia ser. Mas continuei sempre a pedir ao meu bom Jesus e sempre que me vinham visitar falavam do caso. Até que, enfim, no dia 13 do dito mês, me vieram visitar o pai e o filho e, estando a sós com o pai, ele me deu a certeza de que se confessava e me disse coisas que me fizeram comover. Está resolvido a ser para o tríduo. Prometeram-me isso, só se o demónio se vier intrometer, mas confio em Nosso Senhor, que tudo pode."

Senhor Padre Pinho, não me admiro que Vossa Reverência. não tenha entendido o que eu lhe contava na minha última carta, porque eu não me pude explicar nem poderei por escrito. O caso é bastante complicado : só pessoalmente poderá ser explicado, tal é o seu enredo. Foi caso para me afligir muito, mas não para me deixar desassossegada sobre este assunto.
Continuam a ser muitos os meus sofrimentos, mas reconheço que não são nada em comparação com o que eu mereço. Digne-se Nosso Senhor, por sua infinita misericórdia, que eu viva até ao tríduo. Quer saber uma coisa que me consolou muito ? Foi dizer-me que já vem no dia 21 para o Norte, portanto que vem para mais perto de mim e eu já posso dizer o nosso tríduo é para o mês que vem.
Agradeço-lhe a grande caridade que fez em pedir por mim que tanto preciso ! Eu, de Vossa Reverência, nunca me esqueço em minhas pobres orações e em todos os meus sofrimentos. Muitas lembranças da minha mãe e da Deolinda; ela deixa tudo para lhe dizer para o tríduo. Fará a caridade de abençoar esta pobre doentinha.
Alexandrina Maria da Costa

segunda-feira, julho 23, 2007

O CANAL DIVINO

“Alegra-te, filha querida !”
Este curto trecho tirado do Diário da Alexandrina do dia 7 de Novembro de 1942 ― Primeiro sábado ―, ressela um grande número de informações importantes que vamos a seguir sublinhar :
― Estão realizados os projectos de Jesus ;
― Alexandrina é o “canal” divino ;
― Jesus está contente com o Padre Mariano Pinho ;
―Jesus está desgostoso com aqueles que fazem sofrer o Padre Pinho ;
― O Papa irá direito para o Céu quando morrer ;
― A guerra vai em breve acabar .
― O médico receberá provas do amor de Jesus.

* * * * *

Jesus fala à Alexandrina e diz-lhe :
― « “Alegra-te, filha amada, alegra-te, filha querida, com Jesus e a tua Mãezinha querida, alegra-te porque estão realizados os desejos de Jesus. Alegra-te porque grandes bênçãos veem para a terra culpada. Minha filha, minha filha, atractivo meu, encanto dos meus olhos. Jesus vê na sua louquinha a maior alegria do mundo. Jesus vê na sua benjamina todos os encantos do se divino Coração. Eis por que Jesus se serve dela para ser o seu canal divino. O mundo recebe pela crucificada do calvário todas as graças e o amor de Jesus. Diz, diz, minha filha, ao teu Pai espiritual, àquele escolhido por mim para tua luz, que o meu divino amor se estende sobre ele na maior abundância, que ele faz em tudo a minha divina vontade. Sim, sim, Jesus está contentíssimo com ele e desgostoso com aqueles que o fazem sofrer inocentemente. Diz, diz, minha filha, ao teu pai espiritual, àquele que escolhi para te guiar para mim, diz-lhe que diga ao Santo Padre que a promessa está feita, que ele irá direito da terra ao Céu, não vai para o Purgatório. E como prémio de cumprir a vontade divina terá toda a luz do Espírito Santo, não irá nunca contra a vontade divina, terá luz para para fazer a vontade divina durante todo o seu reinado na terra. Jesus está contentíssimo com ele ; grande prémio receberá de Jesus pela sua louquinha de amor quando ela estiver no Céu junto do seu trono. Jesus vai levar a sua amada para o Céu. Jesus vai fazer que os homens terminem a guerra. Diz, diz, minha filha, ao teu médico, não posso deixar de ter para com ele as maiores provas de amor por ter sido o amparo, o braço firme da causa divina em momentos que os homens tentaram destruir. A causa de Jesus não cai, levantar-se-á cada vez mais.
Triunfo, triunfo, amor, amor, amor. Cai sobre a louquinha de Jesus, sobre os que a rodeiam e amam e por quem ela intercede, amor, amor, amor sem fim”.
― Ó meu amado Jesus, estou confundida, humilhada e abatida. Nada mais sei dizer ; perdoai-me as minhas faltas ; digo-vos um eterno obrigada. Dai-nos a paz, alcançai-me tudo o que vos peço, meu Jesus [1]. »

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[1] Sentimentos da alma : 7 de Novembro de 1942.

quinta-feira, julho 19, 2007

“ISTO É TUDO MEU!”

Tivemos já ocasião de falarmos das visitas não desejadas do “manquinho” à Beata Alexandrina, quando lemos uma das páginas da sua Autobiografia.
O inimigo de Deus e das almas, dá aqui novas provas das suas manhas e dos seus artifícios quando quer seduzir uma alma.
O caso da Alexandrina é “bicudo” para ele, visto que, acorrentado pelo Senhor, não pode, por enquanto, aproximar-se muito dela nem lhe tocar, mas mesmo assim e, de longe, tenta quanto pode, ou quanto lhe é permitido, levá-la ao desânimo, às dúvidas sobre a fé e, porque não ao desespero.
Todos os meios são bons para ele, como abaixo veremos. Empregará até uma frase idêntica àquela antes dissera a Jesus, quando transportando-o sobre uma alta montanha e mostrando-lhe o mundo, lhe disse descaradamente : “Isto é tudo meu !”
Situa-se aqui a visão ― a primeira ― que a Beata Alexandrina teve do inferno.
A semelhança desta visão com aquela que teve do inferno Santa Francisca omana, é muito grande !


Talvez para contrabalançar esta terrível visão infernal, Jesus oferece-lhe uma visão mais agradável, mais linda, mais feliz e beatífica : Maria.

* * * * *

« Balasar, 7 de Fevereiro de 1935
Viva Jesus !
Meu P.
Já vai sendo tempo de eu dizer a Vossa Reverência como tenho passado tristes estes dias da minha vida.
Desde o dia 16 de Janeiro que Nosso Senhor não me tinha voltado a falar. Oh, como eu estava triste ! Parecia-me estar abandonada de todo. Passaram-se vinte dias sem eu receber o meu querido Jesus, tendo eu tão fortes desejos de estar sempre unidinha a Ele.
Chegaram, por fim, a primeira sexta-feira e o primeiro sábado e nesses dias dignou-se Nosso Senhor vir repousar na minha pobre alma. Empreguei todos os esforços para me preparar para bem o receber e lhe dar graças, mas foram inúteis todos os meus esforços porque só sentia frieza e nenhum fervor.
Vossa Reverência quer saber quem mais se me fazia sentir ? Era o demónio. Esse todo se consumia para me fazer companhia. É um tal enredo que não era muito para contar por escrito, mas assim fico mais sossegada da minha consciência : Na noite de 7 para 8 de Janeiro, estando eu a dormir, acordei sobressaltada, mais que uma vez, porque me parecia que à beira da minha cabeça, na travesseira se esgatanhava. Depois, de madrugada, vi atravessar umas sombras altas e pretas da porta de meu quarto para a janela. Na noite de 17 para 18, quando todos dormiam, estava eu a contas com minhas orações, figurou-se-me quase um caminho e por um lado uma barreira feia. A muita distância vi como que um portal. À entrada um vulto preto de cada lado, e ouvi dizer assim :
— Isto é tudo meu.
Passados momentos, vi, a par da minha cama, um abismo tão fundo e tamanho. Ai, o que eu vi lá dentro ! Coisas tão feias ! Não era gente o que eu via, não sei explicar o que era. O que sei dizer é que era uma multidão tamanha, tamanha e tão unida, muito mais unida do que a gente na missa campal no Congresso Nacional em Braga. Para os lados tinha umas covas tão feias ! E Oh ! que movimento eu lá vi. Do meio daquilo saíam labaredas, mas não eram como as do nosso lume. Lá, num sítio, via um montinho duns vultos pretos com umas coisas ao alto, não sei se eram paus se eram forcados. Para o outro lado, via outras sombras que me deram a impressão do quadro da morte do pecador: um a puxar para diante e outro a puxar para trás e saía do meio um rabo tão grande que formava um grande arco. E afiguarava-se-me que atravessavam por cima da minha cama as mesmas sombras pretas. Não podia rezar e não sabia as horas, mas bem as ouvia bater.
Na noite de 29 para 30 formou-se uma enorme escuridão dentro de meu quarto. Parecia-me ser uma casa muito feia onde me aparecia a um postigo uma cara muito feia também. Ouvia dizer assim :
— São os telhados da minha casa (mas eu não via telhas nenhumas). Cá por fora é feia mas lá por dentro é chique. Anda para mim, que outros que assim têm feito acham-se bem. Ama-me e deixa esse impostor a quem amas. Ele não quer que tu me ames porque chegas a ser tanto como Ele : tanto como eu, não. Eu estive hoje a ver que tinha mais almas do que Ele. Porque seria isso ? É porque valia recompensa.
Eu beijava e apertava na mão o meu crucifixo e ouvia dizer assim :
— Se não fosse esse impostor que tens na mão, punha-te um pé ao pescoço ; punha-te o corpo em mostarda. Mas isto há-de fazer Ele a ti e tu depois hás-de querer vir para mim, mas eu não te aceitarei. O que te vale é essa benzelhice. Não é porque eu tenha medo, mas odeio-o. Tenho nojo. Cospe-lhe !
Nesta ocasião aproximavam-se de mim uns grupos de vultos de cor avermelhada e ouvia dizer :
— Se eu quiser, não te deixo dormir.
Eu, no meio de tudo isto, sem ter um ministro de Nosso Senhor a quem pudesse abrir a minha consciência! Com quem eu pudesse desabafar ! E sem ter uma cartinha de Vossa Reverência par me consolar ! Como é que eu não havia de estar triste ? Chorei, mas graças ao meu querido Jesus, eram tristezas e lágrimas de grande resignação com a sua Santíssima Vontade.
Ontem tive a consolação de receber o meu querido Jesus. Eu tinha o costume de pedir a Nosso Senhor, para mandar uma multidão de anjos, querubins e serafins acompanhar o meu Jesus do sacrário até junto de mim e vir Ela com outra multidão para preparar o trono da minha alma para eu receber a Jesus e no fim dar-lhe graças por mim. Desta vez assim foi.
Depois de ter recebido Nosso Senhor, que paz eu sentia ! Estava de olhos postos e principiei a ver diante de mim tantas, tantas cabecinhas. Umas mais acima, outras mais abaixo, formando um grande arco. E mais a um lado umas coisas maiores e não sei com que estavam. Via no meio uma coisa maior mas não a divisava tão bem. À frente apresentava-se-me a figura dum trono com umas cores tão lindas e, do meio disto que eu via, saíam uns raios dourados.
Ao ver isto eu pensava que era Nossa Senhora acompanhada com os seus anjos como eu lhe tinha pedido. Pensava também se sim ou não havia de mandar dizer isto a Vossa Reverência. E disse assim : Oh ! meu Jesus, dizei-me se lhe hei-de mandar dizer ; e então disse-me Nosso Senhor :
— Diz tudo, tudo. Apresentei-te isto para veres que os teus pedidos são ouvidos no Céu. O que viste foi Nossa Senhora com os seus anjos, querubins e serafins com os seus instrumentos. Vieram preparar a tua alma e depois deram-me graças, amaram-me e louvaram-me como no Céu. Estão à roda de ti. Vieram em revoada. Eu não te abandonarei. É bem que te quero. É amor que tenho à tua alma. Tenho muito com que te beneficiar. Não te esqueças do que te tenho recomendado: os meus sacrários e os pecadores. A batalha é difícil de vencer.
E tornou-me Nosso Senhor a dizer :
— Olha!
Repetiu-se então o que já tinha visto mas já não se divisava também : sentia então todo aquele calor e aquela força que já muitas vezes tenho dito a Vossa Reverência. Mais tarde diziam-me assim :
— Não mandes dizer isto ! Condenas-te, Cais no inferno, o que vale é que ele não acredita em ti; bem sabe que o andas a enganar.
Adeus, até quinta-feira; veja, por caridade, quanto necessito das orações de Vossa Reverência e não me esqueça que eu farei o mesmo. Muitas lembranças da minha mãe, da Deolinda, e da Dª Sãozinha. Por caridade, peço que abençoe a pobre

Alexandrina M. C. »

quarta-feira, julho 18, 2007

REUNIÃO EM LISBOA

A Maria João
Pede-nos para publicarmos est informação, o que fazemos com grande prazer :

“Na próxima sexta-feira, dia 20, realiza-se uma oração de Taizé pelo Darfur , às 19h45m, na Igreja de S. Nicolau, na Baixa de Lisboa.
Participa e divulga !
Se não puderes estar presente, reza na mesma.”


Sugerimos um pensamento e uma oração pelo bom, simples e humilde irmão Roger.

domingo, julho 01, 2007

DIARIO DA ALEXANDRINA

4 de Janeiro de 1945

Como todos sabem, a Beata Alexandrina, desde 1942 até à sua morte em 13 de Outubro de 1955, por ordem do seu segundo director espiritual, o Padre Humberto Pasquale, manteve um “Diário” onde ela notava o mandava notar tudo quanto lhe ia na alma. Este “Diário” é uma “mina” inextinguível de informações. Dele tirámos a primeira parte deste documento interessantíssimo escrito a 4 de Janeiro de 1945.
Jesus e Maria tinham-lhe, no ano findo – 1944 – confiado a humanidade, que Eles encerraram e fecharam no coração da Vítima de Balasar. Alexandrina devia conservá-la no seu coração e tudo fazer e sofrer para que esta humanidade pecadora arrepie caminho...
Nesse mesmo documento, ela fala-nos igualmente das investidas de Satanás e do que este faz para lhe tirar a paz...
A segunda parte deste documento será publicada brevemente...


*****

« Jesus, quais são os miminhos que de Vós vou receber neste novo ano ? Estou cheia de medo, ou mais ainda, cheia de pavor. Venha o que vier, pelo muito que eu seja ferida, humilhada e abatida, com a Vossa graça divina a tudo direi : “Seja bem-vindo, faça-se a vontade de Jesus ; sou vítima do seu amor, vítima das almas”.
Confesso, meu Jesus, que o meu maior receio é a minha fraqueza, temo ofender-Vos. Confio em Vós ; seja firma o meu amor e subirei alegre o meu calvário. Reparai e vede, Jesus, as ânsias que tenho ; se não fosseis Vós tiravam-me a vida. Queria nascer agora, mas já Vos conhecer para nunca manchar o meu corpo. Queria que comigo nascesse o mundo inteiro e que todo ele já Vos conhecesse também para não se deixar manchar. Queria um coração novo, mas que sempre Vos tivesse amado para nunca deixar de Vos amar. O mesmo querer tenho para todas as criaturas, para assim Vos amarem com o mesmo amor que para mim desejo. Onde hei-de esconder-me e comigo esconder o mundo ? Onde hei-de purificar-me e purificar o mundo a não ser em Vós ? Escondei-me, purificai-me. Fazei-me nascer agora para a graça e para o amor e comigo nascer o mundo, mas de tal forma como se eu nem ele Vos tivesse ofendido. Não sei onde estou ; não vivo neste exílio, nem vivo no Céu. Parece-me viver entre ele e a terra. Fui para esta morada, comigo levei o mundo, morada sem luz, sem vida e sem nada. A minha alma rasga-se de dor, é indizível o que sinto em mim. Meu Deus, que derrota ! Não tenho luz e roubaram-me os guias de tão tremendos caminhos. Morro na escuridão, Jesus, morro desfalecida. Vinde, vinde com a Mãezinha, dai-me força, dai-me vida. Não posso pensar nos combates do demónio, tremo de horror. Ele arma tantas ciladas para prender-me ! Forma tantos assaltos à minha alma ! Parece-me morrer de dor. Ouço a sua voz maldita, desafiadora. E quando fica só assim ! O que mais me aflige é quando ele faz o que há de pior »[1].


[1] Alexandrina Maria da Costa : Sentimentos da alma ; 4 de Janeiro de 1945.