sexta-feira, novembro 26, 2010

QUE MELHOR CAMINHO PARA RECOMEÇAR

Reflexão:
Que melhor caminho para recomeçar, que caminhar com Jesus desde o berço, pela mão da Virgem Mãe?

Evangelho 1ºD Advento

Evangelho segundo S. Mateus 24,37-44.

«Como foi nos dias de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comia-se, bebia-se, os homens casavam e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na Arca; e não deram por nada até chegar o dilúvio, que a todos arrastou. Assim será também a vinda do Filho do Homem. Então, estarão dois homens no campo: um será levado e outro deixado; duas mulheres estarão a moer no mesmo moinho: uma será levada e outra deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais.»

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REFLEXÃO

No primeiro Domingo do Advento, a Igreja une nesta passagem do Evangelho, a Aliança de Deus com Noé, a Nova Aliança que foi a vinda de Cristo e a promessa de um tempo final em Glória para os que se mantiverem na presença de Deus. O Espírito de Deus que no princípio vagueava sobre as águas (Gn 1, 2) é o primeiro elemento da anunciação dessa função purificadora que o Espírito Santo teria sobre o Homem. Na Aliança com Noé (Gn 9, 9), o escriba sagrado diz-nos que Deus reconheceu que a natureza e o coração do homem são inclinados para o mal (Gn 8, 21) e por isso não voltaria a haver castigo sobre a Terra como o do dilúvio. O sentido escatológico da eterna luta do homem na terra para vencer no seu íntimo as guerras com o maligno estava traçado. O homem tem apetência por Deus, e a sua Alma procura a sua origem, Aquele que nela deixa a marca do Amor Trinitário. Mas o homem, na terra, é sujeito a toda a tentação do Príncipe do Mundo, e Deus sabe-o. O início das Sagradas Escrituras traça assim de modo muito claro toda a História da Humanidade: uma eterna luta de cada Homem pela Santidade, pela resistência à tentação com que aquele que não tem parte no Amor o procura desafiar. Ao longo dessa mesma História, o homem tem ao seu dispor o Amor de Deus, no seu Espírito, que nos corações que o queiram receber constrói a fortaleza inexpugnável pelas intempéries mundanas, e por isso efémeras.

 
A água é por isso o primeiro sinal da pureza do Espírito Santo, e da sua acção purificadora em que se deixa guiar por Ele. Sobre a Água vagueou o Espírito, e pelo dilúvio, na imagem inspirada ao escriba, se salvam apenas os que acreditam em Deus. A Igreja vê na Arca de Noé, uma prefiguração da Salvação pelo Baptismo. Com efeito, isso mesmo nos diz o Catecismo da Igreja Católica, baseado desde logo nas palavras de S. Pedro “um pequeno grupo, ao todo oito pessoas, foram salvas pela água” (1, Pe, 3, 20).

A água desempenha assim um papel fundamental na representação do Paráclito, Senhor que dá vida. Na sua morte na Cruz, Jesus é trespassada pela lança de um soldado, e do seu lado jorram água e sangue (Jo, 19, 34). A redenção baptismal, que liberta todo o homem do pecado, está assim intimamente associada ao sacrifício salvífico da Santa Cruz. Os baptismos que ocorrem na Vigília Pascal atestam isso mesmo: Não foi assim com o Bispo de Hipona, Santo Agostinho? O Deus Filho, Unigénito de Deus, que por acção do Espírito de Pureza de Deus seria gerado no imaculado ventre da Virgem Santíssima, Ela própria livre de todo o pecado desde sempre, encarna como homem e é morto, e nesse acto de Cordeiro de Deus, tirou de facto o Pecado de todos os homens, acto renovado quotidianamente sempre que alguém recebe o Baptismo, e nele, o Espírito Santo. Por isso, o Baptismo é a travessia do Mar Vermelho pelos judeus, libertados da Escravidão do Egipto, símbolo da Escravidão do Pecado, em direcção à Terra Prometida a Abraão, que é a imagem terrena do Reino de Deus. Também nós, pelo nosso baptismo (como professamos no Credo), caminhamos livres do pecado, e enxertados no Corpo Místico de Cristo, a Santa Igreja, à qual passamos a pertencer.

 
A beleza da simbologia purificadora da água como agente do Espírito de Deus é infelizmente ofuscada por muitos que tomam esta passagem referente à Arca de Noé, como descrédito de toda a narrativa Bíblica. E, porventura, mais triste, ainda, é tomada literalmente por aqueles que dizendo serem católicos se arrogam o direito interpretativo sobre as Sagradas Escrituras, como se o que foi escrito pelas palavras ditadas pelo Espírito Santo pudesse ser compreendido pela finita e miserável inteligência humana. Assim, advogam, muitas vezes com base nesta passagem do Evangelho de S. Mateus, um cruel fim do mundo, em que Deus se abateria sobre nós com alegada cólera pelas nossas falhas.

Seria apenas justo que assim fosse, tantas são as ofensas e os agravos que acumulamos individual e colectivamente ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Mas não é aceitável que se designe católico alguém que professando que Deus é Amor, diga em simultâneo que o mesmo Deus seria possuído de uma tal cólera e ira pelos nossos pecados que destruiria a face da Terra. A esses apocalípticos, saibamos responder que o Amor de Deus é infindo, e que não seria seguramente Deus a incorrer na quebra do Decálogo que nos deu, mediante Moisés, que se insurge claramente contra a ira, e o assassinato como pecados mortais. Deus é amor! Acreditamos na Segunda Vinda de Cristo, e no Julgamento Final das Almas, mas antes de tudo saibamos que podendo perecer daqui a pouco, importa a cada instante estar preparado para o julgamento particular de cada um após a sua morte. Não cabe ao homem especular sobre o fim do mundo, e é verdadeiramente herege tomar a Arca de Noé, prelúdio da Salvação dos Justos, como exemplo da Ira de Deus.

Contra-argumentam os evangélicos que Deus fala de um modo simples, de maneira a que os simples o entendam. Por isso Cristo falaria literalmente nesta passagem bíblica que em versículos anteriores anunciava terramotos e trevas aquando da sua segunda vinda. Tenhamos a noção que a simplicidade amada por Deus é dos humildes, dos que não têm a soberba de comer da Árvore da Sabedoria enganadora, porque essa provém da Serpente, do Maligno. A simplicidade amada por Deus é aquele recolhimento interior de Maria Santíssima, que tudo observa e medita em seu CORAÇÃO. Não é da nossa vã filosofia que vem o conhecimento da Verdade, mas também não apenas do conhecimento do alfabeto para ler as Sagradas Escrituras. A Verdade vem a nós se o Espírito da Verdade, o Espírito Santo, nos iluminar interiormente, para que possamos compreender as figurações e imagens que Cristo nosso Redentor utiliza. Ele vem a nós pela devoção aquela Filha de Maria Santíssima que foi constituída depósito da Fé: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Ao Papa, e ao colégio episcopal se em sintonia com o Papa cabe o aprofundar do entendimento das Escrituras, e cabe guardar a Verdade. Mas a Revelação, como dizia em 1984 o então ainda Cardeal Joseph Ratzinger, está encerrada com o Novo Testamento. Deus, dizia o actual Papa, pode bem manifestar-se quando e como quiser no material ao longo da História. Mas a Revelação está completa com Cristo e o último Apóstolo, pois a Eles foi enviado o Espírito Santo para que não esquecessem as palavras de Cristo, e para os continuar a ensinar. Nada pode por isso ser acrescentado ao que constitui o depósito da Fé que os sucessores de Pedro, e os episcopados sucessores apostólicos são guardiães.

Não é errado ansiar a Segunda Vinda de Cristo: isso o suplicamos no Pai-Nosso. Errado é presumir que sabemos quando isso sucederá quando o mais certo é perecermos antes, e termos que dar conta das nossas acções. Por isso, em lugar de leituras apocalípticas, esta passagem de S. Mateus deve encher-nos de esperança. A Aliança primeira, aquela que Deus estabeleceu com Noé, simbolizada na água, é a aliança da travessia do Mar Vermelho, e que foi renovada finalmente na sua forma perfeita e final na revelação do Deus que veio até nós, por Amor, e nos amou ao ponto de se dar à morte para nossa redenção na sua dor. Enterrados os nossos pecados, ressuscitou e abriu-nos as portas do Reino. Da água e do Sangue que de si jorraram, resulta a purificação que o baptismo representa nessa união íntima que tem com a morte de Jesus. Pois só pela seu sangue, como diz S. João no Livro do Apocalipse, atingem as almas dos Justos uma alvura inimaginável na Terra. A alvura do que foi lavado pelo salvífico Sangue do Agnus Dei.

Celebremos então o Advento, preparando essa festa única da vinda de Deus até nós, como o Bom Samaritano que foi ao primeiro Adão, caído pelo peso do pecado, e o curou. Lembremo-nos, que tendo provavelmente perdido a graça baptismal pela reincidência no pecado, a bondade infinita da misericórdia de Deus, que compreendeu desde cedo a inclinação errada do coração humano, ao deixar-nos o Sacramento da Confissão. Diz-nos Jesus que poucos serão os salvos. Não por uma peste colérica, mas porque todos nos apresentaremos diante de Deus. Apenas os que estiverem purificados, por aquele perdão que só o sacerdote pode transmitir, e que vem de Deus, poderão ser salvos.

A coabitação com o pecado não é aceitável a Deus. Cristo disse-nos que não tinha parte com o Príncipe deste Mundo. Saibamos por isso aproveitar esta vida pelo que ela é: passagem, caminho para outra. E para isso vivamo-la na constante graça sacramental, que nos une à Paixão de Cristo, e ao seu Amor, no Amor ao Papa e à Santa Igreja, na frequência tão assídua da Eucaristia, na oração individual, e numa vida de permanente dádiva de amor e contemplação de Deus. Tudo o resto passa. Nada de terreno segue connosco de encontro a Cristo.

O Natal dizem as televisões não será fácil para muitos. Como vivemos presos ao material. Ajudemos os que realmente precisam, mas se tivermos que ter um pouco menos, saibamos que Jesus nasceu na manjedoura. Que o Natal não seja material, mas antes tempo de renúncia e alegria, de sacrifício e amor, de vontade de União eterna a Cristo. Que melhor caminho que o do seu berçário, caminhando de mão dada com Maria?

Por Carlos Santos, Sexta-feira, 26 de Novembro de 2010

segunda-feira, outubro 11, 2010

ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA



Caros amigos ?

A partir do dia 13 de Outubro 2010, data aniversário do “nascimento ao Céu” da Beata Alexandrina, vamos começar a enviar a todos aqueles que o desejarem, os escritos dela.

Começaremos pela “Autobiografia” e em seguida os “Sentimentos da alma”, o seu Diário espiritual.

Esta “campanha” foi iniciada no Facebook e dispomos já de mais de 300 pedidos, o que nos consola, mesmo se isso nos trás trabalho suplementar. Mas trabalhar pela causa da Beata Alexandrina é um prazer tão grande que elimina todo o cansaço.

Será sempre possível, em qualquer ocasião inscrever-se, mas para que nada percam é aconselhável inscrever-se rapidamente.

Para isso, basta enviar um Mail para o endereço electrónico da Beata Alexandrina indicando apenas: “Aceito” ou “Quero receber”.

Aqui fica pois o endereço mail:

Um abraço a todos os amigos da Beata Alexandrina.

Afonso Rocha

segunda-feira, setembro 20, 2010

FILHA DA DOR, MÃE DE AMOR

NOVO LIVRO

O nosso amigo e colaborador do Site oficial da Beata Alexandrina, o Prof. José Ferreira teve a boa ideia de querer traduzir para português o excelente livro: “Filha da dor, mãe de amor”, “esboço de uma biografia da serva de Deus Alexandrina Maria da Costa, feito com excertos dos seus escritos, seleccionados pelo casal Chiaffredo e Eugénia Signorile.”

Em carta endereçada ao seu primeiro Director espiritual, o sacerdote jesuíta, Mariano Pinho, a Beata Alexandrina escrevia em 19 de Dezembro de 1939:

“Quero ser filha da dor e mãe de amor: filha da dor, para não deixar de sofrer enquanto viver sobre a Terra: mãe de amor, para amar e fazer amar sobre a Terra e no Céu. […]

Ó amor, ó amor, que tudo vences!”

O tão amado Padre Luigi Fiora, que foi postulador da causa da Beata Alexandrina e que agora está junto dela na mansão celeste, escreveu o seguinte a respeito deste livro e do seu conteúdo:

«Vibrantes e sublimes expressões de vida mística e simplicidade cativante de “infância espiritual” recolhem já em redor do nome de Alexandrina da Costa numerosíssimos devotos de todos os países do mundo. A sua mensagem é arrojada: fazermo-nos vítimas crucificadas em união com Jesus crucificado para a salvação dos homens. Mas a humildade alegre com que ela viveu a sua missão torna-a aceitável e exaltante. É uma sinfonia de amor que faz sentir a bondade de Deus para connosco e dá um sentido que eleva para Deus a nossa vida.

O segredo desta lição de Alexandrina tornou-se para nós devoto e atento objecto das reflexões dos professores Eugénia e Chiaffredo Signorile, que apresentam agora neste volume o resultado do seu estudo.

É uma obra preciosa, divida em duas partes: a primeira, uma recon¬strução biográfica feita com louvável precisão histórica, e, depois, uma sucessão de flashes, tirados dos escritos da Serva de Deus, sobre a sua espiritualidade. O enquadramento das vivências exteriores da Serva de Deus vem assim animado pela riqueza da sua vida interior e nós podemos descobrir a complexidade, a grandeza e a actualidade da sua missão.»

Ao dar aqui esta boa notícia, congratulamo-nos com todos aqueles que se interessam à causa da Beata Alexandrina e agradecemos ao Professor José Ferreira a sua excelente iniciativa, que uma vez mais prova o amor e o carinho que ele dedica à nossa querida Beata.

A introdução e os dois primeiros capítulos podem desde já ler-se aqui:

domingo, agosto 29, 2010

TESTEMUNO

No livro “Alexandrina”, do Padre Humberto Pasquale, segundo Director espiritual da Beata, podemos ler este belo testemunho do Monsenhor Mendes do Carmo:

Só conheci a Doentinha de Balasar, nos últimos três meses da sua vida, a 26 de Julho de 1955. Cheguei na tarde desse dia, acompanhado de pessoas amigas e dedicadas. Entrámos no quarto da doente a cumprimentá-la, por brevíssimos minutos apenas, pois outras visitas esperavam também.

Saio para a sala de visitas e digo para a família da doente e companheiros de viagem:

“Desejo muito estar ainda com a doentinha só, e por dois ou três minutos.”

Saem as últimas visitas, entro eu e pergunto-lhe:

— Minha filha, sofre muito?

E ela responde:

— Ai tanto, Sr. Doutor!

— E quer dizer-me qual a sua maior cruz?

— Estou no fim da minha vida, em agonias de morte, e não tenho o meu director, que tanto amparou a minha alma.

Eu perguntei-lhe:

— Ja leu a vida de Santa Margarida Maria?

— Não, não li.

— Então ouça o que lhe vou dizer: Quando ela teve as aparições do Sagrado Coração de Jesus e sofria terrível martírio, Jesus mandou-lhe como director o Padre La Colombière, hoje também nos altares. O santo director, depois de ter examinado bem tudo o que se passava, garantiu-lhe que era obra divina. Ela ficou tranquila e a superiora e irmãs aceitaram a decisão. Pouco depois, por ordem dos superiores, o santo director deixou Paray, deixou a França e foi para a Inglaterra, trabalhar na conversão dos protestantes. Margarida não chorou, não pediu que o conservassem, não mostrou desgosto, só uma ligeiríssima pena lhe passou pelo coração. Quando Jesus lhe apareceu a primeira vez, depois da partida, disse-lhe: ― Como? Não te basto Eu, que sou o teu princípio e o teu fim? ― E Margarida teve imensa pena daquela pequenina pena.

Despedi-me com estas palavras:

― Minha filha, paz e confiança. Adeus. Ore por mim que a lembrarei na Santa Missa.

Agradeceu, e partiu.

Quando depois me perguntavam que impressão tivera da Doentinha de Balasar, respondia:

— A de um anjo crucificado.

A 18 de Agosto voltei novamente a Balasar. Encontrei a doentinha ainda mais doente. Hopedei-me em sua casa durante 24 horas. Foram breves, mas muito apreciadas as conversas que o estado gravíssimo da doente permitiu. Despedi-me, dizendo-lhe que desejava voltar quando ela tivesse um pouco mais de forças.

Desígnios misteriosos da Providência: Volto a 11 de Outubro e tenho a surpresa e a graça de assitir à sua agonia, à sua morte e ao seu enterro.

Deilhe a última bênção, recebi o seu último suspiro e o seu último beijo deu-o ao meu Crucifixo.
Mons. Mendes do Carmo, in “Alexandrina” do Padre Humberto Pasquale

quarta-feira, agosto 25, 2010

DESPEDIDA DO PADRE JOSÉ GRANJA

Acabo de receber esta mensagem enviada pelo senhor Padre José Granja, até aqui pároco, de Balasar e que agora se encontra em Fátima. Como não podia deixar de ser, é-me extremamente agradável, por diversas razões, partilhá-la convosco:

* * * * *

Caros internautas do site da Beata Alexandrina.

Faz hoje, dia 22 de Agosto de 2010, 5 anos que foi criado o site :


Ao longo destes 5 anos, que hoje se completam, foram cerca de 500.000 consultas vindas de mais de 110 países. Neste dia, Domingo, Dia do Senhor, também dia de Nossa Senhora Rainha, desde o santuário de Fátima, desejo dirigir-vos duas palavras muito breves.

A primeira é de incentivo a que cada um de nós seja um aliado incondicional da Beata Alexandrina levando por todo o lado um grande amor a Jesus Sacramentado e de oferenda das nossas vidas pela conversão dos pecadores.

A segunda palavra é de despedida como pároco de Balasar. Fui nomeado em 18 de Julho de 2004; tomei posse em 17 de Outubro de desse mesmo ano. No passado dia 18 de Julho, do corrente ano, por motivos de saúde, o Sr. Arcebispo dispensou-me da paroquialidade de Balasar. Deixo de ser pároco mas levo dentro de mim uma enorme gratidão para com Beata Alexandrina que me ajudou a descobrir, de uma forma única, a centralidade da Eucaristia na minha vida de sacerdote e a dimensão redentora dos nossos sofrimentos do dia a dia.

Ao novo pároco, P. Manuel Casado Neiva, desejo as maiores felicidades no seu múnus pastoral.

Ao meu grande amigo Afonso Rocha que criou e manteve sempre actualizado o nosso site com um amor apaixonado pela Causa da Beata Alexandrina deixo aqui uma palavra de admiração e gratidão.

Fátima, 22 de Agosto de 2010.

P. José Barbosa Granja.

MORTE DO PADRE ALBERTO AZEVEDO


O nosso caro amigo Prof. José Ferreira, publicou no seu blog de “Noticias sobre a Beata Alexandrina” um curto artigo sobre a morte deste sacerdote estreitamente ligado à Beata de Balasar. Pensamos ser oportuno reproduzi-lo aqui:

Faleceu ontem (18 de Agosto) o Padre Alberto Azevedo, filho do Dr. Dias de Azevedo. O funeral é hoje (19 de Agosto) em Ribeirão.

A cura da mãe do Padre Alberto Azevedo

Entrou no meu quarto (da Alexandrina) o filho extremoso do meu médico a dar-me a notícia de que sua mãezinha se encontrava às portas da morte. Não sei como fiquei!

Com a lâmpada e velas acesas, todos os que estavam ajoelharam.

Ofereci a Nosso Senhor o meu corpo e a minha alma como vítima da enferma; pus todo o Céu em movimento.

Nos intervalos em que me respondiam às orações, eu dizia (intimamente) a Nosso Senhor:

“Deixai-a, deixai-a, Jesus, para acabar de criar os seus filhinhos; provai-me agora o amor que me tendes!”

“Sossega, minha filha, não morre, não morre, confia em mim, Eu te afirmo, Eu te afirmo, não te nego o que me pedes; confia no amor misericordioso do meu divino Coração. Sou Eu, Jesus, a afirmar-te, a prometer-te. Prova agora a tua confiança.”

Entra (a Alexandrina) numa longa luta com o demónio que lhe afirma ser o fruto da sua imaginação, a afirmação de Jesus.

Quando o demónio me repetiu as suas mentiras, eu repetia com o coração:

“Sagrado Coração de Jesus, eu tenho confiança em Vós!”

Enquanto possuía a luz, parecia-me ter em mim duas vidas: o meu espírito estava mergulhado, muito unido à dor e tristeza dos estes queridos da doente e a alma entoava, ao mesmo tempo, hinos jubilosos ao bom Jesus. Não sei como podia sofrer tanto e a alma tão forte cantar ao mesmo tempo....

Era já noite (do dia seguinte), muito de noite, e soube que realmente estava melhor. Não sabia como agradecer a todo o Céu!

Do livro Meu Senhor e meu Deus!


domingo, agosto 15, 2010

O SANGUE DO CORDEIRO

Alexandrina Maria da Costa

« Estes são os que vêm da grande tribulação ;
lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro ».
(Ap. 7, 14)

APRESENTAÇÃO

A vida da Alexandrina Maria da Costa é uma fonte inesgotável de “água viva” na qual se podem “beber” muitas águas diferentes, mas todas salutares e santificantes.

Os carismas de que beneficiou são numerosos e, cada um deles mereceria um estudo aprofundado pela parte de autores competentes e versados em ascética e mística : eles aí encontrariam não só matéria de reflexão intensa, mas também maravilhas divinas que mais ainda os instruiriam na ciência em que são peritos incontestáveis.

Nós não possuímos essa ciência, mas ousamos falar dela e partilhar com aqueles que irão ler estas páginas, o nosso amor à Alexandrina, “canal” incontestável das graças e ciências divinas. Por isso mesmo e, para evitar comentários que poderiam “escandalizar” aqueles que nesta matéria são especialistas, vamos utilizar, tanto quanto nos for possível os próprios trechos da “Doentinha de Balasar” que mais do que nós, mesmo se nada mais tinha do que a instrução primária rudimentar, é “doutora em ciências divinas”, como o próprio Jesus o afirmou.

O título dado a este trabalho poderá surpreender aqueles que pouco o nada conhecem da vida e dos carismas da Alexandrina, mas, estamos seguros que a leitura terminada, terão compreendido o porquê do mesmo título, esperando que assim se possam igualmente maravilhar de tudo quanto o Senhor operou de extraordinário e notável nesta alma de excepção.

Não temos qualquer receio em afirmar que os escritos da Alexandrina não sofrem qualquer sombra dos escritos doutros místicos tais como Santa Teresa de Ávila, S. João da Cruz, Beata Ângela de Foligno, Santa Gertrudes ou Santa Matilde de Hackerborn, pois fácil é de notar que a “Fonte” é a mesma e que por esta razão, a “concorrência” deixa de justificar-se.

A Alexandrina, tal como o disse Jesus, é na verdade “Mestra das Ciências divinas” .

O assunto que vamos procurar desenvolver aqui não é dos mais fáceis, mas esperamos que com a ajuda de Deus e a protecção e inspiração da Bem-aventurada Alexandrina, possamos dizer alguma coisa e demonstrar o carisma extraordinário do qual poucos ou nenhuns — excepto, julgamos, a Beata Ângela de Foligno — : a “transfusão” do Sangue divino como alimento da alma e do corpo da sua querida esposa de Balasar, como mais adiante diremos.

No que diz respeito a esta mística, encontrámos no livro das suas “Visões e revelações” este curto e único trecho que faz referência a este carisma que não parece ter durado muito tempo, visto que no resto da mesma obra não voltamos a encontrá-lo :

« Não dormia. Ele chamou-me e disse-me que aplicasse os meus lábios sobre a ferida do seu lado. Pareceu-me que aplicava os meus lábios, e que bebia sangue, e neste sangue ainda quente eu compreendi que ficava lavada. Eu senti pela primeira vez uma grande consolação, misturada uma grande tristeza, porque tinha a Paixão diante dos meus olhos. E solicitei do Senhor a graça de derramar o meu sangue por Ele como Ele tinha derramado o seu para mim » .

A autora italiana Eugénia Signorile, no seu excelente livro “Só por amor!” evoca longamente este fenómeno místico excepcional. Ela anuncia-o assim :

« O fenómeno da Eucaristia real dada misticamente já se tinha verificado com algumas grandes almas muito elevadas na espiritualidade, dotadas duma especial sensibilidade para as realidades celestes. Por exemplo, Santa Verónica Giuliani, Santa Gemma Galgani ; e em 1916 Jesus escolheu a pequena Lúcia de Fátima para dar-Se a ela mediante o anjo da guarda.

Mas a Beata Alexandrina recebe ainda um outro alimento para o corpo e para a alma : um conjunto de sangue, vida, amor, sob forma de verdadeira transfusão para o sangue e de efusão para o amor. É a primeira alma mística para quem se efectua tal fenómeno ».

Uma das maiores doutoras da Igreja, Santa Catarina de Sena, fala do Sangue do Senhor e dos seus efeitos, nestes termos :

« Este sangue precioso é a fonte de todo bem ; salva e torna perfeito qualquer homem que se aplique a recebê-lo ; dá a vida e a graça com mais ou menos abundância, de acordo com as disposições da alma ; mas ele é causa de morte para o que vive no pecado » .

Podemos — e devemos talvez — perguntar a nós mesmos e àqueles que poderiam duvidar um instante de veracidade de tal carisma : “Que diz o Evangelho a este respeito ?” A resposta surpreender-nos-ia, sem verdadeiramente surpreender... Ouçamos o que diz Jesus :

« Em verdade, em verdade vos digo : se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele » .

Este carisma parece ter sido precedido de diversas primícias, que não o anunciando — porque nem era conhecido — preparavam no entanto a sua vinda de maneira durável.

Será útil notar aqui que os trechos dos escritos da Alexandrina que a seguir vamos dar, não serão tirados do contexto em que se encontram, pois isso riscaria de prejudicar a boa compreensão dos mesmos e de perturbar o leitor. Não será portanto de es-tranhar que alguns deles sejam mais longos do que outros.

Os mesmos trechos manter-se-ão na ordem cronológica, tais como se encontram no Diário da Beata Alexandrina.

Afonso Rocha

terça-feira, março 23, 2010

UM MINUTO COM A BEATA ALEXANDRINA

Em que consiste?

Todos aqueles que habitualmente consagram ao menos uma hora à adoração eucarística são convidados a fazerem um minuto suplementar de adoração. UM MINUTO!

Durante este minuto devem unir-se espiritualmente às intenções da Beata Alexandrina que, como todos sabem foi uma “Vítima da Eucaristia”, a sua primeira missão sendo aquela de velar sobre todos os tabernáculos do mundo, especialmente aqueles diante dos quais ninguém orava nem ora.

Esta acção é internacional e começará no dia 1º de Abril 2010, e será seguida por numerosos conventos de França, Bélgica e Holanda, assim como por numerosos leigos dos mesmos países.

No mês de Julho ou Agosto — a data ainda não está fixada — durante um Congresso Eucarístico que se realizará em Paray le Monial — cidade onde Jesus apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque — serão dadas conferências especialmente destinadas a melhor fazer conhecer e amar a Beata Alexandrina.

Antes deste Congresso, um CD sobre a sua vida e obras vai ser gravado e serão também distribuídas cartas — do tipo carta bancária — contendo uma fotografia da Beata ao recto e ao verso uma curta oração eucarística.

Todos estes preparativos vão ser começados após a próxima Páscoa de maneira a estarem operacionais no momento preciso.

Todos aqueles que desejarem participar a este movimento internacional, podem inscrever-se, enviando um simples Mail a este endereço: “Eu participo ao minuto de adoração”.


Contamos com a participação de todos e, estamos persuadidos que o entusiasmo dos nossos irmãos brasileiros não ficará ausente desta acção que outro fim não tem do que aquele de fazer amar e venerar a nossa querida Alexandrina.

UM MINUTO é tão pouco, mas pode tornar-se muito! Vejam:

Se apenas houver uma pessoa a adorar Jesus no Santíssimo Sacramento, nada mais faz do que 60 segundos... Mas, se forem 100, podem contar-se agora, não minutos, mas horas: 10, o que ainda parece pouco. Mas se formos 10 000 a fazer esse gesto, então contaremos 1000 horas de adoração, e assim de seguida...

Sejamos numerosos, para a maior honra e glória de Deus e a exaltação da nossa Alexandrina de Balasar.

sábado, março 06, 2010

6 DE MARÇO DE 1943 - PRIMERO SABADO

Visita da Mãezinha

— A vida na dor, a vida na paz e no amor de Jesus. O amor eleva a alma, purifica-a, santifica-a. Gozar de Jesus é gozar o Céu na terra. Filhinha, filhinha, Jesus ama-te, Jesus quer-te na sua Pátria. Filhinha, filhinha, Jesus ama-te e ama-te a sua bendita Mãe com a maior loucura de amor. O teu lugar no Céu é junto do seu trono. A tua coroa brilha lá no alto com todo o brilho e candura. Que encantador lugar o teu entre as virgens mais puras. Dá almas, dá almas, dá almas, minha filha, ao teu Jesus. Dá fogo, dá fogo, dá fogo, minha filha, ao teu Pai espiritual para ele dar às almas. Jesus ama-o com todo o amor e dá-lhe toda a luz para ele as guiar e lhas conduzir. Dá, minha filha, dá ao teu médico a bênção de Jesus para ele e para todos os filhos seus. Dá, filhinha, dá aos que te amam o fogo divino, o amor de Jesus. Amor que te abrasa e consome, amor que é a tua vida e será a tua morte. Estende e espalha na terra o amor que será a salvação da pobre humanidade, da humanidade corrompida, da humanidade culpada. Filhinha, filhinha amada, escuta a tua Mãezinha querida:

Eu amo-te, amo-te e dou-te a ti a ternura e o amor do meu Santíssimo Coração. Dou-te a minha pureza, dou-te a minha graça; és o encanto de Jesus, nada te será negado por mim e por ele. Pede, pede, pede para distribuíres. Recebe e dá aos que te amam, que por nós também são amados. Pede, recebe e dá aos pecadores; suspiro que se reconciliem com o meu Jesus, que todos se salvem. Recebe as carícias de Jesus, recebe as da tua querida Mãezinha.

― Mãezinha! Mãezinha! São tão doces e tão ternos os vossos miminhos! Muito obrigada, Jesus! Muito obrigada Mãezinha, fazei de mim o que quiserdes!

Beata Alexandrina aria da Costa: "Sentimentos da alma" – 6 de Março de 1943.

segunda-feira, março 01, 2010

MEDITAÇÃO PARA O TEMPO DE QUARESMA

Passei deste martírio ao Horto

O demónio não cessa a sua guerra contra mim; o meu espírito é com dúvidas consumido. Quando assim é, Jesus vem por uns momentos suavizar a minha alma com o Seu amor e a Sua paz; fico mais forte para a luta. Passou o quinto aniversário que Jesus deixou de manifestar em mim a Sua Santa Paixão e dei-xei de me alimentar. Só quero o que Jesus quer. Mas ó que pena e que sauda-des. Senti durante três dias como se todo o meu ser tivesse bocas para comer; tudo ansiava. O alimento que eu desejava, que era tudo, sentia que todo o mundo o comia; para mim só me bastava a dor e a saudade. Meu Jesus, sou a Vossa vítima. Os olhos do corpo não choravam, mas os da alma suspiram o lugar; foram lágrimas dolorosas, mas sempre conformes com a vontade do Senhor.

Passei deste martírio ao Horto, para ali me unir a mais padecimentos. Foi o meu rosto escarrado, os olhos vendados, mas tinha outros olhos que viam passarem pela minha frente por escárnio, ajoelhando, fazendo grandes continên-cias. Sobre os meus ombros, tinha uma velha capa, sobre a cabeça uma velha coroa, e eu, no maior abatimento, no meio de tantos algozes. Eu digo eu, mas não era eu, era Jesus revestido em mim. Se fosse eu não sofria, porque tudo mereço. Sou muito humilhada, sinto-me desesperada, e reconheço que sou digna de tudo. Mas ver e sentir Jesus sofrer assim, não tenho coração para aguentar! Tenho por vezes que esforçar meus olhos e os meus sentimentos a retirarem-se de tão grande suplício. Quanto sofreu Jesus, que dor sem igual; e tudo por nosso amor. No solo do Horto levantaram-se como que quatro negras paredes de tal altura, que não lhes via o fim; fiquei entre elas, apertada como numa prensa com a visão de todos os sofrimentos. E então de todo o meu cor-po saía suor de sangue; fiquei banhada e como nunca só ferida.

Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma; 28 de Março de 1947.

domingo, fevereiro 21, 2010

ENRICO DAL COVOLO

Uma notícia que nos alegra é aquela publicada pela Agência noticiosa “Zenit” e que diz respeito ao Padre Enrico Dal Covolo, Postulador da causa de canonização da Beata Alexandrina de Balasar:

Enrico dal Covolo explica exercícios espirituais do Papa

ROMA, sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2010 (ZENIT.org). – A partir do domingo, dia 21, até o sábado, 27 de fevereiro, serão realizados, na presença do Papa Bento XVI, os exercícios espirituais para a Cúria Romana.

Tendo como referência o Ano Sacerdotal em curso, as meditações serão propostas pelo sacerdote salesiano Enrico dal Covolo, sobre o tema “'Lições' de Deus e da Igreja sobre a vocação sacerdotal”.

Para compreender melhor o objectivo e a finalidade destes exercícios, Zenit entrevistou Enrico dal Covolo.

Tanto em educação como em pregação, Dal Covolo, 59 anos, sacerdote há 31 anos, está longe de ser um novato: tem mais de 200 retiros preparados. Professor de literatura cristã antiga, é especialista nos Padres da Igreja. Desde 2002, é consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e faz parte do Comité Pontifício de Ciências Históricas. Dentro da congregação, é postulador geral para as causas dos santos da família salesiana.
Para ler toda a entrevista, carregue la ligação a seguir:

sábado, fevereiro 20, 2010

A MINHA IGNORÂNCIA NÃO ME PERMITE...

Parece-me que nunca amei Jesus

Continuo no meu Calvário, na minha vida sem mérito. Nada há em mim que tenha o mínimo merecimento. Eu quero, sim, eu quero sofrer, mas não tenho coragem para levar a cruz. Todas as coisas me deixem tímida e apavorada. A vontade está acima de tudo. Quero amar, louca e apaixonadamente, a Jesus e não O ofender; quero abraçar-me à cruz, para não mais a deixar, por Seu amor e para bem das almas. Tudo me parece perdido, mas não me importo, abandonei-me a Jesus e à Mãezinha. Vou para onde me levarem os Seus Divinos Corações. Estou segura; vivo confiada de que sou bem conduzida e de que não Vos hei-de ofender, apesar de me parecer que não faço outra coisa senão pecar. Digo que confio e sinto que nem tão pouco sei que seja a confiança. Parece-me que nunca amei Jesus, nem compreendo o que seja o Amor. A minha ignorância não me permite exprimir os sentimentos tão dolorosos e profundos da minha alma. Penoso martírio, pavoroso Calvário ! Gasto todos os momentos da minha vida, pensando no mal, nas variadíssimas formas de como hei-de pecar, calcando sempre a meus pés os direitos e a Lei santa do Senhor. E sempre a vomitá-Lo para fora do meu coração! Perdi a Jesus e sinto tê-Lo perdido para sempre.

Numa hora de mais tremenda reparação, em que me pareceu ofender a Jesus mais horrivelmente, eu ia mesmo, mesmo a cair no inferno. Cheguei a gritar. Fui salva não sei por quem. Uns braços se lançaram aos meus e arrancaram-me daquele tremendo abismo de demónios, feras e fogo. Parte do meu corpo já estava nele. Quando me parecia pecar tão sacrilegamente, via que todo o meu ser era inferno, e que não podia dar nem um único passo à frente, porque logo ficava sepultada em horrorosos tormentos e fogo. Foi quando escorreguei e fui salva só pelos braços e não sei por quem. Fiquei fora, mas tanto à beirinha que ao mais pequenino movimento voltava a cair. Sem pensar nisso, sem nenhum temor, continuei na mesma vida leviana e criminosa. Se por um lado sentia uma dor infinita, por outro revoltava-me contra essa dor e tentava aumentá-la ainda mais, com os meus loucos desvarios. Jesus fora do meu coração, perseguido por mim, que Lhe renovava toda a Paixão e Morte, chorava, e fitando-me com os Seus olhares terníssimos, mas o mais doloroso que se possa imaginar, bradou-me :

― Ainda não estás satisfeita ? Não acabas de Me ofender ? Pensa quanto te amei, quanto sofri por ti e para a missão que te escolhi.

Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da Alma, 4 de Abril de 1952.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

QUERO VIVER SÓ DE AMOR

Meditação

Jesus, não quero mais viver de ilusões; quero viver só de amor e de confiança. Cortai em mim tudo o que é terreno, quero só esperar em vós, quero ser forte, mas não posso, sinto-me definhar dia a dia. E sinto na minha alma que novos assaltos estão para cair sobre mim. Tudo é revolta. Prevejo um mundo de leões laçarem-se a mim com toda a raiva para me devorarem. Que angústia na minha alma! Que tristeza profunda no meu coração! A alma treme de medo com todo o meu corpo; não posso viver assim. Será porque o fim se aproxima? Venha ele, venha depressa. O Céu é a minha esperança. Quero, por todos os caminhos percorridos durante a vida, deixar escrito com o meu sangue o Vosso amor. São caminhos de luta, caminhos de negras trevas; trevas como nunca, abandono como nunca imaginei passar. Levanto as minhas mãos ao Céu, para o Céu que tantas vezes fitei e contemplei com amor, mas não o vejo. Brado com toda a força, do fundo do coração, e o meu brado não sobe, parece-me Jesus não ouvir! Abandono, que completo abandono!... Jesus, Jesus, compadecei-vos de mim, parece-me que vos perdi e que perdi a Mãezinha. Afastaram de mim na terra o amparo, guia e luz que me tínheis dado. Jesus, Jesus, olhai a louquinha perdida que tudo sofre e aceita por vosso amor, para dar-vos as almas. Jesus, Mãezinha, quero sofrer tudo; as forças não me ajudam. Estou sozinha, posso dizer convosco: Pai, porque me abandonaste? Quereis assemelhar-me a vós? Obrigada, meu Jesus. Submeto-me ao peso da vossa Cruz. Sinto arrancarem-me o coração, sinto que vou morrer esmagada, mas quero balbuciar sempre: Ó como é doce morrer por amor! Ó como é doce cumprir a vontade do Senhor! Jesus, à medida que se aproxima a crucifixão, o pavor aumenta, sinto-me cravada na cruz, dando de longe a longe um suspiro até que seja o derradeiro. A agonia aumenta, São dados ao meu corpo maus tratos sem piedade. Ó mundo, ó mundo que não conheces a dor nem o amor de Jesus. Só com ele se abraça a Cruz, só com ele se caminha para o martírio!

Sentimentos da alma: 20 de Março de 1942.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

MEDITAÇÕES PARA O TEMPO DE QUARESMA

Jesus sofre, chora, suspira profundamente


A cruz aumenta, os mimos de Jesus são cada vez mais. Digo mimos, porque os desgostos, os sofrimentos, os espinhos recebo-os como carícias e miminhos do meu Jesus. Custa muito, muito e eu sei que não posso resistir a mais dor; mas o amor que eu anseio ter a Jesus e as ânsias de O consolar cegam-me de tal forma que eu não posso deixar de repetir: mais, mais, meu Jesus, mais, seja tudo por Vosso amor e para a salvação das almas. Não posso falar; hoje tenho que abafar a voz da minha alma, que apesar da minha ignorância sem igual, não pode calar-se. Neste dia, tem que ocultar e fazer o sacrifício de guardar para si e sofrer em silêncio. Não posso esforçar-me nem mover os lábios. Von-tade do meu Senhor, em ti está a minha ventura e felicidade!

Ontem de manhã imprimiram-se mais ao vivo as chagas de Jesus no meu cor-po. Senti como se Ele viesse da cruz para mim e em mim Se imprimisse e nele me transformasse. À noite, a visão do Calvário levou-me ao suor de sangue e à agonia do Horto. Sofri tanto, tanto, de tantas formas! Seja o meu Jesus bendi-to !

Hoje segui para o Calvário. Eu era a cruz de Jesus. Ele levou-a e nela me levou a mim. Sofri com Ele e Ele comigo. Fomos sempre os dois num só. Ao terminar da montanha, senti-me morrer no leito da cruz. Quando esta (foi?) levantada ao alto, pareceu-me ficar toda dentro do Coração divino do meu Jesus. Era Ele o crucificado. O meu desfalecimento era tanto que não podia bradar; bradava Jesus e era meu e dele o Seu brado. No momento de expirar, Jesus entregou ao Pai o Seu espírito com todo o amor do Seu divino Coração. Foi assim que eu com Ele expirei.

Passado algum tempo, principiei a ouvir os Seus suspiros e a Sua dolorosa voz.

Jesus sofre, chora, suspira profundamente. Vê o mundo, contempla-o, vê o que ele é, o que há-de ser.

Jesus sofre, chora, suspira profundamente. Vê o mundo cruel e pecaminoso, vê a justiça do Seu Eterno Pai prestes a puni-lo, a castigá-lo com todo o rigor.

Minha filha, Minha filha, vítima amada, vítima querida.

Minha filha, Minha filha, esposa querida, esposa fiel e predilecta de Meu divi-no Coração: tu és sal e sol da terra, tu és pára-raios e salvação da humanidade. Tu és farol, que iluminas com todas as cores do arco-íris. És rica de graça, rica de todas as virtudes. Um ano a mais passou-se para ti. Mais um ano de favores e prova do Meu divino amor para as almas por te ter escolhido para vítima des-te Calvário. Coragem, coragem e alegra-te porque o Senhor está contigo, em ti Se alegrou e alegrará sempre. Aceita, Minha filha, um muito obrigado do teu Jesus. Sim, um obrigado Meu, um obrigado divino pelo muito que sofreste, pelo muito que amaste.

— Ó Jesus, ó Jesus, isso humilha-me, as Vossas divinas palavras fazem-me so-frer. Sofro, porque ouvi e senti os vossos suspiros, as Vossas lágrimas caírem no meu pobre coração. Sofro e humilho-me pelo Vosso obrigado, quando eu sinto que nada sofro, que nada Vos amei, que foi só o Vosso divino Coração a sofrer e amar. Eu por mim, Jesus, nada fui, nada sou, nada serei. Morri, morri para tudo.

— Ó minha filha, Minha filha, sim, morreste para tudo o que é do mundo e vi-verás sempre pata Jesus e para as almas, porque vives só a vida de Cristo, a vida mais imitadora, a cópia mais fiel de Cristo crucificado, de Cristo Redentor. Continua, continua a tua missão: bem curta que ela vai ser agora aqui na terra, mas vais continuá-la no Céu. Aqui, pedindo e sofrendo; lá, pedindo e amando.

Acode, acode às almas e previne-as, avisa-as: a justiça não demora, o castigo aproxima-se. Avisei, avisei, esperei, esperei, pedi como mendigo da terra ora-ção, penitência, emenda de vida.

Não desanimes em pedires, em sofreres com alegria e amor. Haja o que hou-ver, venha o que vier, é sempre de utilidade e salvação para o mundo cruel e ingrato.

Recebe agora a gota do meu sangue ; é sangue de vida, é sangue de amor ; é gota que te leva a paz, a Minha divina paz.

Coragem, fica na cruz. Vêm os Anjos cheios de amor apertar-te os cravos.

— Obrigada, meu Jesus. Bem os vejo baterem as asas, asinhas brancas. Não me batem os cravos com crueldade, mas sim com doçura e carinho.

Obrigada, obrigada. Atendei aos meus pedidos, às minhas grandes intenções que tenho presentes, tomais conta delas, meu Jesus. Confio em Vós.

— Sim, Minha filha, podes confiar. Vai em paz e leva o meu amor que é a força e a alegria da tua cruz.

— Obrigada, obrigada, meu Jesus.

Sentimentos da alma: 4 de Janeiro de1952 – Sexta-feira