sexta-feira, março 30, 2012

QUANTO MAIS FOR COMBATIDA A MINHA CAUSA…

– Este canal, minha filha, é do coração da tua e minha Mãe Bendita!

“Não te entristeças, minha filha...”
E então principiou Jesus a dizer-me assim:
– Este canal, minha filha, é do coração da tua e minha Mãe Bendita; dele recebes o nosso amor na maior das abundâncias; dele recebes as nossas graças, virtudes e dons, riquezas divinas e tudo o que é do céu. Dele recebes vida para viveres, vida para dares às almas. É este o orvalho, o sangue que sentes cair sobre a humanidade. É uma mistura que faço das minhas riquezas, das minhas graças com a tua dor. És a nova redentora. Passo para ti tudo pelo canal da minha Bendita Mãe; és tu com Ela que salvas o mundo. Não te entristeças, minha filha, por não me receberes na Eucaristia. Quanto mais fores humilhada e a minha divina causa combatida mais maravilhas, maiores prodígios opero em ti. A minha divina ciência tem sempre que dar-te e tu, minha pomba bela, tens sempre que oferecer. Já que é sem igual a tua dor, o teu martírio, é sem igual o meu amor, as minha maravilhas em ti. São luzes confusas para aqueles que as não quiseram ver claras. Vida maravilhosa e prodigiosa é a tua, ó filha querida. Tu és orvalho que fecunda e dá vida. Tu és de Jesus, tu és das almas. És a bolinha de Jesus, és a bolinha dos meus entretimentos, dos meus encantos, assim como és a bolinha de encantos atraentes para os pecadores. És de Jesus e és deles. És vítima que amas e encantas o céu, és vítima que dás a vida momento a momento pela humanidade. Recebe toda esta vida divina, dá-a ao mundo faminto, dá-a ao mundo em perigo. A ti o entreguei, a ti o confiei. Tenho eu, Jesus, toda a confiança em ti. Confio tanto quanto tu me amas, quanto amas as almas. És rica comigo, comigo as salvas, comigo e minha Bendita Mãe. Vai, minha jardineira, para a minha agricultura. Vai dar, vai distribuir.
– Deixai-me, meu Jesus, dar tudo o que de Vós recebi a todos aqueles onde vai agora o meu pensamento.
E nomeei as pessoas a Jesus. Ainda abrasada no Seu divino amor, cantei à Mãezinha:

No meu calvário, na minha cruz,
Clamei alto, clamei sempre
Por ti, ó Mãe, ó Mãe de Jesus!
Mãe, ó Mãe de Jesus,
Mãe, ó Mãe do meu Senhor,
Vem, dá-me luz, vem dá-me amor,
Suaviza a minha cruz!

Desprendi-me de Jesus. Desapareceu o céu com todo o brilho, e o canal do coração da Mãezinha desapareceu com ele. Fiquei de novo sozinha na minha cruz, mas com o coração a arder, todo o peito está em chamas. Com a força que recebi pude ditar tudo isto sem grande sacrifício das minhas palavras. Sinto ainda o fogo no coração, mas os lábios já mal têm força para mover-se.
(Sentimentos da alma: 2 de Fevereiro de 1945 – Sexta-feira)

O MEU SANGUE CORRIA…

– Jesus, aceitai o meu sacrifício!

A Beata Alexandrina en êxtase durante uma "Paixão"
Escusado é fugir, nem esconder-me; não posso, não tenho para onde. Tudo é noite. E sinto-me à porta do inferno. Ó meu Deus, que tormentos arrepiantes me esperam.
Chegou a sexta-feira, triste sexta-feira! Vi a minha cruz, vi-a ainda cedo; preparavam-na a toda a pressa. Ela era precisa, fosse qual fosse a sentença que eu recebesse. Dentro da minha alma sentia a mansidão, a bondade sem igual; dentro dela também, e ao mesmo tempo, sentia contra a mesma bondade e mansidão o ódio, o rancor, o desespero e uma autoridade orgulhosa; orgulho sem igual. Feras contra o Cordeirinho mais pequenino e inocente. Meu Deus, que dor por esse cordeirinho tão cheio de bondade! Senti essa autoridade orgulhosa ainda antes de lavrar a sentença contra o cordeiro inocente; com um furor diabólico rasgaram de cima a baixo os seus vestidos.
Ao encontro destes sofrimentos vieram os sofrimentos causados pelo demónio. Ele anda desesperado, não sei porquê, mas certamente por Jesus não ter deixado, ainda não continuou as suas manobras infernais. Veio para a minha frente em figura de fantasmas, mas de tal altura que não lhe via o princípio nem o fim. Mostrava-se muito nojento por mim. Senti-o a querer escarnecer-me dentro da boca, piores ainda, não as digo aqui, é porco, é escandaloso. Ele não se satisfaz com tudo isto; a sua raiva é por não conseguir fazer o que tantas vezes tem feito.
– Jesus, aceitai o meu sacrifício, custa-me tanto falar; é obediência, santa obediência; se não fosses tu, sofria sozinha, em silêncio, só Jesus o sabia.
E hoje, dia da Mãezinha, e eu ainda sem comungar, sem receber do meu Jesus força para tanta dor, dor que desfaz, dor que rasga e volta a rasgar a minha pobre alma. Subi a montanha do calvário com tanto custo, sempre a parecer ir expirando. Clamei, clamei sem cessar:
– Pai, ó meu Pai, até tu me deixas, até tu me abandonas!
O meu sangue corria, encosta abaixo. Escondeu-se o sol, encobriu-se envergonhado de tanta malícia. E eu, envergonhada, estava na cruz, despida, à vista da canalha mais vil. Os meus vestidos foram cortados e distribuídos. A minha tristeza e amargura não cessaram. A alma tremia com dor e com medo como o corpo treme de frio. A bradar sempre por Jesus, Ele veio e trouxe com Ele um sol luminoso e abrasador. Cessaram as tremuras da alma, o medo e toda a dor; só tinha paz, só tinha luz e amor. O coração principiou a receber uma vida que não sei explicar, todo o peito se me abrasou em chamas. Que suavidade eu gozei e por muito tempo. A abóbada do céu desceu sobre mim toda ela almofadada em algodão, a qual envolvia os anjos com instrumentos. Ouvia os seus hinos maravilhosos, não os compreendia bem, mas sei que eram a Jesus Sacramentado. Ouvi as palavras Corpus Domini Jesu Christi, senti que Jesus se deu a mim e me prendeu mais e mais a Ele. Os anjos continuavam a cantar; por entre eles sobressaiu um canal fortíssimo directamente a mim, dele caíam chamas de fogo e muitas e muitas coisas, tudo entrava para mim.
(Sentimentos da alma: 2 de Fevereiro de 1945 – Sexta-feira)

ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

CRONOLOGIA

Nada melhor do que uma cronologia, para se compreender bem a vida desta alma fora de série e cuja santidade é mais do que evidente!

Foi nesta cozinha que nasceu a Beata a 30 de Março de 1904
1904 Março 30: Alexandrina nasce em Balasar, distrito do Porto (Portugal)
1911 Desde Janeiro, até ao fim de Julho de 1912, vive numa pensão na Póvoa de Varzim, onde frequenta a 1a. Classe primária. – Recebe a 1a. Comunhão das mãos do Padre Álvaro de Matos, na igreja matriz, e o Santo Crisma das mãos do Senhor D. António Barbosa Leão, Bispo do Porto (1911)
1913 Aplica-se ao trabalho para ganhar o sustento. Membro do grupo coral da paróquia e catequista. Primeiras manifestações do seu amor pela oração mental.
1916 Adoece com o tifo e recebe os Últimos Sacramentos. A mãe coloca-lhe nas mãos o Crucifixo, e ela: “Não é este que eu quero, mas Jesus Eucarístico”.
1918 Serve em casa de um vizinho. Por motivos de saúde, deve deixar o trabalho para sempre. – Alguns meses na Póvoa para tratamento. – No mês de Março salta da janela para salvar a sua pureza.
1923 O médico João de Almeida, do Porto, prevê que ficará paralisada.
1924 Abril, 14 –Recolhe ao leito para sempre. –Sem saber como, oferece-se como vítima e começa a pedir o amor ao sofrimento –Inicia os seus meses de Maio, celebrados com solenidade, em honra de Nossa Senhora.
1928 A ida duma peregrinação paroquial a Fátima dá-lhe o desejo da cura e faz novenas. – Desiludida, é assaltada por um pensamento: “Jesus está no Tabernáculo prisioneiro; também eu sou prisioneira”. – Compõe a oração aos sacrários. – Florinhas para reparação eucarística.
1930 Invade-lhe o coração um forte calor que a arrebata nas suas longas orações
1931 Primeiro convite íntimo de Jesus à imolação: “Amar, Sofrer, Reparar”.
1933 O Pároco que lhe levava Jesus todos os dias, é substituído pelo Padre Leopoldino Rodrigues Mateus (3-7-1933); este, no princípio, dá-lhe a Comunhão só nas primeiras sextas-feiras, depois todos os dias. – Agosto, 16-20: Encontro com o seu primerio Director Padre Mariano Pinho, S. J. –Outubro, 18: Recebe a fita de Filha de Maria. – Novembro, 20: É celebrada a primeira Missa no seu quarto.
1934 Setembro, 6: Primeiro convite à Crucificação: “Dá-me as tuas mãos, os teus pés, Eu quero cravá-los”. Setembro, 8: Jesus torna-se seu Mestre. –Setembro, 4: O demónio começa a atormentá-la na imaginação. – Outubro, 5 e 10: Promessa de desposório espiritual com o Divino Esposo. – Outubro, 11: Convite à missão de vítima: “Ajuda-me na redenção do género humano”. – Outubro, 15: Jesus artista da sua alma. – Dezembro, 20: Jesus confia-lhe os Sacrários e os pecadores.
1935 Soleniza o mês de Maria com florinhas diárias escritas por ela; a consagração no fim do mês. – Julho, 30: Jesus pede-lhe pela primeira vez a Consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria; ordena-lhe depois que o Director escreva ao Papa para este fim.
1936 Festa da SS. Trindade: passa pela primeira morte mística.
Uma das mais antigas fotografias da Alexandrina
1937 Abril: Tendo-se agravado muito a sua saúde, o Pároco resolve-se a levar-lhe a Sagrada Comunhão todos os dias. – Maio, 31: O Padre António Durão, S.J., examina Alexandrina, em nome da Santa Sé, sobre o seu pedido para a Consagração. Desde Julho a 7 de Outubro, vinganças e perseguições visíveis do demónio. – A Sr.a D. Fernanda dos Santos, de Lisboa, já falecida, socorre a pobreza da Alexandrina.
1938 Outobro, 3: Pela primeira vez sofre a Paixão, que se repetirá todas as sextas-feiras até 20 de Março de 1942. – Abril, 5: Jesus confirma o desposório espiritual com a alma da Alexandrina. – Purificação dos sentidos manifestada através de uma sede abrasadora e a sensação de odores insuportáveis; o que sucede imediatamente depois da primeira Paixão. – Segundo exame da Santa Sé feito pelo cónego Manuel P. Vilar. – Dezembro, 6: Viagem ao Porto, para ser examinada pelos médicos. – Dezembro, 26: Exame pelo professor Elísio de Moura.
1939 Março, 20: “Jesus prediz-lhe a respeito do novo Pontífice Pio XII: É este Papa que consagrará o mundo ao Coração de Minha Mãe”. – Junho, 16: Festa do Sagrado Coração: pede pela última vez ao Papa a Consagração do mundo ao Coração de Maria – Janeiro, 20; Junho, 13; Junho, 28: Jesus prediz-lhe a guerra como castigo de graves pecados. – A Alexandrina oferece-se como vítima pela paz.
1940 Julho, 14: Oferece-se vítima com outras almas do mundo em união com Nossa Senhora para obter a paz ao menos para a sua Pátria. Jesus aceita a oferta e afirma-lhe categoricamente: “Portugal será salvo”. – Dezembro, 6: Jesus assegura-lhe que o Santo Padre seria poupado fisicamente aos horrores da guerra, mas que sofreria muito moralmente.
1941 Janeiro, 4; Abril, 5: Jesus pede-lhe com insistência a Consagração para obter a paz do mundo. – Fevereiro, 14: O Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo , torna-se seu médico assistente, o “médico providencial”; Junho, 15: Visita médica ao Porto.
1942 Janeiro, 7: Perde o seu primeiro Director. – Janeiro, 20: Padre Pinho dá-lhe como confessor o Padre Alberto Gomes. – Março. 20: Sofre pela última vez a Paixão; Março, 27: Piora e administram-lhe os Sacramentos; entra na segunda morte mística e muito dolorosa, porque assiste a uma espécie de destruição e incineração do próprio corpo, até 24 de Outubro de 1944; dita as suas últimas disposições, persuadida de que vai morrer; começa o jejum completo e a anúria vivendo somente da Eucaristia até à morte (Outubro de 1955); em lugar da Paixão, terá de agora em diante os êxtases das sextas-feiras. –No mesmo dia prediz a próxima Consagração as Coração de Maria. – Setembro, 5: Sente que será transformada pelo amor.
1943 De 10 de Junho a 20 de Julho: No Refúgio de Paralisia Infantil, é observada pelo Dr. Araújo quanto ao jejum e anúria. – Outubro, 11 Jesus confirma-lhe que Portugal será livre da guerra. – Outubro, 31: Sofre as penas do Purgatorio.
1944 Fevereiro: separação do espírito da alma. – Maio, 13: Misticamente sepultada. – Junho, 21: Primeiro encontro com o P. Humberto Pasquale, S.D.B., que será o seu segundo Director. – Junho, 3: Jesus entrega-lhe o Coração. – Agosto, 5: Jesus como um ladrão, entra nela e leva-lhe aquilo que é vida para o corpo; esta parte passa um dia no Céu, e o corpo permanece na maior dolor. Críticas e calúnias contra a sua vida (verão). – Setembro, 8: O Padre Humberto toma oficialmente a sua direcção espiritual. – Outubro, 24: Começa a sofrer a Paixão íntima de Jesus, que durará até à morte. – No Outono sofre a grandes intervalos as penas do inferno, com fases mais ou menos intensas até Outubro de 1945; – Outubro 24: Sente-se como sacrário da SS. Trindade. – Novembro, 4: Operações divinas do Espíritu Santo. – Novembro, 10: Setas de amor penetram-lhe o coração. – Novembro, 16: Reconhece-se sensivelmente transformada em Cristo. – Novembro, 27: Jesus chama-lhe “Bendita de meu Pai”. – Primeiro sábado do mês: É coroada rainha por Nossa Senhora. – Dezembro, 8: Jesus e Nossa Senhora entregam-lhe e fecham-lhe no coração a humanidade. – Tentativas para lhe tirarem o Director. – Dezembro, 29: Seu matrimónio místico.
1945 É inscrita entre os Cooperadores Salesianos. – Fevereiro, 26: Sente-se transformada em pecado e desconta durante longo tempo as várias categorias de pecados. – Março, 3: Jesus dilata-lhe o coração. – Março, 19: Mensagem para as famílias: imitar a Família de Narazé. – Abril, 24: Promessa da perseverança: privilégio de que se encontram alusões em outros lugares: por exemplo, no êxtase de 23 de Junho de 1944, referido neste volume. – Maio, 11: Mudança de corações entre Jesus e ela. – Maio, 20: União dos dois corações.  – Junho, 26: Jesus transforma-a n’Ele. – Julho, 23: Admitida à contemplação da SS. Trindade. –Agosto, 13: Contempla novamente a Trindade Augusta. – Agosto, 23: Revestida e como que transformada em pecado. – Setembro, 1: Novas e grandes manifestações da sua transformação em Cristo. – Setembro, 14: Jesus derrama-se a si mesmo no coração da Alexandrina.
A imagem que mais a popularizou, antes da beatificação
1946 Janeiro, 4-16: Mística ressurreição e Ascensão ao Céu. – Janeiro, 11: Divinas operações do Espíritu Santo; durante este ano sente em si a acção do Eterno Pai (o documento não tem data). – Outubro, 3: É colocada sobre duras tábuas e assim permanecerá até à morte. – Novembro, 24: Novo exame dos teólogos e de um médico ateu, que a deixa em estado doloroso. – Dezembro, 25: Uma cartinha importante ao Menino Jesus, em que renuncia à realização das promessas de Deus e à sua própria vida.
1947 Abril, 4: Mística descida ao limbo. – Abril, 15: Confirmação do seu matrimónio místico. –Julho, 20: Sentindo-se mal, escreve a sua carta-testamento aos pecadores.
1948 Fevereiro, 6: Vive por longo tempo o mistério da Igreja, simbolizada na torre descrita por Hermas. Reviverá este símbolo especialmente desde 1953 em diante. Naquele período durante alguns êxtases, soltará este apelo aflito: “A Igreja! A Igreja!” – Penetrará... na Paixão íntima de Jesus. – Julho, 14: Escreve uma cartinha aos pecadores, para ser colocada no seu jazigo. Setembro, 23: Perde o seu segundo Director.
1949 Abril, 22: Vive o símbolo da torre. – Junho, 24: Jesus encarrega-a de distribuir as riquezas do seu Divino Coração. – Setembro, 2: Jesus promete-lhe chamar ao seu túmulo muitos pecadores e convertê-los. – Outubro, 2: Nossa Senhora pede-lhe para prender a ela as almas com o Rosário.
1950 Março, 10: Jesus mostra-lhe a necessidade de que se multipliquem no mundo as almas vítimas. – Outubro, 20: Desde há tempos, carregando os pecados, parece-lhe envenenar a humanidade com todos os seus sentidos.
1951 Janeiro, 26: Vê a torre; Igreja gravemente ameaçada por todas as feras. – Fevereiro, 2: Parece-lhe ser como um sepulcro imenso, no qual deve fechar toda a mortalidade dum mundo que peca, para dar a vida a todos: a vida de Cristo. – Março, 23: Jesus promete-lhe que não a deixará nenhuma sexta feira sem Comunhão; à falta de sacerdote, em tal dia, desde então, comungará das próprias mãos de Jesus ou dum anjo.
1952 Janeiro, 5: Jesus promete-lhe que muitas almas se tornarão, pelo seu exemplo, ardentemente eucarísticas. – Durante este ano aumenta espantosamente o número das pessoas que visitam a Alexandrina. – Tem a sensação de ser como um pescador que tem muitas redes para lançar às almas. Jesus afirma-lhe:  Tu vives a minha vida pública.  Maio, 30: Jesus afirma-lhe: “Nunca, nunca me afastei de ti desde o dia do teu Baptismo”.
Tal como foi representada a quando da beatificação
1953 No dia de S. José recebe em audiência 570 pessoas, idas a Balasar aproveitando todos os meios de transporte. – Maio, 9: Recebe quase duas mil pessoas; fala cerca de dez horas. – Junho, 5: Recebe perto de cinco mil pessoas e no dia 10 quase 6 mil; foram contados 180 automóveis e muitas dezenas de camionetas. Depois destas audiências aos grupos de cinquenta aproximadamente, foi-lhe perguntado se se sentia cansada, e ela respondia: “Poderia receber outras tantas”. Novembro, 20: Jesus chama à habitação da Alexandrina “Calváario dos pecadores”. – Dezembro, 25: Último êxtase público; está-se cumprido a promessa: aproxima-se o fim. Visão da SS. Trindade.
1954 Abril, 9: 12o. Aniversário de jejum total; Jesus diz-lhe: “Coloquei-te no mundo, faço que tu vivas só de Mim para provar ao mundo aquilo que vales a Eucaristia e aquilo que é a minha vida nas almas”. – Nestes últimos tempos desconta os pecados contra a fé e a esperança. – Setembro, 10: Como em tempo ido, na morte mística, animais e aves lhe devoravam o corpo, agora porém sente que lhe devoram a alma. – Outubro, 1: A sua missão: “Incendiar o mundo com o amor de Jesus e de Maria”. 1a. sexta-feira: Místicos estigmas de amor.
1955 Janeiro, 7: Jesus prediz-lhe a morte: “Estás no teu ano, estás no teu ano, estás no teu ano!” Janeiro, 28: Afirma-llhe: “Estás posta no número dos meus santos”. – Fevereiro, 4: O Eterno Pai diz-lhe: “Esta é a nossa filha bem amada, em quem foram sempre postos os nossos olhares”. Março, 4: Martírio do olfacto atormentado por insuportáveis odores. – Maio, 6: O Coração Imaculado de Maria diz-lhe: “Dentro de pouco, venho buscar-te. –Outubro, 13: Voa para o Céu.
Padre Humberto Pasquale, seu segundo Director espiritual
1965 O salesiano director espiritual de Alexandrina, a convite do Arcebispo de Braga, inicia o processo diocesano sobre as virtudes de fama e santidade de Alexandrina.
1966 Recolhem-se os escritos enviados a muitos destinatários.
1967 Abre-se o processo diocesano sobre todos os escritos e començam a ser interrogadas, pelo tribunal eclesiástico, 48 testemunhos.
1973 Presente o Postualdor Geral dos Salesianos, encerra-se o processo diocesano. – A 21 de Maio são abertas, pela Sagrada Congregação, as duas caixas de escritos da Serva de Deus.
1976 A 30 de Novembro, o segundo teólogo dá também ele o seu voto positivo.
1977 A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé dá o “Nihil obstat” para tratar a causa
2004 25 de Abril, celebração, em Roma, pelo agora Beato João Paulo II, da cerimónia de Beatificação.

terça-feira, março 27, 2012

HINO AOS SACRÁRIOS




É com muito prazer que aprensetamos aos visitantes desta página, um primeiro vídeo do “Canal da Beata Alexandrina”.
Um outro seguirá em breve.

terça-feira, março 13, 2012

QUE MAR DE SOFRIMENTO !

Fazem-me tremer e arrepiar de pavor

– Dai-Me forças, dai-me graça, meu Jesus, se quereis que eu dite o que me vai na alma, se quereis que eu cumpra o meu dever de consciência. Não tenho forças, Jesus, e ditar os sentimentos da minha alma causa-me tanta repugnância!
Parece-me que não só morri, mas que nunca existi no mundo. Mas existe agora e existiu sempre a minha negra ingratidão, as minhas maldades e horrorosos crimes; fazem-me tremer e arrepiar de pavor. Desejo tanto os sofrimentos, sinto que os quero tanto, parece-me que estou louca por eles. Quanto mais sofro mais quero sofrer, mas sofro apavoradamente. Amo a dor e quero a dor e tenho dela o maior medo, o maior pavor. Corro para os sofrimentos numa alegria doida de os abraçar e ao mesmo tempo parece-me que com eles choro lágrimas de sangue e deles me queria esconder. Ó horror, tremendo horror! Quero sofrer, quero fugir à dor.
Nestes dias, em que tanto tive de dar a Jesus, não pude ter um momento de alegria ao oferecer-Lhe os meus sofrimentos. Muitas vezes repetia: por Vós tudo, meu Jesus, e pelas almas. Esse tudo, que oferecia a Jesus, não era meu, não era nada. Passei dias, passei noites neste estado, a dar, a oferecer, sem ter que dar, sem ter que oferecer. O que fiz eu? Entreguei-me à cruz, de mãos e pés cravada nela, dizia:
– Aceitai-me, Jesus, tal qual me sinto. Não sofro? Aceitai os desejos que tenho de sofrer! Não amo? Aceitai as ânsias que tenho de amar. Não sou eu, não vivo. Não tenho que oferecer? Aceitai tudo de quem é como se eu vivesse, se eu sofresse, se tudo me pertencesse. Estou na cruz, dei-me à cruz, espero da cruz passar à Vossa glória, ao Vosso amor, ao Vosso céu. Confio, confio, meu Jesus. Sinto na minha alma tantos maus tratos! E sinto também remorsos ou não sei quê de várias pessoas que me têm feito sofrer. O que é isto, meu Jesus? Não bastam os sofrimentos que me causaram, ainda tenho de sofrer a traça que lhes rói a alma! Sou a Vossa vítima, Jesus. Pecar não, mas tudo o que seja para eu Vos amar e Vos dar glória: quero tudo, aceito tudo, meu Jesus.
O demónio não veio ainda com os seus ataques tremendos. Tem-me aparecido, sim, em forma de tremendas feras, feios esqueletos, a fazer-me gestos maus e a dizer-me se ainda não estou restabelecida das minhas forças para continuar a minha vida de vícios, de gozos e de crimes. Nesta noite, apareceu-me em forma de homem, de pé junto da minha cama. A altura dele era quase a do meu quarto. Na cabeça tinha um chapéu grande, parecia-me de ferro. Vestia três cores: vermelho-encarnado, verde e preto. O rosto parecia um monstro, olhos muito feios. Demorou-se junto de mim, mas não me tocou. A visão foi assustadora, ele podia engolir-me inteira. Que mais poderá ele pintar!
Sou sempre a vítima de Jesus. Os espinhos não cessam de cair sobre mim, caem com tanta força! Ferem-me o corpo, ferem-me a alma. E, há dois dias, sem receber o meu Jesus! Onde hei-de ir buscar a força para os suportar? Estão sempre gravados diante de mim os quadros tristíssimos que Jesus desenhou na minha alma: o mundo, o limbo, o inferno. Quantas vezes nem posso respirar, para nada vejo remédio, nada posso fazer por eles. Só agora, caminha para dois dias que a minha alma sente uma chuva miudinha, chuva de nevoeiro, uma chuva de sangue que orvalha a humanidade inteira. Sofro incessantemente com isto, não por ver e sentir esse orvalho de sangue, porque é orvalho de amor, é orvalho que dá de tudo, mas sim porque esse sangue que orvalha sai de mim mesma, sai do meu coração, das veias do meu corpo.
– Ó que dor, ó que dor, que só ela tirava a vida ao mundo! Ó tarde de quinta-feira que me trazes tudo; que mar de sofrimento! Estou tão manchada, causa-me tanta repugnância ver-me assim! Tenho tanta vergonha que o Eterno Pai me veja e observe a traição que me preparam! Se pegassem em mim e me pusessem à boca duma fera, não teria tanto medo, não me causariam tanto horror os sofrimentos de lá como me causam estes e a sexta que se aproxima. Ó sofrimento que por tão poucos és compreendido! Aumentai em mim, Jesus, amor, só amor. (Sentimentos da alma: 1º de Fevereiro de 1945)

PRENDI O MEU CORAÇÃO AO TEU

Nada há que possa separar-nos

Jesus hoje pede-me dois sacrifícios, um da alma, outro do corpo. Da alma, por ter de ditar tudo o que ela sente e sofre; do corpo, por ser tão grave o meu estado que nem posso mover os meus lábios para falar. Parece-me que com cada palavra que pronuncio me vem arrancado o coração e as entranhas. Confio em Jesus que me vai auxiliar ao menos para dizer as suas divinas palavras. Resumo os sentimentos da minha alma. De manhã logo, quando me sentia correr para a morte e a morte correr para mim, corria porque impulsos de amor me obrigavam a correr. Só o sangue e a morte seriam a salvação do mundo, e eu queria salvá-lo. Quantas vezes, no trajecto que percorri, caí desfalecida, e parecia mesmo, mesmo perder a vida. Perder a vida para dar vidas dava-me forças, voltava a caminhar. No calvário, na cruz, sentia o meu sangue sair de mim a jorros. Calma e serena, com o espírito só em Deus, esperava o momento da maior felicidade, o momento da salvação. Veio depois Jesus, tão cheio de ternura e amor por mim.
– Minha filha, tabernáculo divino, sacrário onde habito, prisão de doçura e amor. Prendi o meu coração ao teu, ataram-nos os laços do mais santo amor; prenderam-me, prenderam-me os teus laços encantadores, laços brilhantes, laços do mais puro e fino oiro. Minha esposa, minha esposa, nada há que possa separar-nos, nada há que possa cortar os laços matrimoniais que nos prendem. Ó minha pomba bela, minha rainha, meu palácio. Rainha do Rei Celeste, palácio da Sua habitação. Minha filha, vida de amor, língua de louvor, pureza angélica. Por ti o mundo será puro; pela tua língua o mundo Me louvará; pelo teu amor seráfico o mundo me amará. Ó pomba, ó bola, ó jardim divino, és tu o jardim, eu o jardineiro. És jardim de virtudes de encantos, encantaste o meu Coração. És e serás sempre o encanto dos pecadores.
– Isso, sim, meu Jesus, isso quero eu encantá-los para Vós, custe o que custar, meu amor. Peço-Vos a grande graça de os fechardes a todos em Vosso Divino Coração; não quero que nenhuma alma se perca, não quero, não quero, meu Jesus. Eu não Vos nego os sofrimentos, não me negueis também as almas.
– Filhinha, filhinha, heroicidade do mundo, heroicidade sem igual, assim como sem igual é a tua dor, o teu amor. És rica, és poderosa. Preparei em ti um armamento forte, armamento de guerra; não é de armas nem fogo destruidor, é armamento das virtudes mais heróicas, da pureza mais angélica, de amor de Querubins e Serafins. Preparei em ti o que preparam as nações para combater as guerras. O armamento que em ti depositei não é só para combater Portugal, mas sim o mundo inteiro. Combaterás, minha filha, e vencerás. Partes para o céu e na terra ficará sempre o armamento divino que em ti guardei, e tu, ó pomba branca, ó pomba angélica, recolheste-o em ti, abraçaste-o sofrendo, abraçaste-o amando. Tu és, minha esposa amada, um novo evangelho assim como és a nova redentora. Novo evangelho, onde está escrita, gravada, bem gravada a vida de Cristo crucificado. Vida de dor, vida de amor, vida de loucura pelas almas, vida de caridade, vida das ciências e doutrinas de Cristo Redentor. Assemelhei-te a mim, retratei-te em mim, ó vítima querida, ó inocente salvadora deste ditoso calvário. Salva-me as almas, põe-nas ao abrigo do manto que por minha bendita Mãe te foi dado. Coragem, filhinha. Já que tanto te amei, tanto a mim te assemelhei. E, porque assim a mim te assemelhei, à semelhança minha és caluniada, perseguida e desprezada. Nada temas. Dias de sol brilhante e resplendoroso se aproximam, sol que nunca mais se escurecerá, brilho que nunca mais desaparecerá. A causa é minha, o triunfo é certo. Será esta minha causa destruída, quando destruída para sempre for a minha Igreja, a minha doutrina. Descansa, minha filhinha, descansa em meus divinos braços. Sofres muito? Sofres ao máximo? É o meu divino amor. Alegra-te, são salvas muitas almas. Toma conforto em meu Divino Coração.
Senti-me nos braços de Jesus, por Ele fui muito acariciada. Sentia a ternura do Seu Divino Coração e a compaixão pelos meus sofrimentos. Teve-me em Seus divino braços por espaço de algumas horas. Fez-me lembrar a mãe que não abandona o seu filhinho, quando ele está moribundo. Eu sofria muito, é certo, mas confortada com os miminhos de Jesus e as Suas ternas carícias. Humilha-me, aterra-me tanta bondade de Jesus para comigo. (Sentimentos da alma: 28 de Janeiro de 1945)

quinta-feira, março 01, 2012

TENHO SEDE DE SOFRER…

– Ligai, meu Jesus, o meu coração ao Vosso


Deixaria o sol e a luz do dia de existirem no mundo? Parece-me que a noite mais tormentosa e escura o invadiu todo. Não há luz, não há alegria, não há vida. Morri eu e sinto que morreram todos os que me são queridos. Tive o meu médico junto de mim, parecia-me que não o via, era como um cadáver ao pé doutro. Ele, como sempre, na sua bondade e santidade, procurou levantar-me do meu desfalecimento, infundir-me coragem e confiança.
– Ó meu Deus, que indiferença! O que ele dizia parecia não ser para mim. Tinha até medo dele, muito medo. Jesus, tirais-me tudo, dai-me o Vosso divino Amor em troca desse tudo que me tirais. Dai-me um mundo de almas e dai-me mundos e mundos do Vosso amor infinito. Quero amar-Vos com esse amor e amar-Vos por esse mundo de almas que Vos peço. Tenho sede, Jesus, tenho sede, sede que me abrasa e consome, sede que aqui na terra nunca mais pode ser saciada. Tenho sede de amar-Vos e ver-Vos amado por esse mundo de almas que Vos peço. Tenho sede de sofrer, sofrer a mais não poder, para conquistar e salvar para Vós esse mundo.
– Ó mundo, ó mundo, sem querer pertencer-te, sem querer amar-te, amo-te loucamente, quero-te a todo o custo, não posso deixar-te, ó mundo querido, sem ver-te salvo, inteiramente salvo. Estas ânsias, estes desejos não me pertencem, não nascem de mim; eu sou morte, só morte. Sejam de quem forem, pertençam a quem pertencerem, são para Jesus, são para O consolar, são para O amar.
– Ligai, meu Jesus, o meu coração ao Vosso, que nada haja que nos possa separar. Ligai também a Vós os corações do mundo inteiro; não quero que haja outra coisa nesta pobre humanidade a não ser amor, amor puro ao Vosso coração divino. Quero que esta vida seja uma vida só de louvor para Vós. Que mais posso desejar, Jesus, que mais posso sofrer? Queria arrancar o meu coração e entregá-lo a arder nas chamas mais fortes e do amor mais ardente e poder dizer-Vos: este é o amor de toda a humanidade, este é o amor de todos os filhos Vossos. Amor, Amor, meu Amor, quero dizer-Vos tudo pelo mundo e por ele sofrer tudo sem excluir ninguém. É verdade, meu Jesus, isto que Vos digo, são sinceras as minhas palavras, não é intrujice minha, por graça Vossa não sei intrujar.
(Sentimentos da alma: 25 de Janeiro de 1945)

QUE TRISTE QUINTA-FEIRA !

– Ó meu Deus, que mar de sofrimento à minha frente!


— Quando, nestes dias, Vos oferecia as minhas dores quase insuportáveis, os ardores da febre e frequentes vezes me oferecia como vítima, sem eu querer, quantas vezes me vinha ao pensamento: não é intrujice, Jesus, é a verdade para a minha oferta, e todos os sofrimentos os suporto por Vosso amor e pelas almas.
Que amargura, que triste amargura esta frase causou à minha alma: tudo sem uma intrujice. Nosso Senhor não tem permitido, nestes dias de sofrimento indizível, que eu seja atacada pelo demónio. Só uma vez ou outra ele lá vem com as suas falsas palavras:
– Não é verdade que pecas quando tu queres? Agora que a doença te aflige mais não queres o gozo, não queres o prazer.
Cobrindo-me de insultos, retira-se.
– Ó meu Deus, que mar de sofrimento à minha frente! Que triste quinta-feira! Quanta falsidade me preparam!
É já noite; sinto-me numa grande reunião, num convívio de grande intimidade, as conversas são animadoras. Dois quadros tão diferentes se apresentam na minha alma: uma traição sem igual e um amor sem igual. Um amor, uma doçura, uma ternura sobre essa traição que não há corações, não há lágrimas que o possam explicar. Quantos convites cheios de doçura a essa traição. O traidor resiste, a nada se rende, não se sente bem ao pé do cordeirinho, vítima inocente. Não sei dizer as bondades e delicadezas de Jesus. Queria que a minha alma fosse um livro onde todos pudessem aprender as bondades, ternuras e o amor de Jesus.
(Sentimentos da alma: 25 de Janeiro de 1945)