sábado, setembro 28, 2019

A HÓSTIA QUE VOA...


Alegra-me contar-vos um caso muito particular sucedido no quarto da Alexandrina e que mostra os seus dons “de ciência” e de bons “conselhos” extraordinários e a misericórdia de Deus para com aqueles que são humildes, mesmo se grandes aos olhos do mundo.

Como já disse, a Alexandrina só esteve na escola 18 meses, durante os quais aprendeu as bases de sua língua materna, o que permite dizer que ela tinha apenas uma cultura rudimentar. Ela mal sabia ler e escrever!

Apesar dessa desvantagem, ela foi dotada de uma ciência divina que surpreendeu todos os que a questionaram sobre vários pontos difíceis da doutrina católica. Um exemplo esclarecedor é o de um grande teólogo e professor de teologia num importante seminário português.



«Um dia, um sacerdote, teólogo confirmado, visitou a “Doentinha de Balasar”, fez-lhe muitas perguntas, algumas das quais representavam dificuldades teológicas reais, e Alexandrina respondeu-lhe com a simplicidade e humildade a que estava habituada. O sacerdote, que não se considerava alguém tendo a “ciência infusa”, ficou maravilhado com as suas respostas simples e de bom senso. Antes de partir, perguntou à sua hóspede se ela concordaria em rezar com ele. Alexandrina aceitou, e com alegria. O padre ajoelhou-se ao lado da cama e ambos recitaram algumas orações. Ao levantar-se para partir, sua surpresa foi grande, porque já não viu o rosto de Alexandrina, mas o do Cristo sofredor. Ele testemunhou voluntariamente sobre este caso e acrescentou este comentário:

«Eu sou professor de teologia, mas nunca ninguém me explicou com palavras tão simples e tão correctas o mistério da Santíssima Trindade, como fez Alexandrina.»

Jesus tinha anunciado diversas vezes que assim seria:

«Este bálsamo que ponho nos teus lábios é para que sejam fortalecidos e fales às almas do meu amor, para que as aconselhes com a luz do Espírito Santo, a fim de que se reconciliem comigo e sigam a minha lei.» (S. 01-09-1950)

E ainda:

«Felizes aquelas (as almas) que se aproximam de ti e que o teu olhar as atinge! É o meu olhar sobre elas, é o meu olhar terno e compassivo. Criei-te para elas, para esta missão sublime.»
«Eu sou a tua vida; não tens vida humana, tens vida divina. Não tens a vida da terra, Vives a vida do Céu.»

O professor de teologia não sabia isto. Mas, é preciso dizê-lo, ele nos dá uma grande lição de humildade e lealdade: sabia aceitar uma evidência e, talvez por causa dessa humildade e simplicidade, o Senhor lhe concedeu a graça de ver seu santo Rosto. [1]

Noutras circunstâncias, quando algumas pessoas se aproximavam de sua cama para pedir conselhos e até graças por sua intercessão, Alexandrina não tinha necessidade de fazer perguntas: ela sabia para o que vinham e quais eram os problemas de suas vidas: ela lia nos corações daqueles ou daquelas que vinham ao seu encontro, submetendo-lhe muitas vezes casos delicados.

Aconteceu que homens viessem encontrá-la para que ela os ajudasse a abandonar os maus caminhos que enveredavam. Ela aconselhava-os e rezava com eles.

Quando se preparavam para sair do quarto, ela os chamava e a alguns dizia : “Dê-me a chave que tem no seu bolso”. A chave do pecado, para certos homens casados, mas infiéis.

Ainda hoje existe, na casa onde viveu a Alexandrina, uma cestinha que está quase cheia de chaves dessas… as “chaves do pecado”.

Casos como o que contei, aconteceram muitos, com outras pessoas e mesmo com os seus Directores espirituais, os Padres Mariano Pinho e Humberto Pasquale.

O mesmo aconteceu igualmente — e mais do que uma vez — com o Dr. Augusto de Azevedo, seu médico assistente.
***
Vou contar-vos o que aconteceu com o seu primeiro Director a quando do primeiro encontro entre eles:

No primeiro dia em que o Padre Mariano Pinho, foi a Balasar para ali pregar um tríduo, o Pároco confidenciou-lhe que tinha uma doente com uns sinais de algo de sobrenatural na sua vida, mas que a ele lhe custava acreditar. O Padre Pinho logo se ofereceu para a visitar e para fazer o que estiver ao seu alcance no discernimento dos sinais. Foi prontamente convidado a levar-lhe a Sagrada Comunhão logo no fim da Santa Missa. De bom grado aceitou.

Recolhido, levando o Santíssimo Sacramento, lembrando o que o Pároco lhe havia confidenciado, humildemente segredou ao Senhor:

— Se estais presente e actuando as maravilhas da Vossa graça nessa alma, dignai-Vos fazer-me um pequeno sinal.

Este curto pedido faz-nos pensar em S. Tomé! E como S. Tomé, o Padre Mariano Pinho vai ter uma resposta luminosa, como sempre são as respostas de Jesus aos homens de coração puro… e não só!

Caminho feito, sobe as escadas, vê a Alexandrina de olhar vivo como quem espera Nosso Senhor. Feitas as orações rituais, chegou o momento de mostrar a Hóstia Santa, dizendo “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”, e, sem saber como, a Sagrada Hóstia desaparece de suas mãos para a ver logo na boca da Alexandrina, que fica envolvida pela graça da Comunhão, o momento maior e mais marcante de cada um dos seus dias.

Evidentemente, o Padre Mariano Pinho ficou estupefacto, mas com a certeza que “o dedo de Deus” estava ali, o que facilitou grandemente a longa conversa que ambos iam ter pouco depois.

O Padre Manuel de Araújo, homem de certa cultura e bom pregador, deve ter recebido a opinião do Jesuíta com um certo alívio, ficando provavelmente menos céptico quanto ao caso da sua paroquiana.

Pouco depois ele deixará Balasar por motivos de saúde.

Na sua autobiografia a Alexandrina recorda algumas vezes o Padre Manuel de Araújo.


[1] Afonso Rocha : “O Sangue do Cordeiro”. Edição do autor.

A FAMÍLIA DE COIMBRA


Já aqui vos contei alguns casos que se passaram com a Alexandrina enquanto viva e mesmo um outro acontecido depois da sua morte.
O caso que hoje vos vou contar, o melhor que vos vai contar o Sr. José Ferreira da Silva e Sá, aconteceu enquanto ela vivia.


Este senhor que esteve presente no quarto da Alexandrina a quando do encontro que um cavalheiro de Coimbra, seu amigo, teve com a “Doentinha de Balasar”
Por razes que facilmente, ele não citará nenhum nome, para evitar que alguém descobrisse a identidade do seu amigo a quem ele chamará “cavalheiro”. Eis o testemunho do Sr. José Ferreira sobre esta caso:
— «Um cavalheiro de Coimbra tinha a mãe doente. O pai era negociante, um irmão médico e outro advogado. Quem mo apresentou foi um representante do Banco Pinto & Sotto Mayor, dizendo-me que ele desejava falar com a Alexandrina para obter a cura da mãe.
Como nesse dia tivesse uma reunião com os presidentes das Juntas de Macieira e Gueiral, disse-lhe que esperasse. Mas ele resolveu levar-me de carro a essa reunião, e chegamos a casa da Alexandrina ao anoitecer. Pedi para ser recebido e entrei.
O cavalheiro ficou de pé, comovido até às lágrimas, e não se atreveu a dizer palavra. Eu animei-o, dizendo-lhe:
— A Alexandrina é muito nossa amiga e pedirá a cura da mãe.
Mas a Alexandrina disse:
— Eu nada faço, eu nada valho, eu nada posso!
E, olhando para o cavalheiro e erguendo a voz:
— Quem pode é você. Arrepie caminho. Confesse-se condignamente! E depois comungue, comungue muitas vezes. Consiga que o seu pai, a sua mãe, o seu irmão médico e o outro, advogado, arrepiem caminho. Que se confessem e comunguem!
— Note-se que a Alexandrina não conhecia nem o cavalheiro nem a família!
Quando estiverem em estado de graça, então peçam a Deus e Ele os atenderá. Porque, se o senhor estivesse zangado aqui com o Sr. Sá e lhe quisesse pedir uma dúzia de contos, primeiro fazia as pazes com ele e depois apresentava-lhe o seu pedido.
Não sei dizer a emoção do cavalheiro. Fomos embora. Entrando no carro, ele disse-me:
— Sinto-me outro daquilo que eu era.
Mais tarde, um ano depois, veio cá visitá-la acompanhado pelos dois irmãos. Estiveram em minha casa para me cumprimentarem. Quando os dois irmãos entraram no carro, ele disse-me:
— Eu, em facto de religião, era assim, assim. Mas os meus irmãos eram ateus, e hoje são religiosos quase fanáticos. Também a mãe já cá veio agradecer a cura».
Aqui termina este testemunho que prova, se necessário fosse, o poder de intercessão da Beata Alexandrina junto do Coração de Deus, que ela tanto amou e ama ainda mais, como se pode imaginar.
Casos como este aconteceram muitos e, ela mesma conta um deles na sua autobiografia e em cartas escritas ao seu primeiro director espiritual, o Padre Mariano Pinho.
Era assim que, junto do leito da Alexandrina, por tantos anos vítima dos pecadores, se cumpriam as palavras que Jesus lhe disse em 30 de Abril de 1954: «Nenhuma alma sai daqui como entrou. Quantas ressurreições!»
Já em 15 de Junho de 1945, Jesus tinha dito à Alexandrina:
— «Minha filha, quando me pedires para as almas a graça da conversão ou do meu divino amor, vencerás o meu Coração. Tomarei o teu pedido, como se fosse uma ordem dada. Vês como te faço rica? Vês a loucura do meu amor por ti?»
E ainda esta outra promessa feita por Jesus em 28 de Dezembro de 1945, que nos deixa de boca aberta:
— «Minha filha, prometo-te, depois da tua morte, a conversão de muitos pecadores junto do teu túmulo. Virão visitar-te e sairão outros de junto de ti».
Não esqueçamos estas promessas de Jesus e peçamos as graças e dons para o bem das nossas almas por intermédio da Beata Alexandrina, que sempre nos escuta e nos ajuda. Disso posso eu mesmo testemunhar.
Afonso Rocha

ALEXANDRINA E ERMESINDE


Falar da Beata Alexandrina e da pequena cidade de Ermesinde pode parecer estranho para alguns, sobretudo sabendo que a “Doentinha de Balasar” nunca visitou Ermesinde, nem mesmo quando foi internada no antigo Hospital da Foz do Douro, dirigido pelo Dr. Gomes de Araújo.

Para aqueles que não conhecem, Ermesinde é uma pequena cidade situada a menos de 10 quilómetros da cidade do Porto e faz parte do conselho de Valongo.

Antiga igreja Martiz de Ermesinde

A Matriz, situada quase no centro do burgo é de construção recente e tomou o lugar de uma velha igreja que viu passar na sua estreiteza algumas celebridades do tempo, entre as quais o Padre Avelino de Assunção — pároco de Ermesinde de 1914 a 1956 —, sacerdote muito activo e empreendedor que mereceu da municipalidade que o nome de uma das ruas da cidade lhe perpetue a memória bem merecida.

Mas então, se a beata Alexandrina nunca veio a Ermesinde, porque falar dela e desta cidade?
Porque dois dos mais importantes personagens que marcaram a vida da Beata aqui estiveram e marcaram indelevelmente as suas passagens por aqui.


O Dr. Augusto de Azevedo
O Padre Mariano Pinho

O primeiro deles foi o Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo que depois de ter abandonado o Seminário de Braga, veio, nos anos 30, leccionar no Colégio de Ermesinde, colégio situado junto à bem conhecida igreja de santa Rita.

Ele não se limitou ao ensino das Letras aos jovens que frequentavam o Colégio, mas dedicou-se igualmente à catequese, não só na igreja vizinha, mas também na velha Matriz e noutras paróquias que solicitavam a sua ajuda.

Foi durante a sua estadia em Ermesinde que ele decidiu começar os estudos de medicina.
Tendo obtido com êxito os devidos diplomas, voltou para Ribeirão, sua terra natal — freguesia situada perto de Famalicão e de Balasar — onde foi exercer a sua actividade médica.

Foi nesse tempo que conheceu a Alexandrina, tornando-se seu médico assistente em 14 de Fevereiro de 1941, assistência que durou até à morte dela em 1955.

O Dr. Azevedo não somente foi médico assistente da Beata, mas também seu conselheiro, em determinados momentos, quando por duas vezes, por exemplo, perdeu os seus directores espirituais.

Diplomado em teologia, a quando do seu tempo de seminarista em Braga, o médico dos corpos sabia também curar, ou ajudar a curar as almas.

O segundo personagem que passou por Ermesinde e que também interveio na vida da Beata de Balasar, foi o Padre Mariano Pinho — natural do Porto —, primeiro director espiritual da Alexandrina.

Este sacerdote Jesuíta disfrutava de grande fama de pregador — foi ele que pregou os exercícios espirituais aos Bispos portugueses reunidos em Fátima — e percorria Portugal de norte a sul para pregar tríduos… e também foi chamado a Ermesinde pelo Padre Avelino de Assunção para aqui pregar um tríduo, como prova uma carta escrita nesta paróquia à Alexandrina de Balasar.

A carta começa assim:

«Ermesinde, 9 de Agosto de 1937
Alexandrina:
Cá estou outra vez a importuná-la. Como tenho uma hora de espera pelo comboio, chega-me o tempo para lhe escrever.»

E como sempre, nas suas cartas à sua dirigida, a dita carta termina com a bênção:

«Abençoa-a em nome de Nosso Senhor,
Padre Mariano Pinho.»

Isto prova que ele aqui pregou provavelmente nos dias 6, 7 e 8 de Agosto de 1937, voltando depois para Braga, como ele explica na carta acima citada.

Eis porque se pode dizer que a Beata Alexandrina, sem nunca ter vindo a Ermesinde, tem com esta cidade um traço de união que, não sendo importante, merecia ser explorado e sublinhado.
Afonso Rocha

sexta-feira, setembro 27, 2019

A VIDA PÚBLICA DA ALEXANDRINA


A Beata Alexandrina, nos primeiros anos da sua vida mística, viveu no seu quartinho quase sozinha: apenas a família e alguns amigos estavam ao corrente do seu estado de vítima voluntária para a salvação dos pecadores.
Mas, pouco a pouco, a sua fama de santidade foi-se espelhando pelas freguesias vizinhas e depois ao Norte de Portugal e finalmente a Portugal de Norte a Sul e mesmo no estrangeiro.
No princípio a que mais de perto lidou com ela foi sua irmã Deolinda que se ocupava carinhosamente da sua toilette e depois, quando as locuções interiores começaram, de escrever o que Alexandrina lhe ditava.


De facto, derivado à doença, a Doentinha de Balasar tinha dificuldades em segurar a caneta em suas mãos o que levou a Deolinda a tornar-se a sua “secretária”, a mais da sua primeira confidente.
Esta irmã, cuja caridade foi, exemplar, recusou casar-se para poder ocupar-se da irmã, o que constitui sem qualquer dúvida um acto corajoso e louvável.
Depois, quando a fama da Alexandrina passou além fronteiras da freguesia, era também a Deolinda que se ocupava das visitas. Se elas eram poucas no princípio, não se pode dizer o mesmo mais tarde, porque chegaram a passar no quarto da Beata mais de 6000 pessoas, em grupos, num só dia.
A todos estes visitantes ela dirigia palavras carinhosas e ensinamentos que a muitas e muitos fizeram mudar de vida.
A um grupo numeroso, antes que todos voltassem a casa, ela dirigiu estas palavras cheias de ensinamentos:
«Antes que todos se retirem, quero dizer-vos algumas palavras:
— Que esses olhares curiosos, fixando todos um só olhar, que todas as pessoas que me escutam, tirem algum proveito do meu martírio para as suas almas. É a razão que me leva a imolar-me; é a razão que me leva a sacrificar-me; é a razão que me leva a aceitar de Jesus tudo o que ele me quer dar — todo o sofrimento que Nosso Senhor me quer enviar — eu sempre aceito tudo.»
Depois, estas palavras onde ela lembra o que se dizia dela em algumas regiões. Ela não se queixa, mas serve-se delas como um exemplo, como um meio de sofrimento que ela oferece:
«Quereis afastar a justiça de Nosso Senhor?
Oh! então despachai-vos, arrepiai caminho, fazei penitência pelos vossos pecados e mudai de vida. Infelizmente, não sou uma santa, mas tenho a obrigação de ser. Vós também tendes essa obrigação, porque Nosso Senhor nos convida à santidade. Pouco me importa que me chamem bruxa — e é verdade que alguém me chama assim — pouco me importa que me considerem uma hipócrita. Isso também não me importa.
Quanto sofreu Nosso Senhor? O que não foi dito sobre Ele? E, apesar disso, calou-se; cristãos, calou-se! Infelizmente, eu não me calo como Nosso Senhor se calou, eu me insurjo sempre, me levanto, o meu ego rebela-se, de vez em quando, mostrando o que eu realmente sou. Mas, eu gostaria de ser uma bruxa, uma bruxa para Jesus. Isso é o que gostaria de ser.»
E prossegue com a mesma fuga:
«Para quê? Para quê?
Mas para vos enfeitiçar a todos, para vos dar a Jesus, porque é a Jesus que eu quero procurar toda a alegria; é por Jesus que eu amo todas as vossas almas. Muitos dos que estão aqui, eu não os conhecia, mas já os amava, já estava sofrendo e rezando por eles.»
E, quase ao terminar o seu longo “sermão” — que muitos sacerdotes gostariam de ter feito — ela diz ainda:
«Eu tinha dito a todos: “Aproveitai do que ouvistes, que as minhas palavras — ditas com tanto sacrifício — caiam sobre os vossos corações e fiquem impressas em letras de fogo; que elas jamais se apaguem...
Amai Jesus e a Mãezinha! Amai Jesus e a Mãezinha! Amai Jesus e a Mãezinha!
O meu coração está cheio dele e os meus lábios só falam do que o meu coração está cheio! Amai Jesus! Aquele que ama não ofende a Deus, e aquele que não ofende a Deus também não ofende ao seu próximo.
Jesus tinha dita à Alexandrina que ela viveria a sua vida pública e, de facto, quando o Arcebispo de Braga levantou a proibição de a visitarem, começou então esta “vida pública” com milhares e milhares de visitantes, sendo muitas vezes necessária a presença da polícia para canalizar o povo e evitar desordens.
Este “sermão” da beata Alexandrina de que falei encontra-se transcrito num dos livros que escrevi sobre ela e que se intitula “Flor eucarística”.
Afonso Rocha

ALEXANDRINA E INTERNET


Pensei que seria bom dar-vos algumas informações sobre o que se passa na Internet a respeito da Beata Alexandrina e o que eu mesmo fiz nesse sentido.


Em 1995, mandei instalar a Internet em minha casa (em França não como nos Estados Unidos) e o meu fornecedor de acesso proponha paginas pessoais gratuitas, o que me permitiu, ajudado por alguns amigos — porque eu não percebia nada daquilo — a ter a ideia de um Site consagrado à então Serva de Deus, Alexandrina Maria da Costa.
Comecei a preparar algum material que traduzi em francês — porque à partida o Site era destinado aos visitantes de língua francesa — e guardei para o momento oportuno.
O dia chegou em que criei o Site «http://alexandrina.balasar.free.fr» e lá coloquei o pouco que tinha guardado.
O fornecedor de acesso permitia verificar as estatísticas do Site e no fim do mês fui verificar as visitas. Tinham sido 23 pessoas a visitar o meu humilde trabalho. Fiquei contente, quase como uma criança que recebe dos pais o seu primeiro brinquedo, vejam lá!
Continuei pacientemente a «alimentar» o dito Site e muito rapidamente o número de visitantes aumentou, passando para mais de 500, o que me alegrou, como podem imaginar.
Por E-Mail comecei a receber mensagens de encorajamento de pessoas que não conhecia mas que pareciam interessadas pelo meu trabalho, algumas delas portuguesas, pedindo que integrasse a língua de Camões no meu Site e, assim fiz.
Depois do francês e do português, vieram outras: italiano, espanhol, inglês, polaco e o que mais me admirou foi que alguém me enviou uma Via-Sacra traduzida dos textos da Alexandrina, em japonês, que com grandes dificuldades, por não conhecer a língua coloquei no Site.
Apareceram depois várias pessoas de várias nacionalidades que me propunham ajuda, o que muito facilitou o meu trabalho e a divulgação do Site que se tornara poliglota.
Uma das primeiras pessoas a querer participar nesta aventura, foi o Prof. José Ferreira, com quem me tornei amigo e ainda hoje o somos, vindo logo a seguir o antigo Pároco de Balasar que se propôs a compor os comentários para a liturgia dos domingos e festas…
Tudo este movimento deu asas ao Site que agora acolhia mais de 5.000 visitantes por mês, vindo mesmo, alguns anos depois a acolher mais de 10.000 mensalmente… E mais ainda, actualmente, pois é sem qualquer dúvida o maior do mundo sobre a Beata Alexandrina.
Sentia-me feliz por poder assim fazer conhecer e amar a Alexandrina Mari da Costa que tanto amava, considerando-a mesmo como a minha «irmã mais velha».
Este êxito inesperado para mim, levou o Padre José Granja, então pároco de Balasar a pedir-me que criasse um Site «oficial», o que fiz com ele, em Balasar mesmo, no dia 22 de Agosto de 2002.
Este novo Site foi “oficial” durante 6 anos, até à chegada do novo pároco que não quis continuar a colaboração e desde logo o Site que fora oficial se tornou o «Site dos amigos da Beata Alexandrina» e que tem tido um feliz sucesso junto dos visitantes.
Entretanto tinha criado também alguns Blogs sobre a Alexandrina que continuam a ser visitados regularmente.
Com a chegada do Facebook, criei uma página cujo sucesso foi fulgurante ao ponto de me obrigar a abrir uma segunda página, visto o número de “amigos” ser limitado a 5000.
A estas páginas vêm muitos portugueses e milhares de brasileiros, assim como os portugueses da diáspora que ali vem numerosos, quer do Canada como dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Suíça e outros países da Europa, mas também da América do Sul, tais como argentinos, venezuelanos, chilenos e uruguaios.
Não tiro destes modestos sucessos qualquer vaidade, porque não o faço para mim mas para aquela a quem tanto devo sobre o ponto de vista espiritual e que é, devo dizê-lo, minha “Comadre”, por ser a madrinha de baptismo da minha filha mais nova que também se chama Alexandrina.
Feliz por ter conversado convosco e até à próxima, se Deus quiser.

terça-feira, setembro 17, 2019

AS GRANDES DÚVIDAS


Não sei como, não sei se aguentarei a minha vida tão dolorosa e triste. Eu não quero duvidar da protecção do Céu, porque nunca, nunca, nas horas mais amargas e difíceis me faltou o conforto, mas agora, meu Deus, perdoai-me, agora, que tenho a tentação tão viva, tão viva de a eternidade não existir, receio vacilar. É uma luta eu repetir o meu “creio”, é uma luta o pensar que o Céu me espera, é uma luta recordar todas as verdades, porque no meu sentir tudo é uma mentira. Minto-me a mim e aos outros, é falso, falso todo o meu viver. Como triunfar, Senhor? Mesmo no sentimento da mentira hei-de acreditar e confiar. Espero, espero em Vós! Parece-me que, de cada vez, o meu coração se torna mais sensível à dor e a todas as coisas que surgem. Eu não devia sofrer pelas calúnias que de mim dizem, como podem acreditar os outros quando eu em nada acredito. Não devia sofrer com as dúvidas que têm de mim, pois se eu mesma as tenho todas, todas!


— Ó Jesus, ó Mãezinha, só Vós me podeis valer. No meio dos meus desânimos, como são profundos os espinhos que me ferem! Todas as coisas me ficam presentes, como se eu as quisesse ver e recordar. Ó Jesus, só Vós sabeis compreender. Perdoai-me todos os meus desfalecimentos; mesmo sem eu querer, recordo-os.
Nasci para a dor; não nasci para mais nada. Quantos segredinhos ocultos, quantas coisas eu não esclareço. O Céu, o Céu tem a visão de tudo. Na minha grande inutilidade, não deixo de oferecer aos meus queridos Amores, causa da minha loucura e para a salvação das almas.
— Oh, se o meu coração falasse, se o meu livro estivesse aberto, nunca, nunca na terra seria terminada a leitura. Que virá mais, Jesus? E quando chegará o meu Céu tão imerecido?
Parece que não posso esperar, não posso esperar mais, não posso sofrer mais. Está pronta a vontade, sempre pronta a dar-se ao Senhor, mas a natureza apavorada não pode, não pode mais. Todos, todos os sofrimentos se vão repetindo em mim. A visão do mundo, a visão das almas causam-me dor infinita. Meu Deus, sou a Vossa vítima.
Por não poder, resumo assim o que se passou em minha alma dou já entrada ao Horto e ao Calvário que eu vivi numa amargura indizível. Sempre a ser a mesma massa da terra, sempre a sentir os meus nervos a desconjuntarem-se e mais ainda uma coisa semelhante, que sofria há anos, a ser comida, lentamente, com a diferença: há anos era o corpo a ser devorado por todos os bichos e aves, e agora é a alma. Custa mais, ainda mais. Meu Deus, meu Deus! Neste sofrimento, nunca fui capaz de repetir o meu “creio”, nem de me recordar de o repetir, tal era o meu martírio.
Por o senhor Abade não estar, estava há quatro dias sem receber Jesus. Perdi tudo e não aguentava a fome de Jesus. Depois de três horas, não sei quantos minutos, Ele veio, deu um pouco de luz à sala do meu peito, levantou-me e docemente me chamou:
— Vem, minha filha, vem, minha filha. Coragem, tem coragem. É o auge da tua dor, para o auge dos vícios. Jesus espreme-te em toda a variedade de prensas para toda a variedade de pecados. Coragem, coragem. Vais-Me agora receber. Tenho tirado mais proveito para as almas das tuas ânsias, da tua pena por não Me receberes, das tuas comunhões espirituais do que se me recebesses sacramentalmente. Confia! Jesus não mente.”
— Ó Jesus, não tive a pena verdadeira. Parece que as minhas lágrimas de saudade não foram verdadeiras. Não sei como vivi. Perdoai-me, perdoai-me.
— Tu és louca, tu és louca, a louca da Eucaristia, a louca das almas. Oh, como és louca! Como a tua loucura alegra o meu Divino coração e o de minha Bendita Mãe, e vai reparando a justiça de meu Pai.
Nesta ocasião, Jesus desapareceu. Abriu-se uma ala de anjos do Céu para o meu quarto. Eles eram tantos que estavam dispostos em duas alas. Do Céu uniam-se e vinham-se separando, formando cá em baixo a largura duma estrada. Batiam todos as suas asinhas brancas e alguns tocavam instrumentos harmoniosos. Por essa estrada entraram três anjos em tamanho natural. O do meio trazia a píxide com Jesus. Os dos lados traziam nas mãos de fora uma vela e as mãos do lado de dentro apanhavam o manto do que conduzia Jesus. Com as palavras que o sacerdote costuma pronunciar ele deu-me a Sagrada Hóstia, e foram recuando até que desapareceram. Os que estavam nas alas tocavam e cantavam:
Glória a Deus na terra e no Céu! Glória a Deus, nosso Rei e Senhor! Glória, glória, glória a Deus, amor, amor, todo o amor! Calvário de prodígios, calvário de dor, calvário de glória e reparação ao Senhor! Glória, glória, glória a Deus, amor, amor, todo o amor.
Todos desapareceram, deixando de se ouvir ao longe as vozes e sons celestes. Abeirou-se Jesus novamente de mim, introduziu-me no coração o tubo e fez passar a gota do Seu Sangue, lentamente:
— Recebe vida, mais vida, minha filha. Recebe conforto para todo o estrago da dor. Vives a minha vida, vives só de mim. Tem coragem. Não te ofereceste tu a Mim por tudo e por todos? És a vítima reparadora de todos os crimes e de toda a variedade de coisas. Fala às almas, porque para elas pelo Céu foste escolhida. É a mais difícil, mas a mais sublime missão. Eu estou contigo. Falo pelos teus lábios. O Divino Espírito Santo em tudo te instrui e ilumina. És amparada por minha Bendita Mãe.
Fala ao mundo. Pede-lhe a sua conversão. Sofre, sustenta o braço de meu Pai. Avisa o mundo do que o espera. Coragem, coragem!”
Desapareceu rapidamente. Fiz-Lhe os meus pedidos, repeti-Lhe muitas vezes o meu “creio” e com a alma mais forte não podia queixar-me de que O não tinha recebido. Voltei à dor, a muita dor, mas mais confortada para a suportar. (Sentimentos da alma: 17 de setembro de 1954)