quinta-feira, outubro 13, 2022

O UTIMO DIA DA ALEXANDRINA

Durante a manhã de 12 de Outubro, dizia repetidas vezes:

“Eu queria o Céu! Eu não tenho peninha nenhuma de deixar a terra! Acabaram todas as trevas da alma! Acabaram todos os sofrimentos da alma! É sol, é vida, é tudo, é tudo, é Deus!”

A irmã perguntou-lhe: — Tu que querias?

“O Céu, porque na terra não se pode estar. Eu queria receber a Extrema-Unção, enquanto estou viva (lúcida). Vai ser muito bonito aqui. Ó Jesus, seja feita a vossa vontade e não a minha!

Neste dia, 12 de Outubro, pelas 15 horas, tendo sido autorizado, fez o seu acto de resignação à vinda do Paizinho. Todos de joelhos, a Alexandrina acompanhada pelo Sr. P. Alberto Gomes, recitou o seguinte acto:

“Ó Jesus Amor, ó Divino Esposo da minha alma, eu, que na vida sempre procurei dar-Vos a maior glória, quero na hora da minha morte fazer-vos um acto de resignação à vinda do meu Paizinho Espiritual; e assim, meu amado Jesus, se neste acto der maior glória à Trindade Santíssima, eu jubilosamente me submeto aos vossos eternos desígnios, renunciando à felicidade que a presença do meu Paizinho me daria, para só querer e implorar da vossa misericórdia o vosso reinado de amor, a conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o alívio das almas do Purgatório”.

Imediatamente seguiu-se o acto da resignação da sua morte, assim:

“Meu Deus, como sempre vos consagrei a minha vida, vos ofereço agora o fim dela, aceitando resignada a morte, acompanhada das circunstâncias que vos derem maior glória”.

 

No fim destes dois actos, foi-lhe ministrada a Extrema-Unção pelo reverendo Pároco desta freguesia. Antes de receber este Sacramento, pediu singularmente perdão à mãe, à irmã, ao confessor Sr. P. Alberto, ao Sr. Abade, ao Sr. Doutor, às primas, às pessoas amigas e à criada. Enquanto pedia perdão, disse estas frases:

 

1º “Minha mãe, perdoe-me as minhas impertinências e agradeço todos os cuidados que teve comigo”.

2º “Deolinda, perdoa-me. Foste uma sacrificada por mim. Agradeço tudo o que fizeste por mim”.

3º Ao Sr. Dr. Azevedo: “Agradeço-lhe tudo e peço-lhe perdão. Eu não o esquecerei no Céu”.

4º Ao Sr. Abade: “Peço-lhe perdão. A minha eterna gratidão por me trazer Nosso Senhor todos os dias. Peço que em meu nome peça perdão ao povo todo”.

5º Ao Sr. Dr. João: “Agradeço-lhe tudo, e não esqueça a minha família e sobretudo a Deolinda. Perdoe-me tudo por alguma palavra que o tivesse ofendido”.

6º À Sr.ª D. Germana: “Perdão por tudo, por alguma palavra em que a tivesse ofendido”.

7º “Para ti, Sãozinha, a minha gratidão eterna, que bem o mereces”.

8º “Maximina, perdoa-me tudo, se te ofendi. Só do Céu te poderei pagar tudo. Amai-vos como irmãs. Sê amiga da Deolinda”

9º “Laura, perdoa-me tudo. Não me esquecerei de vós, quando estiver no Céu. Tenho-vos sempre presente como aqui. Amai sempre a Jesus. Sede amigas da Deolinda, que ela continua a ser vossa amiga.

10º À Auxília (criada): “Tens sido muito minha e nossa amiga. Continua a sê-lo, que eu vou pedir por ti no Céu.

À Sr.ª D. Conceição Azevedo disse: Peço por todos.

À Ireninha disse: Ireninha, Ireninha!

À Manuela: Adeus, meu amor.

Às pessoas que lhe tinham feito bem: Agradeço a todas as pessoas que nos fizeram bem e peço por elas no Céu.

 

Depois de pedir perdão, falou assim: “Já estarei com a minha alma pura para receber a Extrema-Unção?”. Foi ministrado este sacramento. Depois, foi dizendo: “Ai, Jesus, não posso mais na terra! Ai, Jesus! Ai, Jesus! A vida, o Céu custa, custa. Sofri tudo nesta vida pelas almas. Esmirrei-me, pilei-me nesta cama, até dar o meu sangue pelas almas. Perdoo a todos. Foram tormentos para meu bem. Perdoo, perdoo. Ai, Jesus, perdoai ao mundo inteiro. Ai, estou tão contente, tão contente por ir para o Céu! (Sorriu-se com os olhos no Céu). Ai, que claridade! Ai, Sr. Dr. Azevedo, que luz! É tudo luz! (Sorriu-se). As trevas, as trevas, tudo desapareceu. Bem dizia o Sr. Doutor!...”

 

Às 6 horas da manhã do dia 13:

“Meu Deus, meu Deus, eu amo-vos! Sou toda vossa! Tenho necessidade de partir! Não gostava de morrer de noite! Morrerei hoje?! Gostava”. (Sorria-se de um sorriso angelical).

Pediu à irmã que lhe desse a beijar o crucifixo e a Mãezinha. A irmã perguntou-lhe: Para quem te sorrias? “Para o Céu”.

Durante a manhã foi visitada por várias pessoas. Quando entrou um grupo, exclamou, assim, com voz mais forte: “Adeus, até ao Céu!”. Não pequem! O mundo não vale nada! Isto já diz tudo! Comunguem muitas vezes! Rezem o terço todos os dias!”.

Às 11 horas, disse ao Sr. Dr. Azevedo: “Está para breve”. Ele perguntou-lhe se os breves dela eram iguais aos de Nosso Senhor. E continuou: Certamente amanhã, às 3 horas, Nosso Senhor ainda lhe quer falar.

Ela sorriu-se levemente.

Às 11h25: “Eu sou muito feliz porque vou para o Céu!”

O Sr. Dr. Azevedo disse: No Céu peça muito por nós. Ela acenou que sim.

Às 11h35 pediu que lhe rezassem o ofício da agonia.

Às 17 horas, disse para um homem: “Adeus, até ao Céu!”

Às 19 horas, disse: “Vou para o Céu!”

Às 19h30, exclamou: “Vou para o Céu! A irmã retorquiu: Mas não é já. A Alexandrina respondeu: “É, é”.

Às 20h29 expirou. Conservou-se perfeitamente lúcida até ao último momento da sua existência. Assistiu à morte Mons. Mendes do Carmo, a família e pessoas amigas. (Sentimentos da alma: 12 de outubro de 1955)