domingo, março 29, 2020

O CORDEIRO SUJO


«Foi na noite do dia 1 para o dia 2 [de Fevereiro de 1951] que eu tive uma visão, mas, temerosa de que fosse sonho, nada disse na sexta-feira. Agora que sei que não foi, vou descrevê-la» – escreveu a Alexandrina no seu Diário de 3 de Fevereiro do mesmo ano.
«Vi junto de mim um cordeiro branco, todo sujo, caído na lama, ou melhor, enterrado nela, mal se conhecia a cor e todo enlameado em silvas espinhosas, ia morrer. Senti-me obrigada a salvá-lo, a livrá-lo da morte. Levantei-o, principiei a limpá-lo, a tirar-lhe as cadeias de espinhos que o prendiam, tomei-o para os meus braços, estreitei-o a mim, principiou a viver com mais formosura. Em seguida, divisei mais ao longe, por uma larga estrada, um rebanho de ovelhas brancas tão grande que não fui capaz de contar. Jesus caminhava entre elas de cajado na mão. Ele era belo, e belo, belo fazia todo o rebanho. Compreendi que todas aquelas ovelhas se nutriam de Jesus. Oh! como elas eram belas e gordas, faziam-me encantar.»
Esta visão deixou a Alexandrina um tanto ou quanto perplexa. Ela mesma o confessa: “temerosa de que fosse sonho, nada disse na sexta-feira”.
Todavia, ela sabia que no momento oportuno, Jesus lhe explicaria o significado desta mesma visão. Não esperou muito, porque no sábado seguinte, dia 3, depois da sagrada Comunhão, Jesus apresentou-se a ela sob a forma dum mendigo a pedir o abrigo do seu coração e disse-lhe:
— «Minha filha, bate à porta do teu coração o teu mendigo Jesus. Deixa-me entrar, dá-me abrigo, aquece-me ao fogo do teu amor, venho a tiritar de frio.»
Como sempre, num transporte de amor, onde a humildade sempre sobressai, a Alexandrina acolhe o Esposo divino:
— Entrai, Jesus, e aquecei-Vos, não ao calor do meu amor, mas no Vosso fogo divino, que Vos peço aceiteis como se fosse meu.»
— «Ó minha filha, oferece-me todos os teus sofrimentos para que as almas se convertam, se afervorem e me amem.»
A Alexandrina sentia-se certamente feliz com a vinda do Senhor e diz humildemente, como desculpando-se:
— Não pode ser melhor, Jesus. Que poderei eu fazer mais?
No mesmo Diário ela escreveu como se passou a sequência deste colóquio.
«E, mostrando-se em tom de censura, disse-me:
— Reparaste naquele cordeiro tão manchado, já perdido e naquelas ovelhas que te mostrei a caminharem comigo e de que não falaste? O cordeiro era uma alma na flor da vida prestes a cair no inferno e que foi salva pelos teus sofrimentos, pela tua vida. Não a esqueças.»
No mesmo “tom de censura”, Jesus continuou:
— «As ovelhas em grande número, que não pudeste contar também foram salvas por ti. Mas essas sempre nutridas pelo meu alimento já não correm risco de se perderem. Anima-te, toma coragem para tanta dor.»
E, como habitualmente, a Alexandrina oferece-se e implora. Ouçamo-la:
— Não estejais triste, Jesus, que eu nada disse por temor. Perdoai-me, sou a Vossa vítima.
Cessou o “tom de censura”. O Coração divino enterneceu-se por tanta humildade e disponibilidade. Como para a recompensar, chamou por Maria, sua divina Mãe e pediu-lhe que viesse confortar a vítima do Calvário da Balasar.
«Veio a Mãezinha — escreveu a Alexandrina —; cobria-a manto azul escuro de cima a baixo. Como eu estava pregada na cruz, Ela não me tomou para os seus braços, curvou-se para mim, beijou-me, encheu-me de carícias, bafejou-me os lábios e em seguida todas as chagas e disse-me»:
— «Minha filha, tem coragem na tua cruz! Dá a Jesus tudo quanto Ele te pede, faz a Sua vontade que é também a minha. Ele sofre tanto e eu com Ele, com os crimes do mundo! É igual a nossa dor.»
Depois, como para lhe provar a dor que Lhe enchia o Coração, a Virgem Mãe «abriu para o lado o seu manto; no centro do peito mostrou-lhe o seu santíssimo Coração ferido por setas, cercado de espinhos.» A reacção da doentinha foi como habitualmente.
— Ó Mãezinha, ó Mãezinha, isso não é para a Mãe do meu Senhor. Não quero ver Jesus sofrer e não Vos quero ver a Vós. Passai para o meu coração todas essas setas e espinhos.
E assim aconteceu.
(Sentimentos da Alma: 3 de Fevereiro de 1951)
Afonso Rocha

sábado, março 14, 2020

AI DO MUNDO SEM AS VÍTIMAS !


O Diário da Alexandrina de 5 de Janeiro de 1952 – Primeiro sábado do mês ― dá-nos numerosas indicações e instruções.
Jesus dirigindo-se à sua amada esposa, faz-lhe algumas revelações importantes sobre a vida espiritual, sobre o mundo das almas e particularmente das almas vítimas e seguidamente alguns pedidos, não só de oração especial e urgente diante dos sacrários abandonados, mas também uma mensagem para o seu Director espiritual, o qual deve aceitar tudo quanto o Senhor permite, para o aperfeiçoamento da sua própria alma.
“É por ti, é à luz deste fogo que deixaste atear que muitas almas guiadas por esta estrela por Mim escolhida, levadas pelo teu exemplo se transformarão em almas ardentes, verdadeiramente eucarísticas.”
“É por ti”, afirma Jesus, é por intermédio da Beata Alexandrina e, graças “à luz do fogo que ela deixou atear” na sua alma cândida e pura, “que muitas almas”, depois de conhecerem a vida e os escritos dela, serão “guiadas pela estrela escolhida por Jesus”, e sentirão o desejo sincero e irresistível de seguir o seu exemplo e se “transformarão em almas ardentes, verdadeiramente eucarísticas”.
Jesus afirma mais: “Tu serás para o mundo o que outrora fui Eu e continuo a ser”. Jesus foi e continua a ser o nosso único Redentor e a Beata Alexandrina, colaborando nessa mesma redenção tornou-se nossa redentora, nossa intercessora, nossa intermediária junto do Trono divino, porque vítima, como Jesus, a Vítima do Calvário.
A Eucaristia é o centro de toda a vida espiritual; sem Eucaristia não pode haver verdadeira vida, porque sem a Eucaristia a alma deixa de ter alimento e, sem alimento morre.
De igual modo, o mundo precisa de vítimas, vítimas que seguindo o exemplo da grande Vítima do Gólgota, se deixem crucificar generosamente, colaborando assim estreitamente com Ele e “completando nos seus corpos frágeis o que faltou à Paixão de Cristo”. Eis porque este grito do Senhor deverá ecoar continuamente aos nossos ouvidos:
“Ai do mundo sem a Eucaristia! Ai do mundo sem as Minhas vítimas, sem hóstias comigo continuamente imoladas!”
Neste dia, Jesus não veio só para a Alexandrina, mas também para os seus queridos amigos e protectores: o Pe. Mariano Pinho e o Dr. Augusto de Azevedo, aos quais Ele vai enviar uma mensagem particular:
Para o Padre Mariano Pinho, Jesus manda escrever:

Diz ao teu Paizinho que sou todo amor para ele, que o fiz hóstia para com ele muitas almas serem hóstias. Diz-lhe que ele não poderá, nem saberá viver sem sofrimentos. É da dor que nascem as almas eucarísticas, hóstias só por amor imoladas. Diz-lhe que há um ano lhe disse que o sol brilhava e hoje lhe digo que brilha ainda mais. Quase todos os obstáculos estão removidos para o triunfo da causa do Senhor e para a realização das Suas promessas.
O bom Jesuíta era uma alma eucarística, era uma hóstia continuamente imolada, mas Jesus lembra-lhe aqui estas verdades que essências na vida íntima com Deus: o amor e o sofrimento; a rosa e os espinhos.
Para o Médico, o “Bom Samaritano” da Alexandrina, Jesus manda escrever a sua gratidão para com este homem exemplar e sempre pronto a se dar ao serviço do próximo:
Diz ao teu médico um muito obrigado de Jesus pela sua firmeza e defesa da Sua causa divina. Diz-lhe que dia a dia exalto os humilhados e humilho os exaltados. Diz-lhe que Jesus triunfa e a vitória está próxima. Dá-lhe a chuva das Minhas graças com todo o incêndio do Meu divino amor para ele e para os que são seus.
Como é comovente ver Jesus agradecer a um simples mortal…
Aqui temos um exemplo de humildade: um Deus que se abaixa a felicitar uma alma por Ele criada… e, com a promessa de uma chuva de graças para ele e sua família.
E é verdade que o Doutor Augusto de Azevedo e a sua numerosa família foram sempre protegidos — quase de maneira visível — por Jesus e Maria.
Afonso Rocha

quarta-feira, março 11, 2020

A CARIDADE DA ALEXANDRINA


Já aqui falei da fé e da esperança na Alexandrina. Para terminar vou falar agora da última virtude teologal, a caridade, que nela era, como as outras uma virtude nata.
A caridade que também se conjuga com o amor pode e deve ser compreendida sobre dois prismas: o amor a Deus e o amor ao próximo, como nos ensina o Senhor nos Dez Mandamentos.
«O aspecto característico, muito pessoal e evidente da espiritualidade da Alexandrina, foi o amor. Todo o seu falar, todo o seu agir estavam embebidos nesta virtude e eram por ela impulsionados. No amor resumia tudo. Os seus conselhos eram sempre repassados de amor, convites ao amor para com Deus, para com Nossa Senhora e para com as almas. Deu-se toda e sempre por amor a Nosso Senhor. A Ele não pedia outra coisa a não ser o amor, e não quis senão fazer a vontade de Deus, de quem se fez vítima.»
Falando do seu amor para com Deus, podemos dizer que este amor, «enquanto lhe enchia a alma de gratidão por tudo o que d’Ele recebia, fê-la zelosa pela glória e interesses divinos.»
Pode dizer-se que a Alexandrina «manteve-se em vida porque o amor a fazia viver.»
Também é pertinente afirmar que «não encontrando em si mesma possibilidades para amar mais, imensamente mais, como queria, dava linguagem a todas as criaturas, convidando-as a amarem e louvarem por ela o Senhor. Era seu desejo e ânsia ardente transformar o mundo numa fornalha de amor.»
Todos os actos da sua vida transpiravam de amor a Deus.
«Na acção de graças depois da Comunhão, às vezes levantava-se em ímpetos de amor e punha-se de joelhos na cama, o peito arquejante, o rosto afogueado, como se uma torrente de amor a invadisse toda.»
Outras vezes, «falando das coisas de Deus, aconteceu ver-se-lhe o rosto transfigurado, mais parecendo uma criatura celestial do que humana. Notou-se, nessas ocasiões, que o seu corpo emitia calor como se estivesse abrasada em febre.»
«Impressionava muitíssimo a linguagem dela ao pedir amor a Jesus e a Nossa Senhora. Tratava-se da forma mais perfeita do amor, pois queria a Deus não pelas consolações, promessas ou prémio, mas por Ele mesmo.»
Assim viviam os Santos e Santas de Deus que a Igreja glorificou para que sejam para nós faróis e exemplos a seguir.
Vejamos agora como era o seu amor para com o próximo.
«A caridade para com o próximo era nela o reflexo do amor que tinha para com Deus, do qual tirava a medida para amar o seu semelhante.»
O seu amor para com o próximo era tão grande que orava por todos sem excepção, até mesmo por aqueles que a perseguiam ou a caluniavam.
«O motivo que a impelia a debruçar-se sobre o seu próximo foi sempre e exclusivamente sobrenatural.»
A Alexandrina «nunca se deixou levar por sentimentos de simpatia, de animosidade ou por outros motivos humanos, mas só e sempre pela caridade, mesmo com os da sua família.» Prova disto, «a amizade mais profunda para com a irmã Deolinda serviu para se elevarem mutuamente, cada vez mais, para Nosso Senhor», ao ponto que o Padre Mariano Pinho confessou não saber qual delas era a mais santa.
Daqui poder «afirmar-se que a prática da caridade era o que mais aconselhava e admirava na vida das pessoas.»
Em certas ocasiões, àqueles que a visitavam, «teve por vezes, de fazer repreensões, mas preocupava-se com chegar ao coração e levar as pessoas a considerarem as faltas por aquilo que elas representam de ofensa a Deus.»
Acontecia igualmente que «por causa das almas infiéis à graça vertia lágrimas, rezava e sofria, oferecendo-se por elas heroicamente.»
A caridade da Alexandrina, o seu amor ao próximo não se limitava àquelas pessoas que ela conhecia ou a visitavam, bem pelo contrário, tinha «o cunho da universalidade. Abrangia nas suas intenções todo o mundo e as necessidades de todos os homens, como se fosse mãe de todos: para ela não havia fronteiras.»
Amor heróico porque «nas suas preces pedia a Nosso Senhor para que poupasse o sofrimento aos outros e, em vez deles, a fizesse sofrer a ela.» 
Diz Jesus que «não há maior amor que dar a vida pelos irmãos.»
A heroicidade do amor da Alexandrina pelos pecadores fica aqui bem patente: «Pouco depois de ter acamado, ofereceu-se vítima “para consolar Jesus e salvar-Lhe as almas”».
«Amou com invulgar amor o Santo Padre. Quis consola-lo durante a guerra e por ele ofereceu a vida.»
«Ofereceu-se vítima para a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, para que houvesse paz na Europa.»
Seria longo enumerar todos os actos de amor caridoso para com o próximo feitos pela “Doentinha de Balasar”.
Aprendamos com ela a amar a Deus sobre todos as coisas e ao próximo como a nós mesmos, mesmo quando isso nos parece difícil.
Afonso Rocha

UMA VISÃO

Com a ajuda do Espírito Santo, vou procurar comentar este belo texto que vou ler e que provém da Autobiografia da Alexandrina.

Como já várias vezes o disse, não sou nem teólogo nem escritor, escrevo apenas aquilo que sinto em meu coração, que creio e sinto ser justo, de acordo com o documento referido e sobretudo em acordo com as regras da Santa Igreja Católica da qual me sinto plenamente filho devotado e obediente.
***
Em 1936, por volta do fim do ano, a Alexandrina que tem então 32 anos, teve uma visão que a impressionou ao ponto de nunca mais a esquecer, porque, como ela mesma o diz, “ficou-me bem gravada na minha memória e na minha alma”.
Vejamos o que ela escreveu:
«Pelos fins do ano de 1936, numa noite, apresentou-se diante de mim, a pequena distância, um prado muito viçoso e florido. As flores eram açucenas. E tantas que eram!... E tão perfeitas!... Por entre elas pastava um grande rebanho de ovelhinhas, sendo impossível contá-las. O pastor era Jesus, em tamanho natural, muito belo e com um cajado na mão. Aproximei-me desse prado e, quando ia entrar nele, tudo se transformou num caminho árido e seco. Caminhei por uma encosta difícil de subir. Ao cimo do monte, havia um caminho bastante assustador, porque tudo eram silvas e espinhos. Ao meu lado esquerdo, ouvia gemidos de ovelhinhas. Queria aproximar-me delas para ver a causa dos seus gemidos, mas uma enorme ribanceira, escura, profunda, impedia-me de ver as ovelhinhas e a causa dos seus sofrimentos. Sentia que sofriam muito.
Continuei a caminhar por aquele caminho e, mais acima, ao lado direito, ouvia a mesma coisa. Nessa altura, vi a causa de tão grande sofrimento: estava uma ovelhinha, de lã branca, mas muito suja e presa pela lã a enormes espinhos, caída sobre eles. À primeira impressão, entendi que aqueles gemidos não podiam ser de saudades pela sua mãe, porque a ovelhinha já era grandinha. Ao ver o estado dela, tive tanta pena que me aproximei e, com todo o amor e carinho, fui vagarosamente desprendendo-a dos espinhos. Depois de a soltar, desapareceu da visão.
Isto nunca mais me esqueceu e conto-o com a maior facilidade, porque ficou-me bem gravado na minha memória e na minha alma.»
O texto começa pois assim:
“Pelos fins do ano de 1936, numa noite, apresentou-se diante de mim, a pequena distância, um prado muito viçoso e florido. As flores eram açucenas. E tantas que eram!... E tão perfeitas!...”
A palavra “noite” pode surpreender e levar-nos a crer que se trata de um sonho… Mas, não, porque se fosse um sonho ela o teria dito. Portanto ela estava bem acordada e viu, “a pequena distância”, como se ela estivesse à entrada da porta de sua casa e o dito prado fosse o seu quintal — para aqueles que conhecem a casa onde ela viveu. Uns cinquenta metros, para os que não conhecem a casa.
No meio daquele prado “muito viçoso”, a mais da erva viçosa, tinham nascido flores, mas não umas flores quaisquer, sem interesse: tinham nascido açucenas que, como todas as açucenas eram “tão perfeitas”.
Não poderíamos ver aqui o “prado” onde a Alexandrina iria trabalhar sob o olhar de Jesus, para a salvação das almas?
Aquelas açucenas numerosas e belas não representariam a virtude que Jesus tanto ama: a pureza? E a Alexandrina era uma alma pura e virgem, escolhida por Jesus para uma alta missão.
A visão continua com a aparição dum “grande rebanho de ovelhinhas” em tão grande número que era impossível contá-las. Várias vezes Jesus disse à Alexandrina que ela tinha salvado milhões e milhões de almas com os sofrimentos que ela livremente aceitava…
O pastor desse numerosíssimo rebanho era Jesus, que ela via “em tamanho natural”, que Ele era “muito belo” trazendo “na mão um cajado”, como todos os pastores.
Lembremos que Jesus disse numerosas vezes à Alexandrina que era Ele o seu Mestre, o seu guia, mesmo se deixando inteira liberdade ao director espiritual que na terra a guiava.
Esta visão tão bela despertou a curiosidade da Alexandrina e o desejo de ir mais longe, de entrar naquele prado maravilhoso do qual ela se aproximou. Mas, ó surpresa, “quando ia entrar nele, tudo se transformou num caminho árido e seco”.
Quantos e quantos anos a Alexandrina viveu na noite escura, na maior aridez, num deserto espiritual que provoca dúvidas, tristezas e por vezes incompreensão: ela viveu este estado de alma quase até à morte.
Mas, nem por isso recuou, como ela mesma o diz: “Caminhei por uma encosta difícil de subir”.
E na verdade, a Alexandrina nunca recuou, quaisquer que fossem as dificuldades que se lhe apresentavam pela frente. Quanto sofreu com as ingratidões, as calúnias, as incompreensões, a falta de alimentos e de roupas, ela que estava sempre pronta a dar esmola!
Mas a encosta que ela sobe corajosamente ainda lhe vai reservar mais surpresas, como podemos ler na sua Autobiografia:
“Ao cimo do monte, havia um caminho bastante assustador, porque tudo eram silvas e espinhos”.
Bela imagem dos sofrimentos da Alexandrina, sofrimentos que iriam aumentando com o correr dos anos. Quantas “silvas e espinhos” iria ela afrontar até à morte! Como ela mesma o confessa: “só Deus sabe quanto sofro”!
O percurso é difícil porque de cada lado daquele caminho se desenha um grande precipício.
“Ao meu lado esquerdo — explica ela — “ouvia gemidos de ovelhinhas”.
Situação dolorosa para ela, ela que muito amava os animais. Por isso mesmo a sua primeira reacção foi de prestar assistência, de cuidar daquelas ovelhinhas que sofriam…
“Queria aproximar-me delas para ver a causa dos seus gemidos, mas uma enorme ribanceira, escura, profunda, impedia-me de ver as ovelhinhas e a causa dos seus sofrimentos. Sentia que sofriam muito”.
Ao impossível ninguém é obrigado, por isso, diz ela:
“Continuei a caminhar por aquele caminho e, mais acima, ao lado direito, ouvia a mesma coisa”.
A generosidade da Alexandrina nunca se dava por vencida e, porque aquelas ovelhinhas — agora do lado direito — sofriam também ela quis absolutamente saber a causa e, certamente debruçando-se um pouco mais, riscando de cair, ela compreendeu:
“Estava uma ovelhinha, de lã branca, mas muito suja e presa pela lã a enormes espinhos, caída sobre eles”.
Estas ovelhinhas que gemiam não representam elas todas aquelas almas que, presas nas “silvas” do pecado, vinham até junto dela pedir auxílio e receber os seus conselhos?
Ela a todos recebia com amor e a todos “distribuía” uma palavra de consolação, um conselho que muitas vezes as fazia “arrepiar caminho”.
Que vai ela fazer a esta ovelhinha presa no meio das silvas e dos espinhos?
Com um pouco de humor, como muitas vezes, ela diz:
“À primeira impressão, entendi que aqueles gemidos não podiam ser de saudades pela sua mãe, porque a ovelhinha já era grandinha”.
Se “já era grandinha”, devia ter idade para fazer atenção, mas os silvados — entenda-se a vida de pecado — são traiçoeiros e atiçam os nossos maus desejos, os nossos ardores que nem sempre são virtuosos: por isso muitas vezes caímos neles, porque somos pecadores.
Para sairmos destes silvados traiçoeiros é-nos necessária a humildade e o desejo sincero de pensar onde vamos pôr os pés, antes de darmos um passo em frente.
Que vai fazer a Alexandrina? Como sempre, ela vai limpar aquela ovelhinha de maneira a que ela possa voltar para o meio do rebanho, sã e ilesa.
“Ao ver o estado dela, tive tanta pena que me aproximei e, com todo o amor e carinho, fui vagarosamente depreendendo-a dos espinhos”.
Durante a sua vida e mais particularmente durante a sua “vida pública”, a Alexandrina recebia visitas, algumas delas cobertas de misérias físicas e morais e a todas estas pessoas que vinham visitá-la, ela limpava “com todo o amor e carinho” suas almas e até os corpos de todos os espinhos causados pelo pecado. Ela não confessava, mas aconselhava, como o faria um bom sacerdote durante uma confissão.
Bem numerosos — os testemunhos abundantes o provam — foram aqueles que ao sair daquele pequeno quarto de Balasar, saíram “mais leves” do pecado e mais prontos a enfrentar as dificuldades da vida, tanto corporal como espiritual!
“Depois de a soltar, desapareceu da visão”.
Esta frase não necessita de comentário: ela é bem explícita.
Mas ao terminar a descrição da visão, ela confessa:
“Isto nunca mais me esqueceu e conto-o com a maior facilidade, porque ficou-me bem gravado na minha memória e na minha alma”.
Que lição podemos tirar desta bela visão?
Que a intercessão da Alexandrina, a leitura dos seus textos — Autobiografia e Sentimentos da alma, entre outros — são uma realidade que não podemos negar, porque é bem sabido que ela é “o canal pelo qual Jesus quer fazer passar as Suas graças”.
Afonso Rocha

terça-feira, março 10, 2020

ALMA FIEL NÃO TEME A CRUZ


O dia 5 de Junho de 1943 é o Primeiro sábado do mês. Como habitualmente Jesus e a sua bendita Mãe vêm visitar a “Doentinha de Balasar”, para lhe incutirem coragem para que ela possa levar a cabo a grande missão que lhe fora confiada.
Jesus começa por afirmar-lhe que “a alma fiel não teme a cruz ; toma-a, abraça-a, acaricia-a, leva-a só por amor!”
E como se esta afirmação não parecesse suficiente, Ele acrescenta ainda que “os espinhos com que Jesus adorna na terra as suas crucificadas transformar-se-ão no Céu em pétalas das rosas mais belas e viçosas”.
É assim que o Senhor trata as suas esposas; é assim que Ele as “adorna”: com espinhos e sofrimentos de toda a espécie.
Não se trata aqui de dolorismo ou da apologia deste, mas simplesmente de mística, de mística pura e de comunhão dos Santos, o que poderíamos chamar também “vasos comunicantes”.
“Estou convencido ― escreve S. Paulo aos Romanos ― de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós” (Ro. 8, 18).
Jesus quis “precisar” de almas vítimas para continuar, ao longo dos séculos, o mistério da Redenção; não que a sua morte dolorosa e redentora não fosse suficiente para resgatar a humanidade inteira, mas simplesmente por que Ele quis associar a esta mesma Redenção essas almas predestinadas que livremente se ofereceram para esse fim. É por isso que lemos em S. Paulo aquela célebre frase em que ele afirma “completar no seu corpo o que faltou à Paixão de Cristo”, ou ainda “porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho”.
Dessas almas predestinadas que livremente se ofereceram para esse fim, a Beata Alexandrina é um exemplo concreto e “palpável”, se assim nos podemos exprimir. Ela mesma o afirma aqui categoricamente: “eu dou-me a vós, eu sofro por vós, despedaçai de dor o meu coração”. E porque se oferece ela assim tão firme e categoricamente? A resposta também ela a dá a seguir: “Eu quero dar-vos as almas”, como se ela dissesse: “Eu quero participar na redenção da humanidade, participar da maneira que Vós mesmo desejais, meu Jesus!”
Esta oferta generosa não fica sem resposta, não cai no esquecimento do Senhor, porque no Senhor tudo é e está presente: “Como é encantador para Jesus uma virgem que a Ele toda se dá e por Ele tudo sofre!”
E quando assim é, que mais desejará a alma vítima, de que poderá ter medo?
Esta pergunta faz também o Apóstolo Paulo: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” (Ro. 8, 35) E, como em S. Paulo toda a questão tem a sua resposta, ele a dá algumas linhas mais adiante: “Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso” (Ro. 8, 38-39).
É, como diz o mesmo Apóstolo, na mesma Carta (Ro. 8, 14) : “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus”.
Assim é também com a Alexandrina.
Mesmo quando Jesus a “felicita”, quando lhe diz que ela “é o cofre riquíssimo que Jesus tem na terra”, ela continua humilde, convicta de que nada é e que aquilo que “tem” lhe é dado pelo Senhor, “rico em misericórdia”, não podendo pois gloriar-se daquilo que não lhe pertence e que “recebeu por acréscimo”, “contando com toda a graça e força do Céu” para poder “distribuir às almas” as graças de que pela bondade divina foi feita depositária.
Jesus tem depois palavras carinhosas para todos aqueles que ajudam a Alexandrina “a subir o doloroso Calvário”, aconselha-os e promete-lhes a sua divina protecção “que contem sempre com as graças e bênçãos do Senhor”.
A página do Diário termina com a intervenção de Maria, uma curta mensagem de encorajamento para a Alexandrina:
― Toma conforto, minha filhinha, esposa do meu Jesus, salvação de todos os meus filhos. Como és amada de toda a corte celeste!
Textos tirados dos Sentimentos da alma de 5 de Junho de 1943, Primeiro sábado do mês.
Afonso Rocha

quarta-feira, março 04, 2020

VIA -SACRA COM A BEATA ALEXANDRINA

VIA SACRA
com a beata Alexandrina

Quanto custou a Jesus a sua vida na terra !
Não foi o Horto com o Calvário
sofrimento de algumas horas:
Toda a vida de Jesus foi Horto e Calvário.
Ele crescia em idade e sabedoria,
E nele e com ele crescia a cruz.

Não se separou dela um só instante:
Nela crescia, nela sofria,
Mas sempre com sorriso e bondade.

PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus é condenado à morte na cruz

«Pilatos entregou-Lho para ser crucificado, e eles tomaram conta de Jesus.» (Jo 19, 16)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


«Vi os tribunais e a multidão ingrata que ia pedir a condenação de Jesus.» (S. 24-10-1952)
«Fui interrogada por senhores absolutos, cheios de soberba, convencidos de que tudo podiam fazer. Em frente de tanta grandeza, oh! como eu era pequenina!... E por eles fui condenada.» (S. 02-03-1945)


Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus recebe a Cruz

«E Ele, levando a cruz às costas, saiu para o chamado lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota.» (Jo 19, 17)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Tomei a cruz; inclinada debaixo do seu peso, já quase só de rastos podia mover-me. E quantas vezes fui eu arrastada. Ai quantas lágrimas senti passarem-me no meu coração. (S. 02-03-1945)
É por entre esta escuridão medonha, aterradora, que eu caminho, de cruz sobre os ombros, mãos atadas e o corpo todo chagado. Ouço o sangue que rega a terra, saído das minhas veias. Ouço o estalar dos ossos ao ser arrastada pelas cordas. Dores sufocantes tiram-me a vida. Não há quem se compadeça do meu penar. (S. 11-05-1945)


Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez

Procurei, mas não havia ninguém para me auxiliar.

Fiquei espantado por não haver ninguém para me ajudar. (Is. 63, 5)


Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Recebi a cruz. Esmagada, curvada com o seu peso, caí debaixo dela no mesmo lugar. (S. 05-10-1945)
Foi tal o peso que me fez sentir que me infundia no solo. (S. 08-03-1946)
Caminhei sobrecarregada com o seu peso esmagador. E como caminhei eu? Como se fosse um vermezinho da terra escondido sob ela. (S. 25-05-1945)
Não foi a cruz que levei em meus ombros, foi o mundo inteiro: senti-o bem. (S. 06-05-1949)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


QUARTA ESTAÇÃO
Jesus encontra sua Mãe

Jesus vê a sua Mãe ali presente. (Jo, 19, 26)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


A algazarra era medonha! Senti que alguém, com amor louco, com amor de mãe, andava de rua em rua, cega de dor, à minha procura, a ver onde podia encontrar-me. (S. 16-03-1945)
A alma viu a Mãezinha, quase de rosto coberto, a caminhar, lacrimosa, muito apressada à procura de Jesus. (S. 03-05-1946)
Sentia que a Mãezinha andava louca à minha procura, ou melhor, à procura do Seu Jesus. Rompia por entre as multidões a ver onde O poderia encontrar. O Seu santíssimo Coração estalava, desfazia-se em dor e fazia estalar e desfazer O de Jesus. (S. 06-04-1945)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


QUINTA ESTAÇÃO
O cireneu ajuda Jesus

Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene e carregaram-no com a cruz. (Lc 23, 26)
Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Perto da montanha me foi tirada a cruz, mas eu sentia-me como se sempre levasse o seu peso. (S. 27-06-1947)
Não por dó mas por receio[1], queriam alguém que a levasse. Houve quem caminhasse com ela, não por amor mas por ser mandado; mas mesmo assim quanto amor senti o meu coração dispensar-lhe. (S. 30-03-1945)
Ia quase sem vida e como se levasse a cruz. O sangue que vertia tornava-se em prisões que me uniam a ela. (S. 25-10-1946)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


SEXTA ESTAÇÃO
A Verónica limpa o rosto de Jesus

Em verdade vos digo, sempre que fizeste isso a um destes mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes. (Mt 25, 40)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Todo o meu corpo vai chagado. Os meus olhos escorrem sangue, os meus ouvidos também, a minha cabeça são só espinhos, em sangue banhados. A cada arranco pelas cordas, arrancos furiosos, os meus ossos parecem desligarem-se. (S. 03-08-1945)
Vem ao meu encontro a mulher, a mulher querida, compadecida da minha dor. Com que ternura e amor limpa do meu rosto o suor, o sangue e o pó. Os laços da mais estreita amizade prendem os nossos corações. É indizível o que queria dizer dela, os louvores que queria dar-lhe. Oh! como queria que ela fosse falada por este acto tão heróico. (S. 19-01-1945)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


SÉTIMA ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez

Ele entregou a sua vida à morte e foi contado entre os pecadores. (Is 53, 12)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Caí com a cruz: ela pesava sobre mim. Um braço dela caiu-me sobre o peito e feriu-me o coração. Por uns momentos fiquei desfalecida, como se não tivesse vida. Os algozes fitam-me curiosos, pensando eu ter morrido. Um novo furor me arrastou fortemente…(S. 24-05-1946)
Quantas vezes, no trajecto que percorri, caí desfalecida, e parecia mesmo, mesmo perder a vida. Perder a vida para dar vidas dava-me forças, voltava a caminhar. (S. 28-01-1945)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


OITAVA ESTAÇÃO
Jesus consola as mulheres de Jerusalém

Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, mas chorai por vós mesmas e pelos vossos filhos. (Lc 23, 28)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Seguiam-me algumas mulheres: choravam amargamente, à vista de tantos sofrimentos. Caminhava e fitava-as com olhar de compaixão. O coração murmurava-lhes: “Não choreis por mim, mas por vós. Chorai as vossas culpas: são a causa das minhas dores”. (S. 13-12-1946)
Não sei pelo quê a alma chora sempre, mas, ao ver as lágrimas de Jesus, chorou mais ainda. (S. 18-07-1947)
Choraram os olhos do corpo, choraram os olhos da alma. Ai, se o mundo soubesse e visse o estado de Jesus e sentisse o que Ele sofreu, certamente não podia pecar tanto. (S. 23-03-1951)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


NONA ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez

Reduziste-me ao pó da terra, estou cercado por matilhas de cães. (Sl 22, 16-17)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Sobrecarregada, caminhava curvada, com o ombro em ferida, a qual se avivava com o peso da cruz… (S. 09-08-1946)
Quero abraçar a minha cruz, a cruz que Ele me dá, e não posso; este meu abraço é cair com ela, desfalecida, sem jamais poder levantar-me. (S. 16-05-1947)
Desfalecida, oprimida por tão grande peso, segui com Ele o caminho do calvário. Caiu, e eu caí também. Senti e ouvi os estalos das pancadas que despedaçavam o Seu santíssimo corpo. (S. 16-05-1947)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


DÉCIMA ESTAÇÃO
Jesus é despojado de suas vestes

Repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um. (Mc 15, 24)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Eu, envergonhada, estava na cruz, despida, à vista da canalha mais vil. Os meus vestidos foram cortados e distribuídos. A minha tristeza e amargura não cessaram. A alma tremia com dor e com medo como o corpo treme de frio. (S. 02-02-1945
No alto da montanha, ao pé da cruz, fui despida. Sentia todo o corpo chagado e a essa chagas colados os vestidos; saíram com eles pedaços de carne. (S. 25-07-1947)
Eu de braços abertos entrego-me à cruz, deixo-me crucificar. (S. 05-01-1945)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


DÉCIMA-PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus é pregado na cruz

Foi crucificado com os malfeitores, um à sua direita e outro à sua esquerda. (Lc 23,33)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Que horror, que horror, que grande maldade. Sem poder estender meus braços, é em espírito que os estendo sobre a minha cruz. E de braços abertos, com os olhos em Vós que, alegre, recebo tudo o que me dais. É em espírito, Jesus, que uno os meus braços para estreitar e prender para sempre tudo o que me fere, tudo o que é cruz. Amo, amo, Jesus, tudo o que vem das Vossas divinas Mãos. (S. 15-09-1944)
Sentindo-me eu bem vivamente cravada na cruz, vi Jesus junto de mim a dizer-me:
“Minha filha, deixa cravar-te novamente, deixa-me bater-te os cravos, porque os pecadores assim tentam fazer-me continuamente”. (S. 09-02-1951)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


DÉCIMA-SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz

Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou : «Tudo está consumado.» Depois, inclinou a cabeça e entregou o espírito. (Jo 19, 30)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Fiquei na cruz de pés e mãos cravadas e a cabeça bem penetrada de agudos espinhos inclinada bem firme sobre a cruz. (S. 26-10-1944)
Sentia-me na Cruz; a alma cravada com o corpo, ambos na mesma dor e agonia. A alma levantava os olhos ao Céu, nada via a não ser dor e morte. (S. 11-12-1944)
No calvário, na cruz, sentia o meu sangue sair de mim a jorros. Calma e serena, com o espírito só em Deus, esperava o momento da maior felicidade, o momento da salvação. (S. 28-01-1945)
Estou num brado contínuo:
– Pai, meu Pai, também tu me abandonaste! Sou a tua vítima, dou-me a ti pelas almas. (S. 05-01-1945)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


DÉCIMA-TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus é descido da Cruz

E José de Arimateia tomou o corpo e envolveu-o num lençol limpo. (Mt 27,59)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


De repente, a minha alma viu Jesus a ser descido da cruz, cruz que estava dentro de mim. A santíssima cabeça pendurada, um braço já estendido e a Mãezinha já sentada ao pé da cruz, de braços abertos para O receber. Mas ai, quanto isto me custou! Estremeci, parecia-me sentir o corpo de Jesus sem vida, frio e gelado. (S. 21-12-1945)
Senti como se Ele estivesse morto em mim e eu, com Ele, nos braços da Mãezinha: éramos um só corpo, um só cadáver. (S. 22-09-1950)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


DÉCIMA-QUARTA ESTAÇÃO
Jesus é sepultado

José depositou-o num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (Lc 23,53)

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;
Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.

Morri, morri para o mundo e para as criaturas. Tudo baixou ao túmulo para ficar para sempre sepultado. (S. 13-05-1944)
Lançou-se sobre mim o peso brutal da humanidade; o seu peso esmagou-me, abriu-me o peito, tirou-me a vida superior, sublime, muito sublime, deu-lhe entrada no coração e abrasou toda a humanidade em amor; triunfou da morte e abraçou toda a ingratidão humana. (S. 31-01-1947)
E, por entre aquelas nuvens negras da morte, rompeu Jesus, sobressaiu, foi brilhar mais além. Venceu tudo e de tudo triunfou. (S. 09-11-1945)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.


EPÍLOGO

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos Jesus;

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o Mundo.


Depois dum bom intervalo do silêncio da morte, ouvi Jesus a falar-me com toda a ternura e amor. (S. 22-03-1952)
– “Faz, minha filha, esposa minha, que Eu seja o Rei, que Eu seja o amor de todos os que se abeiram de ti. Estás neste calvário, coloquei-te neste calvário para bem, para seres útil a toda a humanidade. Minha filha, minha filha, faz conhecer às almas quanto Eu as amo. Tu és o porta-voz de Jesus.” (S. 01-05-1953)

Pai Nosso, Ave Maria, Glória.



[1] Receio que morresse antes de chegar ao Calvário.