segunda-feira, maio 31, 2021

JESUS RECEBE A BOFETADA

Em nada se assemelha a dor do rosto à dor do coração


Fiquei mais confortada, pude melhor resistir à agonia do horto, ao cálice da amargura. Na solidão temi a noite, temi tudo. Tive de subir uma grande encosta. Subi tão cansada e senti em meu corpo tantos pontapés. Recebi depois a enorme bofetada. Em nada se assemelha a dor do rosto à dor do coração. Ficou tão ferido Jesus que, se não fosse um milagre, perdia a vida. Que amor o d’Ele ao recebê-la!

— Ai, meu Deus, se eu pudesse mostrar a dor que Vos causaram e a doçura do Vosso amor, a bondade com que Vos deixastes ferir, a Vossa compaixão sobre quem Vos feriu! Ó amor, ó amor sem igual! (Alexandrina Maria da Costa: S. 31 de Maio de 1945).

VENHO BUSCAR REPARAÇÃO

Venho ao meu jardim


O MUNDO NÃO ESCUTA A VOZ DE JESUS

Estou cansada, quero unir o mundo a este fogo


Possuo em mim o que não é meu; sinto, conheço que é do céu. Estou cansada, quero unir o mundo a este fogo, a esta vida do céu, e não posso. Sinto as cadeias do amor de Jesus a prendê-lo e sinto as do demónio a arrastá-lo para a perdição eterna. O mundo não escuta a voz de Jesus, não repara nos Seus olhares, não aceita as Suas ternuras e meiguices, não se deixa prender por Ele. Que martírio que tanto esgota o meu coração! Não sei o que pressinto, não sei o que me espera. Vêm com severidade junto da minha alma, dão-me fortes abalos, fazem-me estremecer o meu corpo. Mas permaneço firme, nada há que me deite a terra. Nada há que me arranque da minha cruz e dos braços de Jesus. Se uma vez ou outra me parece perder-me, Ele vem auxiliar-me. Veio hoje, era já noite, dissipou por um pouco as minas trevas, desviou para longe as minhas dores. (Alexandrina Maria da Costa: S. 31 de Maio de 1945).

O INCÊNDIO DAS PAIXÕES

Os meus lábios chamam essas almas


OU SOFRER OU O CÉU

Que valor pode ter a vida, se não sofro


Termina o mês da Mãezinha. Que saudade eu tenho de ele findar! Será de verdade o meu último Maio na terra? Que pena eu tenho de não A ter amado muito assim como a Jesus! Tudo foge, tudo passa, tudo se esconde, só a minha miséria aparece para a ver claramente nos mundos das minhas trevas. Abro os meus braços ao céu, quero abraçar o meu martírio e, junto a ele, Jesus e a Mãezinha. Tenho sede, e nada há que me satisfaça, nem ao menos o sofrimento. Temo-o, mas quero-o para dar a vida às almas, para consolação do meu Jesus. Ou sofrer ou o céu. Que valor pode ter a vida, se não sofro, se não amo? (Alexandrina Maria da Costa: S. 31 de Maio de 1945).

Na imagem:
A beata Alexandrina e o Padre Mariano Pinho.

MOMENTOS HÁ EM QUE NÃO POSSO RESISTIR

Terra, triste exílio que não posso suportar


Já me sinto elevada a uma certa altura da terra. Momentos há em que não posso resistir a tantas saudades do Céu. Espero ver o meu Jesus dentro em pouco com a minha querida Mãezinha e todos os meus amores por quem aspiro; porém quero que se cumpram todas as promessas de Jesus, quero que me dêem o meu Paizinho que sem eu dar motivos para isso e em momentos tão amargos mo retiraram. Parece que só isso e a determinação da consagração do mundo pelo Santo Padre me obrigam a ainda viver na terra, triste exílio que não posso suportar. (Alexandrina Maria da Costa: S. 31 de Maio de 1942)

sábado, maio 29, 2021

PROIBIÇÃO DO BISPO DE AVEIRO

Mais um tormento para o meu pobre coração


Nestes dias tão dolorosos, de tão grande martírio para o corpo e de tanta angústia para a alma, ainda veio mais um tormento para o meu pobre coração. Várias cartas me chegaram às mãos a dizerem-me que o senhor Bispo de Aveiro tinha proibido a vinda aqui dos sacerdotes. Punhais tão dolorosos! A minha alma tinha a visão da consequência desta ordem. Tanta humilhação! Se eu pudesse reparar tanto escândalo que se dá! Tantas más interpretações por causa disto! A minha oferta de vítima não cessa diante do Senhor. Por Vosso amor, tudo! Faça-se a Vossa vontade! (Alexandrina Maria da Costa: S. 01-01-1954)

Na imagem:
A Beata Alexandrina e D. João Evangelista de Lima Vidal, bispo de Aveiro.

RECEBI O SANTO CRISMA

Na Matriz de Vila do Conde


– Foi em Vila do Conde onde recebi o Sacramento da Confirmação, ministrado pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo do Porto.

Lembro-me muito bem desta cerimónia e recebi-a com toda a consolação. No momento em que fui crismada, não sei o que senti em mim; pareceu-me ser uma graça sobrenatural que me transformou e me uniu cada vez mais a Nosso Senhor. Sobre isto, queria exprimir-me melhor, mas não sei. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

NA IMAGEM
A Beata Alexandrina e D. António Barbosa Leão, Bispo do Porto que a crismou.

PRIMEIRA VISITA DE JESUS À MINHA ALMA

Primeira Comunhão na Matriz da Póvoa


– Foi na Póvoa de Varzim que fiz a minha Primeira Comunhão, com sete anos de idade. Foi o Senhor Pe. Álvaro Matos quem me perguntou a doutrina, me confessou e me deu pela vez primeira a Sagrada Comunhão. Como prémio, recebi um lindo lenço e uma estampazinha. Quando comunguei, estava de joelhos, apesar de pequenina, e fitei a Sagrada Hóstia que ia receber de tal maneira que me ficou tão gravada na alma, parecendo-me unir a Jesus para nunca mais me separar d’Ele. Parece que me prendeu o coração. A alegria que eu sentia era inexplicável. A todos dava a boa nova. A encarregada da minha educação levava-me a comungar diariamente. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

NA IMAGEM:
A Beata Alexandrina e o Padre Alvaro Matos.

sexta-feira, maio 28, 2021

IDA PARA A PÓVOA DE VARZIM

A fim de frequentar a escola


– Em Janeiro de 1911, fui com a minha irmã Deolinda para a Póvoa de Varzim, para frequentarmos a escola. Não quero pensar quanto sofri com a separação da minha família. Chorei muito e durante muito tempo. Distraíam-me, acariciavam-me, faziam-me todas as vontades e, depois de algum tempo, resignei-me.

Continuei a ser muito traquina: agarrava-me aos americanos e deixava-me ir um pouco e depois atirava-me ao chão e caía; atravessava a rua quando eles iam a passar, sendo preciso o condutor deles acusar-me à patroa. Muitas vezes fugia de casa e ia apanhar sargaço para a praia, metendo-me no mar, como fazem as pescadeiras; trazia-o para casa e dava-o à patroa, que o vendia depois aos lavradores. Com isto afligia a patroa, pois fazia isto às escondidas, embora rapidamente. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

CAIAM SOBRE MIM PÉTALAS DE FLORES

Gostava muito de visitar a minha madrinha


Uma vez fui visitar a minha madrinha e tive de atravessar o rio Este, que levava grande corrente, chegando a abalar umas pedras que serviam de passadiço; e, sem reparar no perigo a que me expus, atravessei a corrente por essas pedras e a água ia-me levando. Foi milagrosamente que escapei à morte, bem como minha irmã que me acompanhava. Gostava muito de a (a madrinha) visitar, porque ela dava-me bastante dinheiro. Pouco depois, morria ela, e foi o meu primeiro desgosto. Tinha pena dela, do folar e da roupa dos sete anos que me tinha prometido. Minha avozinha soube amenizar esse desgosto, dando-me o folar todos os anos.

Tinha eu 6 anos quando, de noite, me entretinha, por muito tempo, a ver cair sobre mim inúmeras pétalas de flores de todas as cores, parecendo chuva miudinha. Isto repetiu-se várias vezes. Eu via cair estas pétalas, mas não compreendia; talvez fosse Jesus a convidar-me à contemplação das suas grandezas. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

VIVEZA DE CARÁCTER

Até me chamavam Maria-Rapaz


– Era viva e tão viva que até me chamavam Maria-Rapaz. Dominava as companheiras da minha idade e até as mais velhas do que eu. Trepava às árvores, aos muros e até preferia estes para caminhar em vez das estradas.

Gostava muito de trabalhar: arrumava a casa, acarretava a lenha e fazia outros serviços caseiros. Tinha gosto que o trabalho fosse bem feito e gostava de andar asseadinha. Também lavava roupa e, quando mais não tinha, era o meu aventalinho que trazia à cinta. Quando não sabiam de mim, era quase certo encontrarem-me a lavar num ribeiro que corria perto de casa.

Um dia, fui com a minha irmã e uma prima apascentar o gado, entre ele uma égua. A certa altura, a égua fugia para o lado do campo que estava cultivado e, como a fosse tornar, ela atirou-me ao chão, dando-me com a cabeça, e depois colocou-se sobre mim; de vez em quando raspava-me o peito com uma pata sobre o meu coração, como quem brinca. Levantava-se, relinchava e voltava a fazer o mesmo. Fez assim algumas vezes, mas não me magoou.

As minhas companheiras gritaram e acudiram várias pessoas que ficaram admiradas de eu sair ilesa da brincadeira do animal. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

DESENVOLVIMENTO DA MINHA INSTRUÇÃO RELIGIOSA.

Quando me encontrava na igreja…


– Comecei a frequentar a catequese e a dar mostras de um grande defeito, a teimosice. Um dia fui à doutrina à igreja e o coadjutor do Senhor Abade, P.e António Matias, indicou-me o lugar que devia tomar entre as meninas da minha idade, mas, como ia acompanhada de outras mais velhas, quis tornar lugar delas. Por mais carinhos que o Reverendo me fizesse e me mostrasse santinhos, eu não fui capaz de ceder à sua ordem. Dias depois, Sua Reverência convenceu-me e ficou sendo muito meu amigo e até me abrigava da chuva debaixo do seu viatório, de casa à igreja e desta a casa. Lembro-me que era muito teimosa.

Quando me encontrava na igreja, punha-me a contemplar os santos, e os que mais me encantavam eram as imagens de Nossa Senhora do Rosário e S. José, porque tinham uns vestidos muito bonitos e eu desejava ter uns iguais aos deles. Não sei se seria já princípio da manifestação da minha vaidade. Queria ter uns vestidos assim, porque perecia-me que ficava mais bonita com eles.

E, se nesta idade manifestava os meus defeitos, também mostrava o meu amor para com a Mãe do Céu, e lembra-me com que entusiasmo cantava os versinhos a Nossa Senhora e até me recordo do primeiro cântico que entoei na igreja, que foi «Virgem pura, tua ternura, etc.»

Gostava muito de levar flores às zeladoras que compunham o altar da Mãezinha. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

JESUS MENINO ESTAVA À PORTINHA…

Como que para entrar


De noite, tive uma visão; vi-me dentro dum templo, de joelhos, junto ao altar, onde estava o sacrário. À portinha dele, muito unidinho, como que para entrar para dentro estava Jesus Menino; era Formosíssimo; não tinha mais de dois ou três anos. Fitou-me com os Seus olhos encantadores; os Seus olhares divinos foram para mim olhares de convite para entrar também. Não cheguei a fazê-lo; de repente desapareceu Jesus, o Sacrário e o templo, fiquei sozinha, mas mais forte e corajosa e com mais ânsias de me unir para sempre a Jesus na Eucaristia. (S. 20-09-1947)

quinta-feira, maio 27, 2021

O TEU CORPO É UM SACRÁRIO

A Eucaristia sou Eu


— Minha filha, ó filhinha amada, tesoureira do teu Jesus, depositária, distribuidora do amor do meu divino Coração. O teu corpo é o sacrário que contém o vaso sagrado da minha Eucaristia. O teu coração é esse vaso, a Eucaristia sou eu. Dei-me em alimento às almas, criei-te para alimento das mesmas almas. (S. 04-05-1945)

És a vida das almas, és a nova Eucaristia delas. Purifica-as dos seus defeitos, lava-as dos seus crimes, prepara-las para mim que sou a verdadeira Eucaristia. És a pastorinha que conduz o rebanho ao Pastor Divino. (S. 11-05-1945)

— Minha filha, sou o jardineiro, venho ao meu jardim, ao jardim mais belo, que há de mais rico; venho buscar flores para a minha Eucaristia, para adorno dos meus sacrários. Venho buscar o seu néctar para as minhas feridas, para a chaga do meu divino Coração. (S. 31-05-1945)


VI UM SACRÁRIO À MINHA FRENTE

A portinha estava fechada


Foi no dito dia 27, que era sábado, e eu sem poder rezar redobrava o meu esforço por lhe estar unida na Eucaristia longe de pensar receber dele tão depressa a recompensa. Jesus, eu toda para vós e vós todo para mim. Eu quero estar sempre unida a vós em todas as prisões de amor. Que maravilha! De repente, à minha frente vi um sacrário. A portinha estava fechada, mas por todas as frestazinhas da porta do sacrário saíam numerosos raios dourados; davam toda a luz e todos eles vinham bater e repousar no meu pobre peito. Não foi uma ilusão minha, pois nunca pensei Jesus pagar com tanta generosidade o meu grande esforço. (Alexandrina Maria da Costa: 06-06-1942).

quarta-feira, maio 26, 2021

COMO CHEGAR AO CÉU

Contemplação das obras de Deus


Pelos quatro anos e meio de idade, punha-me a contemplar o céu (abóbada celeste) e perguntava aos meus se poderia chegar-lhe se pudesse colocar umas sobre as outras todas as árvores, casas, linhas dos carrinhos, cordas, etc., etc. Como me dissessem que nem assim chegaria, ficava descontente e saudosa, porque não sei o que me atraía para lá.

Lembro-me de que, nesta idade, tinha em casa uma tia doente, que morreu de cancro, e chamava-me para ir embalar um filho, primeiro fruto do seu matrimónio, serviço que fazia com toda a prontidão, quer de dia quer de noite.

Já nesta idade amava muito a oração, pois lembra-me que minha tia pedia-me para rezar com ela a fim de obter a sua cura. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

PRIMEIROS ANOS DA MINHA INFÂNCIA

Até aos três anos de idade não me recordo de nada


– Encontro em mim, desde a mais tenra idade, tantos, tantos defeitos, tantas, tantas maldades que, como as de hoje, me fazem tremer. Era meu desejo ver a minha vida, logo desde o princípio, cheia de encantos e de amor para com Nosso Senhor.

Até aos três anos de idade não me recordo de nada, a não ser de algum carinho que dos meus recebia. Com os meus três anos recebi o primeiro mimo de Nosso Senhor.

Como era desinquieta e, enquanto minha mãe descansava um pouco, tendo-me deitado junto dela, eu não quis dormir e, levantando-me, subi à parte de cima da cama para chegar a uma malga que continha gordura de aplicar no cabelo – conforme era uso da terra – e, por ter visto alguém fazê-lo, principiei também a aplicá-la nos meus cabelos. Minha mãe deu por isso, falou-me e eu assustei-me. Com o susto, deitei a malga ao chão, caí em cima dela e feri-me muito no rosto. Foi preciso recorrer imediatamente ao médico que, vendo o meu estado, recusou-se a tratar-me, julgando-se incapaz. Minha mãe levou-me a Viatodos, a um farmacêutico de grande fama, que me tratou, embora com muito custo, porque foi preciso coser a cara por três vezes e levou bastante tempo a cicatrizar a ferida. O sofrimento foi doloroso. Ah, se desta idade soubesse já aproveitar-me dele!... Mas não. Depois de um curativo, fiquei muito zangada com o farmacêutico; este ofereceu-me alguns biscoitos e vinho, que depois de amolecidos no vinho queria que os comesse. Eu tinha fome e, às vezes, até chegava a chorar porque não podia mexer os queixos. Não aceitei a oferta e ainda maltratei o farmacêutico. Ora aqui está a minha primeira maldade. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)


terça-feira, maio 25, 2021

TENHO O CORAÇÃO CANSADO

Está cansado de amor


— Tem coragem, minha filha, confia em mim que não te engano. Habito contente em teu coração, em teu coração que é como que uma caldeira de azeite na qual são fritos os mártires. A caldeira do teu coração é caldeira de amor, é caldeira que purifica e faz de muitos corações mártires de amor, de amor de que o meu Divino Coração tem sede. Ditosa és, pomba querida, ditosa e poderosa serás sempre. Em tuas veias corre o sangue do teu esposo Jesus e o sangue virginal da tua e minha Bendita Mãe. Tudo recebeste dela, quando uniu os seus santíssimos lábios aos teus. Arde, filhinha, no meu divino amor, purifica, virgem fiel, purifica o mundo. Quero amor, quero graça, quero pureza. É por ti, mensageira de Jesus, que todas as almas receberão riqueza e tesouros divinos.

— Tenho o coração cansado, Jesus.

— Cansado de amor, filhinha.

— Cansado de possuir o Vosso amor, da grandeza dele, mas não de Vos amar, porque não Vos amo nada. Bem sabeis que de mim só tenho miséria. É ela que vejo em mim.

— Amas, amas, minha filha, amas o meu divino coração a mais não poderes amar. Estás cansada de amor, e o amor também consome. Assim tem de ser para a alta missão que te destinei. Alta, alta, sublime, a maior das missões.

— Obrigada, obrigada, meu Jesus. Dai a todos os corações, dai a todas as almas este Vosso amor. (Alexandrina Maria da Costa: 25 de Maio de 1945).

NOVO LIVRO

Fulgores do Sacrário


O nosso amigo Pedro Sinde continua “enamorado” da Beata Alexandrina Maria da Costa e por isso mesmo nos proporciona esta “viagem” aos sacrários que a Beata de Balasar tanto amou, compondo mesmo um dos mais belos hinos às “moradas” de Jesus na terra.

Com humildade e um amor evidente ele explica logo de início não querer “inventar nada”, mas propor um “caminho simples”, «caminho este que foi explicitado para nossos tempos pela Beata Alexandrina Maria da Costa, em que se inspira este livro».

Ao longo de 156 páginas ele nos leva pela mão e nos propõe esse “caminho simples”, fixado nos sacrários das nossas igrejas, agora tão abandonados por nós.

Ele nos afirma, nas páginas 12 e 13, por exemplo, que «aquilo que é necessário para trilhar este caminho é, de facto, bastante simples: um homem e um sacrário. E aqui temos tudo: a criatura e o Criador; e nesta criatura temos, de certa forma, todas as criaturas, então, temos toda a criação. Assim, no sacrário, pela mediação do homem, toda a Sua criação. Não é possível nada mais simples, nem nada mais completo do que isto».

E é verdade! No sacrário temos tudo e esse TUDO é o próprio Jesus, que, como disse a Beata Alexandrina, queria ir para o Pai mas ficar connosco e ficou, no Sacramento da Eucaristia que Ele instituiu na noite “do maior amor”, na “noite mais santa”, na noite em que foi entregue.

A leitura deste belo livro não deixará ninguém indiferente.

UM PESO ESMAGADOR

Caminhei sobrecarregada


— Aceito, ó meu Deus, a minha cruz.

Nem a visita de Jesus Sacramentado me aliviou. Caminhei sobrecarregada com o seu peso esmagador. E como caminhei eu? Como se fosse um vermezinho da terra escondido sob ela. O meu corpo não era corpo, era uma massa disforme, toda em sangue; olhos, cabeça, todo o ser. No decorrer das horas, pude juntar aos sofrimentos do calvário grandes sofrimentos que martirizaram a minha alma; não convém dizê-los. Jesus e a Mãezinha tudo sabem. Que calvário tão penoso! E o abandono aterrador! O meu coração bradava ao céu, os meus olhos fitavam Jesus, e os meus lábios segredavam-Lhe:

— Bendita seja a minha cruz, seja tudo pelo Vosso divino amor e pelas almas. Estou pronta, sempre pronta para ser a Vossa vítima.

Veio Jesus confortar-me, veio ao encontro do meu martírio, veio com toda a fortaleza do Seu divino amor. O coração palpitava fortemente, o peito parecia levantar-se, era pequeno para conter um coração que dentro dele continha a grandeza e amor sem igual. Jesus demorou-se a falar-me, mas só o Seu amor bastava-me. Senti mais vida, mas Ele não ficou sempre silencioso. Não digo aqui tudo o que Jesus me disse; oculto-o, devo ocultar. Ficará para quem tem o direito de eu nada lhe ocultar. Ao que Jesus me disse respondi:

— Faço isso, meu Jesus, mas é enormíssimo o meu sacrifício; bem vedes que é. Aceitai-o já, faço-o por Vosso amor. Por este tão grande sofrimento, fazei-me o que Vos peço. (Alexandrina Maria da Costa: 25 de Maio de 1945).

VI UMA ENORME CRUZ

À beira dela, a Mãezinha das Dores


Durante a noite, não sei a hora, o meu corpo era destruído pela dor, e a alma estava nas maiores angústias, na sepultura das minhas trevas. Não tinha ninguém por mim; tinha de lutar.

— Ó meu Deus, quem poderá resistir a tanta dor?

De repente, vi à minha frente, junto de mim, uma enorme cruz levantada. E ao pé dela, sentada, a Mãezinha das Dores. Que bela, que bela Ela era! Fitei-A sem nada Lhe dizer, não podia falar. O seu santíssimo Coração, cheio de setas, fez-me esquecer a minha dor. Não falei eu, mas falou Ela.

— Minha filha, tem coragem; esta cruz é tua. Eu estou sempre junta a ti, para te auxiliar, como junto estive à cruz do meu Jesus.

Dito isto, desapareceu rapidamente a linda visão. Tão grande madeiro não me atemorizou com a vista da Mãezinha. Serenou a tempestade do meu sofrimento, e adormeci por um pouco. Ao despertar, logo me aterrou o pensamento de ser sexta-feira. O coração abafado e oprimido pela dor cobriu-se de luto.

— Aceito, ó meu Deus, a minha cruz. (Alexandrina Maria da Costa: 25 de Maio de 1945).

segunda-feira, maio 24, 2021

COISAS ESTRANHAS

Nada podia ouvir de alegria


Desde o dia 24 de Maio [de 1942], dia do Divino Espírito Santo, em que eu pedia toda a luz e todo o fogo do seu divino Amor, do seu Amor santificador, o estado da minha alma modificou-se, mas nesse dia de tarde eu ainda dizia: Eu já não tenho vida da terra, só tenho corpo para a dor. A partir deste dia, deixei de sentir o que até ali sentia quase continuamente, que eram nojentas serpentes cheias de toda a imundice, que entravam pela boca e saíam arrancadas não sei por quem, fazendo lembrar os condenados do inferno atormentados pelos demónios. Não podia ouvir o chilrear dos passarinhos ao alvorecer e ao anoitecer do dia, apesar de me lembrar que estavam a louvar o seu Criador. Os seus gorjeios feriam muito a minha alma. Nada podia ouvir de alegria. A minha sede era abrasadora, as saudades de me alimentar não as sei exprimir e tudo isto me parecia levar ao desespero por sentir que era impossível saciar os meus desejos. Logo dizia ao meu Jesus: É por vós que sofro, e saciai vós a vossa sede de amor, a sede que tendes das almas. (Alexandrina Maria da Costa: S. 24-05-1942).

Ó MEU JESUS NÃO ME ABANDONEIS

Sinto-me abandonada de todos


O fiozinho da vida divina que estava ligado ao meu coração, apesar de sentir que o não tenho, ainda está ligado ao lugar onde ele habitava. Sinto que ele está a cada momento a querer quebrar. A fúria da horrenda tempestade dá-lhe todos os abalos. Do pequenino lugar que ocupava o meu pobre coração sai, de longe a muito longe, umas escassas gotas de sangue. Agora é que eu sinto quanto a pobre Humanidade necessita dele; toda ela sequiosamente o quer sugar. Ó meu Jesus, não abandoneis a pobrezinha que sempre em vós confiou e confia. Apesar de tudo sentir perdido por entre as trevas, é de vós que tudo espero.

O demónio quebrou todas as cadeias que o prendiam, caiu sobre mim. Luto sozinha, combato a sua raiva. Ó minha querida Mãezinha, tiram-me o meu Paizinho nestes tristes dias em que eu mais precisava dele.

Sinto-me abandonada de todos a não ser quando mo dais milagrosamente para conforto da minha alma; o que tão raras vezes acontece. Perdoai a todos os que me ferem, perdoai tanta cegueira; eles de mim estão perdoados. No lugar do meu coração já não cabem mais espadas; tenho sofrido por todos os lados, tenho recebido sofrimentos de quem menos esperava. Ó meu Jesus, para todos o vosso perdão, o vosso amor e a vossa compaixão. Purificai, santificai, abrasai no vosso divino amor e levai para junto de vós sem demora a vossa filhinha agonizante. (Alexandrina Maria da Costa: S. 24-05-1942).

O TEMPO NÃO PASSA

As horas parecem séculos


Jesus suspendeu-me a crucifixão: parece-me que me suspendeu a vida. Só Ele pode avaliar a minha tristeza e saudade. Não tenho o sofrimento da cruz; já não me sinto nela, escondeu-se-me por completo, mas tenho maior cruz ainda, são maiores os meus sofrimentos. Não posso viver no mundo. O tempo não passa, as horas parecem-me séculos, os dias e as noites eternidades. Quantas vezes levanto os meus olhos ao Céu para exclamar: Jesus, ó meu querido e saudoso Jesus! Mãezinha, ó minha querida e saudosa Mãezinha! Santíssima Trindade, ó minha querida e saudosa Trindade, para quem só quero viver, a quem me entrego, a quem só quero amar. Pobre de mim! Digo que amo e não tenho coração para amar, não tenho corpo senão para a dor, sou como uma bola de espuma que depressa se desfaz. Que trevas, meu Jesus, que securas, que amarguras, que agonias as da minha alma. (Alexandrina Maria da Costa: S. 24 de Maio de 1942)

UM MAR DE AMOR

Um mar que nunca terá fim


Esse mar infinito para onde corre a minha dor, a dor que vai ferir o meu amantíssimo Jesus vem também de encontro ao meu peito, para o meu coração: um mar infinito, um mar que nunca terá fim, nem poderá esgotar-se o seu amor. É esse amor que me atrai, é esse amor que não posso deixar de anunciar. Trabalha em mim como que um motor; este motor tem voz que se espalha, voz que ecoa no mundo inteiro, voz que junta o humano com o divino, voz que levanta a terra para o Céu. Quantas coisas sabe sentir o meu coração e a minha alma e não as sabe dizer! Que pavoroso martírio para mim! Quero abraçar o mundo, quero abraçar as almas, quero num abraço divino estreitá-las, metê-las todas no peito, no Coração de Jesus; é uma ânsia tormentosa, é uma ânsia sem limites, sem fim. (Alexandrina Maria da Costa: S. 22 de Maio de 1953)

sábado, maio 22, 2021

A MINHA ALMA ENFORTALECEU…

Com as carícias da Mãezinha


― Tem coragem, minha filha! Eu serei contigo na hora da tua dor até ao último alento; expirarás em meus braços.

Qual é a mãe que não cuida da sua filha, quando a vê com o seu corpinho em sangue, numa só chaga? Eu cuido de ti, para que possas salvar os filhos meus.

Com as carícias da Mãezinha eu fiquei quase a dormir.

Jesus, à volta de mim, como quem queria acariciar-me, caminhava, pé ante pé, como se não quisesse acordar-me. Passou-se assim algum tempo; a minha alma enfortaleceu com este descanso suave e doce. (Alexandrina Maria da Costa: S. 04-01-1945).

NÃO SEI DIZER…

Que grande é a minha ignorância!


Sinto a necessidade de desabafar, falar da dor, não porque queira queixar-me, porque isso não quero fazer e quero a todo o custo encobri-la, mas não sei porquê, não sei o que me leva a falar dela. É talvez a minha pobre natureza; sou talvez eu por não saber sofrer, que sinto a necessidade de dizer que sofro. Ah! A minha dor é tão grande! Ela cobre o mundo, ela vai ao encontro de Jesus, vai tocar e ferir o seu divino Coração. Que grandeza a da minha dor! Eu não posso consentir que ela vá ferir o Coração do meu Senhor. Ela sai de mim, de dentro do meu peito como o maior rio que nunca seca e nunca cessa de encher o mar. Meu Deus, como eu sofro por Vos sentir sofrer! Meu Deus, como eu sofro por ver e sentir este rio caudaloso a sair do meu peito e a ir ferir o Vosso divino Coração, produzindo nele um ar infinito de dor. Se os Anjos ou os Santos falassem por mim! Só eles saberiam exprimir-se. Eu não sei, Senhor, eu não sei. Que grande, que grande, que nunca dita é a minha ignorância! (Alexandrina Maria da Costa: S. 22 de Maio de 1953)

VENHO A TI COM O MEU AMOR

Hoje fez-me sentir a Sua divina presença


— Minha filha, venho a ti com o meu amor que é a vida do teu corpo, que é a vida da tua alma. Sou teu, estou aqui, confia, sou o teu Jesus.

Hoje fez-me sentir a Sua divina presença em mim, fez dilatar fortemente o meu coração e cobriu-o das Suas ternuras e carícias. Depois disto despertei como dum sono e disse-Lhe:

— Muito obrigada. (Alexandrina Maria da Costa: S. 22 de Maio de 1945)

SINTO QUE PERDI JESUS

Quanto mais corro ao Seu encontro…


Tenho fome, tenho sede de possuir Jesus; não cessa, é devoradora. Quanto mais corro ao Seu encontro, mais sinto Ele fugir. Perdi-O, perdi-O, não O encontro no meio de tantas trevas. Infundo-me nelas cada vez mais, de olhos vendados e louca por tão grande dor ato na cabeça as minhas mãos. Não digo bem: sinto que o faço e que estou perdida no mar tempestuoso e encapelado, na noite mais negra e aterradora, mergulhada em mundos de escuridão. Sinto e ouço o zunir dos ventos, as ondas levantam-se à maior altura e baixam de novo serenamente. E eu sozinha, tão sozinha, sem ninguém! Ao sentir tempestade tão desastrosa, fito-a, escuto-a, mas com serenidade. Se morrer nela, morro por Jesus, morro pelas almas. Confio, espero, o meu corpo pode sofrer tudo, pode desaparecer destruído com o furor da tempestade, mas a alma tem o seu fim, há-de ir ao encontro de Jesus, Ele há-de recebê-la, há-de ampará-la e levá-la para Ele.

— Ó mundo, que tão ingrato tens sido para mim! E eu amo-te tanto; amo-te não pelos teus falsos encantos, mas sim porque és de Jesus. A minha dor por vezes é quase desesperadora. Oh! se não fosse Jesus e a Mãezinha! A Eles devo a minha resistência a tudo. (Alexandrina Maria da Costa: S. 22 de Maio de 1945)

sexta-feira, maio 21, 2021

A INGRATIDÃO DOS HOMENS

Ó Jesus, eu não me importo da ingratidão dos homens


— Minha filha, se o mundo te conhecesse!... Se os corações te amassem, eram mais gratos para contigo. Amavam-Me e eram mais gratos para com Jesus. Amavam-te, porque sofres por eles, amavam-te, porque te escolhi para continuares a obra da salvação.

— Ó Jesus, ó Jesus, eu não me importo da ingratidão dos homens para comigo. Eu não me importo, não, que eles sejam gratos para mim. O que eu quero, Jesus, é que Vós sejais amado e que todos sejam gratos ao Vosso Divino Coração, ao Vosso Divino Amor. O que eu queria era ser desconhecida aos olhos do mundo, viver escondida, sofrer escondida só por Vosso amor e por amor às almas. São os meus desejos, são os meus desejos. (Alexandrina Maria da Costa: S. 02-01-1953).

A IMPUREZA ! A IMPUREZA !

Meu Jesus, quem foi que Vos feriu assim?


— Aproveitai, meu Amor, a minha grande miséria, nada mais tenho para Vos dar. Aceitai os desejos que tenho de Vos consolar e de Vos dar tudo o que é belo, tudo o que é puro, tudo o que é amor. E dizei, meu Jesus, quem foi que Vos feriu assim?

— Minha filha, esposa minha, olha como estou coroado de tão agudos espinhos. São os sacerdotes que assim me ferem. Ofendem-me tanto! E esta chaga, que vês aberta, foi feita pela ambição das nações, mas aprofundada mais, muito mais ainda por todas as maldades e todos os vícios. A impureza, a impureza! (Alexandrina Maria da Costa: S. 04-05-1945)

A DOR SALVA !

A dor é o fogo que aquece


― A dor é o fogo que aquece, a dor é o sol que brilha. A dor é a vida, é o enlevo da alma para Jesus. A dor é a vida, a dor é a salvação. Coragem, coragem, minha filha. A dor ressuscita as almas para Jesus e salva-as. A dor tem todo o poder; a dor, a dor é salvadora. Toda a alma que sofre com amor vive unida ao seu Deus. A dor, a dor tem encerrados nela os segredos, todos os segredos do Senhor. A dor, a dor, como é poderosa e não é compreendida! Por não ser compreendida, maior, maior, maior é o seu valor. Sofre, vítima querida, sofre, esposa predilecta de Jesus, sofre, porque o mundo desvairado, o mundo perdido necessita do teu sofrimento, do teu prolongado martírio (Alexandrina Maria da Costa: S. 18-09-1953).

MOMENTOS DE DESERTO ESPIRITUAL

Nada tenho a não ser miséria


As tristezas e amarguras da minha alma são cada vez maiores. A noite, mais tenebrosa e aterradora. A vida tornou-se pesada e difícil de viver, vida sem vida, vida morta, porque só vive a minha miséria. Sou um monstro mundial de podridão. Sinto como se nunca nascesse para Deus, nunca vivesse para coisa alguma de utilidade. Nada tenho a não ser miséria. Estou para a eternidade de mãos vazias. Horas tristes, horas difíceis de vencer. Parece-me que em vão invoco o nome do Senhor e que nada vale o meu brado por Jesus e pela querida Mãezinha.

Consolai-Vos, Jesus, nas minhas tristezas e amarguras. Não quero alegrar-me a mim, mas sim alegrar-Vos a Vós. Creio nas Vossas promessas. Creio, Jesus, creio! Que esta palavra se repita dia e noite sem cessar. É um crer sem um sentimento de fé. Creio. Creio. Sou a Vossa vítima. (Alexandrina Maria da Costa: 21 de Maio de 1954 – Sexta-feira)

quinta-feira, maio 20, 2021

A DOR ATINGIU O SEU AUGE…

O teu calvário será cada vez mais doloroso


Jesus falou-me assim:

— Venho pedir, atendei, filhos meus. Quero o amor dos vossos corações, quero a pureza da vossa vida. Fazei, fazei que Eu seja amado. Fazei, fazei que todos os homens sejam puros, que todos os corações me amem e sirvam fielmente.

Minha filha, minha filha, aceita os agradecimentos do teu Jesus. Muito te pedi, muito me deste. Pedi-te muito para Mim, muito te pedi para as almas. O que te pedi para Mim foi por amor das almas: são filhas do Meu sangue, são filhas do Meu calvário, são filhas do Meu calvário, são filhas da Minha vida. Agora, filha minha, esposa do Meu Coração, mais te peço, mais te peço. O teu calvário não diminui. O teu calvário será cada vez mais doloroso, até terminar a tua existência aqui. A dor atingiu o seu auge, mas a tua sensibilidade mais há-de sofrer. São meios de que Eu Me sirvo para a salvação do mundo. (Alexandrina Maria da Costa: 02-01-1953.

A CURA DA SÃOZINHA…

“Aí vai o meu amor”


Disse-me Nosso Senhor: ― “Aí vai o meu amor”.

E então, aquela força inexplicável e aquele calor que tanto me abrasava ! Oh ! como eu me sentia bem ! E dizia-me Nosso Senhor :

― És a minha vítima, a vítima dos meus desígnios !

E tornou-me a dizer que me queria no Céu mas que precisava de mim na terra. Nesta ocasião eu pedi ao meu Jesus a cura da minha querida Sãozinha. E Nosso Senhor prometeu-me curá-la breve, mas que lhe pedisse muito, e que lhe pedisse o que quisesse. O que Ele me não alcançasse que é porque não era bem para as almas. (Carta ao Pe. Mariano Pinho:  15-03-1935)

(Nota do Padre Mariano Pinho: De facto curou, quando já se principiava a desanimar da sua cura.)

A COROA DA ALEXANDRINA…

Até os próprios sacerdotes


Jesus convidou-me para os sacrários abandonados para me entristecer com Ele e para reparar tanto abandono. Deixam-no sozinho e vivem como se Ele não existisse. Até os próprios sacerdotes, a quem Ele deu o poder de transformar o pão no seu divino corpo, até eles o esqueciam e o ofendiam. Disse-me, também, que cada vez que me oferecia aos sacrários, me eram aumentados muitos graus de glória no Céu; que quando eu lhe pedia o aumento do seu divino amor, me era embelezada, de dia para dia, a minha coroa no Céu e que Ele mesmo ma preparava (Carta ao Pe. Mariano Pinho: 14-09-1934).

A ALMA ELEITA DO SENHOR

São tão grandes e profundos os desígnios do Senhor

 

― Jesus desceu, desceu do Céu, entrou no seu tabernáculo, no seu paraíso, no seu céu na terra. Entrei silencioso, mas cheio de bondade. Entrei silencioso, mas cheio de amor. Entrei silencioso, mas com toda a minha vida para te dar sempre, sempre, minha filha, toda a minha vida. Sofrer por Jesus, viver a vida de Jesus na terra. Oh, dita, oh, dita, incomparável dita. São tão grandes e profundos os desígnios do Senhor sobre uma alma eleita. É tão profunda e misteriosa a tua vida, minha filha, porque é profunda e misteriosa, porque é toda divina, é mal, muito mal compreendida. Quanto mais alta a missão tanto mais profunda e misteriosa é a vida da alma eleita do Senhor. (Alexandrina Maria da Costa: S. 28-08-1953)

A ACÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

Dá-me o Espírito Santo conhecimento de tudo


Dá-me o Espírito Santo conhecimento de tudo. E quantas vezes pressentimentos reais, como da vinda de pessoas junto de mim, acontecimentos, etc. ... O divino Espírito Santo é fogo que me ilumina e eleva muitas vezes às alturas: perco-me nele, irradio-me nele. Oh ! Quem me dera todas as almas conhecessem e sentissem nelas a presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo ! (Alexandrina Maria da Costa: S. 24-10-1944)

quarta-feira, maio 19, 2021

AS MINHAS PRIMEIRAS CONTEMPLAÇÕES

 Admirava as belezas do Criador!


– Pelos nove anos, quando me levantava cedo para ir trabalhar nos campos e quando me encontrava sozinha, punha-me a contemplar a natureza. O romper da aurora, o nascer do sol, o gorjeio das avezinhas, o murmúrio das águas entravam em mim numa contemplação profunda que quase me esquecia de que vivia no mundo. Chegava a deter os passos e ficava embebida neste pensamento, o poder de Deus! E, quando me encontrava à beira-mar, oh, como me perdia diante daquele grandeza infinita! À noite, ao contemplar o céu e as estrelas, parecia esconder-me mais ainda para admirar as belezas do Criador! Quantas vezes no meu jardinzinho, onde hoje é o meu quarto, fitava o céu, escutando o murmúrio das águas e ia contemplando cada vez mais este abismo das grandezas divinas! Tenho pena de não saber aproveitar tudo para começar nesta idade as minhas meditações. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

AMOR À ORAÇÃO

Em Maio oferecia muitas flores à Mãezinha


– À medida que ia crescendo, ia aumentando em mim o desejo da oração. Tudo queria aprender. Ainda conservo as devoções que aprendi na minha infância, como: Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, Ó Senhora minha, ó minha Mãe, o oferecimento das obras do dia – Ofereço-Vos, ó meu Deus –, a oração ao Anjo da Guarda, oração a S. José e várias jaculatórias.

Quando ia a passeio com a patroa para o campo, acompanhada com outras meninas, fugia do convívio delas e ia colher flores que desfolhava para fazer tapetes na igreja de Nossa Senhora das Dores. Era em Maio e toda me comprazia de ver o altar da Mãezinha adornado de rosas e cravos e de respirar o perfume dessas flores. Algumas vezes, oferecia à Mãezinha muitas flores que minha mãe propositadamente me levava.

O capelão de Nossa Senhora das Dores organizou várias comissões de meninas para angariar meios para o culto da mesma capela. Essas comissões espalhavam-se pelas freguesias vizinhas da Póvoa de Varzim. Eu fui para a Aguçadoura e aceitávamos tudo o que nos dessem, como batatas, cebolas, etc. Por mais que pedíssemos, pouco arranjámos e tivemos a má ideia de saltar a um campo e tirámos batatas, cerca de dois quilogramas. Fui eu uma das que fiz tal acção, enquanto outras vigiavam. Entregámos as ofertas, não contando nada do que se tinha passado. (Alexandrina Maria da Costa: Autobiografia)

O QUE FARÃO AS AVEZINHAS?

Que bela lição para mim!


O dia foi triste, não porque me faltasse a paz da minha alma, Deus seja louvado, mas porque a minha pobre natureza não podia resistir mais. A dor era imensa, a alma despedaçava-se, todo o meu ser era um trapo rasgado fio a fio.

— Ó meu Deus, tudo o que era triste ocorria-me ao pensamento.

A pouco e pouco ia-me mergulhando nas trevas lentamente. Que medo arrepiante! Sentia-me só, sem conforto da terra e do céu. Tremendo abandono! Tenho Jesus, tenho a Mãezinha, mas sem alívio. O céu estava coberto de nuvens negras e chovia torrencialmente. Mas na minha alma eram mais negras as nuvens, e a chuva de dores mais forte ainda. Pela janela os meus olhos viam as folhas verdejantes das vides como que sofregantes com o orvalho fresco que o céu lhes dava. Que bela lição para mim! Lembrei-me e perguntei:

— O que farão as avezinhas para livrarem da chuva os filhinhos? Estendem sobre eles as asas. Jesus cuida delas, não as abandona. Como poderá Jesus deixar de cuidar de mim, e a Mãezinha, que tenho uma alma? Oh! como eu me devo alegrar com tudo o que o céu me dá! Tenho fome e sede de me dar a Vós, de cumprir a Vossa santa vontade. Venham as humilhações e desprezos, eu quero salvar as almas. (Alexandrina Maria da Costa: 19-05-1945)

terça-feira, maio 18, 2021

QUE RIQUEZA EM TEU CORAÇÃO!

Deixei de vos ouvir, meu Amor


— Minha amada, ó minha amada, o meu amor consome-te. Em ti há só oiro finíssimo; o meu fogo divino tudo em ti purifica. Que riqueza em teu coração! Tenho nele toda a consolação e delícias. Deste-me tudo, tudo recebi e guardei. Vim ao jardim da minha esposa, nele colhi muitas flores; guardei todo o seu perfume. É para distribuir às almas: é ele que as atrai para Mim. Diz, minha louquinha, ao teu Paizinho, que o é e sê-lo-á sempre; não consenti nem consentirei que to tirem; que lhe mando todo o meu amor e da minha Mãe bendita. Basta, basta a experiência dos homens. O golpe que te foi dado teria sido fatal se eu não velasse por ti, se não te amparasse e cobrisse toda a protecção divina.

Eu quero-o depressa com todo o seu cuidado a par com a tua alma. Diz ao Sr. Doutor que tudo quanto a ti faz, a Mim é feito, em ti o recebo. A recompensa é eterna, dou-lhe todo o meu amor, de ti tudo receberá. Todos os filhinhos dele ficam sob a tua protecção; nenhum deles se perderá; todos terão no Céu um lugar de predilecção. Eu quero-o sempre, sempre vigilante junto da planta que lhe confiei; não poderá viver sem todo o seu cuidado. O fim aproxima-se rápido, toda a glória e triunfo são de Jesus.

Deixei de vos ouvir, meu Amor, e quase logo principiou a sangrar de dor o meu coração. No entanto, a vossa força divina fortaleceu-me; sofro, mas com mais vida. Não quero duvidar das vossas palavras, espero uma resolução firme, espero a transformação completa dos corações humanos. Só o poder de um Deus pode renovar tantos obstáculos. Espero em Vós, meu Jesus: não me deixeis morrer de fome, não deixais que caia de todo no desalento. Deixai-me todo o amor, toda a confiança, todo o desejo de sofrer por vós. A bênção, meu Jesus, para a pobre Alexandrina. (Alexandrina Maria da Costa: 07-03-1942)