Maria
Ana, filha mais velha de José António da Costa e
de Ana Joaquina Leitão, era uma bela
moça alegre e trabalhadeira. Nasceu a 22 de Janeiro de 1877, em Grezufes, um
dos muitos lugares de que se compõe a aldeia de Balasar. Teve 4 irmãos e 5
irmãs.
Para
memória, aqui fica o seu “assento” de baptismo:
«Aos 24 dias do mês de Janeiro do ano de 1877, nesta Igreja Paroquial de
Santa Eulália de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, Diocese de Braga,
baptizei solenemente um indivíduo do sexo feminino, a quem dei o nome
de Maria e que nasceu nesta freguesia às cinco horas da manhã do dia
22 do mesmo mês e ano, filha legítima de José António da Costa, lavrador,
natural desta mesma freguesia, e de Ana Joaquina Leitão, lavradora,
natural da freguesia de Minhotães, concelho de Barcelos, desta mesma diocese, e
na mesma recebidos, e paroquianos e moradores no lugar de Gresufes desta
freguesia de Balasar, neta paterna de Manuel António da Costa e
de Joaquina Maria de Freitas e materna de Francisco Manuel de
Araújo e de Maria Joaquina Leitão. Foi padrinho Manuel António da
Costa e madrinha Maria Joaquina Leitão, lavradores, os quais todos sei serem os
próprios.
E para constar lavrei em duplicado este assento que, depois de ser lido e
conferido perante os padrinhos, comigo o assinou o padrinho, não assinando a
madrinha por não saber escrever.
Era ut supra.
O Padrinho – Manuel António da Costa
O Reitor – António Martins de Faria»
Na
sua juventude apaixonou-se por António Gonçalves Xavier, de Vila Pouca, lugar
da freguesia, vizinho de Gresufes.
O
Professor José Ferreira explica:
«Maria Ana da Costa conhecia com certeza António
Xavier desde a infância, pois Vila Pouca e Gresufes são pegados e as casas dos
pais dos dois não distavam mais de 300 metros. O que fizeram nas termas foi sem
dúvida estreitar uma relação que antes era só de vizinhança.»
Desta
paixão — que era, sem qualquer dúvida, sincera por parte de Maria Ana — nasceu
uma primeira filha, a Deolinda, em 21 de Outubro de 1901. Maria Ana tinha então
24 anos.
Naqueles
tempos, por razões diversas que não cabe aqui explicar, eram numerosas as mães
solteiras, por isso mesmo não deu grande alarido na freguesia que isso tivesse
acontecido com aquela jovem camponesa.
Passou-se
algum tempo sem que o prometido casamento se realizasse. António Xavier tinha
outras ideias: ir para o Brasil ganhar o dinheiro necessário para sustentar a
futura esposa e a filha. E assim o fez.
No
seu depoimento, a quando do processo diocesano para a beatificação e canonização
da Alexandrina, a Deolinda explicou:
«Da minha mãe tive as informações sobre o meu pai que agora exponho.
Era um aventureiro: foi várias vezes ao Brasil. A minha mãe tinha ido para
as Termas do Gerês, para cura, e foi lá que o conheceu.»
E
mais adiante, diz ainda:
«Voltou do Brasil quando eu já tinha os meus dois anos e começou a andar de
novo atrás da minha mãe. Mas como a família (dela) se opunha, ela disse-lhe
claramente que naquelas condições não podia casar… Então ele apresentou-se à
minha avó e ao meu tio Joaquim e combinou o matrimónio: estavam já a procurar
casa quando ele teve de ir para a Póvoa para se curar duma doença contraída no
Brasil…
Um dia que a minha mãe tinha ido a Vila do Conde vender hortaliça, no
regresso passou pela Póvoa onde tinha marcado um encontro com ele para o
informar de que estava novamente grávida (nascerá a Alexandrina). Mas da casa
donde tinha saído o meu pai saiu também uma mulher que lhe disse: – Xavier, as
minhas tesouras não estarão no teu quarto?
A minha mãe teve assim a confirmação das vozes que já corriam. Xavier
protestou que eram tagarelices. Mas na verdade em pouco tempo casou com aquela
mulher da Póvoa.
A minha mãe chorou lágrimas amargas e desde então, por toda a vida,
vestiu-se quase sempre como uma viúva e dedicou-se exclusivamente à educação
das duas filhas…»
Aquela
que mais tarde será muitas vezes a “secretária” da Alexandrina, deixou-nos de
Maria Ana este testemunho:
«A mãe da Alexandrina reparou de modo edificante os erros da sua juventude.
Ou melhor, com a caridade para com todas as pessoas, que a conheciam como
mulher de grande coração; depois com uma vida de intensa piedade. Levantava-se
cedíssimo. Todos os dias pelas 5 da manhã entrava na igreja, de que tinha a
chave. Quando começava a Santa Missa, ela já há duas horas estava de joelhos
frente ao Santíssimo. Assim fez enquanto as forças lho consentiram.»
Depois
daqueles desaires e respectivas consequências, Maria Ana, sinceramente
arrependida da sua conduta, mudou completamente, tornando-se mesmo um exemplo
para todos, porque a partir daí manteve “uma conduta irrepreensível”.
Deolinda,
falando de sua mãe, presta-lhe esta simples e sincera homenagem:
«A minha mãe ensinou-nos a trabalhar desde pequenas. A sua caridade era
conhecida de todos, tanto que o pároco de então disse: – Quando esta senhora
morrer, senti-lo-á toda a paróquia. – De facto não havia doente que ela não
socorresse. Vinham chamá-la até de noite e ela acorria porque sentia pena.
Assistia os moribundos; recitava as orações da agonia; vestia os mortos. Mais,
sendo uma boa cozinheira, era chamada per os jantares nos baptizados e nas
bodas, como também na residência por ocasião de pregações.»
Na
sua autobiografia a Alexandrina fala-nos da sua primeira “teimosia”, que teve
resultados pouco lisonjeiros:
«Como era desinquieta e, enquanto minha mãe descansava um pouco, tendo-me
deitado junto dela, eu não quis dormir e, levantando-me, subi à parte de cima
da cama para chegar a uma malga que continha gordura de aplicar no cabelo –
conforme era uso da terra – e, por ter visto alguém fazê-lo, principiei também
a aplicá-la nos meus cabelos. Minha mãe deu por isso, falou-me e eu
assustei-me. Com o susto, deitei a malga ao chão, caí em cima dela e feri-me
muito no rosto. Foi preciso recorrer imediatamente ao médico que, vendo o meu
estado, recusou-se a tratar-me, julgando-se incapaz. Minha mãe levou-me a
Viatodos, a um farmacêutico de grande fama, que me tratou, embora com muito
custo, porque foi preciso coser a cara por três vezes e levou bastante tempo a
cicatrizar a ferida.»
No
mesmo documento, e com muita ternura a Alexandrina conta a oferta que a mãe lhe
fizera: os primeiros soquinhos:
«Uma vez minha mãe deu-me uns soquinhos. Eu fiquei tão contente com eles,
porque eram lindos!... Para ver a figura que fazia com eles, preparei-me como
se fosse à Missa, calcei-os e depois ajoelhei-me, pondo-os à minha frente,
fingindo que estava na igreja. Como era vaidosa!»
Com
o mesmo carinho, Alexandrina lembra-se do que lhe dizia a mãe, quando na sua
meninice se mostrava irrequieta e tumultuosa:
«Minha mãe dizia: “Os fidalgos têm um bobo para os fazer rir e eu não sou
fidalga, mas também tenho quem me esteja a fazer festa”».
Mas
Maria Ana tinha punho de ferro e era exigente para com as filhas: deu-lhes uma
boa educação religiosa e inculcou-lhes duas grandes virtudes que tanto a uma
como a outra, ficaram bem registadas nos seus corações juvenis: a caridade e o
amor ao trabalho.
No
que toca aos carismas de sua filha, ela sempre se mostrou recatada, quase
alheia a eles, ou porque não os compreendesse bem, não os avaliando ao seu
justo valor, ou então para deixar que livremente Deus actuasse na Alexandrina,
segundo a Sua santíssima Vontade.
Maria
Ana faleceu pouco mais de 5 anos após a Alexandrina, em 24 de Janeiro de 1961,
e foi sepultada na campa da família, no Cemitério de Balasar, junto de seu
irmão Joaquim Costa, que a precedeu na Mansão celeste.
Afonso Rocha