Depois de
vos ter falado da fé inquebrantável da Alexandrina, vou hoje falar-vos doutra
das suas virtudes: a esperança.
Começarei
por afirmar que aquela frase de S. Paulo na sua carta aos romanos lhe assenta
perfeitamente bem: «esperar contra toda a
esperança» (Rm. 4:18).
A esperança
era, na Alexandrina, uma virtude inata, porque a sua confiança em Deus era total.
No documento
utilizado para a sua beatificação – Posições e artigos – podemos ler, no artigo
40 o que segue:
«A Alexandrina orientou a sua vida, desde pequena,
para Nosso Senhor. Cedo sentiu uma atracção extraordinária para o Céu. As
belezas naturais despertavam nela e aumentavam as ânsias do Paraíso. Viveu no
desejo de se unir para sempre a Nosso Senhor, mas, conformada com a vontade
d’Ele, renunciou a pedir o Céu para que essa vontade divina se cumprisse da
maneira mais perfeita.»
No artigo
seguinte podemos ainda ler esta afirmação que não sofre qualquer sombra de
dúvida:
«Tinha a certeza do Céu, mas agiu no santo temor
de Deus, com prudência e generosidade, para corresponder às graças, receosa de
não dar tudo a Nosso Senhor. Por isso, pedia auxílio a Nossa Senhora e aos
Santos, e recomendava-se às orações de todos.»
“Ter a
certeza do Céu” é algo de muito bom para qualquer alma, mas para ter essa
certeza é necessária uma outra virtude que também era natural na Alexandrina: a
humildade, como é demonstrado no artigo 43 do mesmo documento:
«Tinha
consciência da sua miséria e pobreza espiritual, mas mais ainda da misericórdia
de Deus. Mesmo a pessoas manchadas de grandes culpas, falava da bondade e
misericórdia do Senhor com tanta eficácia e força persuasiva que dissipava
qualquer temor e desalento. A muitos deixou a impressão de que incarnava a
misericórdia de Deus.»
Era esta
humildade que fazia vergar os corações mais duros, mais empedernidos e os
levava a Deus, porque sentiam nela a paz e o amor de Deus. Daí esta afirmação
importante no artigo 43 do documento citado:
«Abandonava-se completamente à Divina Providência
e aconselhava os outros a fazerem o mesmo. Foram inúmeras as pessoas que, por
essa confiança que sabia infundir, lhe abriram os segredos mais íntimos da sua
alma, como se fora a um sacerdote.»
E ainda:
«A confiança ilimitada que tinha em Deus manteve-a
sempre em paz; mesmo no meio das mais tremendas provações soube calar-se sem
nunca se queixar com as criaturas. Foi esta confiança que a inspirou e ajudou a
dar força e resignação aos seus [entes] queridos.»
No que a
Igreja chama de “Comunhão dos Santos”, a Alexandrina sempre teve uma acção
importante, como podemos ver:
«Tinha a máxima confiança na oração a que unia
sempre sofrimentos e esmolas para obter graças. Nunca fez presentes a Deus os
seus merecimentos, mas confiava na bondade, providência e misericórdia do
Senhor, como também nas orações dos outros. A Ele oferecia os merecimentos da
Paixão de Jesus, da Mãe do Céu e dos Santos, juntamente com o fruto das Missas
que se celebravam no mundo.»
Como é
sabido de todos, ela sofreu muito e tudo ofereceu para o bem das almas, mesmo
quando atravessou momentos de grandes dificuldades materiais e espirituais, mas
a sua esperança nunca se alterou, como fica dito a seguir:
«Viveu vários anos — porventura os mais difíceis —
sem um guia espiritual, e teve que exercitar-se de uma maneira heróica na
virtude da esperança. De igual heroísmo deu mostras por causa do abandono e
incompreensão das criaturas, não se deixando cair no desconforto.»
Como ela,
permaneçamos sempre confiantes na misericórdia e no amor de Deus: fixemos n’Ele
a nossa esperança, porque Deus é “rico em misericórdia” e fiel no seu amor por
nós.
Afonso Rocha