terça-feira, junho 22, 2021

O AMOR VENCEU

Sofro e morro de dor


Jesus continua na cruz e dentro de mim, de mim que não vivo nem existo. Ai, o doce Jesus de braços e Coração abertos! Queria dizer quanto Ele sofre e ama; sei sentir, não sei dizer, não me chega a língua, não sou capaz. Sofro e morro de dor. O que daria eu para poder fazer compreender a todos uma ofensa feita ao Coração Divino de Jesus, e quanto Ele nos ama apesar de tudo! Assim caminhei para o calvário com esta sede de me dar a conhecer às almas, de me dar a elas, de morrer por elas. Nunca caí tantas vezes como hoje. Que repetidas quedas! Que desfalecimento tão grande! O meu corpo gelava-se sem sangue; o coração não palpitava, os lábios não tinham vida. O amor venceu, foram as cordas que me arrastaram. Os meus lábios moribundos tinham sede ardente, mas o coração mais sequioso estava; quer beber a amargura até à última gota, tudo quer sofrer, porque a todos ama. Tudo quer dar para tudo receber. No alto da cruz sentia no meu corpo os maus-tratos do mundo, era como se fosse por todo ele apedrejado; sentia mesmo como se as pedras me ferissem. No Coração Santíssimo de Jesus, que estava em mim crucificado, vi sair uns raios de fogo, pareciam raios de sangue. Aqueles raios vinham estender-se sobre todos aqueles de quem o meu corpo sentia os maus-tratos, as pedradas. Que ternura e compaixão saía daquele Coração tão amante! Dos meus olhos moribundos, já sem vista para o mundo, saíam para ele os olhares mais doces, mais ternos e amantes; eram olhares que penetravam tudo e a todos; viam toda a maldade e ingratidão. Foi assim que veio Jesus. Veio, prendeu-me e demorou-se bastante tempo sem me falar. Tomou em Suas divinas mãos o meu coração e fez dele uma grande bola que momentos depois colocou no lugar do coração. (Alexandrina Maria da Costa: 22 de Junho de 1945)

segunda-feira, junho 21, 2021

SINTO QUE ESTOU MORTA

Preocupa-me tanto a salvação do mundo!


Sinto que estou morta com o peso do mundo; reduziu-me ao nada, e é este nada que continuamente se mergulha em trevas. Quantas mais me cobrem, mais me infundo nelas, mais trevas vejo. Quando deixarei de as ver? Quando deixarão elas de me aterrorizarem? E eu tão só, mesmo sem ninguém! Oh terrível desprezo e abandono! Não vejo, não sinto o conforto da terra nem o do céu.

— Ó meu Deus, como hei-de estar aqui assim? Preocupa-me tanto a salvação do mundo!

Não posso sentir Jesus tão ferido. Não tenho corpo nem coração para Ele se consolar em mim. Foi o mundo das maldades que me destruiu. Quero amar o meu Jesus e não tenho coração para O amar, desapareceu de mim, não sei a quem pertence. Confio, confio que será a Jesus. Queria sangue para dar por Seu divino amor, gota a gota, e não o tenho; sinto que as veias do meu corpo desapareceram. Não tenho nada, nada posso fazer por Jesus e pelas almas. Só o demónio não cessa. Que grande tormento! Vieram uns poucos para a minha frente em forma de cães. Que cenas tão feias e maliciosas! Eram cenas e palavras só do inferno. Pedi logo a Jesus para não O ofender; ofereci-me como vítima, enquanto o maldito me deixava falar. Ao terminar da luta, fiquei insatisfeita, parecia-me que queria ter pecado, e gravemente. Mas não era assim, o que eu queria era não ter desgostado Jesus, não O ter ferido. Eu não sabia como se podiam ter dado tais cenas. Sentia em meu coração uma dor profunda. Eu não podia tomar a minha posição. Sofria tudo, o mal-estar do corpo e as aflições da alma. Jesus velou por mim, defendeu-me. Ouvi-O dizer:

— Ordeno-te, minha filha, que tomes a tua posição. É o Esposo que manda, e a esposa obedece. É o Rei que quer, e a rainha sujeita-se, aceita. Filhinha, coragem! É a reparação mais fina e delicada que te peço. É a flor mais pura. (Alexandrina Maria da Costa: S. 21-06-1945)

sábado, junho 19, 2021

QUE HORROR, MEU SENHOR !

Jesus fez-me ressuscitar

 

São indizíveis as amarguras e torturas da minha alma. Custa-me imenso falar. A cada movimento, parece que é fora de mim arrancado com toda a violência o coração e, em seguida, as entranhas. Digo pouco, por não poder e por a minha ignorância nada saber dizer, mas sofro e sofro muito por não poder e não saber. Pois sinto uma fome, uma necessidade, posso dizer infinita, de desabafar. Eu não quero de forma alguma queixar-me, não quero entristecer o meu Jesus. O esforço que faço, o nada que digo, é para obedecer. É Jesus, é a glória do meu Senhor e o bem das almas que me levam ao máximo do sacrifício. Vi-me, senti-me nas garras do demónio; ouvi os uivos do inferno, o desespero das almas. Meu Deus! Como é desesperador! Se eu pudesse dizer a forma provocadora, descarada e maldosa, com que são praticados tantos e tantos crimes. Meu Deus, meu Deus, compadecei-Vos de mim. Que maldade infernal! Parecia-me que era em mim, e era eu a praticar crimes tão hediondos. Era eu a cair no inferno, era eu a entregar-me toda à devassidão e prazer, sem nada me satisfazer, mas sem poder naqueles momentos pecar mais; não tive um momento de arrependimento, não tive um olhar para Jesus a pedir-Lhe compaixão. Corri logo à busca de novos instrumentos, de novos lugares e ocasiões, para poder continuar a minha obra infernal. Que horror, meu Senhor, que horror! Disse que não tive um momento de arrependimento, nem um olhar para Jesus, mas tive. Pedi-Lhe bem que não queria pecar. Mas isto foi como se não fosse eu. Foi tudo e tudo é inútil para mim. Não sei como encontrar Jesus, não sei como dar-Lhe as minhas lágrimas, os meus suspiros, os meus sofrimentos, tristezas e amarguras. Tudo morre, tudo é inutilidade, tudo é perdido para mim. Passam-se os dias grandes, os dias festivos da Santa Igreja, e a minha alma não encontra um favozinho de doçura; tudo é perdido, tudo é morte. Estou a comemorar o aniversário da minha estadia na Foz. Sem querer recordar, surge-me de repente uma e outra cena. Fica-me o coração cercado de espinhos, e a cruz atravessa-o dum lado ao outro. Tudo sofro por amor de Jesus, sem sentir que O amo, sem saber que Ele se consola em mim. O abandono é o meu lema. Confio que sou conduzida ao porto de salvação. Nesta imensidade tempestuosa, em que só prevalece a inutilidade, a minha alma conserva-se em paz, a não ser de longe a longe uns momentos de agitação, dúvidas de toda minha vida, tentações contra a Fé, que me levam quase que a cair no desespero. Para que vim ao mundo? Para que serve tanto sofrer e uma vida presa no leito? Isto é sem eu querer, sinto mesmo serem tentações do demónio, ser ele a querer roubar-me a paz. O meu Horto, tão diferente do já foi, não teve outra coisa senão a inutilidade. Eu fui morte para ele, e ele morte para mim. Foi assim, porque eu não quis aproveitar da vida que ele me oferecia. E Jesus, que via infinitamente, aos Seus olhares tudo era presente, sofria, sofria dor infinita, e fez-me sentir a mesma dor, ao mesmo tempo que se mostrou e fez sentir o quanto me amava, o quanto amava as almas. Neste momento afoguei-me n’Ele, perdi-me n’Ele, desapareci como gotinha de água perdida no universo. Hoje, na Sagrada Comunhão, não digo que tive consolação; perdi-me novamente neste Oceano, como gota de orvalho, que com o sol desaparece. A alma ficou mais forte. Foi com esta fortaleza que venceu a inutilidade do Calvário. Na viagem para lá, ao sentir-me desfalecer com tão pavorosa inutilidade, espontaneamente o coração bradou: valei-me, Jesus, ai de mim se não vindes em meu auxílio. Pude chegar ao cimo; mesmo assim, inútil, fiquei na cruz crucificada. O coração continuou a bradar constantemente; eu sou inútil, Jesus, mas sois Vós útil para todos nós. Meu Pai, meu Pai, vinde em meu auxílio.

E foi neste brado que eu caí no sono da morte. Senti como se a alma morresse na maior escuridão. Passou-se algum tempo, e Jesus fez-me ressuscitar. Rasgou no meu peito o véu preto da morte e fez aparecer um véu de luz. (Alexandrina Maria da Costa: S. 20 de Junho de 1952)

sexta-feira, junho 18, 2021

CREIO, JESUS, CREIO

O meu pão de cada dia


Estou no meu martírio a redobrá-lo ainda mais por ter de falar de mim, ou melhor, da minha dor. Custa-me imenso. Não queria dizer nada. Tenho vergonha, escandalizo-me a mim mesma. Não escandalizarei mais alguém? Sempre a falar da dor, deste sofrimento inexplicável! Mas como modificá-lo, se outra coisa não tenho?! O meu sofrimento é tão grande, tão grande, tão infinito!... Só Jesus o conhece, só Ele o pode vencer. Eu sei que não sou eu.

O dia da festa da Santíssima Trindade e da Mãezinha no Sameiro foi para mim uma agonia mortal. Tinha morrido, se Jesus não fizesse a graça de me conservar a vida. O meu Paizinho espiritual estava na minha mente ligado com a Mãezinha do Céu. Era uma festa em que não devíamos nem podíamos estar separados. Daqui nasciam as mais dolorosas e tristes recordações. Deus e o homem! Como este veio ao contrário dos desígnios do Senhor! Na terra nunca, nunca poderei dizer o que sofri e sofro. Só à luz da eternidade haverá tal visão. Com tão variadas e tristes recordações, com tão tremenda e dolorosa agonia fixei no Céu os olhos da minha alma. Não podia movê-los. Tinham que estar sempre firmes para não cair no desespero.

Estou a passar a data da minha estadia na Foz, 11 anos; martírio sobre martírio. Quanto mais dor e humilhação, mais ódio e incompreensão. Por tudo o Senhor seja bendito!

O meu pão de cada dia, o meu pavor são as almas que se abeiram de mim. Causa-me pavor, e o coração não pode separar-se delas. Por elas quero dar o sangue e a vida. Quero-as todas para Jesus, com todos os corações numa só chama de amor. Não posso falar das almas nem desta ânsias. Não resisto. Estou sempre à espera das consolações e alegrias.

— Senhor, quem poderá dar-mas?! Que angústia, que angústia!

O meu túmulo, a minha escavação, a minha inutilidade e eternidade não param. Tenho que viver tudo isto, mesmo sem vida. Tenho que sentir toda a dor e sempre estar de mãos vazias. Nesta manhã, depois de receber o meu Jesus, foi tão dolorosa a minha morte e inutilidade, um abismo se abriu a engolir tudo. Repeti tanto o meu “creio” a Jesus…

— Meu Senhor, parece-me mentir-Vos a Vós e mentir-me a mim mesma. Dai-me coragem para que eu repita o meu “creio” sem crer, sem acreditar e Vos diga que Vos amo, sem ter vida, sem viver para Vós, sem sentir o Vosso amor.

Apunhalava-me a mim mesma. Fazia-o com toda a crueldade. Subi para o Calvário, sempre num desprezo e ódio infernal contra ele. Estendi-me no mundo. Nele bebi todo o veneno. Em seguida, apertei o coração, enleei nele grossas e negras cadeias para que nenhum veneno saísse dele. Fiz o mesmo à língua para a não deixar mover, nem deitar fora o veneno apanhado.

— Creio, Jesus, creio! (Alexandrina Maria da Costa: S. 18 de Junho de 1954).

quinta-feira, junho 10, 2021

A ACÇÃO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Com o seu bico de fogo alimentou o meu coração


No meio destas ânsias de amor e de dor dolorosa das minhas culpas, bateu asas o divino espírito Santo no mais íntimo da minha alma. Procedeu para comigo como as avezinhas para com os filhinhos quando estão no ninho. Com o seu bico de fogo alimentou o meu coração e depois escondendo-o dentro em meus lábios, alimentou todo o meu ser. (S. 07-11-1944)

NADA POSSUO

Eu lá vou, de queda em queda


Hei-de repetir sempre o meu “creio” com a Vossa graça, Senhor. Se eu tivesse ao menos um fiozinho de aranha a que pudesse agarrar-me! Mas nada, nada possuo, meu Deus! Mundo e mundos de inutilidade! Mundos e mundos de trevas e morte! Eu lá vou, de queda em queda, para os abismos sem fim. Quanto sofre o meu corpo, Jesus, e quanto sofre a minha alma!... (Alexandrina Maria da Costa: 10-06-1955)

CREIO ÀS CEGAS

Que tremenda confusão!


Não poderei viver assim! Quem me acode? Quem me acode? Estou sozinha, num abandono completo! Não tenho quem me ilumine, não tenho quem me conforte! Quem poderá valer-me? O meu brado é morto; toda a minha vida é morta. Esta morte traz em mim e à volta de mim, que confusão, que tremenda confusão! Quem me deita a mão, quem acode à minha alma? Ó Céu, ó Céu, vinde em meu auxílio! Mas eu tenho alma?!... Existe Deus com a eternidade?!... Perdão, Jesus, perdão, Senhor!... Parece que nada existiu nem existe. Mas eu creio às cegas. (Alexandrina Maria da Costa: 10-06-1955)

EM NADA, MESMO NADA TENHO ALEGRIA

Eu já tinha sofrido tanto!


O demónio principiou de novo com as suas ameaças. Ontem à noite, quando rezávamos, ele veio atormentar o meu espírito, abanar-me com a cama, até ser notado por alguém; e bailava de contentamento. E eu já tinha sofrido tanto! Tive um dia tão cheio de espinhos! Oh! quanto se sofre! Oh! agonias das almas que não sois compreendidas! E eu sozinha e só miséria. Jesus espreme e tira para Si toda a substância. Em nada, mesmo em nada, tenho alegria. Que Ele se alegre e console nesta noite, nestas trevas do meu espírito. Elas surgem cada vez mais; infundo-me nelas e momento a momento mais tenho que atravessar. Hoje revivi, momento a momento, pormenor por pormenor, a minha ida para a Foz. Dois anos são passados. Foi um painel que se apresentou à minha frente, passei hoje novamente por tudo. Eu dizia para mim mesma:

— Por quem obedeci? Por quem sofri tudo isto? Só por Jesus e pelas almas. (Alexandrina Maria da Costa: 10-06-1945)

quarta-feira, junho 09, 2021

PERDOAI-LHES, MEU JESUS

Eles não sabem o que fazem


Deixai-me dizer a Vós o que Vós dissestes ao vosso Eterno Pai: Perdoai-lhes, meu Jesus, porque eles não sabem o que fazem, estão ceguinhos, falta-lhes a vossa luz divina: iluminai-os a todos e a todos dai o vosso amor. O Jesus, todos os meus pressentimentos me tem saído certos. Poderão eles ainda proibirem que vos receba sacramentalmente? Ai de mim, seria como o golpe que me tiraria a vida se vós com o vosso divino poder me não conservásseis. Digam o que disserem, façam eles o que fizerem, o que nunca conseguirão é tirar-me desta união íntima com vós. (Alexandrina Maria da Costa: 19-02-1942)

O IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

A sua presença consolou-me


Por uns minutos me tem desaparecido para novamente me aparecer, agora mais junto de mim, do lado direito, e pude ver distintamente que agora era o Imaculado Coração de Maria. Também me acariciou como da primeira vez, porém não fez o gesto de apontar o Céu. A sua presença consolou-me profundamente e essa consolação celeste permaneceu na minha alma, que por alguns dias gozou aquele conforto maravilhoso. Este conforto era como que um íman que me elevava para Jesus, sentindo-me então na bem-aventurança. (Alexandrina Maria da Costa: 09-06-1942)

OUVIA UMAS HARMONIAS SUAVES

Aparição de Maria


Em alguns dias precedentes eu ouvia umas harmonias muito suaves, como toques de acordes de instrumentos celestes, executando música angélica; e apreciando a doçura dessa música divina, eu esquecia-me do mundo e da vida terrena, perdia a noção de mim própria e parece que passava a viver numa região estranha onde tudo é ventura inefável.

Foi então que no dia 9 de Junho de 1942, pelas 13 horas, me apareceu sobre a cama descendo do Céu a figura deslumbrante da Mãezinha que parece se fixou em minha frente um pouco para a minha esquerda. Vestia ricos vestidos brilhantes, de cores variadas, trazia os pés nus, chegou-se a mim para me acariciar e com sua mão direita apontou para o Céu. Parecia comovida com o meu sofrimento a prometer-me a recompensa e a inspirar-me confiança. O trono em que veio era brilhantíssimo como ouro pálido em que o sol projectava os seus mais brilhantes raios. Foi inefável a consolação que me deixou a primeira aparição. (Alexandrina Maria da Costa: 09-06-1942)

terça-feira, junho 08, 2021

VEM PARA OS MEUS SACRÁRIOS

Caíram tantas almas no inferno!


— Filha, filha, ó minha querida filha anda passar a noite comigo nos meus sacrários: anda consolar o teu Jesus. Anda com a tua reparação curar as minhas chagas que estão tão vivas! Fui hoje tão ofendido! Caíram tantas almas no inferno! Cortei-lhe o fio da vida antes do tempo marcado por não as poder sofrer mais.

Eu ofereci a Nosso Senhor todo o meu corpo para Ele crucificar pelo seu divino amor para a salvação das almas; e dava-lho de tão boa vontade como Ele se deixou crucificar por meu amor. (Alexandrina Maria da Costa: Carta ao Padre Mariano Pinho: 06-06-1935)

VINDE, MEU BOM JESUS

Vivei em mim como eu desejo viver convosco


No dia dois [de Junho], depois das nove horas da noite, estava eu a fazer a oferta de tudo o que se passasse em mim durante a noite como actos de amor a Nosso Senhor Sacramentado. Fazia-o mais com o pensamento do que com os lábios porque não podia. Eu disse ao meu Jesus se fosse da Vossa Vontade eu ficar convosco nos vossos sacrários durante esta noite! Sim antes queria fazer companhia a Nosso Senhor do que dormir. E dizia também: “Vinde meu bom Jesus e vivei em mim como eu desejo viver convosco; operai em mim tantas graças como se eu vos recebesse sacramentalmente.” Principiei então a sentir a presença de Nosso Senhor em mim. (Alexandrina Maria da Costa: Carta ao Padre Mariano Pinho: 06-06-1935)

O DIVINO ESPÍRITO SANTO HABITA EM TI

Vem, minha pomba


Diz tudo, escreve tudo, o Divino Espírito Santo não desceu, habita sempre no cenáculo do teu corpo. Tudo o que disseres é Ele, e são as tuas inspirações. Quando os teus lábios se moverem para falares, sou eu que os movo e falo em ti. Vem, minha pomba, não me canso de te chamar minha pomba, meu lírio, minha açucena, e é-lo de verdade. Vem novamente receber o sangue do meu Divino Coração. Por amor o dás, por amor o recebes. Não to dou até te fortalecer, porque és vítima. Dou-to para sofreres, dou-to para teres que dar, dou-to para operar milagre e conservar-te a vida. (Alexandrina Maria da Costa: 08-06-1945)

VENHAM OS SÁBIOS

Venham uns provar e outros aprender


Eu subia o meu calvário e sobre os meus ombros levava a cruz. Os meus olhos não queriam ver os horrores das misérias que sentia; cerrei-os a tudo. Subi a encosta com todo o sofrimento, mas com todo o amor para dar a vida. Sempre a sentir o peito e o coração abertos com a imensidade dos crimes, fui crucificada; e não cessei mais o meu brado ao céu: Socorro! Socorro! Veio Jesus, fortificou-me, aqueceu-me e disse:

— Venham os sábios e os que se dizem sábios ao livro das maiores maravilhas, de todas as maravilhas, de todas as ciências divinas. Venham uns provar e outros aprender o que é a alma vítima, os prodígios da graça e a acção de Jesus em sua alma. Coragem, minha filhinha! O que sentes em ti são meios de salvação. Tu recebeste o meu divino amor com toda a abundância. O que hoje sentes em ti também eu o senti no meu calvário. O que dentro de ti se levantou e o teu coração ferido são os crimes da humanidade, de verdade não podem aumentar mais. (Alexandrina Maria da Costa: 08-06-1945)

Na imagem:
A beata Alexandrina e Monsenhor Mendes do Carmo.

JESUS NÃO PODE MAIS

Bendita seja a minha cruz!


Pensava hoje amar tanto, tanto, o meu Jesus! Pedi-Lhe no dia do Seu Divino Coração todo o Seu amor até me perder nele. E não fui capaz de O amar e nada soube dizer-Lhe. Esperava até, ao recebê-Lo, ouvir d’Ele umas palavrinhas, mas nada ouvi. Fiz a preparação friamente, recebi-O como a um estranho, não sei falar-Lhe. Pedi-Lhe amor, mas, não sei como, não tinha nada de meu para receber e depositar esse amor. Sofro por ditar os sentimentos da minha alma e sofro por não os saber ditar. Bendita seja a minha cruz! Hoje sofro como nunca sofri. Logo após a comunhão, levantou-se em mim um mundo de tantas maldades, de tantos crimes. Pareceu-me que me abriram o peito, subiram tão alto, chegaram ao céu, feriram o Coração de Jesus. Estas maldades, que atingiram a maior altura, caem por todos os lados, encobrem o mundo, tiram-lhe a vida. E, assim, tenho passado as horas com o peito aberto, o coração ferido sem nada poder fazer. Jesus não pode mais. (Alexandrina Maria da Costa: 08-06-1945)

segunda-feira, junho 07, 2021

É COMO ARAGEM QUE CORRE

Sinto um mundo de amor


— Onde poderei encontrar bálsamo para as minhas dores? Ó meu Deus, na terra parece-me que já não posso encontrá-lo. Tudo é para mim causa de maior sofrimento.

Só em Jesus, só de Jesus poderei receber algum alívio. E esse bem depressa passa, é como aragem que corre, deixando só no próprio momento o seu frescume suavizador. Na minha comunhão de ontem e de hoje senti-me mais unida com o meu Jesus. Ele passava do Seu Divino Coração para o meu cadeias puras, cadeias finas, cadeias de amor. Desde então tenho no meu coração novo coração, e neste coração está alguém a atirar estas cadeias, a formar laçadas ao mundo das almas. Faz-me lembrar o marinheiro dentro da sua barquinha a atirar as redes ao mar para apanhar a pesca. Eu sinto dentro de mim o marinheiro das almas a fazer o mesmo canseirosamente. Sinto um mundo de amor sobre o meu coração. Este amor, este mundo, é o mundo do Coração de Jesus. É um mundo e é para o mundo. Que ânsias tão grandes a querer possuí-lo! Que ternuras, doçuras e amor! Outro coração de lágrimas se colocou dentro do meu. Estas lágrimas são choradas sobre a humanidade inteira, cobrem-na. São lágrimas de agonia por este coração cheio de riquezas desprezado. Está este coração de chaga profunda tão aberta para receber a todos. Faz lembrar a avezinha de asas abertas para cobrir seus filhinhos. Sinto as veias do meu corpo todas unidas, todas abertas a darem ao mesmo tempo as últimas gotas de sangue. Como elas são espremidas! As gotas escasseiam, elas já não têm mais que dar. E no meio disto sempre as ânsias de possuir universos de sangue para todo derramar pelas almas. Tanto queria amar a Jesus e sofrer todas as dores para O consolar. (Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma de 7 de Junho de 1945).

domingo, junho 06, 2021

O MUNDO QUE EU SOU

Este mundo não quer Jesus


Por vezes, a minha alma vê Jesus, feito enfermeiro, a querer entrar a este mundo, que sou eu mesma. Rodeia, rodeia uma e outra vez este monstro mundial, para curar-lhe as chagas de entro e de fora. Jesus anda cheio de amor e doçura, mas não tem estrada. Esta rocha dura não quer ouvir o Seu convite de ternura, não quer deixar-se curar. Que pena eu tenho não consentir que Jesus seja o meu enfermeiro! Ele quer acariciar-me, e eu não deixo, revolto-me contra Ele, obrigo-O a afastar-se de mim. Apesar de ser eu que O não quero, nem quero a Suas bondades, ternuras e carinhos, a alma chora por não O querer, por não lhe dar entrada, por não O amar. Que pena eu tenho de Jesus! Sofro ao mesmo tempo com Ele. Sou o mundo e sou Jesus; peco e quero pecar; amo e quero amar; e este amor é louco, não tem limites, ama e não olha a quem; o que quer é ser aceite. Se este amor fosse eu, e minhas não fossem as maldades! Mas ai pobre de mim! O amor é de Jesus, as maldades são minhas. Abracei-me à minha cegueira com tal afecto, com tal amor, que não mais a largarei; ela só me causa sofrimento, só me mostra que sou lodo e lama, mas eu quero e neste estreito abraço mais me vou mergulhando nela. O que é bom, o que é de Jesus, não aparece nas minhas medonhas trevas. Mas o que posso eu esperar, o que posso eu ver, se nada há em mim de bom, nada tenho de encantador que a mim pertença. Sou miséria, só miséria; ó Jesus, compadecei-Vos de mim! Tenho recebido, nestes dias algumas, algumas graças, alguns mimos do Céu, que eu não mereço. Agradeço-as a Jesus e à querida Mãezinha, mas este meu agradecimento não chega. (Alexandrina Maria da Costa: S. 6 de Junho de 1947).

COMO A AVEZINHA

Que tristeza amar e não ser amado


— Minha filha, minha filha, Jesus anda como a avezinha que não pode poisar, que não pode descansar. Jesus anda louquinho a pedir amor, amor a todos os corações. Que tristeza amar e não ser amado; amar e ser ofendido! Mas ainda bem que a louquinha do amor divino ama-o apaixonadamente, ama-o como Jesus o deseja, ama-o com o amor mais puro e desprendido de tudo o que é terreno; é amor santo, é amor divino. Foi por este amor que Jesus se enlouqueceu pela sua louquinha; é pelo amor da louquinha da Eucaristia que Jesus se apaixona pelas almas que a amam. É por este amor tão puro que Jesus lhe vai dar uma morte de amor, amor, só amor. Jesus está louco de alegria, Jesus está contentíssimo com o Paizinho da sua benjamina querida. São as humilhações por que está a passar que o hão-de glorificar e exaltar. O prémio é grande no Céu e grande será na terra ainda a recompensa. Jesus está louco, louco de alegria com o Sr. Doutor, com o santo cuidado com que ele está a desempenhar tão grande missão. Jesus escolheu-o para velar pela sua crucificada e as almas a quem mais amo. O Coração divino de Jesus está superabundante de graças para derramar sobre todas elas. O mundo, Satanás odeia-as e odiá-las-á. A sua causa é só a soberba e o orgulho: só isso é a razão da sua raiva. Porém Jesus ama-as com sua bendita Mãe, triunfa e vence com elas, e só isso basta.

― Ó meu Jesus, defendei-as sempre, amai-as sempre apaixonadamente, triunfai e vencei com elas. Levai-me então depressa para o Céu para eu fazer descer sobre elas as vossa graças e as vossas bênçãos. Sim, sim, meu Jesus; confio que sim, meu Amor. (Alexandrina Maria da Costa: S. 6 de Junho de 1942).

sábado, junho 05, 2021

DIZ AO TEU PAIZINHO, DIZ AO TEU MÉDICO

Serão para eles as primeiras bênçãos


— Diz ao teu Paizinho que Jesus te escolheu; diz ao teu médico que Jesus te confiou, diz à tua irmãzinha que te acompanha nas tuas dores, diz a todos que te ajudam a subir o doloroso calvário, que serão para eles as primeiras bênçãos, as primeiras graças, tudo o que é do Céu. Diz ao teu Paizinho que já cá na terra tem um trono em meu divino Coração. Diz-lhe que Jesus e Maria o amam loucamente. Diz-lhe que já que nesta luta mais não pode, te acompanhe sempre, sempre com orações, sempre, sempre com aquela união de almas com que Eu vos uni. Diz ao teu médico que seja forte com a força do meu divino Coração. Que te acompanhe sempre, sempre, que te ajude a levar a cruz. Que conte sempre com as graças e bênçãos do Senhor para ele e todos os seus; todos eles terão a perseverança final. Acaricia-te Jesus, acaricia-te a Mãezinha: são ternuras, doçuras, amor do Céu.

Toma conforto, ó minha filhinha, esposa do meu Jesus, salvação de todos os filhos meus. Oh! como és amada de toda a corte celeste!

Estas últimas palavras foram da Mãezinha. (Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma; 5 de Junho de 1943).

Na imagem:
A beata Alexandrina, o Pe. Mariano Pinho e o Dr. Augusto de Azevedo

FAÇAMOS PRAZER A JESUS

Oração e devoção ensinada por Jesus


Diz às almas que Me amam que vivam unidas a Mim durante o seu trabalho. Nas suas casas, seja de dia seja de noite, ajoelhem-se muitas vezes em espírito e de cabeça inclinada digam:

“Jesus, eu Vos adoro em todo o lugar onde habitais sacramentado;
Faço-Vos companhia pelos que Vos desprezam,
Amo-vos pelos que não Vos amam;
Desagravo-Vos pelos que Vos ofendem.
Jesus, vinde ao meu coração!”

Estes momentos serão para Mim de grande alegria e consolação.

Que crimes se cometem contra Mim na Eucaristia! (Sentimentos da alma: 2 de Outubro de 1948).

A ALMA FIEL NÃO TEME A CRUZ

Ó Jesus conto com toda a graça, força e amor do Céu


— A alma fiel não teme a cruz; toma-a, abraça-a, acaricia-a, leva-a só por amor! Os espinhos com que Jesus adorna na terra as suas crucificadas transformar-se-ão no Céu em pétalas das rosas mais belas e viçosas. Mais ainda: transformar-se-ão em pérolas, em pedras preciosas. Como é encantador para Jesus uma virgem que a Ele toda se dá e por Ele tudo sofre!

— Meu Jesus, eu dou-me a vós, eu sofro por vós, despedaçai de dor o meu coração; eu quero amar-vos, eu quero dar-vos as almas. Cobri de espinhos todo o meu pobre corpo, mas o que sou eu sem vós? Miséria, meu Jesus, só miséria.

— Tu és grande, tu és forte, minha amada. Serás grande para o mundo e grande aos olhos de Deus. Estás rica, estás rica, meu amor com os maiores dons e as maiores riquezas do Céu. Que belo é Deus, que belo é Jesus e belas faz as suas almas. Vais, minha louquinha, vais, minha heroína, dar a maior prova, a última prova de amor a Jesus e ás almas. Não temas, não temas, Jesus e Maria estão contigo, o divino Espírito Santo iluminar-te-á sempre. Tu és o cofre riquíssimo que Jesus tem na terra; tens muito que distribuir às almas.

— Ó Jesus conto com toda a graça, força e amor do Céu. (Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma; 5 de Junho de 1943)


sexta-feira, junho 04, 2021

SOL BRILHANTE, SOL ESPLENDOROSO

Será aquele que se vai reflectir no mundo


― Sol brilhante, sol esplendoroso será aquele que se vai reflectir no mundo. Os homens não querem deixar reflectir seu brilho. Ai deles, pobres daqueles que se opõem à frente dos caminhos do Senhor! Jesus todo se consola e alegra nas almas suas amadas. Jesus todo se delicia no arminho das almas puras. Os raios do amor divino formam sobre elas uma auréola brilhante e encantadora que atrai a si o mundo e os corações. Os que se dizem amigos de Jesus não conhecem as almas suas esposas. Jesus está descontentíssimo com a maior parte dos seus discípulos: não têm luz, não a procuram, não sabem, não procuram saber. Lançam-se como Satanás a deitarem por terra as obras do Senhor. Desviam de si as bênçãos divinas e toda a protecção da Virgem Maria. A Mãezinha celeste está preparada para vir buscar a sua filhinha para junto de si. O prémio é brilhantíssimo. A dor do Paizinho da louquinha de Jesus tem dado toda a glória e triunfo ao Céu. Pobres daqueles que assim o têm feito sofrer. Jesus nada deixa sem recompensa. Jesus dá toda a graça e amor ao médico da alma e ao médico do corpo da louquinha da Eucaristia. Jesus será todo e tudo para eles. (Alexandrina Maria da Costa: S. 4 de Julho de 1942)

A TUA VIDA É CHEIA DE PRODÍGIOS

Creio, Jesus, sou a tua vítima


— Vem, minha filha, trabalha, trabalha. Repara a justiça de meu Pai. Sofre, sofre. Acode ao mundo que não quer escutar a minha voz. Tu és o lírio e açucena perfumada. Com tal perfume atrais as almas a Mim. A tua vida é toda a minha vida. Oh, como Eu quero que ela se leia e compreenda! É cheia de prodígios divinos. Ela tem ensinamentos do presépio ao calvário. Antes de Eu vir à terra e depois de Eu vir à terra. A minha vida em ti não é para ti. A luz que em ti brilha não é para te luminar a ti, mas a toda a humanidade.

Recebe a gota do meu Divino Sangue. Só vives desta vida. É só Jesus que te faz viver. Fica na cruz, fica na cruz. Sofre, sofre o teu indizível sofrimento.

Fiquei logo na minha costumada agonia a fazer os meus pedidos ao Senhor sem sentir que Ele tinha vindo até mim e a parecer-me que nunca O veria.

— Creio, Jesus, sou a tua vítima. (Alexandrina Maria da Costa: S. 4 de Junho de 1954)

EU SOU O TEU JESUS

Vem para mim, tem coragem!


Assim caminhei hoje para o cimo da montanha, abrindo-se a terra em fendas. Aqui me engolia, acolá me dava para voltar a ser engolida.

Creio, meu Deus, creio. À minha agonia e morte veio Jesus buscar-me. Chamou por mim.

— Vem, minha filha, dá-Me a tua mão.

Abrindo um curral, mas este curral era Jesus, sempre levando-me pela mão, fez que eu entrasse e disse-me:

— Vem para mim, tem coragem! Eu sou o teu Jesus.

Eu, sempre sustentada pelas mãos do Senhor, à entrada do curral, que me parecia ser Ele. Principiaram a entrar ovelhas nutridas, umas atrás das outras; todas tinham um lugar e nunca mais deixavam de entrar.

— Vês, minha filha, estas ovelhinhas são as almas que os teus sofrimentos a Mim conduzem.

Não sei dizer como fiquei, fora de mim. Se assim é, Jesus, como creio, eu quero ficar na terra e nela sofrer até ao fim do mundo.

— Não, minha filha, o teu Céu está perto, mas lá a tua missão continua e as almas, essas ovelhinhas nutridas, continuam a salvar-se como se sofresses. Estende-me as tuas mãos.

Estendi-as. Jesus colocou-me nelas um vaso. Este vaso estava cheio duma semente que não conheci. Para cima do vaso sobressaía como que uma pinha. De cada biquinho da pinha saía uma chama e todas reunidas faziam uma só chama.

— Semeia, minha filha, na terra esta semente. É a minha semente. Enriquece com ela as almas. Incendeia nos corações este amor. É o meu amor. Sofre, sofre, acode ao mundo.

Desapareceu Jesus, desapareceu o vaso. Fiquei sozinha entre as trevas.

— Creio, Jesus, creio e que o meu “creio” seja eterno, em acção de graças por sempre em Vós confiar e confiada de nunca deixar de crer.

À minha frente estava uma montanha. Não tentei subi-la. Chegava ao Céu. Não podia passar além. Sozinha, cheia de pavor, bradava:

— Jesus, onde estais? Vinde em meu socorro.

Ele saiu-me por entre a rocha a trabalhar; martelava, cinzelava. Era um bom artista. Pegou-me pela mão. (Alexandrina Maria da Costa: S. 4 de Junho de 1954)

EM VÓS CONFIO

Minha é a miséria e inutilidade


Vivo a eternidade que não principiei e que nunca acabarei. Eternidade, eternidade, como tu me fazes sofrer! Tu não principiaste nem acabarás para mim. Eu vivo-te, odeio-te e contra ti me revolto e contra Deus. Ó eternidade, ó vida que me fizeste perder o meu Deus, o meu Jesus, a minha querida Mãezinha! Não posso consentir em tal perda. Não posso sentir nem recordar que foi por toda a eternidade que perdi estes tão queridos Amores! Que saudades dos primeiros sábados, do meu colóquio com a Mãezinha! E tudo o mais, meu Deus, tudo o mais! Que tormento para a minha alma! Quero afirmar-me, quero agarrar-me ao Céu e não tenho nada a que possa segurar-me. Que abandono, que tormento! Perder todas as coisas divinas depois de ter perdido as humanas. Perder todo o conforto e apoio do Céu, depois de ter perdido todo o conforto e auxílio da terra. Lá vou indo na minha cavação tão profunda, tão profunda que apavora. São tão raras, tão raras as cavadelas. Parece-me que levam mais de um século a dar cada uma, mas cansam-me tanto, tanto a alma. Ela está sempre banhada em suores. Só o sustentar nas mãos tal instrumento fatiga-me o corpo e a alma, leva-me a maior abatimento. O corpo desfeito pela dor ressente-se com o sofrimento da alma. É para ele maior tormento. Vejo o túmulo, aquele túmulo que me escondeu, aquele túmulo que a morte exigiu e as trevas e a mesma morte continuam a exigir. À volta dele é um prado e jardim florido. Por dentro morte e trevas. Por fora verduras, lírios, açucenas que verdejam, vida que vive e faz sobreviver sempre. Nada disto é meu. Minha é a miséria e inutilidade. A inutilidade rouba-me os meus sofrimentos, os meus sacrifícios, as minhas ânsias de me dar ao Senhor e às almas. Como o livro do meu coração quer falar, expandir-se!... Como são infinitas as minhas ânsias de amar a Jesus e de O fazer amar e de Lhe entregar a humanidade inteira! A inutilidade tudo abafa e até este livro me rouba. O meu calvário, o meu horto tão cheio de agonia é por mim espezinhado e esquecido. Nada disto vivo, porque parece que nada disto foi para mim.

Ó meu Deus, ó meu Deus, em Vós confio. Creio, Jesus, creio. Valei-me com a Mãezinha. (Alexandrina Maria da Costa: S. 4 de Junho de 1954)

QUE SAUDADES DO CÉU!

Não posso viver aqui, meu Jesus!


— Não temas, minha filha, o teu Jesus. Quem o possui e ama deveras não o pode temer. Jesus quisera que todos falassem nas bondades do seu divino Coração com toda a simplicidade e amor. Jesus quisera que todos falassem nas bondades do seu divino Coração, da sua ternura, da sua compaixão, do seu perdão. Jesus é louco por todos os filhos seus. Jesus ama-os apaixonadamente e a todos quer dar os tesouros inesgotáveis do seu amável Coração. Jesus a todos quer ver à volta do seu Sacrário a amá-lo e a recebê-lo com aquele amor e carinho como as andorinhas com os seus filhinhos. Que timoratos são os que temem deveras a Jesus e todos aqueles que desconfiam das suas bondades e misericórdia! O amor e a confiança é tudo para a alma que deveras ama e pertence a Jesus!

― Ó Jesus, eu confio plenamente em Vós. Vós ides atender aos meus pedidos, ides, Senhor? E depois ides logo levar-me para o Céu, sim, meu Jesus? Que desejos e saudades eu tenho dele! Não posso viver aqui, meu Jesus! Este exílio é aterrador! (Alexandrina Maria da Costa: S. 4 de Junho de 1942)

quinta-feira, junho 03, 2021

JESUS ABRIU O SEU CORAÇÃO

Vai dar ao mundo tudo o que de Nós recebes


— Diz ao teu médico que todo o céu se alegra ao ver a sua atitude e defesa pela minha divina causa. Abro o meu divino coração para derramar o meu divino amor e a abundância das minhas graças sobre ele e todos os seus. Derramo-as sobre o seu coração de esposo, de pai e filho também. São para ele e para os que lhe são caros. Recebem-nas por ti. Diz-lhe que é unido a mim que operaremos milagres para conservar-te a vida até que se dissipem as nuvens para aparecer o sol, e brilharem as minhas graças e maravilhas. Vem, minha Mãe, confortar a nossa filhinha. Dá-lhe a tua graça, pureza e amor.

Veio a Mãezinha, tomou-me em Seus braços, estreitou-me com Jesus. Beijou-me, acariciou-me docemente.

— Minha filha – disse-me Ela – ama sempre o teu Jesus. Sofre tudo com alegria para O consolares. Vê-Lo amado sou amada também. Vê-Lo consolado é ser consolada eu também. O amor que dás a Jesus dás a mim.

— Vai, minha filha – disse Jesus – vai dar ao mundo tudo o que de Nós recebes. Dá primeiro aos que te são queridos como prova do teu coração agradecido. Dá, pomba bela, são riquezas do céu.

Jesus e a Mãezinha deixaram-me com mais força para sofrer. Confio que com Ele tudo vencerei, e que o mundo e o demónio nada poderão contra mim. (Alexandrina Maria da Costa: S. 2 de Junho de 1945)

ÉS GRANDE POR SERES PEQUENINA

Esperai mais um pouco, se não ficais triste, meu Amor


— És grande por seres pequenina; serás exaltada por seres humilhada. O teu poder sobre as almas, a tua missão sublime continuará no céu sempre, sempre. Diz-me, minha filha, quando me dás a lista das almas que não queres que vão ao Purgatório?

— Não quero fazê-lo, Jesus, sem me consultar. Esperai mais um pouco, se não ficais triste, meu Amor. Escrevo-os desde já no meu coração para Vós lerdes, meu Jesus, até que doutra forma o possa fazer. Concordais assim sem Vos desgostardes?

— A tua humildade e obediência são para mim motivo da maior consolação e amor. Alegro-me com isso, mas não te dispenso, quero que a faças, e por tua mão, e relembres também aquelas que já te prometi levar para o céu sem Purgatório. Coloca-a depois junto da imagem do meu divino coração para lá estar sempre até que todas essas almas partam para a sua Pátria. Faço isto para provar-te o meu amor, todo o amor e loucura por ti.

— Obrigada, meu Jesus, no tempo e na eternidade.

— Diz, minha filha, ao teu paizinho o que vou dizer-te.

— Como, meu Jesus? Dizeis-me tanta coisa para ele, eu não posso falar-lhe, não me deixam.

Jesus sorriu com o Seu doce sorriso.

— Sossega, sossega, minha filha, lá chegará. Faço isto para lhe mandar sempre o meu amor para ele dar às almas e para provar-lhe que ele está na verdade e que foi vítima escolhida por mim para o unir a ti. Quero-o purificado. Quero dois espelhos cristalinos para enfrentarem um com o outro. (Alexandrina Maria da Costa: S. 2 de Junho de 1945)

QUANTA MAIS DOR MAIS UNIÃO COM JESUS

A minha alma sofria, agonizava


Quanto pior melhor, passei mal a noite. O sofrimento consumiu o meu corpo, mas para mim era motivo de contentamento. Quanta mais dor mais união com Jesus. Mas oh! que temor eu tinha de me aproximar d’Ele! Que medo desta união, de viver na Sua divina presença. A minha alma sofria, agonizava. Eu redobrava de esforços para me unir a Ele. Veio a hora de me preparar para O receber. Preparei-me sempre tímida, mas com ânsias vivas de O consolar e não me separar d’Ele. O temor acompanhou-me até ao momento de comungar. Comunguei, mudou o cenário; o temor desapareceu. Sentia em mim a Sua divina presença e o Seu amor. Falou-me:

— Minha filha, pomba, pomba, pomba branca, fiel e pura. Vem a mim, aproxima-te, não temas, não tens por que temer, o teu temor não é teu. Oferece-mo, é reparação que te peço. Escolhi-te para vítima, és a maior vítima da dor, do sacrifício e do amor. Oferece-me o teu temor pelas almas que se aproximam de mim para me receberem em estado miserável, horroroso, e nada temem. Recebem-me em suas línguas malditas, línguas de fogo. Filha querida, esposa amada, deixa-me ter contigo este desabafo. Oferece-me ainda o teu temor pelos sacerdotes. Olha o meu divino coração por eles tão ferido. Tomam-me em suas mãos impuras, recebem-me em seus corações podres e sem nada temerem. Cegaram-nos os vícios, calejaram-nos as paixões. Não mostro logo o poder da minha justiça divina para não os punir eternamente. Entro em todas essas almas para logo sair esforçado por Satanás, que é rei e senhor dos seus corações. Antes queria ser dado aos cães ou às feras, por quantas eu seria mais agradecido e louvado. Já vês, amada minha, não é teu esse temor. Já vês, lírio dos prados, açucena pura, que não são tuas as horrorosas misérias de que te vês sobrecarregada. És a nova redentora, fui eu que te escolhi e eu redentor também por elas fui sobrecarregado, por tudo respondi ao meu Eterno Pai. Agora tens de responder tu, a ti te confiei a humanidade; espalha sobre ela o aroma angélico das tuas virtudes. Tenho sede de amor, quero habitar em teu coração, aqui sou amado, não sou ferido. Oh! como estou bem!

— Estais, meu Jesus, à sombra do que é Vosso. Sois amado com o amor que Vos pertence. De mim nada tenho, de tudo me sinto despida. (Alexandrina Maria da Costa: S. 2 de Junho de 1945)

quarta-feira, junho 02, 2021

UMA DAS TRÊS FASES DA VIDA DA ALAXANDRINA

Dor amorosa


Por volta do fim do ano de 1935, conclui-se a primeira fase da vida interior da Alexandrina, fase que tivera início — podemos afirmá-lo sem receio de errar — com o uso da razão. Sob o aspecto histórico, nenhuma qualificação mais adequada a este longo período do que a de vida purgativa.

À Deolinda dizia por vezes a Serva de Deus: — Eu não sei recordar o que é viver sem dor. — E a irmã explica o que ela queria dizer: — Há tantos anos que sofro, que já não me posso lembrar de ter tido um dia sem sofrimento.

Recordando a data de 20 de Novembro de 1933, dia em que, pela primeira vez, se celebrou a Santa Missa no seu quartinho, a Alexandrina acrescenta: «Principiou Nosso Senhor a aumentar-me os Seus miminhos, para também aumentar o peso da minha cruz» (Autobiografia).

Numa carta dirigida ao Padre Mariano Pinho (10-X-1935), a Deolinda escrevia : «Aprouve a Nosso Senhor dar a cruz completa à Alexandrina porque, além dos sofrimentos físicos e do abandono em que Nosso Senhor a tem tido e continua a ter, também temos sofrido grandes aflições devido à situação (financeira) em que temos vivido e que contávamos melhorar, mas que grandes dificuldades apareceram de novo. E a pobre Alexandrina, ao ver as nossas lágrimas e ao ouvir os nossos desânimos, fazia por nos consolar e dizia:

— Eu sei que Nosso Senhor ainda queria que eu passasse por mais estas coisas.

E murmurava:

— Õ meu Jesus, eu quero que o meu coração seja esmagado e angustiado, que vá à prensa das Vossas divinas mãos até esgotar-Vos todo o amor, assim como o cachinho vai à prensa para ser espremido, e como a azeitona para dar todo o azeite».

A Alexandrina, porém, voluntàriamente reconhecia as graças extraordinárias e as inefáveis delícias com que — não obstante tudo o mais — tinha sido favorecida. Com efeito, na sua Autobiografia, ela conta que, logo pela manhã, apresentava as suas ofertas a Nosso Senhor, dizendo, entre outras coisas: «Jesus, imolai-me convosco a cada momento no altar do sacrifício ; oferecei-me convosco ao Eterno Pai pelas mesmas intenções por que Vós mesmo Vos ofereceis».

E acrescenta: «Nestas ocasiões, em que fazia estes oferecimentos a Nosso Senhor, sentia-me subir sem saber como e, ao mesmo tempo, um calor abrasador que parecia queimar-me».

É uma dor autêntica a sua, mas uma dor amorosa, porque mitigada por consolações sobre-humanas.(Pe. Humberto Pasquale: Eis a Alexandrina; cap. II)

Na imagem:
A beata Alexandrina e o Padre Humberto Pasquale, sdb.

NO MISTÉRIO DA REDENÇÃO

Jesus quer ter necessidade de cada um de nós

Jesus quer ter necessidade de cada um de nós no mistério da redenção e nos convida, para que juntos reparemos os crimes do mundo e obtenhamos a misericórdia divina. É pungente esta queixa de Jesus – que é ao mesmo tempo um convite à conversão:

— Minha filha, chora comigo nas mesmas lágrimas. Sente igualmente a dor do meu Divino Coração. O mundo, o mundo, os pecadores, são a causa de tudo isto. Não foste tu a beber o veneno. És a vítima daqueles que o bebem. Não foste tu a prender o coração e a língua com cadeias, mas sim o demónio, para que não mais possa ter remédio. (S. 18-06-1954)

Esperemos que as nossas orações obtenham conversões duráveis e sinceras e que Jesus possa dizer à cada um de nós, como o disse à Alexandrina:

— Como é bela esta cena! Jesus vai ao fundo do mar buscar a vítima das almas. A vítima das almas penetra em todo este abismo para as conduzir e introduzir no Coração do seu Esposo, Jesus. Calvário ditoso, viveiro das almas! Se tu visses como elas vêm a Mim, canseirosas como as formiguinhas para o celeiro! (S. 21-05-1954)

Porque, diz ainda Jesus:

— Minha filha, quero todos os corações e todas as almas, reunidas numa só mão, numa só massa, numa só vida, num só amor, que é o amor de Jesus e tudo introduzir e fechar no Seu Divino Coração.

Esta ansiedade dava-me a morte, se Jesus não me conservasse a vida – confessa a Alexandrina. (S. 20-08-1954)

E, para que Jesus possa também fazer a cado um de nós o que fez à querida Alexandrina, sejamos diligentes nas “coisas” de Deus:

Jesus meteu dentro do meu peito o Seu divino Coração. Era como um vaso dos mais ricos e belos que se podem imaginar. Todo ele era ouro, todo ele eram chamas. (S. 27-08-1954)

Santo mês de Junho para todas e todos, amigos e devotos da Alexandrina Maria da Costa que a Santa Igreja beatificou em 25 de Abril de 2004. (AR. Junho com a beata Alexandrina: Introdução)

MÊS DE JUNHO

Alexandrina e o Coração de Jesus


Quantas e quantas vezes, no decorrer dos anos, Jesus lhe apresentou o seu divino Coração como abrigo, como refúgio contra os males do mundo…

— Minha filha, ó minha filha, vem cá. Dá-me as tuas mãos. Vem para a barquinha do Meu Coração Divino. Por Mim és salva como foram os meus apóstolos. Este mar é o mar das paixões, esta fúria tempestuosa é a fúria louca dos vícios. (S. 30-04-1954)

E ainda:

— Vem, minha filha, vem viver de Mim, fortalecer-te de Mim. Este mar é o mar dos vícios, é o mar das paixões. Não te manchaste nelas. Fui buscar-te ao fundo para te dar conforto e levantar-te de tal desfalecimento. Tu vais a este mar de vícios sem conta e de toda a espécie buscar as almas e trazê-las ao meu Divino Coração. (S. 21-05-1954)

Mas, a Alexandrina tinha sempre presente a sua missão: salvar as almas e, a sua resposta ao Senhor é clara e demonstra a sua coragem no desempenho da mesma missão:

— Vós não Vos cansais, Jesus. Perdoai a todos. Lembro-Vos as minhas intenções. (S. 26-03-1954)

Provavelmente, por isso mesmo, para a “premiar” pela coragem que demonstra, Jesus também lhe mostra o seu amor, o seu carinho, como aqui:

— Aceita, no dia do meu Divino Coração, dou-te, renovo-te a oferta do meu Divino Coração. Tudo quanto ele tem é teu: riquezas, amor, misericórdia e perdão. Por ti tudo será dado às almas. És o segundo canal por onde passa para o mundo tudo o que é meu. (S. 25-06-1954)

Jesus ama a Alexandrina – a maior alma vítima, como Ele mesmo o disse – e porque a ama muito, exprime-se como o esposo do Cântico dos Cânticos:

— Minha filha, as minhas delícias eram estar no teu coração, fazer-te gozar e viver na mesma alegria comigo. As almas, as almas, o mundo assim o exigem. Oh! Se eu tivesse mais almas vítimas que se dessem por Mim e por elas como a vítima deste calvário!... Quero vítimas, quero vítimas! (S. 06-08-1954)

Durante este mês de Junho, vamos portanto meditar sobre os textos – muito numerosos! – em que se fala do Coração de Jesus.