sexta-feira, janeiro 15, 2021

CANTO DE AMOR A JESUS

Ó amor, como tu és grande e forte!

Fala, fala, meu coração,
diz ao menos nestas linhas quanto desejas amar o teu Jesus!

Fala, fala, coração meu,
diz ao teu Jesus que só a Ele queres
e que só nele queres descansar!


Não canses, não deixes de falar do amor!
O amor que é amor, verdadeiro e puro amor,
não pode calar-se,
não pode deixar de manifestar-se,
tem que falar e provar que ama sempre:
ama de dia e de noite, ama na dor e na alegria,
ama na exaltação
e, se é amor verdadeiramente puro,
ama mais ainda quando é humilhado.

Ó amor, como tu és grande e forte!

Ó Jesus, onde poderei encontrar a escola do vosso amor?

É com certeza no vosso Divino Coração,
é aí que eu posso aprender a amar-Vos
e com aquele amor por o qual o meu coração suspira.

Ó Jesus, ó Jesus, dai-me lugar,
deixai-me entrar para lá viver, Vos amar, para de amor morrer.

Onde estará, meu Jesus, o segredo de amar?
Onde poderei encontrar tão precioso tesouro?
Eu não quero mais nada na terra a não ser amar-Vos e salvar-Vos as almas.
Tudo o mais é mesquinho e nada; tudo o mais é ilusão e mentira.

Mas o vosso amor, ó Jesus,
é tudo e sem ele não posso viver:
tenho uma fome que me mata o coração.
 

Jesus, eu quero assemelhar-me à criancinha
que nos braços de sua mãe
não sabe dizer outra coisa a não ser: mãe, pai.

Eu quero dizer sempre, sempre: Jesus, Jesus, amor, amor.
É vosso o meu coração, sou vossa inteiramente.
 

Estou a mais nada poder fazer; mas enquanto me for possível, ainda que seja de cinco em cinco minutos, uma letra hei-de dizer sempre:
Ó Mãezinha, amo-Te e amo a Jesus! Sou tua e sou dele!
 

Eu queria que o meu coração fosse uma fonte da qual nunca deixasse de correr água de doçura e fogo de amor para o Coração Divino do meu Jesus.

Que grande dita se eu O amasse com o amor de todos os corações! 

Jesus, o que Te posso eu dar? O que tenho eu que não seja teu?
Tenho o pecado, tenho a miséria, e é essa mesma que Te dou.
Será desvergonha da minha parte?
Ó Jesus, mas eu nada mais tenho e quero dar-Vos alguma coisa.
Compadecei-Vos dela e da do mundo inteiro.
 

A minha fome de Jesus nunca mais terá fim.
Nada me enche, nada me satisfaz.

Os meus caminhos não acabam:
quanto mais ando, mais fome eu sinto
e mais longe estou do Suspirado da minha alma.

Ó Céu, ó Céu, quando chegarás tu, para me satisfazeres?
Ó Jesus, vinde depressa!
 

Nada mais sei dizer, meu Jesus,
a não ser meu eterno obrigada de alma e coração,
e de alma e coração dizer-Vos que Vos amo.

Mas o meu amor não tem limites,
quer subir tanto, quer ir tão longe, quer chegar até Vós.
Jesus, fazei que Vos ame, não posso sozinha.
 

Com o coração a sangrar, mas sempre em Vós,
meu Jesus, confiada, bradarei noite e dia:

– Amo-Vos e é vosso o meu coração!

Ai, minha querida Mãezinha,
amai com o vosso Coração o meu querido Jesus.
Só assim Ele pode ser amado como merece.

Ó Mãezinha, queria dizer-Vos tantas coisas!
Deixai-me, Jesus, deixai-me gritar sempre,
com toda a alma, com todo o coração:

– Jesus é o meu amor,
o único a quem quero pertencer e para quem quero viver.
Só Ele tem para mim encantos, só a Ele se prende todo o meu ser.
Morra tudo em mim para em mim só Jesus viver!
 

Quando penso em Jesus na Eucaristia,
fico deveras confundida com tanta loucura de amor.
O que digo? É mais que loucura de amor.
Não sei como Jesus, o nosso bom Jesus,
nos pode amar tanto.

O que vistes em nós, meu Jesus,
que tanto Vos encantasse?
O que foi que Vos obrigou
a fazer-Vos prisioneiro de tantos séculos?
Oh, que amor!

Ó Jesus, dai-me um coração que Vos ame
e saiba corresponder às doçuras e loucuras do vosso infinito amor.
Quero viver presa por Vós, como Vós o viveis por mim.
 

Ó Jesus, meu querido amor:
eu queria ter a pureza dos Anjos,
o ardor dos Querubins e dos Serafins
para amar-Vos e cantar os vossos eternos louvores.

Eu queria, ó Jesus,
eu queria a sabedoria infinita
para saber cantar as glórias
e os louvores do Senhor.

Eu quero prestar ao Altíssimo
a honra devida de Pai Omnipotente,
de Criador e Senhor de todo o meu ser e do mundo inteiro.

Ó Jesus, só Tu és santo, só Tu és digno de todo o amor.
Aceita, ó Jesus, aceita os ardores do meu coração.
Aceita as minhas ânsias de bem Te servir, de mais e melhor Te amar.

Ó Jesus bom, ó Jesus santo, ó Jesus amor, amor, amor… 

Jesus, em que mísero estado Te encontro!
Quem foi que Te feriu assim?
Ah, sei bem! Foram os meus pecados.
Quero chorá-los, quero detestá-los
e em troca de tanto amor recebe o meu coração, que é teu:
quero amar-Te eternamente!...
 

Meu doce Jesus, tão tarde Vos conheci
e tarde, ainda muito mais tarde Vos amei!
Fazei que agora viva só para Vós e para o vosso amor!
 

É vosso o meu coração, sou vossa inteiramente.

DOLOROSOS ESTADOS DA ALMA

 Sem luz e sem director...

A vontade está pronta para mais e mais me dar ao Senhor, para mais e mais me imolar e Lhe dar almas. À pobre natureza tudo lhe repugna; até agora o não poder ver a luz e ter de fazer do meu quarto uma masmorra escura. Parece que quase me leva ao desespero ao precisar de ar e não poder ver a luz. É tal a aflição que me parece que todo o meu ser se estrancinha. Então chamo por Jesus, por aquele Jesus que sinto ter perdido com a Mãezinha, por aquele Jesus em que sinto não acreditar, pois quantas vezes, meu Deus, me parece ter perdido a fé e não acreditar nas verdades da Santa Igreja, nem na vida eterna! Mesmo com o sentimento de nada acreditar, invoco o Céu em meu poder. Vou repetindo o «creio na vida eterna».


Amo-Vos, meu Jesus, amo-Vos! Sou a vossa vítima. Só quero que em mim se faça sempre a vossa vontade.

Oh, vida sem vida! Oh, vida sem fé!

Meu Deus, meu Deus, como é custoso passar os meus dias assim!

Não sei descrever quanto me custou não ter, no primeiro sábado deste ano, a visita, o colóquio com a Mãezinha! Tremo e temo os últimos dias do meu exílio.

Ai de mim, se deixo de confiar. Ai de mim, se nesta luta da alma, nestes sofrimentos indizíveis o combatente não for Jesus! Que trevas, que abandono! Não sou da terra nem do Céu, não sou de Deus nem de ninguém!

Foi esta a minha subida para o calvário. Eu não deixava de dizer:

Fazei, Jesus que as minhas trevas façam luz e que o meu fechar de olhos abra os olhos a todas as almas que os têm fechados para Vós, para os vossos caminhos.

Creio, creio sempre!

Não há calvário nem Céu para mim: que o haja para todas as almas, filhas do vosso Sangue, que eu entre no número delas também.

Creio, creio, creio assim.

Nesta luta bradou-me Jesus:

— Ó minha filha, ó minha esposa querida, Eu estou aqui no tabernáculo do teu coração. Repete o teu «creio». Estou aqui. Tu és o sacrário onde Eu habito dia e noite sem Me ausentar. Tu és a hóstia que comigo se imola. Tu és a hóstia que as almas comigo comungam.

Vives comigo na Eucaristia, vives a minha vida.

Nesta imolação contínua, nesta união inseparável, nesta vida tão mística e divina as almas por ti Me recebem.

A tua dor, o teu sangue, oh, moeda incomparável!

A tua vida misteriosa, a tua vida onde está toda a ciência de Deus, a sabedoria omnipotente, a vítima que em tudo se assemelha ao Altíssimo!

Imola-te, deixa-te imolar!

São as almas que comigo e minha Bendita Mãe vamos salvar.

Ó mundo criminoso e nojento, ó mundo ameaçador da justiça de Deus, converte-te, converte-te!...

Minha filha, minha querida filha, vamos a salvar as almas. As almas, as almas!...

Não penses em evitar o castigo que ao mundo espera, mas sim em poupá-las às penas eternas.

Coragem, minha filha, coragem nas tuas dúvidas, nas tuas trevas!

Avisei-te de tudo isto. Tem coragem. Os teus colóquios vão ser ainda mais dolorosos. Eu virei apenas confortar-te, dar-te o meu Sangue, dar-te coragem para tudo suportares e repetir-te:

Estou aqui; sou Jesus; estou contigo!

Tu, esposa, vítima amada, não terás o sentimento real da minha presença em ti. Tens que acreditar sem amor, sem luz e sem fé.

Coragem! Coragem! Crê! Crê! O mundo exige”.

Enquanto Jesus falava, fez-me sentir e ver que realmente o meu coração era um sacrário da sua habitação, que o seu sacrário era também a minha morada, o mesmo cibório com Ele, a mesma hóstia era oferecida ao Pai.

A minha imolação com Ele era contínua. Tive luz e visão clara, compreensão completa de tudo isto.

— Ó Jesus, eu aceito tudo. Em tudo Vos quero amar. Só quero as almas e a vossa divina vontade.

Não me deixeis desesperar, não me deixeis desesperar! Confio em Vós.

Eu a acabar de falar, todas as trevas me submergiram e Jesus desapareceu.

Jesus, eu creio, Jesus, eu amo-Vos. Conto com Vós! Espero em Vós até ao último suspiro.

Ele depressa veio. Não O vi, só O senti. Uniu o seu coração ao meu e disse:

— Minha filha, minha filha, aqui estou a dar-te vida nas trevas, para que das trevas saia luz. Tu és farol, tu és vida, tu és a ressurreição e a vida das almas. Dor e sangue, dor e sangue, ó escudo sagrado pelo Divino! Coragem, filha, coragem! Acode às almas que, depois de MIM, são tudo. Oh, sabedoria, ó ciência de Deus! Oh, meios escolhidos para a nova redenção das almas!

Desapareceu Jesus e eu fiquei tão só e em tanta dor que nem me lembrei de Lhe fazer os meus pedidos. Só depois Lhos fiz, como se Ele ainda estivesse presente.

— Ó meu Deus, ó meu Deus, como hei-de viver?!... Compadecei-Vos de mim!...

(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma de 14 de Janeiro de 1955, ano da sua morte)

segunda-feira, janeiro 11, 2021

ENVERGONHA-ME A MINHA VIDA

Sente-se como se não amasse Jesus

Sinto na minha alma como se me estivessem a preparar alguma traição. Estou cheia de medo e em tantas trevas que me parece que até o sol foi encerrado numa nuvem negra para nunca mais aparecer, para nunca mais brilhar.


– E o dia, meu Jesus, o dia nunca mais raia para mim. Ah! E se mesmo assim eu Vos amasse! Se eu fosse Vossa e vivesse só para Vós! Vede, meu Jesus, o meu coração sequioso de Vós. Eu quero dizer ao céu que caia sobre mim e me esconda e guarde e comigo esconda e guarde toda a humanidade. Ai o mundo, meu Jesus, o mundo que tanto me preocupa. Queria mares, universos de sangue para derramar por ele. Queria mundos e céus de amor para Vos amar por ele. Não cesseis, meu Jesus, a minha imolação, para que não cesse para ele a Vossa graça e o Vosso perdão. Se me permitissem, meu Jesus, queria penitenciar o meu corpo, queria fazer dele o mais doloroso escravo para toda a humanidade salvar. Pobre de mim, temo fazê-lo sem licença e não tenho um guia. Jesus, espero em Vós, em Vós confio, faça-se a Vossa vontade; sede a minha luz, o meu caminho.

Que tremendas são as manhas do demónio. Como posso eu dar honra e glória ao meu Deus! Parece-me mentira, mas não quero duvidar das divinas palavras do meu Jesus. Sofro tanto com estes ataques! Se o mundo soubesse o que é o inferno e a maldade e a fúria do demónio, com certeza não pecaria tanto. Veio esta noite numa fúria desastrosa contra mim. Maldades, mais maldades, palavras e lições feias. O meu corpo parecia já estar desfeito de tanto cansaço. Ele queria que eu dissesse:

– Busco, quero e amo os prazeres; troco tudo por um só prazer, até o próprio Deus. Não quero o céu, quero o mundo, quero pecar.

– Pecar nunca – disse eu.

– Quero o inferno, meu Jesus, prefiro uma eternidade de inferno e não quero gozar um só momento, não quero o prazer, não quero o mundo. O que eu quero é não perder um momento de consolação e reparação para Vós e de salvação para as almas. Valei-me, Jesus, dai-me o inferno, mas não me deixeis pecar. Amar-Vos, sim, só, só amar-Vos.

Tudo isto disse a Jesus só com o pensamento, porque não podia mais. Foi o bastante para a fúria do demónio aumentar. Lutei, murmurando sempre, dizendo a Jesus que não queria pecar. A minha luta era sobre um grande abismo, nem podia respirar. O meu coração tinha a aflição da morte. O demónio fugiu à voz de Jesus, que disse:

– Desempenha, anjo meu, a quem sempre obedeceste, desempenha a missão que eu dei sobre a minha Alexandrina, o meu anjo em carne; leva-a ao seu lugar.

Senti-me levada como por uma aragem suave para a minha posição. E Jesus continuou:

– Se pudesses ver, minha filha, como sou ofendido nesta hora contra a virtude da santa pureza, morrias de pasmo ou antes de dor. Mas a tua reparação consolou-me, fez-me esquecer o muito que me ofendem. Esta consolação só podia ser tirada duma de pureza angélica.

Dito isto, Jesus estreitou-me com muito amor ao seu Divino Coração e repetiu por três vezes:

– Amo-te, amo-te, amo-te, meu amor; não pecaste, não me ofendeste.

Fiquei confiada nas palavras de Jesus, mas triste, tão triste, o coração em tanta dor, mais, muito mais do que uma ferida dolorosa depois do tratamento.

– Jesus, já que assim o quereis, seja a minha vida como Vos consolar e agradar mais. Aqui me tendes pronta para tudo, meu Senhor.

Mal posso confiar. Envergonha-me a minha vida. A virtude que eu mais amo e na que mais sofro. Só por muita graça e misericórdia de Jesus não O tenho ofendido gravemente.

– Ó meu Deus, tenho vergonha de mim mesma, como a não hei-de ter de Vós? Perdão, meu Jesus, perdão, meu Amor.

sexta-feira, janeiro 08, 2021

JESUS, QUAIS SÃO OS MIMINHOS QUE DE VÓS VOU RECEBER ESTE ANO?

 

Primeira mensagem de 1945

 


– Jesus, quais são os miminhos que de Vós vou receber neste novo ano? Estou cheia de medo, ou mais ainda, cheia de pavor. Venha o que vier, pelo muito que eu seja ferida, humilhada e abatida, com a Vossa graça divina a tudo direi: “Seja bem-vindo, faça-se a vontade de Jesus; sou vítima do meu Amor, vítima das almas”. Confesso, meu Jesus, que o meu maior receio é a minha fraqueza, temo ofender-Vos. Confio em Vós; seja firme o meu amor e subirei alegre o meu calvário. Reparai e vede, Jesus, as ânsias que tenho; se não fôsseis Vós, tiravam-me a vida. Queria nascer agora, mas já Vos conhecer para nunca manchar o meu corpo. Queria que comigo nascesse o mundo inteiro e que todo ele já Vos conhecesse também para não se deixar manchar. Queria um coração novo, mas que sempre Vos tivesse amado para nunca deixar de Vos amar. O mesmo querer tenho para todas as criaturas, para assim Vos amarem com o mesmo amor que para mim desejo. Onde hei-de esconder-me e comigo esconder o mundo? Onde hei-de purificar-me e purificar o mundo a não ser em Vós? Escondei-me, purificai-me. Fazei-me nascer agora para a graça e para o amor e comigo nascer o mundo, mas de tal forma como se eu nem ele Vos tivesse ofendido. Não sei onde estou; não vivo neste exílio nem vivo no Céu. Parece-me viver entre ele e a terra. Fui para esta morada, comigo levei o mundo, morada sem luz, sem vida e sem nada. A minha alma rasga-se de dor, é indizível o que sinto em mim. Meu Deus, que derrota! Não tenho luz, e roubaram-me os guias de tão tremendos caminhos. Morro na escuridão, Jesus, morro desfalecida. Vinde, vinde com a Mãezinha, dai-me força, dai-me vida.

Não posso pensar nos combates do demónio, tremo de horror. Ele arma tantas ciladas para prender-me! Forma tantos assaltos à minha alma! Parece-me morrer de dor. Ouço a sua voz maldita desafiadora. E quando fica só assim! O que mais me aflige é quando ele faz o que há de pior. Na manhãzinha de ontem, preparava-me para comungar e logo a alma principiou a sentir os seus assaltos. A minha preparação foi um terrível combate. Que vergonha a minha à chegada de Jesus ao meu coração! À voz de chamada do demónio vieram muitos demónios. E o maldito dizia-me:

– Tu és o manjar mais delicioso para todos os demónios do inferno. Olha como te preparas para comungar. É assim que és uma esposa de Jesus! Não és, não és, Ele não te quer, és minha, dá-me o teu coração. Se mo deres por vontade, dou-te o mundo com todos os encantos, grandezas e prazeres.

Nesta altura, consegui renovar a Jesus a minha oferta de vítima e escrava.

– Não quero o mundo nem nada que lhe pertença, meu Jesus, o que eu quero é não pecar. Amar-Vos só e não magoar o Vosso Coração divino.

O demónio redobrou de raiva. Sentia que o que ele queria era que eu lhe desse de boa vontade o meu coração e com ele o mundo. O meu corpo estava desfeito com o cansaço. O momento era grave. Ao parecer-me estar tudo perdido, não haver remédio para mim, bradei ao céu de alma e coração:

– Pecar não! Valei-me, Jesus!

Cessou a luta, mas ficaram-se na alma uns tristes efeitos. Uma tristeza tão grande por não ter pecado, parecia-me que gostava ter ofendido a Jesus. Que aflição a minha! O demónio, mais retirado, continuava raivoso; queria voltar a arrancar-me a alma e a despedaçar-me o corpo. A pouco e pouco, uma suavidade e paz apoderaram-se de mim, invadiram-me toda. Jesus fez-me sentir que tudo o que se passava na minha alma eram efeitos do demónio. Era ele que tinha pena de eu não ter pecado e estava raivoso por não o ter conseguido. Chegou logo Jesus para eu O receber; gozava uma grande paz, mas muito triste, tímida e envergonhada. Logo que O recebi, esqueci por algum tempo tão tremenda e feia luta.

Hoje, voltou o maldito com outro ataque infernal. Só Jesus vê a dor que me vai na alma. Disse-me que eram as pessoas cúmplices do meu crime, ensinou-me a pecar.

– Meu Deus, como sair disto sem Vos ofender? Só com a Vossa graça. Por misericórdia Vossa, só nos momentos da luta eu sei e compreendo as lições do mafarrico. É mais uma prova do Vosso infinito amor. Só Vós sabeis quanto eu quero amar-Vos e reparar as ofensas feitas contra o Vosso divino Coração e nunca manchar o meu corpo nem a minha alma. Triste quinta-feira que me dás a sexta!

A minha alma está cansada de tantos sofrimentos, de tanta dor que a espera. Temo as horas que se aproximam, temo a morte. O céu está revoltado com tanta ingratidão da terra. Temo tudo, mas por tudo quero passar; quero morrer para dar a vida!

(Sentimentos da alma: 4 de Janeiro de 1945