sábado, junho 30, 2007

O SANGUE DO CORDEIRO


« Estes são os que vêm da grande tribulação ; lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro ». (Ap. 7, 14)

A vida da Alexandrina Maria da Costa é uma fonte inesgotável de “água viva” na qual se podem “beber” muitas águas diferentes, mas todas salutares e santificantes.
Os carismas de que beneficiou são numerosos e, cada um deles mereceria um estudo aprofundado pela parte de autores competentes e versados em ascética e mística : eles aí encontrariam não só matéria de reflexão intensa, mas também maravilhas divinas que mais ainda os instruiriam na ciência em que são peritos incontestáveis.
Nós não possuímos essa ciência, mas ousamos falar dela e partilhar com aqueles que irão ler estas páginas, o nosso amor à Alexandrina, “canal” incontestável das graças e ciências divinas. Por isso mesmo e, para evitar comentários que poderiam “escandalizar” aqueles que nesta matéria são especialistas, vamos utilizar, tanto quanto nos for possível os próprios trechos da “Doentinha de Balasar” que mais do que nós, mesmo se nada mais tinha do que a instrução primária rudimentar, é “doutora em ciências divinas”, como o próprio Jesus o afirmou.
O título dado a este trabalho poderá surpreender aqueles que pouco o nada conhecem da vida e dos carismas da Alexandrina, mas, estamos seguros que a leitura terminada, terão compreendido o porquê do mesmo título, esperando que assim se possam igualmente maravilhar de tudo quanto o Senhor operou de extraordinário e notável nesta alma de excepção.
Não temos qualquer receio em afirmar que os escritos da Alexandrina não sofrem qualquer sombra dos escritos doutros místicos tais como Santa Teresa de Ávila, S. João da Cruz, Beata Ângela de Foligno, Santa Gertrudes ou Santa Matilde de Hackerborn, pois fácil é de notar que a “Fonte” é a mesma e que por esta razão, a “concorrência” deixa de justificar-se.
A Alexandrina, tal como o disse Jesus, é na verdade “Mestra das Ciências divinas”[1].
O assunto que vamos procurar desenvolver aqui não é dos mais fáceis, mas esperamos que com a ajuda de Deus e a protecção e inspiração da Bem-aventurada Alexandrina, possamos dizer alguma coisa e demonstrar o carisma extraordinário do qual poucos ou nenhuns — excepto, julgamos, a Beata Ângela de Foligno — : a “transfusão” do Sangue divino como alimento da alma e do corpo da sua querida esposa de Balasar, como mais adiante diremos.
No que diz respeito a esta mística, encontrámos no livro das suas “Visões e revelações” este curto e único trecho que faz referência a este carisma que não parece ter durado muito tempo, visto que no resto da mesma obra não voltamos a encontrá-lo :
« Não dormia. Ele chamou-me e disse-me que aplicasse os meus lábios sobre a ferida do seu lado. Pareceu-me que aplicava os meus lábios, e que bebia sangue, e neste sangue ainda quente eu compreendi que ficava lavada. Eu senti pela primeira vez uma grande consolação, misturada uma grande tristeza, porque tinha a Paixão diante dos meus olhos. E solicitei do Senhor a graça de derramar o meu sangue por Ele como Ele tinha derramado o seu para mim »[2].
A autora italiana Eugénia Signorile, no seu excelente livro “Só por amor” evoca longamente este fenómeno místico excepcional. Ela anuncia-o assim :
« O fenómeno da Eucaristia real dada misticamente já se tinha verificado com algumas grandes almas muito elevadas na espiritualidade, dotadas duma especial sensibilidade para as realidades celestes. Por exemplo, Santa Verónica Giuliani, Santa Gemma Galgani ; e em 1916 Jesus escolheu a pequena Lúcia de Fátima para dar-Se a ela mediante o anjo da guarda.
Mas a Beata Alexandrina recebe ainda um outro alimento para o corpo e para a alma : um conjunto de sangue, vida, amor, sob forma de verdadeira transfusão para o sangue e de efusão para o amor. É a primeira alma mística para quem se efectua tal fenómeno ».

Uma das maiores doutoras da Igreja, Santa Catarina de Sena, fala do Sangue do Senhor e dos seus efeitos, nestes termos :
« Este sangue precioso é a fonte de todo bem ; salva e torna perfeito qualquer homem que se aplique a recebê-lo ; dá a vida e a graça com mais ou menos abundância, de acordo com as disposições da alma ; mas ele é causa de morte para o que vive no pecado »[3].
Podemos — e devemos talvez — perguntar a nós mesmos e àqueles que poderiam duvidar um instante de veracidade de tal carisma : “Que diz o Evangelho a este respeito ?” A resposta surpreender-nos-ia, sem verdadeiramente surpreender... Ouçamos o que diz Jesus :
« Em verdade, em verdade vos digo : se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele »[4].
Este carisma parece ter sido precedido de diversas primícias, que não o anunciando — porque nem era conhecido — preparavam no entanto a sua vinda de maneira durável.

[1] Alexandrina Maria da Costa : Sentimentos da Alma : 15 de Dezembro de 1944.
[2] Beata Ângela de Foligno : Visões e revelações ; cap. 14.
[3] Santa Catarina de Sena : Diálogo, cap. XIV, 3.
[4] S. João : 6, 53-56.

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