Sentimentos da alma: 29 de Novembro de 1945
Tenho que
desistir, não tenho forças, não posso falar para dizer os sentimentos da minha
alma. E, agora que o não posso fazer, apetece-me chorar.
— Meu Deus,
que cegueira a do meu corpo e a da minha alma!
E, no meio desta
noite tormentosa, sinto dores horrorosas. Sinto na alma e no corpo um tormento
inexplicável. Por maior que seja o meu esforço, nada digo, porque não sei. Não
posso pensar que o meu corpo há-de ser tocado ou poisar na minha cama ou por
ele passar qualquer aragenzinha. Queria poder sustentar-me no ar, onde nada
pudesse tocar-me. Que tremendo horror! Ai, como tenho o corpo e a alma feridos!
Tenho nojo e medo da minha cama. Quantas vezes, de repente me apetece
chamar-lhe maldita e excomungada. Queria abandoná-la, não posso estar nela.
Tenho medo, tenho medo!
— Sim, meu
Jesus, quem há-de resistir a isto? Só Vós, só Vós. Oh! Se eu neste ponto
soubesse dizer o que sinto!
Tive um novo
ataque do demónio, violento, mas pouco demorado. O coração estava aflitíssimo e
o peito ofegante. Ao ouvir as suas feias palavras, mais em espírito do que com os
lábios, oferecia-me a Jesus e à Mãezinha e pedia-Lhes para não pecar. Ao
terminar da luta, fiquei aterrada na minha escuridão e no receio de ter
ofendido a Jesus. Não resistia, se Jesus não viesse. Ele apressou-Se a vir e
disse-me:
— Não
pecaste, não, amada filha. É à sombra da Eucaristia que a alma, louca de amor
por mim, se consola e delicia. É à sombra da tua pureza que o mundo se
purificará. É da tua pureza que eu recebo a reparação das suas maldades e
crimes. Dá-me tudo, dá-me tudo o que te peço, para que as almas tudo possam
receber. Coragem, estou contigo.
Desisti, não
posso. Vou a caminho do horto. Vejo todos os sofrimentos que lá me esperam.
Tenho de sofrer em silêncio sem um desabafo. No meio deste sofrimento não peço
a Jesus o céu, mas lembro-Lho. Fico em espírito por muito tempo a repetir:
— Jesus, o
céu, o céu, o céu…