domingo, novembro 29, 2020

À SOMBRA DA EUCARISTIA

 Sentimentos da alma: 29 de Novembro de 1945

Tenho que desistir, não tenho forças, não posso falar para dizer os sentimentos da minha alma. E, agora que o não posso fazer, apetece-me chorar.

— Meu Deus, que cegueira a do meu corpo e a da minha alma!


E, no meio desta noite tormentosa, sinto dores horrorosas. Sinto na alma e no corpo um tormento inexplicável. Por maior que seja o meu esforço, nada digo, porque não sei. Não posso pensar que o meu corpo há-de ser tocado ou poisar na minha cama ou por ele passar qualquer aragenzinha. Queria poder sustentar-me no ar, onde nada pudesse tocar-me. Que tremendo horror! Ai, como tenho o corpo e a alma feridos! Tenho nojo e medo da minha cama. Quantas vezes, de repente me apetece chamar-lhe maldita e excomungada. Queria abandoná-la, não posso estar nela. Tenho medo, tenho medo!

— Sim, meu Jesus, quem há-de resistir a isto? Só Vós, só Vós. Oh! Se eu neste ponto soubesse dizer o que sinto!

Tive um novo ataque do demónio, violento, mas pouco demorado. O coração estava aflitíssimo e o peito ofegante. Ao ouvir as suas feias palavras, mais em espírito do que com os lábios, oferecia-me a Jesus e à Mãezinha e pedia-Lhes para não pecar. Ao terminar da luta, fiquei aterrada na minha escuridão e no receio de ter ofendido a Jesus. Não resistia, se Jesus não viesse. Ele apressou-Se a vir e disse-me:

— Não pecaste, não, amada filha. É à sombra da Eucaristia que a alma, louca de amor por mim, se consola e delicia. É à sombra da tua pureza que o mundo se purificará. É da tua pureza que eu recebo a reparação das suas maldades e crimes. Dá-me tudo, dá-me tudo o que te peço, para que as almas tudo possam receber. Coragem, estou contigo.

Desisti, não posso. Vou a caminho do horto. Vejo todos os sofrimentos que lá me esperam. Tenho de sofrer em silêncio sem um desabafo. No meio deste sofrimento não peço a Jesus o céu, mas lembro-Lho. Fico em espírito por muito tempo a repetir:

— Jesus, o céu, o céu, o céu…