— O que poderei eu dar ao meu Senhor?
Perder a Deus como se nunca O possuísse,
perder a vida como se nunca vivesse, deixar de amar a Jesus e à Mãezinha como
se nunca os tivesse amado, é o meu viver doloroso, é o tormento da minha alma,
é uma agonia mortal.
— Meu Deus, sempre, sempre a viver sem
vida, sempre, sempre a viver sem Vós, sem Vos amar e sem o Vosso amor. É uma
luta, é um combate tremendo.
Por vezes reconheço que Jesus faz o milagre de
amparar-me, de outra forma desesperava.
— Ó Jesus, querer o Céu e não o possuir,
querer-Vos a Vós e sentir a Vossa perda! Viver uma vida de doloroso martírio de
alma e corpo, e tudo inútil, tudo inútil! Vejo-Vos, meu Deus, em todas as
coisas. Nada há em mim que não tenha o fim de Vos dar glória, amor e reparação.
E a minha vida morta e inútil é como se nada Vos desse, nunca Vos conhecesse,
nunca Vos amasse, nada Vos reparasse e nunca Vos possuísse.
O coração fala sempre. Ele quer chupar, chupar
na humanidade, em toda a humanidade como a abelhinha a sugar o néctar das
flores.
Ele fala, mas esta voz, este eco não é para
mim. Parece que este eco vai entoar e destruir montanhas; e eu quero almas,
muitas almas, todas as almas, corações, todos os corações para entregar a
Jesus. Que eles estejam todos numa só chama de amor divino é a minha ânsia, a
minha loucura, noite e dia.
— O que poderei eu dar ao meu Senhor? O
que poderei eu fazer por Ele e pelas almas? Não sei. Tudo fiz e nada sei. Vivi
por Ele sem ter vivido! Valei-me, meu Deus, valei-me!
As minhas forças não me permitem falar mais
dos sentimentos da minha alma e a minha ignorância priva-me de tudo, mas fico
num sofrimento inaudito por não poder descrever neste caderno o que está
gravado neste livro sem fim que tenho no coração. Segui hoje para o Calvário,
como sempre, escarnecendo, calcando, rasgando os meus vestidos em sinal de
desespero. Todos os sofrimentos que já descrevi me atormentavam. Dúvidas contra
Deus, contra a fé, mas sobre elas sempre o meu “creio”, o meu “creio”, o meu
“confio”, o meu “espero em Vós, meu Deus”.
Sentimentos da alma, 2 de Julho de 1854 –
Sexta-feira.
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