É terno, muito terno o meu coração
Quando acabará na
terra a minha eternidade? Quando poderei ver e ficar para sempre no céu com o
meu Senhor? Sinto que não posso suportar por mais tempo esta dolorosa e
tremenda eternidade, este martírio a que Jesus me submeteu. Preciso de partir,
preciso de voar até Deus. Tenho medo de vacilar. Receio perder para sempre o
meu Senhor. Está sempre em ser a minha vida. Tudo o que eu sofro morre antes de
viver e assim temo e tremo da minha revolta contra tudo e contra o céu. Meu
Deus, meu Deus, ai de mim se Vos perco, ai de mim se Vos ofendo. Sou capaz de
tudo o que é mau. Nenhuma utilidade tenho para Vos servir e amar. Não deixei de
oferecer ao Senhor o sacrifício de uns dias de separação da minha irmã. Ofereci-o
por várias intenções e fi-lo só por amor, mas tudo se perdeu na inutilidade e
na eternidade. Fugi quanto pude. Ontem, do solo do horto não quis aproveitar-me
dos seus frutos. Hoje, fiz o mesmo da viagem para o calvário. Via e sentia que
me estendiam redes como que a apanhar-me. Eu fugia-lhe o que podia. Não os
deixavam tocar-me. No calvário, no alto da cruz, essas redes eram estendidas
por alguém para mim. Saíam-me do coração, eram minhas e vinham para mim. Eram
redes de fogo e de amor. Assim expirei. Passei pelo silêncio da morte. Pouco
depois Jesus fez-me viver com a sua vida e falou-me assim:
― “É terno,
muito terno o meu coração. É doce, bem doce o meu amor. Falar dele é dizer
tudo. O amor tem de ser correspondido. Todo aquele que ama não ofende a pessoa
amada. Eu amo, amo e peço amor. Se Eu for amado, não sou ofendido. Ó minha
filha, ó minha filha, em que agonia está o meu Divino Coração. Sofro, sofro,
sofro! Coragem, coragem, coragem no teu sofrimento! A tua dor, a tua dor
arranca muitas almas das garras de Satanás. A tua dor faz com que Eu seja
amado, muito amado por muitos corações. A tua dor acode a muitos, muitos
pecadores, prestes a caírem no inferno. Ai o mundo, minha filha, ai o mundo! As
almas, as almas correm loucas, tão loucas, para o abismo da perdição. Olha,
olha, repara bem como o meu Divino Coração derrama sangue. Feriram-me as
lançadas e punhaladas de pecados gravíssimos. Ferem-me a vaidade e
desonestidades nas praias, nos cinemas e bailes. Peca-se horrivelmente
nos casinos e casas de vício. Peca-se na família, peca-se em todos os
estados. Ai, quanto sofre o meu Divino Coração. Atendei, atendei à voz
terníssima do Senhor. Atendei, atendei ao brado amorosíssimo do seu Coração.
Vinde a Mim todos os que errastes. Vinde a Mim todos os que estais frios; quero
perdoar-vos, quero aquecer-vos. Vinde a Mim, vinde a Mim todos os que estais
doentes. Quero curar-vos, quero sarar-vos as vossas almas”.
― Ó Jesus,
eu vi o Vosso divino sangue correr. Vi e vejo as chagas do Vosso amorosíssimo
Coração. Ele está todo chagado, todo em sangue. Não o quero ver assim, ó
amantíssimo Jesus. Vós sois o médico dos médicos, curai-Vos a Vós mesmo.
Aceitai as minhas ânsias de Vos dar tudo, sem nada ter que Vos dar. Quero
provar-Vos o meu amor e para isso a Vós me entrego e abandono. Fazei de mim o
que quiserdes, que eu, pobrezinha, a Vós me abandono.
Sentimentos
da alma: 4 de Setembro de 1953 – Primeira Sexta-feira.
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