Viva Jesus !
Balasar, 15 de Março de 1935
Meu Padre ;
Não tencionava escrever-lhe esta
semana devido ao estado em que me encontro. Estou tão falta de forças ! E
a minha cabeça está tão ruim, tão ruim ! Só Nosso Senhor o sabe. Além
disso, a minha secretária também lhe custava porque anda bastante doente. Mas
como verá, à ordem de Nosso Senhor, resolvi fazê-lo.
Ontem, dia 14, das 9 às 10 da noite,
depois de fazer a comunhão espiritual, falou-me Nosso Senhor assim :
― “Anda, minha filha, ouve-me : se soubesses como Eu te
amo ! Mas não é possível compreenderes o meu amor. Eu estou a
experimentar-te. Eu sei até onde chegam as tuas forças. Mas faço isto para que depois de
ti fiquem as lições : para se saber como Eu me comunico às almas que escolho
para tão alto fim. Anda passar esta noite muito tempo nos meus sacrários.
Contempla o amor que ali me prendeu e que aqui me levou a instituir este
Sacramento. Foi numa quinta-feira ; por esta hora medita o que eu jã
sofria ! Implora o perdão para os pecadores. Manda dizer ao teu pai espiritual
e não te demores em lhe escrever ; que pregue que Eu não posso ser mais
ofendido. A profanação do domingo ! O
pecado da gula ! O suicídio ! Mas... o da impureza, que horrendos
crimes povoam o inferno ! Que se levantem os crimes que alastram no mundo,
que senão dentro em pouco vai ser castigado. Que pregue assim por amor daquele
Jesus crucificado, e por vosso amor preso naquele sacrário. É Ele mesmo quem
vo-lo pede. Eu mandei avisar Sodoma e Gomorra
e não fizeram caso. Ai destes, que o mesmo lhes acontecerá !”
Disse-me Nosso Senhor :
― “Aí vai o meu amor”.
E então, aquela força inexplicável e
aquele calor que tanto me abrasava ! Oh ! como eu me sentia
bem ! E dizia-me Nosso Senhor :
E tornou-me a dizer que me queria no
Céu mas que precisava de mim na terra. Nesta ocasião eu pedi ao meu Jesus a
cura da minha querida Çãozinha. E Nosso Senhor prometeu-me curá-la breve [1],
mas que lhe pedisse muito, e que lhe pedisse o que quisesse. O que Ele me não
alcançasse que é porque não era bem para as almas.
O demónio não me tem consumido tanto :
vem, mas vai sem grandes esforços. Tenho visto as sombras de costume. Num dos
dias atrasados eu vi dentro do meu quarto um gato preto grande, ou um cabrito a
pular, mas mais me parecia um cabrito. Peço-lhe por caridade para não esquecer
junto de Nosso Senhor a minha querida Çãozinha. Mete tanta pena ela dizer que
muito não queria perder o juízo ! Está proibida de trabalho ; não a
esqueça, sim ?
Há dias
recebi uma carta. Ainda lhe não respondi ; estou tão ruim ! Não sei
como lhe hei-de responder. Ela mostra ser criatura instruída, não me parece ser
como eu. Diz-me que vem aprender comigo a ciência da cruz. O que hei-de
ensinar ! A quem vou ensinar ? Eu que tanto preciso de aprender.
Lembranças da minha mãe e da
Deolinda. Não esqueça, por caridade, esta alma pobrezinha que também promete
não o esquecer junto de Nosso Senhor.
Alexandrina
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