Não digo nada do que me vai na alma…
Cá estou na renúncia de mim mesma, sujeita à
obediência, a contrariar a minha vontade, a querer só o que Jesus quer, nada
mais queria dizer, abafar por completo tudo o que em mim se passa. Se assim
fizesse, entrava a minha vontade, não me renunciava, não obedecia, Jesus
ficaria triste. Nisso não posso consentir. Obedeço às cegas, obedeço por amor.
Estou a sucumbir sob o peso da minha cruz. Que dor, que amargura, meu Deus!
Esta dor, esta amargura estende-se ao mundo inteiro. É uma angústia constante
para o meu coração tão aberto pela lança e a cada momento avivada a ferida, tão
cingido de espinhos e avivado pelas setas. Meu Deus, meu Pai, ouvi o meu brado
incessante. Estou na cruz crucificada. Repete-se o número de vezes que os
cravos são apertados. Toda a cabeça está trespassada pelo capacete de
agudíssimos espinhos. A agonia da minha alma e o brado do meu coração não
cessa. A alma chora, chora de tristeza e angústia e o coração brada, brada
sempre: Meu Deus, meu Jesus, meu Senhor, valei-me pelo Vosso amor, valei-me
pela Vossa sagrada Paixão e Morte. Eu quero, ó Jesus, e não posso mais. Não me
abandoneis, vinde depressa socorrer-me. Com a Vossa graça, com a Vossa ajuda eu
sou e serei sempre a Vossa vítima. Aí, quanto custa sofrer para consolar o meu
Senhor e valer às almas, e sentir que não posso mais, que não sou capaz de
aguentar com o aumento do mínimo sofrimento. Perdi tudo, tudo, tudo morreu e
tudo o mais morrerá. Estou sempre no meu sepulcro de morte; ele nada deixa em
mim viver. As trevas são pavorosas; a noite tristíssima e escura não deixa
cintilar uma estrela. Tudo morreu, tudo se apagou. A minha ignorância invadiu
todo o meu ser; é uma inundação total. Não sei falar de Jesus, não sei falar do
sofrimento, não digo nada do que me vai na alma.
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Sentimentos da alma, 23 de Fevereiro de 1951.
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