quinta-feira, fevereiro 21, 2013

TUDO MORREU, TUDO SE APAGOU...


Não digo nada do que me vai na alma…


Cá estou na renúncia de mim mesma, sujeita à obediência, a contrariar a minha vontade, a querer só o que Jesus quer, nada mais queria dizer, abafar por completo tudo o que em mim se passa. Se assim fizesse, entrava a minha vontade, não me renunciava, não obedecia, Jesus ficaria triste. Nisso não posso consentir. Obedeço às cegas, obedeço por amor. Estou a sucumbir sob o peso da minha cruz. Que dor, que amargura, meu Deus! Esta dor, esta amargura estende-se ao mundo inteiro. É uma angústia constante para o meu coração tão aberto pela lança e a cada momento avivada a ferida, tão cingido de espinhos e avivado pelas setas. Meu Deus, meu Pai, ouvi o meu brado incessante. Estou na cruz crucificada. Repete-se o número de vezes que os cravos são apertados. Toda a cabeça está trespassada pelo capacete de agudíssimos espinhos. A agonia da minha alma e o brado do meu coração não cessa. A alma chora, chora de tristeza e angústia e o coração brada, brada sempre: Meu Deus, meu Jesus, meu Senhor, valei-me pelo Vosso amor, valei-me pela Vossa sagrada Paixão e Morte. Eu quero, ó Jesus, e não posso mais. Não me abandoneis, vinde depressa socorrer-me. Com a Vossa graça, com a Vossa ajuda eu sou e serei sempre a Vossa vítima. Aí, quanto custa sofrer para consolar o meu Senhor e valer às almas, e sentir que não posso mais, que não sou capaz de aguentar com o aumento do mínimo sofrimento. Perdi tudo, tudo, tudo morreu e tudo o mais morrerá. Estou sempre no meu sepulcro de morte; ele nada deixa em mim viver. As trevas são pavorosas; a noite tristíssima e escura não deixa cintilar uma estrela. Tudo morreu, tudo se apagou. A minha ignorância invadiu todo o meu ser; é uma inundação total. Não sei falar de Jesus, não sei falar do sofrimento, não digo nada do que me vai na alma.
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Sentimentos da alma, 23 de Fevereiro de 1951.

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