Alexandrina explica:
Ontem de manhã [24 de Janeiro], senti como se
assumisse a mim toda a maldade humana. Tudo entrou para mim, e eu era o mundo.
Causou-me tal tormento que não sabia como resistir. Lembrei-me que neste dia a
ordem de alívio dada pelo meu Paizinho não teria lugar. Enganei-me: sentia e
via com os olhos da alma dentro em meu peito uma ovelha poisada sobre a terra,
presa por grandes sebes de espinhos. Eu ia caminhando para o Horto, e ela
sempre dentro de mim. Durante a tarde, desapareceu tudo isto, foi muito mais
suave a dor. À noite voltei ao mesmo sofrimento pavoroso. Sobre o solo do Horto
levantou-se um altar, altar de dor assediado por todos os martírios. Sobre ele
estava não uma ovelha com sebes de espinhos, mas sim um cordeiro mansíssimo que
tudo recebia sem dar sinal de vida, possuindo toda a vida. Daquele cordeiro
saía tudo de bondade, e todo ele ardia em chamas que abrasavam o altar e todo o
solo do Horto. Era Jesus, era Jesus, senti que era. Oh! Como Ele amava, quando
recebia toda a maldade e ingratidão! Nesta ocasião coisas houve que agravaram
muito o meu sofrimento. O demónio tentador aproveitou a ocasião para me
atormentar. Sem eu querer via tudo pelo pior; foi grande a minha agonia. Meu
Deus, se é possível, afastai de mim este sofrimento. Assim me uni à agonia de
Jesus. Mas logo acrescentei: não se faça a minha vontade, mas a Vossa divina
vontade. Não desvieis de mim a Vossa Face, ó meu Jesus, não me deixeis sozinha
um só momento, só esse basta para eu desesperar! Num mar de dores passei toda a
noite. Logo de manhã, no meu mundo, se levantou o mesmo altar de dor rodeado de
martírios com o mesmo cordeirinho em cima. E assim segui para o Calvário. A
toda a dor este cordeiro mansinho pagava com doçura e amor. Ele ardia em chamas
e por entre elas, por entre a alvura da sua graça, caía o Seu sangue em
abundância a regar a terra. Aproximava-se o fim da montanha, e o inocente
Cordeiro sempre sobre o altar do patíbulo; sabia que ia morrer e ansiava por
dar a vida. Que amor, que amor! Só podia ser o amor de um Deus, o amor de
Jesus! No alto do Calvário, em vez da cruz, continuou a ser o mesmo altar e o
mesmo Cordeiro a arder em chamas e a derramar sangue. Quanto mais se aproximava
a hora de Jesus expirar, mais a crueldade de debatia contra o Cordeiro inocente
e mais as chamas do Seu amor se estendiam sobre tanta maldade e ingratidão. O
Cordeiro ia morrer e nesse momento passou da noite para o dia, da morte para a
vida no abraço mais íntimo ao Seu Coração toda a humanidade. Desapareceu de mim
o altar, o Cordeiro, e eu fiquei como se não vivesse. Dentro em pouco veio
Jesus, falou-me em meu coração; falava-me nele como d’uma janela.
— Minha filha, minha filha, vítima de
Jesus, vítima da humanidade, vítima da tua Pátria, do teu Portugal. Minha
filha, minha filha, louquinha da Eucaristia, ama-Me, ama-Me e faz-Me amado; é
por ti que Eu quero ser amado, é por ti que Eu quero muitas orações a amarem-Me,
é por ti que Eu quero ser reparado, é por ti que Eu exijo grande reparação;
repara-Me de tantos sacrilégios, de tantos crimes e iniquidades. A tua dor
atingiu o auge. Podia dizer que o Meu divino amor atingiu para contigo também o
seu auge; não porque o Meu amor tenha limites, mas porque te amo com o amor com
que pode ser amada uma criatura humana; amo-te com amor louco.
Minha filha, minha esposa querida, faz com que
Eu seja amado, consolado e reparado na minha Eucaristia. Diz em Meu Nome que
todos aqueles que comungarem bem, com sincera humildade, fervor e amor em seis
primeiras quintas-feiras seguidas e junto do Meu Sacrário passarem uma hora de
adoração, e íntima união comigo lhes prometo o Céu. É para honrarem pela
Eucaristia as Minhas santas Chagas, honrando primeiro a do Meu sagrado Ombro
tão pouco lembrada. Quem isto fizer, quem às Santas Chagas juntar as dores da
minha Bendita Mãe, e em nome delas nos pedirem graças, quer espirituais, quer
corporais, Eu lhas prometo; a não ser que sejam de prejuízo à sua alma. No
momento da morte trarei comigo Minha Mãe Santíssima para as defender.
— Ó meu Deus, como Vós sois bom, como é
infinita e sem limites a Vossa misericórdia. Permiti que todos comunguem bem,
com as devidas disposições, para se tornarem dignos das Vossas divinas
promessas. Alcançai-me, meu Jesus, para mim a mesma graça.
— Dá-Me dor, dá-Me dor, ó minha filha,
repara tanta maldade, dá-Me a tua cruz. Confia em Mim, não temas as trevas, o
abandono e a ignorância. Todo o teu viver mostra a vida de Deus em ti; a tua
vida é um livro de sabedoria, é a ciência divina a falar por ti. É vida de
heroísmo, é vida de amor. Rebe a gota do Meu divino Sangue, maravilha
encantadora do Paraíso. Se os Anjos e os Santos que estão na glória pudessem
amar-Me mais, mais Me amariam ao ver tão grande prodígio. Como são lindos os
hinos que Me entoam! Que prova de amor! O Sangue de Cristo, o Sangue das
virgens, o Sangue que as gera. Tem coragem, vai para a cruz, vai para o teu
martírio, leva a Minha graça, leva e Minha paz, vai distribuir e irradiar este
amor.
— Obrigada, obrigada, meu Jesus. Quisera
bem que todos o experimentassem e que todos Vos amassem.
Jesus fez passar a gota do Seu Sangue, e, no
mesmo tempo, fez-me nadar num mar de suavidade e doçura, num mar de amor.
Sentia-me arder, mas era fogo que confortava e dava vida à alma. Fiquei mais
forte, com mais coragem para a cruz. Quanto devo ao meu Jesus.
Sentimentos da alma, 25 de Fevereiro de 1949.
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