NATAL DE 1953
25 de Dezembro de
1953 – Sexta-feira
Como se sofre!
Poderei ainda sofrer mais? Perdoai-me, Jesus. É um desabafo atrevido. Não sou
eu quem sofre, sois Vós o sofrente, sois Vós a vencer em mim. Ajudai-me, Jesus,
ajudai-me, não posso levantar-me, estou caída, só Vós podeis deitar-me a mão.
Ai de mim, tantas maldades que eu tenho! É um mundo delas, um mundo dos maiores
vícios e crimes. Todo o meu ser se desfaz com a lepra do pecado. Ventania
destruidora leva as cinzas de todo o ser. Só o pecado fica, só este aparece.
São sem número os espinhos a ferirem-me, são indizíveis os meus sofrimentos.
Mas a inutilidade, a tremenda inutilidade, tudo me vem roubar, toma conta do
fruto de tanto sofrer. Eu, pobre de mim, nem ao menos vejo nascer aquilo com
que podia pagar as minhas dívidas ao Céu e consolar o meu Jesus. Cruel, cruel
inutilidade, pavorosa, pavorosíssima eternidade. Só a força de Deus pode sofrer
nela, só Jesus nela pode viver. Não posso, não posso sozinha resistir nem um
momento. Já estou mais que sepultada, mas continua o meu ofício de cavador. Os
suores da alma a banharem-na constantemente e a cavação mais parecem cavadelas
eternas do que outra coisa. Mas sinto que esta minha cavação tem de continuar,
o meu sepulcro tem de abrir-se no maior abismo, terra sobre terra ma vai
cobrindo, eu mesma me enterro. É com o meu esforço que hei-de desaparecer.
Como, meu Senhor, enterrar-se, desaparecer aquilo que já não existe? Bendito
sejais, bendito sejais! Sou a Vossa vítima. Nuns momentos, sofro infinitamente
ânsias verdadeiramente infinitas de amar a Jesus e de possuir o mundo. Nesses
momentos, é infinita a fome que tenho no coração. Só a humanidade com todos os
corações e almas me podiam satisfazer. Noutros momentos, nem fome, nem ânsias
de amar nem de ser amada, mas uma tristeza, um gelo tal que gela o mundo e me
leva à indiferença, ao completo esquecimento das coisas de Deus. Daqui nasce
uma dor tão profunda e tão dolorosa que não é minha. Jesus faz-me sentir bem ao
vivo que é a dor do Seu Divino Coração. Não disse nada, nada posso dizer. Sofro
tanto, tanto! Passei pelo horto só como se voasse nele sem poisar na terra. Eu
não pertencia à terra, a minha vida não era da terra.
Preparei-me para
o nascimento de Jesus por um acto de contrição; não pude confessar-me. À
meia-noite pedi-Lhe que Ele nascesse no meu coração e em todos os corações.
Fiz-Lhe muitos pedidos, mas tudo feito na inutilidade e na eternidade. Fiz-Lhe
companhia no presépio, no calvário e no horto, mas tudo inútil, numa agonia e
tristeza mortal. Hoje, segui para o calvário, mas esvoaçando apenas sobre os
caminhos do calvário e no calvário sobre os braços da cruz. Era do Céu a minha
vida, mas penetrava em todo o ser humano, em todos o ser miserável. Enquanto
Jesus agonizava, esvoaçava sempre essa vida nos braços da cruz. Fitava Jesus
crucificado e formava voo para o Seu Divino Coração. Outra vida, a vida da
terra atirava-se para Jesus a escarnecê-Lo, a escarrá-Lo. Ele deu a vida,
entregou-se nas mãos do Pai, e eu fiquei sem nenhuma vida, nem de revolta, nem
de amor. Jesus não teve pressa em vir ao meu coração e fazer-me ressuscitar. Quando
veio com a Sua luz, iluminou-me e falou-me assim:
― “Desci do
Céu e aqui estou pela última vez no coração da minha esposa para pelos seus
lábios falar. Desci do Céu e vim a este c oração deixá-lo em dor, dor, mais dor
pelos pecadores. Grande sábio, a maior ciência tem aquela alma que por Jesus
sabe sofrer. Grande ciência, a maior ciência é amar muito e muito sofrer. É a
ciência que Eu busco, é a ciência que Eu anseio. É rara, tão rara, quase nunca
a encontro. Colóquio das almas, colóquio dos pecadores, o último colóquio das
almas, o último dos pecadores. Coragem, minha filha, coragem! Venho dar-te o
meu Sangue divino. Venho dar-te o alimento que te faz viver. Vive da fé, só da
fé. Eu não deixo de confortar-te, quando preciso for. De longe a longe ouvirás,
esposa minha, as palavras do teu Jesus. é dor, é dor, inigualável dor, mas o
triunfo, o número das almas a salvar-se é maior ainda, maior ainda, maior
ainda, florinha eucarística. Sofre, sofre, esposa querida, atrai a Mim os
pecadores. Atrai a Mim os pecadores; tu que és o íman atraente atrai-os a Mim,
atrai-os a Mim”.
(Cantou):
Vem, filho
meu, vem, filho meu, vem, filho meu, vem ao meu Coração de Pai;
Vem, filho
meu, vem, filho meu, ao meu Coração de Pai!
Escuta bem,
ouve o convite, ó filho meu;
Ouve o convite
do teu Jesus, do teu Jesus e Pai, e Pai!
Vem, filho
meu, vem, filho meu, não tardes mais;
Vem, filho
meu, vem, filho meu, vem, filho meu, não tardes mais, não tardes mais!
Escuta a minha
voz, voz dorida, voz dorida, voz sentida de profunda dor, profunda dor,
profunda dor;
Filho meu, não
peques mais; dor profunda, filho meu, não peques mais, não peques mais.
― Aqui
estou, ó Jesus, aqui estou, meu Amor, arrependida, aqui estou, meu Amor,
arrependida! Dá-me o teu amor, ó Jesus! Dá-me o teu amor, ó Jesus, e a cruz, e
a cruz! Nunca quero deixar o teu coração! Quero amar-te, ó Jesus! Quero amar-te
e pedir-te perdão, perdão. Perdão, Jesus, perdão, meu Pai. Perdão, Jesus,
perdão, Senhor! Perdão, Jesus, perdão, Amor! Dá-me a tua cruz, ó Jesus. Dá-me a
tua cruz, ó Amor. Dá-me o teu perdão, dá-me o teu perdão, dá-me o teu perdão,
dá-me o teu perdão.
― “Minha
filha, minha filha, esposa querida, minha filha, grande vítima deste calvário,
deste glorioso calvário. Minha filha, filhos meus, filhos meus, desce aqui a
Santíssima Trindade. À direita do Filho vem a Mãe Santíssima. A primeira bênção
da Santíssima Trindade é dada para o Santo Padre, para o representante do meu
Filho bem amado. A segunda é dirigida ao meu querido Cardeal, ao meu querido
Cardeal. Vai a terceira ao teu Prelado. Vai para ele, minha filha; todos se
encham da Trindade divina, que todos se encham mais e mais da luz do Espírito
Santo”.
― Ó Pai, ó
Pai, ó Filho, ó Espírito Santo, ó Mãezinha querida. Ó Pai, ó Espírito Santo, ó
Mãezinha querida, ó Mãezinha querida. Ó Pai, ó Filho, ó Espírito Santo, ó
Mãezinha querida, não posso com tanta fortaleza.
― “Vai por
ti, minha filha, uma nova bênção da Trindade Divina para aquele que Eu trouxe
ao teu encontro, luz e guia da tua alma, para na mesma vida mística de
sofrimento sangrarem os vossos corações, as vossas almas. Abençoo com o Pai, o
Espírito Santo aqueles que têm amparado a tua alma, aqueles que têm cuidado do
teu corpo, aqueles que têm defendido a minha divina causa como ninguém, como
ninguém. A nossa bênção de Trindade Augusta para todos os que te são queridos”.
― Ó Jesus, ó
Jesus, um bocadinho de espera. Os que me são queridos já sabeis quem entra.
Começai outra vez, começai com o Pai, o Filho, o Espírito Santo. A bênção e o
sorriso terno e meigo da Mãezinha querida para todos os que eu amo, para todos
os que me são caros, para todos quantos me rodeiam. Ó minha Trindade Augusta, ó
minha Trindade Augusta, para todos quantos me pedem orações, para todos os que
necessitam delas. O mundo inteiro precisa da Vossa bênção. Ai, como hei-de
ficar sem Jesus na minha cruz! Ai, como hei-de ficar sem Vós, Mãezinha!
― “Coragem,
minha filha, coragem! Não ficas sem o teu Jesus, não ficas sem o teu Jesus. Não
ficas sem a tua Mãezinha querida, a tua Mãezinha querida. Não podemos
deixar-te, não podemos deixar-te. Repito, digo o mesmo que disse aos seus
Apóstolos: “Vou para o Pai, mas fico convosco”. Finjo deixar-te para maior
sofrimento, mas não te deixo, não, minha filha, não. Depois de me amares,
depois de me dares almas aos milhões, aos milhões, depois de te abandonares
inteiramente a Mim, como deixar-te?! Confia, confia que não!”
― Adeus, ó
Pai, adeus, ó Filho, adeus, ó Espírito Santo, adeus, ó Espírito Santo. Adeus, ó
Mãe querida, até ao Céu, até ao Céu, até ao Céu, ó Mãe querida, até ao Céu, até
ao Céu, ó Mãe querida, até ao Céu, ó Mãe querida. Adeus, Jesus, adeus, meu Pai,
adeus, adeus, Jesus. Adeus, Amor, sede comigo, sede comigo na minha dor, na
minha dor. Não posso mais, ai, não posso mais, ó Mãezinha, ó Jesus. Um terno,
um terno adeus de saudade, um terno, um terno, um terno adeus de saudade te dou
hoje, ó Jesus, te dou hoje, ó Mãezinha da filha Vossa. Um terno, um terno
adeus, adeus de saudade te dá hoje, ó Jesus, te dá hoje, a vítima tua. Um terno
adeus, um terno adeus, ó Jesus, adeus, adeus, adeus, adeus, adeus até ao Céu,
até ao Céu, até ao Céu, ó Amor meu, ó Amores meus, ó Amores meus!
― “Coragem,
coragem! Confia, confia! Não é até ao Céu, não é até ao Céu, flor eucarística,
flor mimosa, pupila dos meus olhos, lírio puro, branca açucena, não é até ao
Céu, não é, minha esposa e virgem, ó minha vítima. Não é até ao Céu, não, ó
minha esposa amada, digna dos títulos mais honrosos que Jesus pode dar a uma
esposa e vítima imolada. Sou Eu, sou Eu a dar-te todos esses títulos.
Preparei-te também, minha filha, com a minha sabedoria divina. Estás livre de
toda a sombra de vaidade. Velarei por ti, velarei sempre. Velarei sempre até ao
fim da vida como até aqui tenho velado. Coragem, minha filha. Fala às almas
para quem foste criada. Fala às almas para quem foste escolhida. Tu és o
porta-voz de Jesus, tu és o farol de luz, tu és o farol do mundo, que dás ao
mundo luz divina, vida divina. Tu és minha, toda minha, ó esposa bela. Eu sou
teu, teu, todo teu, sempre teu.
Recebe a gota do
meu Divino Sangue. Fundidos os nossos corações num só coração. Espalhou-se o
sangue. Já passou para as tuas veias. Corre com a maior abundância. Foi maior a
dor, foi maior o alimento. Fica na tua cruz. Eu quero, eu quero que sejas
amparada na tua cruz. Haja luz, faça-se luz, a última vez. Depressa, depressa,
que já não é depressa a fazer-se a vontade do meu Divino Coração. Recebe mais
uma efusão do meu amor, o amor de toda a Santíssima Trindade, o amor da tua
Mãezinha querida. Fortalece-te, enche-te, enche-te. Mais amor, mais amor, mais
amor para mais dor, para mais dor. Coragem, minha filha, coragem, minha filha,
coragem”.
― Adeus,
meus queridos amores, adeus, adeus, adeus. Vou deixar-Vos, vou deixar-Vos.
Adeus, adeus, sede a minha força, sede a minha força, sede a minha força.
(Ouviu-se
ruído de beijos)
Foi para mim a
última bênção da Santíssima Trindade e da Mãezinha querida. Obrigada, obrigada,
o meu eterno obrigada. Permiti-me, não me leveis a mal que eu a distribua toda,
toda, toda por todos. Já sabeis por onde principio e onde eu acabo. Não me leveis
a mal. Perdoai, perdoai.
― “Minha
filha, minha filha, por despedida deste-Nos a maior consolação, a maior prova
de amor, de amor, de amor às almas por amor de Nós. Oh! Como consolaste, como
consolaste, oh! Como consolaste a Trindade Augusta e a tua Mãe celeste, a tua
Mãezinha celeste!
Vai em paz. Fica
na cruz. Fica na cruz! Coragem, coragem!”
― Adeus!
Adeus! Obrigada! Obrigada!
Nota: este êxtase foi gravado e assistiram
mais de 50 pessoas. Quase todas se comoveram e choraram. Um sacerdote presente
disse: “Poucas vezes tenho chorado na minha vida, mas hoje chorei”.
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