A GRANDEZA NA POBREZA !
Em 21 de Outubro de 1941,
escrevia ao Sr. José G. Gomes, de Travassos (Póvoa de Lanhoso): «Diz-me na sua
cartinha para eu lhe dizer daquilo que mais preciso. Agradeço-lhe e peço que o
senhor acredite que não é por me desprezar de ser pobre e de
pedir — pois estou contente por Jesus me assemelhar a Ele até na pobreza — mas
não queria dizer-lhe de que preciso. Confio na Providência que não deixará de
tocar nos corações generosos para me darem aquilo de que eu necessito. Não
quero pedir nada para que não haja más interpretações sobre a causa de Nosso
Senhor. Todos nós temos quem nos queira mal, e eu tenho muito medo do demónio.
Coisas da terra, mal sei pedir e desejar a não ser quando à vista de olhos vejo
serem úteis e indispensáveis. Os bens do Céu são o que nos convém: é o que
levamos para a eternidade».
Padre Humberto Pasquale, Deolinda e a Alexandrina
A carta, repassada de
prudência, documenta diversos factos: que a Alexandrina encontrou pessoas
amigas compadecidas da sua grande pobreza; que, colocada perante a
possibilidade de escolher entre dons de coisas terrenas «mal sabe pedir e
desejar a não ser o que é útil e indispensável»; que, no referente a coisas
terrenas, «se entrega completamente à Divina Providência», a qual não ignora
aquilo de que necessitamos; que a sua vida é totalmente orientada para aqueles
bens «que levamos para a eternidade».
Por isso, mesmo quando as
pessoas amigas forneceram à doente tudo quantio lhes pareceu necessário, ela
não faltou à virtude de pobreza. Aceitou-a e amou-a quando lhe faltava tudo,
praticou-a com predilecção quando, por assim dizer, se viu rodeada de uma certa
abastança.
A Sra. D.
Maria Cândida Leite Reis Almeida afirmou o seguinte: «A Alexandrina amou a
simplicidade e a pobreza. Por vezes oferecia-lhe peças de vestuário do seu uso
diário, lençóis, colchas que ela aceitava por boa educação e gentileza, mas
usava sempre o que fosse mais simples».
A Sra. D.
Maria José Neves Correia e Silva, de Sertã, escreveu-nos: «Tudo era pobre à sua
volta: a sua cama e o seu quarto modestíssimos, mas muito limpos, espelhavam a
brancura da sua alma, e pouco a pouco este quartinho foi-se transformando em
capela em que o altar era o leito de dor sobre o qual a vítima tão generosa se
imolava, dia e noite, pelos pecados do mundo».
A fineza da sua alma
nunca lhe permitiu equivocar-se quanto à natureza da pobreza e abandonar-se a
excessos. Costumava dizer: «Pobre sim, mas suja não! Não envergonha um vestido
remendado mas limpo!»
Ao segundo director
espiritual dizia: «Gostava de tudo perfeito e asseado, mesmo quando doente.
Tinha nojo do que estava sujo, e fazia limpezas, as mais custosas, porque
alegrava-me de ver tudo limpinho».
«O asseio dela e do
quarto era esmerado, mas na maior simplicidade — diz a Sra.
D. Maria Teresa Vasconcelos, de Penafiel. — Usava certas roupas por
respeito para com os benfeitores».
Ao perguntarmos à
Deolinda se tinha notado na Alexandrina qualquer pontinha de vaidade, respondeu
textualmente: «Vaidosa minha irmã? Não! Ela gostava de estar sempre limpinha e
asseada, embora a roupa fosse velhinha e remendada. Dizia também que não sabia
compreender que Nossa Senhora fosse desmazelada quando ouvia dizer que nem
paninhos tinha para embrulhar o Menino Jesus, ou que Ele tivesse apenas um
vestidinho. Costumava repetir “Pobre sim, mas limpinha!”»
O Rer. Pe. Adelino
Pedrosa, de Esposende, escreveu esta linda afirmação: «Nunca lhe percebi a
menor preocupação pelas temporalidades. Sempre desprendida, nas mãos de Deus.
Estaria sempre no fundo de um calaboiço, abandonada de todos».
A Sra. D.
Maria Sommer de Andrade, numa carta ao segundo director, escreve: «Também
admirei, naquela casa, a autêntica pobreza em que viviam! E era tão fácil abrir
a mão a rios de dinheiro que chovem ou querem chover, sempre, em casos deste
género. As roupas que ajudámos a lavar, passajar e engomar, as louças e alimentação
eram bem prova disso».
Rosa Ferreira da Silva,
uma velhinha de 80 anos que conheceu bem a Serva de Deus, dizia-me com as lágrimas
nos olhos: «Não era gananciosa a Alexandrina! Pessoas havia que lhe ofereciam
dinheiro, e não foram poucas; pois ela, só aceitava perante a insistência dessas
pessoas e usava-o para fazer bem».
A Deolinda confirma o
testemunho dos estranhos, dizendo: «Nos últimos anos, já teve muita roupa para
a sua cama, mas sempre usou amais velhinha. Às vezes eu queria pôr-lhe a nova,
mas ela dizia: “Guarda-a, guarda-a para ti. Um dia ficarias sem
nada” — Quantas vezes me lembro desta recomendação da minha irmã!
Parecia prever o que se daria mais tarde, isto é, quando fui obrigada, por quem
de direito, a guardar como relíquia toda a roupa usada por ela».
(Padre Humberto Pasquale: "Eis a Alexandrina")
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