Maior deve ser o perdão...
Balasar, 6 de Junho de 1935
Viva Jesus!,
Meu P.
Estou deveras admirada com o silêncio de Vª
Revª. Por acaso ter-lhe-ia dado causa para assim proceder? Estou sossegada na
minha consciência; se em alguma coisa o ofendi foi por ignorância, por isso maior
deve ser o perdão.
Eu continuo muito doentinha; mas tenho tido a
consolação de receber Nosso Senhor todos os dias. Isto só por um milagre do
Céu, pois o Senhor Abade nunca me fez tal. Algumas vezes recebo o meu Jesus e
fico muito desconsolada. Bendito Ele seja! Tudo é permitido por Ele, seja em
tudo feita a Sua Santíssima Vontade.
No dia dois, depois das nove horas da noite, estava
eu a fazer a oferta de tudo o que se passasse em mim durante a noite como actos
de amor a Nosso Senhor Sacramentado. Fazia-o mais com o pensamento do que com
os lábios porque não podia. Eu disse ao meu Jesus se fosse da Vossa Vontade eu
ficar convosco nos vossos sacrários durante esta noite! Sim antes queria fazer
companhia a Nosso Senhor do que dormir. E dizia também:
― Vinde meu bom Jesus
e vivei em mim como eu desejo viver convosco; operai em mim tantas graças como
se eu vos recebesse sacramentalmente.
Principiei a sentir a presença de Nosso Senhor
em mim e logo ouvi que me chamava:
— Filha, filha, ó minha querida filha
anda passar a noite comigo nos meus sacrários: anda consolar o teu Jesus. Anda
com a tua reparação curar as minhas chagas que estão tão vivas! Fui hoje tão
ofendido! Caíram tantas almas no inferno! Cortei-lhe o fio da vida antes do
tempo marcado por não as poder sofrer mais.
Eu ofereci a Nosso Senhor todo o meu corpo para
Ele crucificar pelo seu divino amor para a salvação das almas; e dava-lho de
tão boa vontade como Ele se deixou crucificar por meu amor. E dizia-me Nosso
Senhor:
— Como me consolas! É o bálsamo com que curas
as minhas chagas. Atenção, minha filha, para mandares dizer ao teu pai
espiritual. Esta noite vão cair no inferno mil almas e o pecado que me leva a
condená-las é o pecado da impureza, a maldita carne. Já lá estão a cair fartas
de me ofenderem e Eu abundado de as suportar. São de todas as classes: jovens e
donzelas, casados e viúvos, velhos e novos. Que horror! Como Eu sou ofendido!
Estão mais para lá cair; se me dás o teu corpo para sofrer por eles ainda lhes
acudirás. Pede-me por elas, dá-mas são minhas. Custaram-me o meu sangue. Eu não
exijo de ti a noite inteira porque não podes. Mas só no Céu verás como lhes
acudistes nestas horas. Eu preciso de destruir o mundo, poucas famílias deixar,
mas não o faço, enquanto tiver almas que como tu sustentem o braço da minha justiça.
Parecia-me que era tão beijada e abraçada! E
dizia-me Nosso Senhor:
— Amo-te tanto, minha filha! Amo-te
tanto! Tenho mais cuidado pela tua alma do que um da terra teria se possuísse todos
os tesouros do mundo. Ama muito a minha Mãe Santíssima que Ela também te ama
muito. Como me consolas quando me pedes o aumento do amor dela e da SS. Trindade.
No dia três, no fim da Sagrada Comunhão, falava-me
Nosso Senhor:
— Minha filha, lá caíram no inferno as
almas. Como Eu fui ofendido! Como me renovaram a minha paixão! Muitas também
que mereciam lá estar, mas poupei-as pela tu reparação. Não posso exigir mais
de ti, dando-me o teu corpo e dizendo tudo ao pai espiritual para ser comunicado
às almas. Queres ver os anjos?
E eu disse a Nosso Senhor:
— Mostrai-mos,
Jesus, Mostrai-mos Jesus.
Principiei, então, a ver uma coisa alta do
feitio do Céu com uma cor tão linda! Via nela não sabia o quê. Não sei como
fiquei. Como havia de mandar eu dizer a Vª Revª que eram os anjos se eu não
divisava o que era?
Dizia-me Nosso Senhor:
— Faço isto para te obrigar a obedeceres
e a escreveres e a confiares nisto.
Do meio saiam à moda de uns raios dourados e
dizia-me Nosso Senhor que era o amor com que eles O amavam, via também à moda
de um altar em ponto grande e no meio parecia-me uma pombinha branca. Por cima
tinha muitos, muitos anjinhos; estavam em torno sobre a SS. Trindade. Passados
alguns momentos voltei a vê-los; já os divisava melhor. Eram mais vastos do que
moinhos. Parecia que estavam aos montes. Via mais outras coisas, eram os querubins
e os serafins. Disse-me Nosso Senhor:
— Vê-los? Há-de ir a tua alma para o Céu
cercada deles.
Sentia todo aquele calor e força de que tenho
falado a Vª Revª e uma união tão grande com Nosso Senhor que não podia deixar.
E disse-me o meu Jesus:
— Manda dizer ao teu pai espiritual que
Eu quero que sejam realizados os teus desejos: quero que sejas visitada por
ele. Foi a ele que confiei a tua alma e teus segredos. O tempo passa. Não
queiras nada do mundo: vive como se estivesses comigo em corpo nos meus
sacrários que Eu vivo em ti como lá. É a paga do amor que me tens e de quereres
viver lá unida a mim.
No dia seis, pouco depois da Sagrada Comunhão,
falava-me Nosso Senhor:
— Ó filha, tu não te cansas de me dizer
que habite em ti, e Eu não me canso de em ti viver. E como me hei-de cansar se
tu és o meu anjo, a companheira fiel dos meus sacrários! Continua a tua missão
que dentro de pouco acabará. Deixa-me que te diga que o teu fim está próximo.
Vive nos meus sacrários; pede-me pelos pecadores. O meu coração está angustiado
nos sacrários. Eu chamo-os por todos os modos: infelizes. Estão surdos à minha
voz divina, estão cegos à luz do seu Deus. Sofre, minha filha, que os teus sofrimentos
e aflições transformar-se-ão, dentro em pouco, em rosas cobertas de pérolas
preciosas. Minha filha, à volta de ti é o paraíso. Os anjos, os querubins, e os
serafins e a minha Mãe Santíssima. Como Eu sou bem louvado por eles! Queres
voltar a vê-los?
Eu disse que sim ao meu Jesus. Principiei, então,
a ver tantas coisas! Um movimento tão grande! Pelo meio tinha tantos, tantos
parecia fios dourados entrelaçados uns nos outros! E dizia-me Nosso Senhor:
— É o amor em que eles ardem por mim.
Sentia um calor tão forte e uma força a
abraçar-me! E dizia-me Nosso Senhor:
— Amo-te tanto! Faz que eu seja amado
que, dentro em pouco, amar-me-ás e contemplar-me-ás para sempre no Céu.
Por hoje mais nada. Muitas lembranças da minha
mãe, da Deolinda. da Senhora Dª Sãozinha, destes dias não sei nada, pois está
para Braga.
Por caridade, não esqueça de pedir por mim que
preciso muito para eu fazer em tudo a vontade de Nosso Senhor, que eu também
tenho pedido muito a Jesus por Vª Revª e prometo continuar. Fico ansiosa por
receber uma cartinha de Vª Revª.
Abençoe, por caridade, a pobre
Alexandrina Maria da Costa.
Sem comentários:
Enviar um comentário