Sem luz e sem director...
A vontade está
pronta para mais e mais me dar ao Senhor, para mais e mais me imolar e Lhe dar
almas. À pobre natureza tudo lhe repugna; até agora o não poder ver a luz e ter
de fazer do meu quarto uma masmorra escura. Parece que quase me leva ao
desespero ao precisar de ar e não poder ver a luz. É tal a aflição que me
parece que todo o meu ser se estrancinha. Então chamo por Jesus, por aquele
Jesus que sinto ter perdido com a Mãezinha, por aquele Jesus em que sinto não
acreditar, pois quantas vezes, meu Deus, me parece ter perdido a fé e não
acreditar nas verdades da Santa Igreja, nem na vida eterna! Mesmo com o
sentimento de nada acreditar, invoco o Céu em meu poder. Vou repetindo o «creio
na vida eterna».
Oh, vida sem
vida! Oh, vida sem fé!
Meu Deus, meu
Deus, como é custoso passar os meus dias assim!
Não sei descrever
quanto me custou não ter, no primeiro sábado deste ano, a visita, o colóquio
com a Mãezinha! Tremo e temo os últimos dias do meu exílio.
Ai de mim, se
deixo de confiar. Ai de mim, se nesta luta da alma, nestes sofrimentos
indizíveis o combatente não for Jesus! Que trevas, que abandono! Não sou da
terra nem do Céu, não sou de Deus nem de ninguém!
Foi esta a minha
subida para o calvário. Eu não deixava de dizer:
Fazei, Jesus que
as minhas trevas façam luz e que o meu fechar de olhos abra os olhos a todas as
almas que os têm fechados para Vós, para os vossos caminhos.
Creio, creio
sempre!
Não há calvário
nem Céu para mim: que o haja para todas as almas, filhas do vosso Sangue, que
eu entre no número delas também.
Creio, creio,
creio assim.
Nesta luta
bradou-me Jesus:
— Ó minha
filha, ó minha esposa querida, Eu estou aqui no tabernáculo do teu coração.
Repete o teu «creio». Estou aqui. Tu és o sacrário onde Eu habito dia e noite
sem Me ausentar. Tu és a hóstia que comigo se imola. Tu és a hóstia que as
almas comigo comungam.
Vives comigo na
Eucaristia, vives a minha vida.
Nesta imolação
contínua, nesta união inseparável, nesta vida tão mística e divina as almas por
ti Me recebem.
A tua dor, o teu
sangue, oh, moeda incomparável!
A tua vida
misteriosa, a tua vida onde está toda a ciência de Deus, a sabedoria
omnipotente, a vítima que em tudo se assemelha ao Altíssimo!
Imola-te,
deixa-te imolar!
São as almas que
comigo e minha Bendita Mãe vamos salvar.
Ó mundo criminoso
e nojento, ó mundo ameaçador da justiça de Deus, converte-te, converte-te!...
Minha filha,
minha querida filha, vamos a salvar as almas. As almas, as almas!...
Não penses em
evitar o castigo que ao mundo espera, mas sim em poupá-las às penas eternas.
Coragem, minha
filha, coragem nas tuas dúvidas, nas tuas trevas!
Avisei-te de tudo
isto. Tem coragem. Os teus colóquios vão ser ainda mais dolorosos. Eu virei
apenas confortar-te, dar-te o meu Sangue, dar-te coragem para tudo suportares e
repetir-te:
Estou aqui; sou
Jesus; estou contigo!
Tu, esposa,
vítima amada, não terás o sentimento real da minha presença em ti. Tens que
acreditar sem amor, sem luz e sem fé.
Coragem! Coragem!
Crê! Crê! O mundo exige”.
Enquanto Jesus
falava, fez-me sentir e ver que realmente o meu coração era um sacrário da sua
habitação, que o seu sacrário era também a minha morada, o mesmo cibório com
Ele, a mesma hóstia era oferecida ao Pai.
A minha imolação
com Ele era contínua. Tive luz e visão clara, compreensão completa de tudo
isto.
— Ó Jesus,
eu aceito tudo. Em tudo Vos quero amar. Só quero as almas e a vossa divina
vontade.
Não me deixeis
desesperar, não me deixeis desesperar! Confio em Vós.
Eu a acabar de
falar, todas as trevas me submergiram e Jesus desapareceu.
Jesus, eu creio,
Jesus, eu amo-Vos. Conto com Vós! Espero em Vós até ao último suspiro.
Ele depressa
veio. Não O vi, só O senti. Uniu o seu coração ao meu e disse:
— Minha
filha, minha filha, aqui estou a dar-te vida nas trevas, para que das trevas
saia luz. Tu és farol, tu és vida, tu és a ressurreição e a vida das almas. Dor
e sangue, dor e sangue, ó escudo sagrado pelo Divino! Coragem, filha, coragem!
Acode às almas que, depois de MIM, são tudo. Oh, sabedoria, ó ciência de Deus!
Oh, meios escolhidos para a nova redenção das almas!
Desapareceu Jesus
e eu fiquei tão só e em tanta dor que nem me lembrei de Lhe fazer os meus
pedidos. Só depois Lhos fiz, como se Ele ainda estivesse presente.
— Ó meu
Deus, ó meu Deus, como hei-de viver?!... Compadecei-Vos de mim!...
(Beata
Alexandrina: Sentimentos da alma de 14 de Janeiro de 1955, ano da sua morte)
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