sexta-feira, janeiro 15, 2021

DOLOROSOS ESTADOS DA ALMA

 Sem luz e sem director...

A vontade está pronta para mais e mais me dar ao Senhor, para mais e mais me imolar e Lhe dar almas. À pobre natureza tudo lhe repugna; até agora o não poder ver a luz e ter de fazer do meu quarto uma masmorra escura. Parece que quase me leva ao desespero ao precisar de ar e não poder ver a luz. É tal a aflição que me parece que todo o meu ser se estrancinha. Então chamo por Jesus, por aquele Jesus que sinto ter perdido com a Mãezinha, por aquele Jesus em que sinto não acreditar, pois quantas vezes, meu Deus, me parece ter perdido a fé e não acreditar nas verdades da Santa Igreja, nem na vida eterna! Mesmo com o sentimento de nada acreditar, invoco o Céu em meu poder. Vou repetindo o «creio na vida eterna».


Amo-Vos, meu Jesus, amo-Vos! Sou a vossa vítima. Só quero que em mim se faça sempre a vossa vontade.

Oh, vida sem vida! Oh, vida sem fé!

Meu Deus, meu Deus, como é custoso passar os meus dias assim!

Não sei descrever quanto me custou não ter, no primeiro sábado deste ano, a visita, o colóquio com a Mãezinha! Tremo e temo os últimos dias do meu exílio.

Ai de mim, se deixo de confiar. Ai de mim, se nesta luta da alma, nestes sofrimentos indizíveis o combatente não for Jesus! Que trevas, que abandono! Não sou da terra nem do Céu, não sou de Deus nem de ninguém!

Foi esta a minha subida para o calvário. Eu não deixava de dizer:

Fazei, Jesus que as minhas trevas façam luz e que o meu fechar de olhos abra os olhos a todas as almas que os têm fechados para Vós, para os vossos caminhos.

Creio, creio sempre!

Não há calvário nem Céu para mim: que o haja para todas as almas, filhas do vosso Sangue, que eu entre no número delas também.

Creio, creio, creio assim.

Nesta luta bradou-me Jesus:

— Ó minha filha, ó minha esposa querida, Eu estou aqui no tabernáculo do teu coração. Repete o teu «creio». Estou aqui. Tu és o sacrário onde Eu habito dia e noite sem Me ausentar. Tu és a hóstia que comigo se imola. Tu és a hóstia que as almas comigo comungam.

Vives comigo na Eucaristia, vives a minha vida.

Nesta imolação contínua, nesta união inseparável, nesta vida tão mística e divina as almas por ti Me recebem.

A tua dor, o teu sangue, oh, moeda incomparável!

A tua vida misteriosa, a tua vida onde está toda a ciência de Deus, a sabedoria omnipotente, a vítima que em tudo se assemelha ao Altíssimo!

Imola-te, deixa-te imolar!

São as almas que comigo e minha Bendita Mãe vamos salvar.

Ó mundo criminoso e nojento, ó mundo ameaçador da justiça de Deus, converte-te, converte-te!...

Minha filha, minha querida filha, vamos a salvar as almas. As almas, as almas!...

Não penses em evitar o castigo que ao mundo espera, mas sim em poupá-las às penas eternas.

Coragem, minha filha, coragem nas tuas dúvidas, nas tuas trevas!

Avisei-te de tudo isto. Tem coragem. Os teus colóquios vão ser ainda mais dolorosos. Eu virei apenas confortar-te, dar-te o meu Sangue, dar-te coragem para tudo suportares e repetir-te:

Estou aqui; sou Jesus; estou contigo!

Tu, esposa, vítima amada, não terás o sentimento real da minha presença em ti. Tens que acreditar sem amor, sem luz e sem fé.

Coragem! Coragem! Crê! Crê! O mundo exige”.

Enquanto Jesus falava, fez-me sentir e ver que realmente o meu coração era um sacrário da sua habitação, que o seu sacrário era também a minha morada, o mesmo cibório com Ele, a mesma hóstia era oferecida ao Pai.

A minha imolação com Ele era contínua. Tive luz e visão clara, compreensão completa de tudo isto.

— Ó Jesus, eu aceito tudo. Em tudo Vos quero amar. Só quero as almas e a vossa divina vontade.

Não me deixeis desesperar, não me deixeis desesperar! Confio em Vós.

Eu a acabar de falar, todas as trevas me submergiram e Jesus desapareceu.

Jesus, eu creio, Jesus, eu amo-Vos. Conto com Vós! Espero em Vós até ao último suspiro.

Ele depressa veio. Não O vi, só O senti. Uniu o seu coração ao meu e disse:

— Minha filha, minha filha, aqui estou a dar-te vida nas trevas, para que das trevas saia luz. Tu és farol, tu és vida, tu és a ressurreição e a vida das almas. Dor e sangue, dor e sangue, ó escudo sagrado pelo Divino! Coragem, filha, coragem! Acode às almas que, depois de MIM, são tudo. Oh, sabedoria, ó ciência de Deus! Oh, meios escolhidos para a nova redenção das almas!

Desapareceu Jesus e eu fiquei tão só e em tanta dor que nem me lembrei de Lhe fazer os meus pedidos. Só depois Lhos fiz, como se Ele ainda estivesse presente.

— Ó meu Deus, ó meu Deus, como hei-de viver?!... Compadecei-Vos de mim!...

(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma de 14 de Janeiro de 1955, ano da sua morte)

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