Primeira mensagem de 1945
– Jesus,
quais são os miminhos que de Vós vou receber neste novo ano? Estou cheia de
medo, ou mais ainda, cheia de pavor. Venha o que vier, pelo muito que eu seja
ferida, humilhada e abatida, com a Vossa graça divina a tudo direi: “Seja
bem-vindo, faça-se a vontade de Jesus; sou vítima do meu Amor, vítima das
almas”. Confesso, meu Jesus, que o meu maior receio é a minha fraqueza, temo
ofender-Vos. Confio em Vós; seja firme o meu amor e subirei alegre o meu
calvário. Reparai e vede, Jesus, as ânsias que tenho; se não fôsseis Vós,
tiravam-me a vida. Queria nascer agora, mas já Vos conhecer para nunca manchar
o meu corpo. Queria que comigo nascesse o mundo inteiro e que todo ele já Vos
conhecesse também para não se deixar manchar. Queria um coração novo, mas que
sempre Vos tivesse amado para nunca deixar de Vos amar. O mesmo querer tenho
para todas as criaturas, para assim Vos amarem com o mesmo amor que para mim
desejo. Onde hei-de esconder-me e comigo esconder o mundo? Onde hei-de
purificar-me e purificar o mundo a não ser em Vós? Escondei-me, purificai-me.
Fazei-me nascer agora para a graça e para o amor e comigo nascer o mundo, mas
de tal forma como se eu nem ele Vos tivesse ofendido. Não sei onde estou; não
vivo neste exílio nem vivo no Céu. Parece-me viver entre ele e a terra. Fui
para esta morada, comigo levei o mundo, morada sem luz, sem vida e sem nada. A
minha alma rasga-se de dor, é indizível o que sinto em mim. Meu Deus, que
derrota! Não tenho luz, e roubaram-me os guias de tão tremendos caminhos. Morro
na escuridão, Jesus, morro desfalecida. Vinde, vinde com a Mãezinha, dai-me
força, dai-me vida.
Não posso pensar
nos combates do demónio, tremo de horror. Ele arma tantas ciladas para
prender-me! Forma tantos assaltos à minha alma! Parece-me morrer de dor. Ouço a
sua voz maldita desafiadora. E quando fica só assim! O que mais me aflige é
quando ele faz o que há de pior. Na manhãzinha de ontem, preparava-me para
comungar e logo a alma principiou a sentir os seus assaltos. A minha preparação
foi um terrível combate. Que vergonha a minha à chegada de Jesus ao meu
coração! À voz de chamada do demónio vieram muitos demónios. E o maldito
dizia-me:
– Tu és o
manjar mais delicioso para todos os demónios do inferno. Olha como te preparas
para comungar. É assim que és uma esposa de Jesus! Não és, não és, Ele não te
quer, és minha, dá-me o teu coração. Se mo deres por vontade, dou-te o mundo
com todos os encantos, grandezas e prazeres.
Nesta altura,
consegui renovar a Jesus a minha oferta de vítima e escrava.
– Não quero
o mundo nem nada que lhe pertença, meu Jesus, o que eu quero é não pecar.
Amar-Vos só e não magoar o Vosso Coração divino.
O demónio
redobrou de raiva. Sentia que o que ele queria era que eu lhe desse de boa
vontade o meu coração e com ele o mundo. O meu corpo estava desfeito com o
cansaço. O momento era grave. Ao parecer-me estar tudo perdido, não haver
remédio para mim, bradei ao céu de alma e coração:
– Pecar não!
Valei-me, Jesus!
Cessou a luta,
mas ficaram-se na alma uns tristes efeitos. Uma tristeza tão grande por não ter
pecado, parecia-me que gostava ter ofendido a Jesus. Que aflição a minha! O
demónio, mais retirado, continuava raivoso; queria voltar a arrancar-me a alma
e a despedaçar-me o corpo. A pouco e pouco, uma suavidade e paz apoderaram-se
de mim, invadiram-me toda. Jesus fez-me sentir que tudo o que se passava na
minha alma eram efeitos do demónio. Era ele que tinha pena de eu não ter pecado
e estava raivoso por não o ter conseguido. Chegou logo Jesus para eu O receber;
gozava uma grande paz, mas muito triste, tímida e envergonhada. Logo que O
recebi, esqueci por algum tempo tão tremenda e feia luta.
Hoje, voltou o
maldito com outro ataque infernal. Só Jesus vê a dor que me vai na alma.
Disse-me que eram as pessoas cúmplices do meu crime, ensinou-me a pecar.
– Meu Deus,
como sair disto sem Vos ofender? Só com a Vossa graça. Por misericórdia Vossa,
só nos momentos da luta eu sei e compreendo as lições do mafarrico. É mais uma
prova do Vosso infinito amor. Só Vós sabeis quanto eu quero amar-Vos e reparar
as ofensas feitas contra o Vosso divino Coração e nunca manchar o meu corpo nem
a minha alma. Triste quinta-feira que me dás a sexta!
A minha alma está
cansada de tantos sofrimentos, de tanta dor que a espera. Temo as horas que se
aproximam, temo a morte. O céu está revoltado com tanta ingratidão da terra.
Temo tudo, mas por tudo quero passar; quero morrer para dar a vida!
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