Sofro e morro de dor
Jesus continua na
cruz e dentro de mim, de mim que não vivo nem existo. Ai, o doce Jesus de
braços e Coração abertos! Queria dizer quanto Ele sofre e ama; sei sentir, não
sei dizer, não me chega a língua, não sou capaz. Sofro e morro de dor. O que
daria eu para poder fazer compreender a todos uma ofensa feita ao Coração
Divino de Jesus, e quanto Ele nos ama apesar de tudo! Assim caminhei para o
calvário com esta sede de me dar a conhecer às almas, de me dar a elas, de
morrer por elas. Nunca caí tantas vezes como hoje. Que repetidas quedas! Que
desfalecimento tão grande! O meu corpo gelava-se sem sangue; o coração não
palpitava, os lábios não tinham vida. O amor venceu, foram as cordas que me
arrastaram. Os meus lábios moribundos tinham sede ardente, mas o coração mais
sequioso estava; quer beber a amargura até à última gota, tudo quer sofrer,
porque a todos ama. Tudo quer dar para tudo receber. No alto da cruz sentia no
meu corpo os maus-tratos do mundo, era como se fosse por todo ele apedrejado;
sentia mesmo como se as pedras me ferissem. No Coração Santíssimo de Jesus, que
estava em mim crucificado, vi sair uns raios de fogo, pareciam raios de sangue.
Aqueles raios vinham estender-se sobre todos aqueles de quem o meu corpo sentia
os maus-tratos, as pedradas. Que ternura e compaixão saía daquele Coração tão
amante! Dos meus olhos moribundos, já sem vista para o mundo, saíam para ele os olhares mais doces, mais
ternos e amantes; eram olhares que penetravam tudo e a todos; viam toda a
maldade e ingratidão. Foi assim que veio Jesus. Veio, prendeu-me e demorou-se
bastante tempo sem me falar. Tomou em Suas divinas mãos o meu coração e fez
dele uma grande bola que momentos depois colocou no lugar do coração. (Alexandrina
Maria da Costa: 22 de Junho de 1945)