“Quero regar os Vossos pezinhos...”
Depois da
noite vem o dia. Depois de muito sofrer, veio novamente Jesus compor tudo.
Já
tive outra vez Missa no meu quarto. Foi no dia 22 que recebi esse mimo do Céu.
Os homens só vêem, enquanto que Jesus os deixa. Devia ser um dia de consolações
e alegria, mas não o permitiu o meu Amado. Bendizia-O e louvava-O por tudo. Ele
ama quando consola e ama quando fere; é sempre amor, amor sem igual.
Como não
sabia assistir à Santa Missa, como de costume ocupei o Céu, pedi à Mãezinha que
assistisse Ela por mim, com os sentimentos d’Ela e não os meus, que
acompanhasse a Jesus, que merecesse Ela por mim e fizesse Suas as minhas
intenções e que unida a Jesus me oferecesse ao Eterno Pai na mesma imolação e
sacrifício. Principiei assim o bercinho para o Menino Jesus para o dia de
Natal.
Mas, ai! Pobre de mim, o presépio que Lhe preparei foi muito pior ainda do
que o de Belém. Sofri tanto, tanto! Meu Deus, que dor infinita! Não há palavras
que a possam exprimir. Foi de tal forma a noite pavorosa, foi tão tremenda a
tristeza e agonia que me levou a pensar a sério se seria o último Natal que
passava na terra. Seja o que Jesus quiser. Preparei-Lhe o bercinho com
espinhos, com as minhas infidelidades e imperfeições. Tudo isto me fazia sofrer
mais e mais.
À meia-noite, na hora do nascimento de Jesus, abraçada a uma
imagem d’Ele, humilhada por causa dos meus pecados, pedi-Lhe muito perdão e,
debulhada em lágrimas, dizia-Lhe: quero regar os Vossos pezinhos. Aceitai-mas
como se fossem lágrimas de perfume, o incenso, o ouro e a mirra dos Reis Magos.
Renovei-Lhe o meu completo abandono e pedi-Lhe que fosse perfeito o mais que
fosse possível. No meio de tudo isto, no meio de toda a morte, quando tudo era
vida e alegria para os outros, uma coisa tive a meu favor: a paz do Senhor
reinava na minha alma. Não me desesperei. Que graça tão grande do Senhor!
Os
dias vão passando e eu vou vivendo naquele abandono a que me entreguei,
sofrendo, sofrendo, sofrendo sempre. Quanto mais sofro e me parece que nada
mais posso sofrer, maiores são as ânsias de mais sofrimentos. São tão grandes
como o Céu, são tão grandes como Deus. Quero consolá-Lo, quero amá-Lo, quero
dar-Lhe almas. E para isso repito-Lhe: quero dor, meu Jesus, sempre mais dor.
Sede a minha força, meu Jesus.
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Sentimentos da alma, 26 de Dezembro de 1952.
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