sexta-feira, setembro 27, 2019

A VIDA PÚBLICA DA ALEXANDRINA


A Beata Alexandrina, nos primeiros anos da sua vida mística, viveu no seu quartinho quase sozinha: apenas a família e alguns amigos estavam ao corrente do seu estado de vítima voluntária para a salvação dos pecadores.
Mas, pouco a pouco, a sua fama de santidade foi-se espelhando pelas freguesias vizinhas e depois ao Norte de Portugal e finalmente a Portugal de Norte a Sul e mesmo no estrangeiro.
No princípio a que mais de perto lidou com ela foi sua irmã Deolinda que se ocupava carinhosamente da sua toilette e depois, quando as locuções interiores começaram, de escrever o que Alexandrina lhe ditava.


De facto, derivado à doença, a Doentinha de Balasar tinha dificuldades em segurar a caneta em suas mãos o que levou a Deolinda a tornar-se a sua “secretária”, a mais da sua primeira confidente.
Esta irmã, cuja caridade foi, exemplar, recusou casar-se para poder ocupar-se da irmã, o que constitui sem qualquer dúvida um acto corajoso e louvável.
Depois, quando a fama da Alexandrina passou além fronteiras da freguesia, era também a Deolinda que se ocupava das visitas. Se elas eram poucas no princípio, não se pode dizer o mesmo mais tarde, porque chegaram a passar no quarto da Beata mais de 6000 pessoas, em grupos, num só dia.
A todos estes visitantes ela dirigia palavras carinhosas e ensinamentos que a muitas e muitos fizeram mudar de vida.
A um grupo numeroso, antes que todos voltassem a casa, ela dirigiu estas palavras cheias de ensinamentos:
«Antes que todos se retirem, quero dizer-vos algumas palavras:
— Que esses olhares curiosos, fixando todos um só olhar, que todas as pessoas que me escutam, tirem algum proveito do meu martírio para as suas almas. É a razão que me leva a imolar-me; é a razão que me leva a sacrificar-me; é a razão que me leva a aceitar de Jesus tudo o que ele me quer dar — todo o sofrimento que Nosso Senhor me quer enviar — eu sempre aceito tudo.»
Depois, estas palavras onde ela lembra o que se dizia dela em algumas regiões. Ela não se queixa, mas serve-se delas como um exemplo, como um meio de sofrimento que ela oferece:
«Quereis afastar a justiça de Nosso Senhor?
Oh! então despachai-vos, arrepiai caminho, fazei penitência pelos vossos pecados e mudai de vida. Infelizmente, não sou uma santa, mas tenho a obrigação de ser. Vós também tendes essa obrigação, porque Nosso Senhor nos convida à santidade. Pouco me importa que me chamem bruxa — e é verdade que alguém me chama assim — pouco me importa que me considerem uma hipócrita. Isso também não me importa.
Quanto sofreu Nosso Senhor? O que não foi dito sobre Ele? E, apesar disso, calou-se; cristãos, calou-se! Infelizmente, eu não me calo como Nosso Senhor se calou, eu me insurjo sempre, me levanto, o meu ego rebela-se, de vez em quando, mostrando o que eu realmente sou. Mas, eu gostaria de ser uma bruxa, uma bruxa para Jesus. Isso é o que gostaria de ser.»
E prossegue com a mesma fuga:
«Para quê? Para quê?
Mas para vos enfeitiçar a todos, para vos dar a Jesus, porque é a Jesus que eu quero procurar toda a alegria; é por Jesus que eu amo todas as vossas almas. Muitos dos que estão aqui, eu não os conhecia, mas já os amava, já estava sofrendo e rezando por eles.»
E, quase ao terminar o seu longo “sermão” — que muitos sacerdotes gostariam de ter feito — ela diz ainda:
«Eu tinha dito a todos: “Aproveitai do que ouvistes, que as minhas palavras — ditas com tanto sacrifício — caiam sobre os vossos corações e fiquem impressas em letras de fogo; que elas jamais se apaguem...
Amai Jesus e a Mãezinha! Amai Jesus e a Mãezinha! Amai Jesus e a Mãezinha!
O meu coração está cheio dele e os meus lábios só falam do que o meu coração está cheio! Amai Jesus! Aquele que ama não ofende a Deus, e aquele que não ofende a Deus também não ofende ao seu próximo.
Jesus tinha dita à Alexandrina que ela viveria a sua vida pública e, de facto, quando o Arcebispo de Braga levantou a proibição de a visitarem, começou então esta “vida pública” com milhares e milhares de visitantes, sendo muitas vezes necessária a presença da polícia para canalizar o povo e evitar desordens.
Este “sermão” da beata Alexandrina de que falei encontra-se transcrito num dos livros que escrevi sobre ela e que se intitula “Flor eucarística”.
Afonso Rocha

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