sábado, setembro 28, 2019

ALEXANDRINA E ERMESINDE


Falar da Beata Alexandrina e da pequena cidade de Ermesinde pode parecer estranho para alguns, sobretudo sabendo que a “Doentinha de Balasar” nunca visitou Ermesinde, nem mesmo quando foi internada no antigo Hospital da Foz do Douro, dirigido pelo Dr. Gomes de Araújo.

Para aqueles que não conhecem, Ermesinde é uma pequena cidade situada a menos de 10 quilómetros da cidade do Porto e faz parte do conselho de Valongo.

Antiga igreja Martiz de Ermesinde

A Matriz, situada quase no centro do burgo é de construção recente e tomou o lugar de uma velha igreja que viu passar na sua estreiteza algumas celebridades do tempo, entre as quais o Padre Avelino de Assunção — pároco de Ermesinde de 1914 a 1956 —, sacerdote muito activo e empreendedor que mereceu da municipalidade que o nome de uma das ruas da cidade lhe perpetue a memória bem merecida.

Mas então, se a beata Alexandrina nunca veio a Ermesinde, porque falar dela e desta cidade?
Porque dois dos mais importantes personagens que marcaram a vida da Beata aqui estiveram e marcaram indelevelmente as suas passagens por aqui.


O Dr. Augusto de Azevedo
O Padre Mariano Pinho

O primeiro deles foi o Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo que depois de ter abandonado o Seminário de Braga, veio, nos anos 30, leccionar no Colégio de Ermesinde, colégio situado junto à bem conhecida igreja de santa Rita.

Ele não se limitou ao ensino das Letras aos jovens que frequentavam o Colégio, mas dedicou-se igualmente à catequese, não só na igreja vizinha, mas também na velha Matriz e noutras paróquias que solicitavam a sua ajuda.

Foi durante a sua estadia em Ermesinde que ele decidiu começar os estudos de medicina.
Tendo obtido com êxito os devidos diplomas, voltou para Ribeirão, sua terra natal — freguesia situada perto de Famalicão e de Balasar — onde foi exercer a sua actividade médica.

Foi nesse tempo que conheceu a Alexandrina, tornando-se seu médico assistente em 14 de Fevereiro de 1941, assistência que durou até à morte dela em 1955.

O Dr. Azevedo não somente foi médico assistente da Beata, mas também seu conselheiro, em determinados momentos, quando por duas vezes, por exemplo, perdeu os seus directores espirituais.

Diplomado em teologia, a quando do seu tempo de seminarista em Braga, o médico dos corpos sabia também curar, ou ajudar a curar as almas.

O segundo personagem que passou por Ermesinde e que também interveio na vida da Beata de Balasar, foi o Padre Mariano Pinho — natural do Porto —, primeiro director espiritual da Alexandrina.

Este sacerdote Jesuíta disfrutava de grande fama de pregador — foi ele que pregou os exercícios espirituais aos Bispos portugueses reunidos em Fátima — e percorria Portugal de norte a sul para pregar tríduos… e também foi chamado a Ermesinde pelo Padre Avelino de Assunção para aqui pregar um tríduo, como prova uma carta escrita nesta paróquia à Alexandrina de Balasar.

A carta começa assim:

«Ermesinde, 9 de Agosto de 1937
Alexandrina:
Cá estou outra vez a importuná-la. Como tenho uma hora de espera pelo comboio, chega-me o tempo para lhe escrever.»

E como sempre, nas suas cartas à sua dirigida, a dita carta termina com a bênção:

«Abençoa-a em nome de Nosso Senhor,
Padre Mariano Pinho.»

Isto prova que ele aqui pregou provavelmente nos dias 6, 7 e 8 de Agosto de 1937, voltando depois para Braga, como ele explica na carta acima citada.

Eis porque se pode dizer que a Beata Alexandrina, sem nunca ter vindo a Ermesinde, tem com esta cidade um traço de união que, não sendo importante, merecia ser explorado e sublinhado.
Afonso Rocha

Sem comentários: