Alegra-me
contar-vos um caso muito particular sucedido no quarto da Alexandrina e que
mostra os seus dons “de ciência” e de bons “conselhos” extraordinários e a
misericórdia de Deus para com aqueles que são humildes, mesmo se grandes aos
olhos do mundo.
Como já
disse, a Alexandrina só esteve na escola 18 meses, durante os quais aprendeu as
bases de sua língua materna, o que permite dizer que ela tinha apenas uma
cultura rudimentar. Ela mal sabia ler e escrever!
Apesar dessa desvantagem,
ela foi dotada de uma ciência divina que surpreendeu todos os que a
questionaram sobre vários pontos difíceis da doutrina católica. Um exemplo
esclarecedor é o de um grande teólogo e professor de teologia num importante
seminário português.
«Um dia, um sacerdote,
teólogo confirmado, visitou a “Doentinha de Balasar”, fez-lhe muitas perguntas,
algumas das quais representavam dificuldades teológicas reais, e Alexandrina
respondeu-lhe com a simplicidade e humildade a que estava habituada. O
sacerdote, que não se considerava alguém tendo a “ciência infusa”, ficou
maravilhado com as suas respostas simples e de bom senso. Antes de partir,
perguntou à sua hóspede se ela concordaria em rezar com ele. Alexandrina
aceitou, e com alegria. O padre ajoelhou-se ao lado da cama e ambos recitaram
algumas orações. Ao levantar-se para partir, sua surpresa foi grande, porque já
não viu o rosto de Alexandrina, mas o do Cristo sofredor. Ele testemunhou
voluntariamente sobre este caso e acrescentou este comentário:
«Eu sou professor de teologia, mas
nunca ninguém me explicou com palavras tão simples e tão correctas o mistério
da Santíssima Trindade, como fez Alexandrina.»
Jesus tinha anunciado
diversas vezes que assim seria:
«Este bálsamo que ponho nos teus
lábios é para que sejam fortalecidos e fales às almas do meu amor, para que as
aconselhes com a luz do Espírito Santo, a fim de que se reconciliem comigo e
sigam a minha lei.» (S.
01-09-1950)
E ainda:
«Felizes aquelas (as almas) que se
aproximam de ti e que o teu olhar as atinge! É o meu olhar sobre elas, é o meu
olhar terno e compassivo. Criei-te para elas, para esta missão sublime.»
«Eu sou a tua vida; não tens vida
humana, tens vida divina. Não tens a vida da terra, Vives a vida do Céu.»
O professor de teologia
não sabia isto. Mas, é preciso dizê-lo, ele nos dá uma grande lição de
humildade e lealdade: sabia aceitar uma evidência e, talvez por causa dessa
humildade e simplicidade, o Senhor lhe concedeu a graça de ver seu santo Rosto. [1]
Noutras circunstâncias,
quando algumas pessoas se aproximavam de sua cama para pedir conselhos e até
graças por sua intercessão, Alexandrina não tinha necessidade de fazer
perguntas: ela sabia para o que vinham e quais eram os problemas de suas vidas:
ela lia nos corações daqueles ou daquelas que vinham ao seu encontro,
submetendo-lhe muitas vezes casos delicados.
Aconteceu que homens
viessem encontrá-la para que ela os ajudasse a abandonar os maus caminhos que
enveredavam. Ela aconselhava-os e rezava com eles.
Quando se preparavam para
sair do quarto, ela os chamava e a alguns dizia : “Dê-me a chave que tem
no seu bolso”. A chave do pecado, para certos homens casados, mas infiéis.
Ainda hoje existe, na
casa onde viveu a Alexandrina, uma cestinha que está quase cheia de chaves
dessas… as “chaves do pecado”.
Casos como o que contei,
aconteceram muitos, com outras pessoas e mesmo com os seus Directores
espirituais, os Padres Mariano Pinho e Humberto Pasquale.
O mesmo aconteceu
igualmente — e mais do que uma vez — com o Dr. Augusto de Azevedo, seu médico
assistente.
***
Vou contar-vos o que
aconteceu com o seu primeiro Director a quando do primeiro encontro entre eles:
No primeiro dia em que o
Padre Mariano Pinho, foi a Balasar para ali pregar um tríduo, o Pároco
confidenciou-lhe que tinha uma doente com uns sinais de algo de sobrenatural na
sua vida, mas que a ele lhe custava acreditar. O Padre Pinho logo se ofereceu
para a visitar e para fazer o que estiver ao seu alcance no discernimento dos
sinais. Foi prontamente convidado a levar-lhe a Sagrada Comunhão logo no fim da
Santa Missa. De bom grado aceitou.
Recolhido, levando o
Santíssimo Sacramento, lembrando o que o Pároco lhe havia confidenciado,
humildemente segredou ao Senhor:
— Se estais presente
e actuando as maravilhas da Vossa graça nessa alma, dignai-Vos fazer-me um
pequeno sinal.
Este curto pedido faz-nos
pensar em S. Tomé! E como S. Tomé, o Padre Mariano Pinho vai ter uma resposta
luminosa, como sempre são as respostas de Jesus aos homens de coração puro… e
não só!
Caminho feito, sobe as
escadas, vê a Alexandrina de olhar vivo como quem espera Nosso Senhor. Feitas
as orações rituais, chegou o momento de mostrar a Hóstia Santa, dizendo “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo!”, e, sem saber como, a Sagrada Hóstia desaparece de suas mãos para a
ver logo na boca da Alexandrina, que fica envolvida pela graça da Comunhão, o
momento maior e mais marcante de cada um dos seus dias.
Evidentemente, o Padre
Mariano Pinho ficou estupefacto, mas com a certeza que “o dedo de Deus” estava
ali, o que facilitou grandemente a longa conversa que ambos iam ter pouco
depois.
O Padre Manuel de Araújo,
homem de certa cultura e bom pregador, deve ter recebido a opinião do Jesuíta
com um certo alívio, ficando provavelmente menos céptico quanto ao caso da sua
paroquiana.
Pouco depois ele deixará
Balasar por motivos de saúde.
Na sua autobiografia a
Alexandrina recorda algumas vezes o Padre Manuel de Araújo.
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