MORTE APARENTE OU MORTE MÍSTICA
– Em 1935,
Nosso Senhor preveniu-me de que iria morrer antes da festa da Santíssima
Trindade de 1936. Como não conhecia outra morte, pensava que era deixar este
mundo e partir para a eternidade. Nesse tempo, tudo eram mimos, consolações e
alegrias espirituais. À medida que se ia aproximando o dia da Santíssima
Trindade, aumentava a minha alegria e contentamento. Ia passar no Céu a festa
dos meus tão queridos Amores, como lhes chamava: Pai, Filho e Espírito Santo.
Os males do corpo
iam aumentando e tudo dava sinal da minha partida. Dois dias antes, Nosso
Senhor disse-me que morreria das 3h às 3,5 da manhã e que mandasse vir o meu
Pai espiritual. Assim o fiz. Ele chegou ao cair da tarde e passou a noite junto
de mim. Preparei-me para morrer. Sua Reverência fez comigo um acto de inteira
resignação e conformidade com a vontade de Deus. Pedi perdão à minha família, a
cantar de alegria, assim:
Feliz, oh, feliz
Se eu tal conseguia,
Morrer a cantar
O nome de Maria!
Se eu tal conseguia,
Morrer a cantar
O nome de Maria!
Feliz quem mil vezes,
Na longa agonia,
Com amor repete
O nome de Maria.
Na longa agonia,
Com amor repete
O nome de Maria.
A aflição ia
aumentando, à hora marcada por Nosso Senhor, não sei o que senti, deixando de
ouvir o que se passava à volta de mim. O meu Pai espiritual e a minha família
rezaram o ofício da agonia, acenderam uma vela benzida, meteram-ma nas mãos,
mas eu já não dei por isso, e assim estive algum tempo.
Julgavam-me já
quase morta e choravam por mim. Nessa altura, já ouvi os choros dos meus;
principiei a respirar e, pouco a pouco, reanimei-me, mas, ainda debaixo do
mesmo estado, pensei: Estais a chorar e eu sempre morro. Estava sempre a ver
quando aparecia na presença de Nosso Senhor. Não tinha pena por deixar o mundo
e os meus queridos. Quando via que ia melhorar e que não se cumpriam as
palavras de Jesus, caiu sobe mim uma tristeza que não se pode calcular e um
peso esmagador.
Eram horas do meu
Director espiritual se retirar, não tendo tempo para me dizer umas palavrinhas
de conforto. Passei a festa da Santíssima Trindade como uma moribunda e dentro
de mim tudo era morte. As lágrimas corriam-me, as dúvidas eram quase
insuportáveis, porque não só me tinha enganado no que dizia respeito a este
dia, isto é, à morte, como também em tudo quanto Nosso Senhor me tinha dito
antes deste dia. Nos dois primeiros dias a seguir, parecia-me que todo o mundo
estava morto. Não havia sol, nem lua, nem dia para mim. Era quase insuportável
o meu viver. Aproximavam-se de mim a Deolinda e a Çãozinha, únicas pessoas que
sabiam do caso, e diziam: «Não falas para nós? Não te ris?» Eu respondia-lhes:
«Retirai-vos de mim!” Já não sou a mesma! Jamais me vereis rir; não haverá sol
que me alumie!» – e chorava. Debaixo da maior dor e amargura, falava-lhes de
tal forma que elas não tinham mais que me dizer.
Estavam as duas a
combinar em ir uma delas ter com o meu Director espiritual, quando de repente
apareceu o Sr. Dr. Oliveira Dias, que vinha em nome do meu Pai espiritual
confortar a minha alma. Sua Reverência tinha-lhe contado tudo e, como não
pudesse vir pessoalmente, pois estava em pregação, compreendendo bem o meu
sofrimento, tratou de nos aliviar.
Sua Reverência, o
Sr. Dr. Oliveira Dias, esclareceu-me o caso, contando-nos várias passagens que
se tinham dado com alguns santos e desde então fiquei a saber que se tratava da
morte mística, da qual nunca tinha ouvido falar. O Sr. Dr. Oliveira Dias
pareceu-me um anjo que veio do Céu serenar a tempestade da minha alma.
Continuei a viver muito atribulada, pois Jesus pareceu morrer também, ficando
alguns meses sem ouvir a Sua divina voz. Quando aumentava a agonia da alma,
recordava os casos que me tinham sido contados e animava-me com o que dizia o
meu Pai espiritual. (Autobiografia)
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