TENHO FOME, TENHO SEDE DE POSSUIR JESUS
Tenho fome, tenho
sede de possuir Jesus; não cessa, é devoradora. Quanto mais corro ao Seu
encontro, mais sinto Ele fugir. Perdi-O, perdi-O, não O encontro no meio de
tantas trevas. Infundo-me nelas cada vez mais, de olhos vendados e louca por
tão grande dor ato na cabeça as minhas mãos. Não digo bem: sinto que o faço e
que estou perdida no mar tempestuoso e encapelado, na noite mais negra e aterradora,
mergulhada em mundos de escuridão. Sinto e ouço o zunir dos ventos, as ondas
levantam-se à maior altura e baixam de novo serenamente. E eu sozinha, tão
sozinha, sem ninguém! Ao sentir tempestade tão desastrosa, fito-a, escuto-a,
mas com serenidade. Se morrer nela, morro por Jesus, morro pelas almas. Confio,
espero, o meu corpo pode sofrer tudo, pode desaparecer destruído com o furor da
tempestade, mas a alma tem o seu fim, há-de ir ao encontro de Jesus, Ele há-de
recebê-la, há-de ampará-la e levá-la para Ele.
— Ó mundo,
que tão ingrato tens sido para mim! E eu amo-te tanto; amo-te não pelos teus
falsos encantos, mas sim porque és de Jesus. A minha dor por vezes é quase
desesperadora. Oh! se não fosse Jesus e a Mãezinha! A Eles devo a minha
resistência a tudo.
Jesus prometeu e
não faltou: veio ontem e veio hoje, confortou a minha alma. Parece descer do ar
como a avezinha que baixa ao seu ninho. Ontem falou-me depois de por um bom
espaço de tempo me ter feito sentir o Seu divino amor e acalentar o meu coração
com o Seu bafo divino. Disse-me:
— Minha
filha, venho a ti com o meu amor que é a vida do teu corpo, que é a vida da tua
alma. Sou teu, estou aqui, confia, sou o teu Jesus.
Hoje fez-me
sentir a Sua divina presença em mim, fez dilatar fortemente o meu coração e
cobriu-o das Suas ternuras e carícias. Depois disto despertei como dum sono e
disse-Lhe:
— Muito
obrigada.
Só no dia vinte,
dia do Divino Espírito Santo, não veio, deixou-me todo o dia num prolongado
martírio. Escondi o mais que pude, com o sorriso, a dor que sentia. Mas então
nesse dia é que redobrou a ternura dos meus olhares, então é que eu via as
almas, escolhi-as, ia ao seu encontro, atraía-as, prendia-as com as doces
prisões que tinha em meu coração. E desde então vou-as enleando cada vez mais.
Sofro por possuir tudo isto no meio da minha miséria.
— Meu Deus,
guardar esta riqueza, que me não pertence, no meio da minha podridão! O que
eu sou, o que eu sou! Jesus, que horror!
De longe a longe, sinto os abalos na minha alma e junto com eles um
desassossego, com que um desespero, mas que não é meu. Abro os meus braços,
estendo-os na cruz, ofereço a Jesus o meu coração e deixo-me imolar, deixo-me
sacrificar. Tenho sede do amor de Jesus e não O amo. Tenho sede das almas e não
as salvo. Renovo a minha oferta de vítima e aceito o que Jesus quiser.
(Sentimentos da alma: 22-05-1945)
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