Abria os braços para abraçar a imensidade daquela dor
― Que estou eu, Jesus, aqui a fazer, se não evito os Vossos sofrimentos. Entrego-me em Vossas divinas mãos, sou a Vossa vítima.
Tudo isto aumenta em mim a sede ardente de amar a Jesus, de me dar a Ele, de viver para Ele. Aumenta-me esta sede, estas indizíveis ânsias, para mais e mais rápido tudo ver desaparecer e morrer. Bendito seja o que dá o Senhor. Se eu o soubesse corresponder ao Seu amor infinito para comigo!
Ontem, logo de manhã, vi Jesus, preso à coluna, e, no decorrer das horas, tudo era dor, tormento imenso à minha volta. Tudo o que era sofrimento me rodeava; sei que era dor, mas não sei exprimir-me. Montanhas negras e duras batiam contra o meu peito, feriam-mo, abriam-mo, deixavam-mo a sangrar. O Céu parecia repelir-me, não me querer fitar, mas dentro em mim ia uma força que não olhava ter que sofrer. Abria os braços para abraçar a imensidade daquela dor, e, mergulhada nela; queria dar vida à terra, queria dar luz, cuidava das coisas do Céu.Com os desejos de delas cuidar, sempre fui para o Horto, não com as minhas forças, mas com outras superiores a elas.
Lá, com a visão de tudo o mais que me esperava, que era a prisão, a cruz e o Calvário, abriu-se-me o coração e reguei de sangue a terra. Com os vestidos e cabelos nele ensopados fui para a prisão com Jesus e com Ele lá fiquei por muito tempo.
Hoje de manhã, voltei ao Seu encontro; comoveu-me o estado em que O encontrei; estava desfiguradíssimo, desfalecido, tiritava de frio. Mesmo na prisão estava de mãos atadas. Foi o meu corpo a prisão e os caminhos que o conduziram aos tribunais, foi o meu coração o pescoço, a cintura onde foram atadas as cordas para arrastarem Jesus. Assim segui com Ele o Calvário; viagem dolorosíssima e triste. Mesmo o sol parecia envergonhar-se; de vez em quando, escurecia-se. Repetidas vezes no Coração senti os puxões das cordas e Jesus cair por terra; quando caía os espinhos da coroa penetravam ainda mais fundo, as feridas abriam-se, rompia o sangue. Sem uma força sobre-humana não conseguia chegar ao fim da montanha. O sangue colava os divinos olhos de Jesus, caminhava às cegas. Contudo os Seus olhares divinos viam tudo e todos os sofrimentos, que ainda faltavam.
Fiquei com Ele pregada na cruz, tão presas à Sua dor e agonia, que nada havia que nos separasse. Era ainda no meu coração que Jesus, no Seu abandono, fitava o Céu, num brado profundo a Seu eterno Pai. Causava dó o Seu brado dorido que devia ser ouvido pelo mundo inteiro. Veio o momento de expirar; expirei com Ele. E desta vez a nossa separação e morte prolongou-se. Depois desta demora, veio Jesus ressuscitar-me e deu-me vida também, deu-me uma vida doentia. Eu falava com Jesus, e sofria ao mesmo tempo.
― Minha filha, tabernáculo do divino Espírito Santo, companheira inseparável de Meu Eterno Pai, sacrário da Minha habitação, paraíso das Minhas delícias, em ti habitamos sem nos separarmos; o divino Espírito Santo para te iluminar e instruir, o Eterno Pai para te acompanhar e admirar a obra da criação, Eu para te guiar, fortificar e dar a vida. É de Mim e para Mim que tu vives, é por Mim que és enriquecida, é com as Minhas riquezas que salvas as almas. Enchi-te, enriqueci-te como a nenhuma outra alma, porque por nenhuma sou assim amado; a todas ultrapassas na dor e no amor, a ti como a nenhuma outra Eu dei todas as Minhas graças e tesouros, a ti como a nenhuma outra Eu entreguei e confiei tão completa missão, a maior, a mais sublime missão e operei tantas e tão grandes maravilhas. Por nenhuma fui tão amado, não te igualou outra na generosidade, nem assim correspondeu às Minhas graças. Amas-Me muito, Minha filha, amas-Me a mais não poderes amar-Me, confia em Mim, confirma na afirmação do teu Jesus. Mas não é o bastante, quero mais, tenho sede de amor, sede devoradora.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 19 de Dezembro de 1947 - Sexta-feira).
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