– Minha filha – dizia a Mãezinha – dá ao mundo a vida que de mim recebes.
— Coragem a todos, o que é de Deus não morre; é certo o triunfo. Vou dar-te o sangue do meu divino coração, a minha vida divina da qual só vives e dás às almas. Dou a tua irmã como prémio da sua dor junto à tua cruz a promessa do céu sem o purgatório. Ainda darás essa alegria a mais alguém. Não te digo tudo hoje pelo muito que te custa.
Dito isto, do Coração divino de Jesus saíram muitos raios doirados que vieram ligar-se ao meu coração. O sangue de Jesus principiou a passar para mim, senti-me viver. Jesus cobriu-me de carícias e chamou pela Mãezinha.
– Dá, minha mãe, à tua filhinha a vida da graça, da pureza e amor. Levanta-a, que está caída. Dá-lhe tudo o que é teu para ela dar às almas. Guarda-a, que é tua e minha.
A Mãezinha tomou-me em seus braços. Ao tempo que me acariciava, juntou os lábios delas aos meus. Foi um sinal de alimento celeste; encheu-me, fiquei forte.
– Minha filha – dizia ela – dá ao mundo a vida que de mim recebes. A ti o confiei, eu e Jesus, em ti o guardamos, está fechado em teu coração. Não temas, não te é roubado por satanás. Dás às almas que te rodeiam e a quem amas a graça, a pureza e o amor que de mim recebes. Diz-lhes que tudo lhes manda a Mãe de Jesus. Assim como passa dos meus lábios para os teus, tudo passará dos teus para os deles. Com um beijo teu tudo receberão. Quando, com este pensamento de dares o que te dou, beijares alguém, é o Espírito Santo que te inspira, é para essa alma receber o que agora te dou.
Neste momento veio Jesus, fiquei entre Ele e a Mãezinha como numa fornalha de fogo vivo. E dizia-me:
– Vive, vive, filha amada, vive com esta vida do céu. Recebe e ama. Sofre e dá amor. A dor e o amor são o triunfo de todo o combate. Coragem, o teu calvário é o de maior salvação. Nenhuma gota do teu sangue se perderá; é por meu amor, é para as almas.
Deixei Jesus e a Mãezinha. Passados uns momentos, voltei para Eles e fiquei por algum tempo como que a dormir naquela fornalha de amor. Com as horas que passaram já tudo fugiu. Sinto-me no cimo do meu calvário a bradar ao céu:
– Estou sozinha, estou sozinha. Sustentai-me, Jesus, amparai-me, Mãezinha, não me deixeis cair.
(Sentimentos da alma, 6 de Janeiro de 1945).
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