A beata Alexandrina na Rádio “Voz dos Açores”
Amigos auditores, saúde e paz.
Na última emissão anunciei-vos que iria falar da primeira confissão geral
da Alexandrina.
Frei Manuel das Chagas. Foi ele que ouviu a “confissão geral” da pequenina Alexandrina. É legítimo pensar que ele deva ter sorrido! |
Esta aconteceu em Gondifelos, pequena aldeia a 4 km de Balasar.
Como ela conta na sua Autobiografia, ela foi para lá de manhã, com a irmã e
uma prima, porque as confissões eram de manhã e de tarde haveria sermão
confiado a Frei Manuel das Chagas.
Este frade franciscano gozava de grande renome em Portugal, sobretudo no
Norte, onde pregava muitos tríduos. São-lhe atribuídos cerca de 5000 sermões, o
que demonstra largamente a sua popularidade.
Esteve exilado na vizinha Espanha durante os primeiros anos da República e
da fúria anti-religiosa do Dr. Afonso Costa, ministro dos cultos, como é sabido
de todos.
As três moças confessaram-se ao bom frade e permaneceram na igreja, para
guardarem lugar e nem vieram para o adro brincar, o que seria normal para as
suas idades.
Mas deixemos que a Alexandrina nos conte:
Foi aos nove anos — portanto em
1913 — que fiz pela primeira vez a minha
confissão geral e foi com o Sr. P.e Manuel das Chagas. Fomos, a Deolinda, eu e
a minha prima Olívia, a Gondifelos, onde Sua Reverência se encontrava, e lá nos
confessámos todas três. Levámos merenda e ficámos para de tarde, à espera do
sermão. Esperámos algumas horas e
recorda-me que não saímos da igreja para brincar.
Naquela tarde a pequena igreja de Gondifelos iria estar cheia a deitar por
fora, por isso mesmo as três meninas tomaram precauções… Vejamos:
Tomámos nosso lugar junto do altar do Sagrado Coração de Jesus e eu pus os
meus soquinhos — galochas, como se diria nos Açores — dentro das grades do
altar.
Agora só era preciso ter paciência e esperar pelo sermão, algumas horas
mais tarde.
A pregação dessa tarde foi sobre o inferno — explica a Alexandrina.
Escutei com muita atenção todas as palavras de Sua Reverência, mas, a certa
altura, ele convidou-nos a ir ao inferno em espírito. Para mim
mesma disse: «Ao inferno é que eu não vou! Quando todos se dirigirem para lá, eu
vou-me embora!», e tratei de pegar nos soquinhos. Como não vi ninguém sair,
fiquei também, não largando mais os soquinhos.
Santa inocência!
E portanto, como mais tarde veremos, ela viverá as penas do inferno, depois
de ter vivido as do purgatório.
Depois deste sermão “medonho”, elas voltaram para Balasar e cada uma
continuou as actividades que lhes incumbiam.
A Alexandrina apaixonou-se pelos pobrezinhos e nunca veio um deles bater à
porta da família Costa, que não recebesse uma fatia de pão ou qualquer outro
alimento ou até agasalho de que dispusessem as três mulheres.
– Era muito amiga dos velhinhos, pobrezinhos e
enfermos — escreveu a Alexandrina — e, quando sabia que alguém não tinha
roupinha para se vestir, pedia-a a minha mãe e ia levar-lha, ficando por vezes
a fazer-lhe companhia.
Assim são os Santos de Deus.
Paz e bem e até à próxima emissão.
Afonso Rocha
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