“GRAVA-ME COMO UM SELO NO TEU CORAÇÃO”
Esta frase que se pode ler no Cântico dos Cânticos aplica-se
maravilhosamente bem à Beata Alexandrina que, bem nova ainda se consagrou a
Deus e a Ele se ofereceu para ser vítima pelos pecadores, porque o seu amor
era “forte como a morte”. Por isso mesmo, também ela poderia dizer
desse amor, que “os seus ardores são setas de fogo, chamas do Senhor”.
Na sua autobiografia, podemos ler o que ela escreveu sobre esta acto
heróico:
“Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima, e vinha, desde há
muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu-me tanto,
tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com
este amor à dor, toda me consolava em oferecer a Jesus todos os meus
sofrimentos. A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me
preocupava”.
Mais adiante, na mesma Autobiografia, a Beata escreveu ainda:
“Meu Jesus, quero amar-Vos, quero abrasar-me toda nas chamas do Vosso amor
e pedir-Vos pelos pecadores e pelas almas do Purgatório”.
Antes mesmo de ouvir aquelas três palavras que foram o lema de toda a sua
vida – amar, sofrer, reparar –, já ela toda se entregava, já ela
toda era oferta, já toda ela era amor e, “amor forte como a morte”! Eis
porque razão ela “não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo”,
porque este sofrer era amor, “amor que arde sem se ver, ferida que dói
e não se sente”, amor que nem “as águas torrenciais podem
apagar”, amor que “nem os rios o podem submergir”.
Este amor brotava do coração da Beata Alexandrina e transformava-se em
cântico mavioso, o cântico da esposa ao Amado, que num crescendo subtil e
poético transbordava de alegria:
“Ó Jesus, eu Vos ofereço o dia e a noite, o calor e o frio, o vento, a
neve, a lua, o luar, o sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir,
o meu sonhar, como actos de amor para os vossos Sacrários”.
“Sentada aos pés de Jesus, [ela] ouvia a sua palavra”, diz-nos o
Evangelho de hoje referindo-se a Maria Madalena.
O mesmo se poderia dizer da Alexandrina, cujo único prazer era ouvir a voz
do Senhor, a voz do Esposo celeste que tantas e tantas vezes a visitou, por
isso mesmo se pode pensar e deduzir que a Beata Alexandrina “escolheu a
melhor parte, que não lhe será tirada”, porque ela sabia que “uma
só coisa é necessária”: amar e que este amor se declinava para ela em amar,
sofre, reparar.
Afonso Rocha
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