Os dias e com eles as semanas, os meses, os anos passam, mas a Alexandrina permanece fiel ao lema de vida que Jesus lhe fixara em 1931: AMAR, SOFRER, REPARAR.
Poder-se-ia pensar que a sua vida era monótona, onde só a oração e o sofrimento tinham lugar.
Isso seria esquecer que a Alexandrina, desde nova, sempre foi muito alegre e que a sua alegria era comunicativa.
Mas como podia ela ser alegre e sorridente, quando todos os seus dias eram cheios de sofrimento e, muitas vezes de desgostos e decepções?
Não devemos esquecer que o seu sorriso era natural mesmo quando “enganador”!
Quantas vezes ela sorria às pessoas, quando o seu coração estava triste e que ela tinha mais vontade de chorar do que de rir.
Mas mesmo este sorriso “enganador”, como ela dizia, fora ela mesma que o pedira a Jesus, para que as pessoas que vinham a sua casa, não se dessem conta do sofrimento que lhe ia na alma…
«Dai-me para os meus lábios um sorriso enganador no qual eu possa esconder todo o martírio da minha alma.» escreveu ela no seu diário de 6 de Março de 1942.
“Esconder o martírio da minha alma”, disse ela. E na verdade muito sofria, não só às sextas-feiras quando vivia a Paixão de Cristo, mas mesmo noutros dias particulares, durante os quais Jesus lhe pedia grandes sofrimentos para reparar os pecados que nesses dias se cometiam, como por exemplo em dias de carnaval ou outras festas profanas onde não havia — nem há— freio para nada.
Nestes casos, como noutros, diante do sofrimento, sempre dizia com humildade: “Aceito por vosso amor, aceito pelas almas”. Mas não esquecia a sua pequenez, a sua fraqueza e logo dizia também:
“Não me falteis, meu Jesus, dai-me graça, força e amor”.
Não, a vida da Alexandrina tinha nada de monótono, bem pelo contrário: era uma vida activa, uma vida sempre voltada para Deus e para os homens, seus irmãos.
Quando recebia visitas, não só aquele sorriso “enganador” estava sempre presente nos seus lábios, mas destes saiam para todos boas palavras, bons conselhos para os ajudar a levar uma vida melhor e mais digna aos olhos de Deus.
Quantos ali vieram por curiosidade e voltaram convertidos, virados como uma tripa quando lavada… perfumados pelas virtudes daquela simples mulher que ali estava no leito de dor, vivendo apenas da Eucaristia.
Também vem dos seus escritos esta frase que sendo uma verdade, parece revestida de certo modo de algum humor, o que era próprio da Alexandrina:
«Os medos que sentia à crucifixão transformaram-se em saudades. Quanto não havia de custar a Nosso Senhor estar com o seu santíssimo Corpo na Cruz se a mim me custa tanto ter o meu pousado na cama!»
A um grupo de pessoas que a visitaram, ela fez um “sermão” que muitos sacerdotes gostariam de fazer e, começou assim:
— «Que esses olhares curiosos, fixando todos um só olhar, que todas as pessoas que me escutam, tirem algum proveito do meu martírio para as suas almas. É a razão que me leva a imolar-me; é a razão que me leva a sacrificar-me; é a razão que me leva a aceitar de Jesus tudo o que ele me quer dar — todo o sofrimento que Nosso Senhor me quer enviar — eu sempre aceito tudo.»
E logo a seguir, em forma de promessa que ainda hoje é válida, ela afirmou com toda a força da sua alma:
«Estou absolutamente certa, de que eu, que nesta terra nunca recusei nada a Nosso Senhor, que Ele também nada me recusará no céu.»
Esta certeza da Alexandrina está no entanto submetida a uma obrigação, como o são todas as promessas:
«Mas é absolutamente necessário que o aproveiteis; que a vossa vinda aqui não seja apenas por curiosidade, mas por necessidade de saber o que Nosso Senhor espera de cada um de nós.»
Terminarei como muitas vezes a Beata Alexandrina terminava uma página dos seus escritos:
Perdoai-me, Jesus; dai-me a Vossa bênção.
Afonso Rocha
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