Quando lemos as vidas dos Santos e Santas de Deus constatamos, quase
sempre, que foram mal percebidos e sobretudo que foram perseguidos.
Isto não nos deve causar admiração porque Cristo também perseguido e mesmo condenado
à morte e morte na cruz.
O Cónego Molho de Faria
Todavia os Santos tiveram opositores muito particulares: o próprio clero e
a Igreja nossa Mãe.
Poderia citar uma ladainha dos Santos e Santas que foram perseguidos pelo
clero, antes de serem colocados nos altares pelo mesmo clero e, algumas vezes
pelo mesmo clero que alguns anos antes os tinham perseguido ferozmente. Apenas
citarei dois deles:
S. João da Cruz, perseguido e molestado pelos próprios Carmelitas;
S. Pio de Pietrelcina, capuchino italiano que sofreu durante muitos anos a
perseguição, não só dos seus próprios colegas, mas também por parte de Bispos,
para quem ela era um quebra-cabeças.
Mais perto de nós temos o caso da Beata Alexandrina.
Primeiramente, por causa de ditos e mexericos orquestrados pelo Jesuíta
Padre Agostinho Veloso, perdeu o seu primeiro director espiritual, o Padre
Mariano Pinho.
Mais tarde perdeu também o seu segundo director espiritual, o Padre
Humberto Pasquale, por este ter tomado posição contra a comissão de inquérito,
mandatada pelo Arcebispo de Braga e que emitira um juízo desfavorável, dizendo
que nada havia de sobrenatural na vida da “Doentinha de Balasar”.
Esta comissão nomeada pelo Arcebispo de Braga tinha à sua frente o Cónego
Molho de Faria, que nunca interrogou a Alexandrina.
Sim, veio uma vez visitá-la mas unicamente para a ameaçar:
— “Lembra-te, Alexandrina, que o teu caso está nas minhas mãos.”
— “O meu caso, Sr. Cónego, está nas mãos de Deus”, respondeu ela
gentilmente.»
Na declaração final da dita Comissão, escrita pelo Arcebispo, podemos ler
na alínea A o seguinte:
a) que se faça silêncio sobre os
pretensos factos extraordinários atribuídos à referida doente ou de que ela se
afirma protagonista, os quais não devem ser expostos nem apreciados em público,
mas confinar-se quando muito ao âmbito restritamente privado.
Surrealista!
O Sr. Arcebispo de Braga — Dom António Bento Martins Júnior — tinha assinado pouco antes o pedido de
Consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, sabendo pertinazmente que
este pedido tinha origem em Balasar, portanto na Alexandrina.
Esta posição do Arcebispo Primaz teve outras consequências: influenciou
outros Bispos que também tomaram posição contra a Alexandrina, como por exemplo
o Bispo de Aveiro que publicou uma nota pastoral, para ser lida em todas as
igrejas da sua diocese, proibindo quaisquer visitas à “Doentinha de Balasar”, o
que causou a esta uma grande pena.
Convém dizer e até mesmo afirmar que a Igreja deve mostrar-se prudente
nestes casos, porque, como disse Jesus, no meio do trigo também se encontra o
joio, no entanto há posições tomadas que mais parecem vindas da antiga
inquisição e que pouco têm de caridade cristã.
Estas informações nada têm de azedume contra a Igreja da qual me sinto
plenamente filho e o serei até à morte, mas era necessário dizê-lo, que mais
não seja para que se conheça esta faceta da vida da Beata Alexandrina.
O mesmo Arcebispo de Braga, pouco após a morte de Alexandrina, veio
celebrar uma missa a Balasar e falou dela em termos que mostravam a sua
retractação quanto ao conteúdo da declaração publicada alguns anos antes.
Quanto ao Cónego Molho de Faria, ele foi uma das testemunhas no processo
informativo diocesano para a beatificação e canonização de Alexandrina e nessa
ocasião mostrou o seu arrependimento e o seu desejo — que pareceu sincero — de
a ver sobre os altares de Portugal e do mundo.
Mais vale tarde do que nunca!
Afonso Rocha
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