sexta-feira, outubro 04, 2019

OS SANTOS PERSEGUIDOS


Quando lemos as vidas dos Santos e Santas de Deus constatamos, quase sempre, que foram mal percebidos e sobretudo que foram perseguidos.
Isto não nos deve causar admiração porque Cristo também perseguido e mesmo condenado à morte e morte na cruz.

O Cónego Molho de Faria

Todavia os Santos tiveram opositores muito particulares: o próprio clero e a Igreja nossa Mãe.
Poderia citar uma ladainha dos Santos e Santas que foram perseguidos pelo clero, antes de serem colocados nos altares pelo mesmo clero e, algumas vezes pelo mesmo clero que alguns anos antes os tinham perseguido ferozmente. Apenas citarei dois deles:
S. João da Cruz, perseguido e molestado pelos próprios Carmelitas;
S. Pio de Pietrelcina, capuchino italiano que sofreu durante muitos anos a perseguição, não só dos seus próprios colegas, mas também por parte de Bispos, para quem ela era um quebra-cabeças.

Mais perto de nós temos o caso da Beata Alexandrina.

Primeiramente, por causa de ditos e mexericos orquestrados pelo Jesuíta Padre Agostinho Veloso, perdeu o seu primeiro director espiritual, o Padre Mariano Pinho.
Mais tarde perdeu também o seu segundo director espiritual, o Padre Humberto Pasquale, por este ter tomado posição contra a comissão de inquérito, mandatada pelo Arcebispo de Braga e que emitira um juízo desfavorável, dizendo que nada havia de sobrenatural na vida da “Doentinha de Balasar”.
Esta comissão nomeada pelo Arcebispo de Braga tinha à sua frente o Cónego Molho de Faria, que nunca interrogou a Alexandrina.
Sim, veio uma vez visitá-la mas unicamente para a ameaçar:

— “Lembra-te, Alexandrina, que o teu caso está nas minhas mãos.”

— “O meu caso, Sr. Cónego, está nas mãos de Deus”, respondeu ela gentilmente.»

Na declaração final da dita Comissão, escrita pelo Arcebispo, podemos ler na alínea A o seguinte:

a) que se faça silêncio sobre os pretensos factos extraordinários atribuídos à referida doente ou de que ela se afirma protagonista, os quais não devem ser expostos nem apreciados em público, mas confinar-se quando muito ao âmbito restritamente privado.

Surrealista!

O Sr. Arcebispo de Braga — Dom António Bento Martins Júnior — tinha assinado pouco antes o pedido de Consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, sabendo pertinazmente que este pedido tinha origem em Balasar, portanto na Alexandrina.
Esta posição do Arcebispo Primaz teve outras consequências: influenciou outros Bispos que também tomaram posição contra a Alexandrina, como por exemplo o Bispo de Aveiro que publicou uma nota pastoral, para ser lida em todas as igrejas da sua diocese, proibindo quaisquer visitas à “Doentinha de Balasar”, o que causou a esta uma grande pena.
Convém dizer e até mesmo afirmar que a Igreja deve mostrar-se prudente nestes casos, porque, como disse Jesus, no meio do trigo também se encontra o joio, no entanto há posições tomadas que mais parecem vindas da antiga inquisição e que pouco têm de caridade cristã.
Estas informações nada têm de azedume contra a Igreja da qual me sinto plenamente filho e o serei até à morte, mas era necessário dizê-lo, que mais não seja para que se conheça esta faceta da vida da Beata Alexandrina.
O mesmo Arcebispo de Braga, pouco após a morte de Alexandrina, veio celebrar uma missa a Balasar e falou dela em termos que mostravam a sua retractação quanto ao conteúdo da declaração publicada alguns anos antes.
Quanto ao Cónego Molho de Faria, ele foi uma das testemunhas no processo informativo diocesano para a beatificação e canonização de Alexandrina e nessa ocasião mostrou o seu arrependimento e o seu desejo — que pareceu sincero — de a ver sobre os altares de Portugal e do mundo.
Mais vale tarde do que nunca!

Afonso Rocha

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