Havia já algum tempo que a Alexandrina sonhava, com os olhos abertos, ter a
Santa Missa no seu humilde quartinho. Parecia-lhe uma coisa tão grande e tão
difícil de obter, que nunca ousou falar nela a ninguém. Mas, em 1933, ainda
antes de conhecer pessoalmente o seu Director, sabendo que ele iria lá para uma
pregação, manifestou à Deolinda este vivo desejo.
Combinaram fazer essa pergunta ao bom Religioso mas, no momento próprio,
por timidez e para evitar que ele pregasse em jejum, não lhe falaram no assunto.
Foi o Padre que, numa carta, em Outubro, perguntou à Alexandrina se
gostaria de assistir à Santa Missa. A resposta não tardou, mas de uma forma
muito delicada: “Se é coisa que se possa alcançar, seria para mim uma alegria
que nem posso exprimir, embora me custe muito o grande sacrifício que V. Rev.a
teria de fazer para vir em jejum, com madrugadas tão rigorosas...”
A 2 de Novembro, teve a grande graça da Santa Missa no seu quarto pobrezinho.
Este bem não durou sempre, muito pelo contrário... e foi precisamente uma das
privações com que a Providência quis prová-la, e que muito fez sofrer. Quando
muito mais tarde a obteve novamente, embora com intervalos, não lhe deu mais
aquela alegria sensível dos primeiros tempos: desejada em ânsias torturantes,
assistirá a ela nas mais espessas e profundas trevas do espírito.
Já aquela primeira Missa assinalara um ponto doloroso da sua ascensão
espiritual. Sem saber o futuro que a aguarda, e ao qual se entrega generosamente,
assim comenta aquele grande privilégio: “O Senhor começou desde aquele dia a
aumentar as suas ternuras, para aumentar ao mesmo tempo o peso da minha cruz.
Seja bendita a Graça que, por sua bondade, nunca me faltou”.
De facto, foi desde então que o Senhor a provou com a perda dos bens materiais
e com novas dores do espírito.
Que teria ela feito sem a lição da Missa?
Mas, foi precisamente sobre o altar da Vítima augusta que se enxertou e
floresceu esta nova imolação do Calvário de Balasar.
Padre Humberto Pasquale:
“Alexandrina”; cap. 4.
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