Meu Paizinho,
Então, quer Vossa
Reverência que eu lhe diga quando foi que senti mais vivamente Nosso Senhor? Estou
pronta a fazê-lo o melhor que souber. Esta união íntima com Nosso Senhor
comecei-a a sentir poucos dias depois da estadia de Vossa Reverência aqui, por
ocasião do tríduo em Rates. Foi pouco mais ou menos a 5 de Setembro do corrente ano. Desse tempo até agora tenho tido
dias de O sentir mais vivamente do que na ocasião em que o senti pela primeira
vez. As carícias que Nosso Senhor me faz são assim: para falar a verdade, eu
mal sei explicar o que sinto, quando Nosso Senhor me fala. Parece-me que sinto
qualquer coisa que me passa pela cara, mas não são mãos. Além disto, parece que
me abraçam, falando-me docemente. Como Vossa Reverência já sabe, pelo que lhe
tenho dito, já, durante o inverno do ano passado, eu senti Nosso Senhor, embora
não desse nenhuma importância porque ignorava tudo isto. Foi por isso que, na
ocasião do nosso tríduo, não falei nisso a Vossa Reverência. Se o apanhava cá
hoje, muito teria que lhe dizer! Assim, vou dizendo o que puder, por escrito.
Já fez quinze
dias, na quinta-feira passada, que não tornei a ouvir a voz de Nosso Senhor.
Penso que não seria por coisa muito grave que eu fizesse a Nosso Senhor. Mas,
bem sabe que eu não sou mais que miséria; tenho-me resignado o mais que tenho podido;
não digo que não tenho momentos de desânimo, mas confio em Nosso Senhor, que
há-de tornar a falar a esta miserável pecadora, porque Ele não pode faltar
àquilo que promete. Senti-Lo, parece-me que já algumas vezes o tenho sentido,
mas falar não; espero até quando for da Sua S.S. Vontade. Nessa mesma
quinta-feira, dia 8, das quatro às cinco horas da tarde, mesmo sem estar a
rezar, senti um calor enorme, parecia-me que me abraçavam e depois ouvi dizer assim:
— Minha filha, és um trono adornado com o teu
Jesus, com o teu esposo, com a S.S. Trindade, sim como o Padre, o Filho e o
Espírito Santo. Que beleza a da tua alma! Escolhi-te para tão alto cargo.
Assim como Ele
me adornava a minha alma, queria que eu adornasse os sacrários com o meu amor,
com as minhas orações e com a minha presença de espírito.
— Pede-me pelos pecadores: Eu preso e tão
desprezado. Eu preso e tão ofendido e tão horrorosamente escarnecido. Sabes o
que tem valido a esses infelizes, são as almas que eu escolhi para reparar. Se
não fosse isso, onde estavam esses desgraçados. Desgraçados, sim, pois se não se
convertem são condenados eternamente.
Prometeu-me
Nosso Senhor que me voltaria a falar naquela noite, e assim foi: das 10 às 11
horas da noite. Parecia-me sentir os efeitos de Nosso Senhor em minha alma mas
não ouvia a Sua Divina Voz. Pensava que ficaria só assim e que eu nem tanto
merecia, mas sempre me lembrava que se fizesse a Vontade de Nosso Senhor. Mas
principiei por ouvir que me falavam, mas parecia-me que era uma coisa
diferente, mais forte do que o costume, e dizia-me:
— Nem te fala, nem te tem falado, nem te falará;
andas a enganar o teu director.
Tomei água benta
e disse como costumo fazer em casos semelhantes: Ó meu Jesus eu não vos quero
ofender e formo minha intenção de ser por não duvidar nem por dizer coisas que
assim não sejam. E então falou-me Nosso Senhor:
— E queres consolar-me? E queres consolar o
Santificador da tua alma? Sabes quem é? É o teu Jesus, anda para os meus
sacrários. Anda passar algumas horas da noite à sombra dos meus sacrários.
Passarão como a voar, anda praticar uma obra de misericórdia. Anda consolar os
tristes. Estou tão triste! Sou tão ofendido. Anda para o teu cargo, sofrer,
amar e reparar!
Depois um forte
calor me abrasava e dizia-me Nosso Senhor:
— Estou contigo, sou o teu Jesus, o tudo da tua
alma.
E disse-me que o
demónio estava raivoso mas que o não deixaria vencer-me.
Tenho dias em
que o demónio me consome muito, trazendo-me à cabeça coisas tão fracas e tantas
e tantas dúvidas, que, se não fosse a muita bondade de Nosso Senhor, e quem
sabe, as orações de Vossa Reverência já ele me teria vencido.
Cá tenho pedido
muito pelos pecadores que Vossa Reverência me tinha recomendado e, agora mais
particularmente, por esse que me disse que vive em muito perigo de pecar. Por
ele, tenho oferecido muitos dos meus sofrimentos, apesar de ser muito indigna
de receber favores de Nosso Senhor.
Adeus, por hoje.
Por caridade, não me esqueça junto de Nosso Senhor, que eu, também, todos os
dias me ofereço a Nosso Senhor para que Vossa Reverência participe em todos os
meus sofrimentos e orações. Muitos cumprimentos da minha mãe, da Deolinda e da
Dª Conceiçãozinha.
Alexandrina
Maria da Costa.
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