Balasar, 6 de Janeiro de 1939
Viva Jesus!
Meu Paizinho,
Vou ver se consigo ditar algumas palavras
depois da minha paixão. Hoje foi muito dolorosa. Por várias vezes Nosso Senhor
me disse que era a minha força porque, eu, me sentia desfalecida.
Antes de principiar a paixão, Nosso senhor
disse-me:
— Tens coragem, meu encanto? Eu serei a
tua força, o teu Cireneu ajudar-te-á de longe como se estivesse perto. Faz, meu
amor, o que o teu Jesus agora não pode fazer, mas é o que os pecadores renovam
com os seus pecados.
A minha alma está muito atribulada. Tenho
tantos momentos que me parece não poder mais: tremendas dúvidas me afligem. Eu
tenho nojo de mim. Sinto-me abandonada de todos, mas conheço bem que todos me
deviam deixar e fugir espavoridos de mim.
Anseio por o dia que o meu Paizinho me possa
dar um pouco de conforto.
O que será de mim daqui até lá! Nosso Senhor
continua a enviar-me miminhos. São para Lhe tornar a oferecer, mas custam-me
tanto!
Ontem tive aqui o Senhor Cónego Vilar, vinha
do mando da Santa Sé.
O meu Paizinho já sabe? Mesmo sem ele me dizer
nada, pensei e não me enganei, ao que ele vinha. Falou muito bem. Gostei muito
dele. Parecia-me um santinho. Não deixou, com tudo isto, de me custar imenso.
Fez-me várias perguntas que a tudo respondi, como sabia. Como ele não trazia
cartão nenhum do meu Paizinho, já tinha dúvidas se procederia mal. Se fiz mal,
peço desde já que me perdoe. Bem sabe que em nada lhe quero desobedecer. Se
fosse outro Senhor Padre qualquer, que não viesse mandado como ele veio, claro
está, que lhe não dizia nada.
Ele disse-me que talvez cá voltasse e hoje, o
nosso senhor Abade, quando me veio trazer Nosso Senhor, disse-me que o Senhor
Cónego Vilar talvez cá viesse na próxima sexta-feira, se pudesse. Ainda bem que
o meu Paizinho está aqui na freguesia.
Não lhe mando nada do que Nosso Senhor me tem
dito. Quando o meu Paizinho vier, cá encontrará tudo.
Só na passada terça-feira é que me não falou.
Tenho-me sentido abatida, que faria se Nosso Senhor me não falasse, como me tem
falado. Ele conhece tudo, sabe tudo, e se me não deitasse a mão, estava sempre
caída. Pobre Jesus que é por mim tão mal servido! Preocupa-me tanto isto!
Lembranças aos Senhores Padres que aqui
vierem.
Por Caridade, peça muito, muito por mim.
Lembranças da minha mãe, da Deolinda e da Çãozinha.
Abençoe, por caridade, a pobre Alexandrina.
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