Balasar, 2 de Janeiro de 1939
Viva Jesus!
Meu Paizinho,
Como, já desde o ano passado que não tem
notícias minhas, resolvi hoje ditar-lhe umas palavrinhas.
Agradeço muito a boa cartinha que também, no
ano passado recebi. Foi mesmo na sexta-feira que ela me chegou às mãos, e bem
que eu precisava dumas palavrinhas de conforto. Mas Nosso Senhor tira-me tudo,
não me deixa saborear nada.
Na sexta-feira passada não teve paixão. Não
sei o que é: recordo este dia com saudades de não ter tido. Logo de manhãzinha
eu tinha a minha alma triste como uma noite escura. Estava tão tímida! Que
revolta, que tempestade, eu sentia nela. Comunguei e parecia-me que Nosso
Senhor deitava as mãos ao meu coração para mo arrancar. Figurava-se-me que Ele
encostava a cabeça e as mãos junto ao meu coração e O ouvia soluçar. Durante o
dia tive várias coisas que também me fizeram sofrer. A Deolinda as dirá.
Agora o demónio é que me consome. Diz-me que
eu faço a paixão quando eu quero. Que sou eu, que sou eu quem a faço. Aos
médicos não enganas: diz-me ele. Não te creditam. Mas aqueles f. etc... e mais
alguém bastam para espalhar. E nestes momentos, quando me diz estas coisas, que
raiva ele tem contra mim. Uiva, parece que lhe oiço ranger os dentes, e
figura-se me que me dá pontapés e escarra na cara. Eu, quando me parece que
sinto os escarros, digo só com o pensamento: também a Nosso Senhor o
escarraram. Então é que ele fica furioso. Diz-me tantas coisas feias de mim e
do meu Paizinho! Que combate ainda hoje tive. Chamei pelo meu Jesus, pela
Mãezinha do Céu e por muitos santos e santas para me ajudarem a vencer tão
grande combate sem desgostar ao meu Jesus. Diz-me, também, que eu tremo porque
quero. Foi por eu não tremer diante do Senhor Abade e do Senhor Cónego ao eles
pronunciarem palavras das que costumam fazer-me tremer. Diz-me não tremeste,
porque eles não te agradaram.
A bênção e perdão para a pobre Alexandrina
Adição
da Deolinda
(O que disse
Nosso Senhor à Alexandrina no sábado depois da Comunhão).
Anda para mim que sou o teu Jesus? Ou para o
bercinho que são os Vossos Braços, o travesseiro, o Vosso Divino Coração? Que
riqueza? Quem me embala são os anjos? A Vossa Louquinha, a Vossa esposazinha
preocupa-se muito, coitadinha com as dúvidas? Mas olha: Disse-te que não tinhas
paixão e não tiveste? Se sou eu, porque a não fiz? Confia, minha beleza, que é
só, só obra divina? Não me assusto? Deixa que se saiba? Não foi por mim? Bem
sabeis que quero viver escondido? Isso basta para que diante de Vós eu viva
como que ninguém me veja? Isto não podia ser só para mim? Sofria, reparava, mas
não fazia bem às almas? Sois Pai compassivo? Chamai-los assim? Uns vendo outros
constando quanto sofrestes pelas suas almas? Consolo-Vos muito com a minha
obediência em não consentir que venha ninguém sem licença de meu Paizinho? Vós
ajudais da Vossa parte? Se preciso for fazeis que se não dê? É preciso mostrar
que é obra divina? Que não fazem todos como querem? Mas quem tem poder sobre
mim? Que tudo pode? Eu a tudo obedeço de boa vontade, meu Jesus. O que eu quero
é saber que é da Vossa Vontade meu Jesus, que é do Vosso agrado. Na obra divina
nem todos mandam como nas coisas do mundo? O que tem maior poder sobre mim é
aquele a quem me confiaste, a quem entregaste a minha alma? Para isso também
tem que sofrer? Não me engano eu, ele que sofra? Jesus, quereis que muita gente
veja? Só aqueles a quem o meu Paizinho der licença? Mas hão-de ser muitos a
quem ele a vai dar? Eu estou sempre contente? Ofereço pelo vosso amor? Sim, sim
meu Jesus. Eu por Vós, pela Vossa Causa sofro tudo.
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