terça-feira, fevereiro 18, 2020

TRANSFUSÃO DE SANGUE


Nas últimas conferências falei-vos dos amigos mais chegados da Alexandrina. Ainda vos falarei de alguns mais e até mesmo do seu maior opositor ou inimigo, o Padre Agostinho Veloso. Mas deixo esses para mais tarde, em momento oportuno.
Hoje vou falar-vos de um carisma muito particular, visto ser o único que se conhece na história dos Santos que a Igreja beatificou ou canonizou: a transfusão do Sangue divino para o coração da Alexandrina.
Santa Catarina de Sena, assim como santa Ângela de Foligno receberam o Sangue de Jesus, mas não de maneira frequente como aconteceu com ela, que o recebia ao menos uma vez por semana — às sextas-feiras — a partir de 25 de Junho de 1944.
Como já foi dito, a Alexandrina viveu 13 anos sem comer nem beber, alimentando-se unicamente da Sagrada Eucaristia quotidiana.
É bom saber igualmente que a ainda jovem – 40 anos — “doentinha de Balasar”, pesava então apenas 40 kg, o que era pouco para uma pessoa normalmente constituída e de estatura média.
No seu Diário desse mesmo dia ela escreveu:
«Nova prova de amor de Jesus: veio Ele levantar-me do abismo das trevas e da morte. Tomou-me em seus divinos braços, inclinou-me ao seu divino lado, deu-me a beber o seu Sangue do seu divino Coração. Que maravilha!»
Podemos facilmente compreender a surpresa e alegria da Alexandrina ao ver-se assim tanto acarinhada e privilegiada por Jesus e a sua exclamação natural: “Que maravilha!”
Mas esta solicitude de Jesus vai continuar e continuar até à morte da sua esposa de Balasar.
Às sextas-feiras, depois do colóquio com o seu divino Esposo, esta “transfusão do Sangue divino” se fará mas nem sempre da mesma maneira.
No mesmo Diário, mas agora a 29 de Junho de 1945, ela volta a falar desta oferta de Jesus para alimento da sua alma e do seu corpo:
«Jesus uniu novamente os nossos corações, estavam como que colados um ao outro. Eu via da chaga do Coração de Jesus passar para o meu o seu divino Sangue e raios fortíssimos do seu Amor. Só isto foi o bastante para eu me perder e enlouquecer por Ele.»
Claro que é mesmo de enlouquecer, de desmaiar ao sentir-se assim tão amada.
Algumas vezes este Sangue redentor chegava-lhe como por um tudo que partindo do Coração de Jesus se ligava ao coração da Alexandrina e deixava cair uma gota suficientemente forte que lhe dava mais vigor, mais vida.
No mesmo Diário, a Alexandrina escreveu no dia 13 de Fevereiro de 1948 este modo que Jesus explica:
«Vou dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu infinito Amor, a maior de todas as maravilhas, a única maravilha, que tinha destinado dar à maior vítima da humanidade, a quem confiei a missão mais sublime.»
E a Alexandrina explica então como se passou:
«Jesus, enquanto falava, introduziu o tubo no meu coração e deixou passar do d’Ele para o meu o seu Sangue divino. Senti, como se todo o coração por ele fosse molhado. Jesus foi para mim, como se fosse um pintor. Dilatou-se-me o coração, ficou grande, grande, infinitamente grande; tinha a grandeza do Senhor à qual eu não pude resistir. Acudiu Jesus, passou sobre o meu peito e sua divina Mão, acariciou-me, fiquei curada, deixei de sentir tal grandeza».
“Dilatou-se-me o coração, ficou grande, grande, infinitamente grande”, explica ela; era tão “grande que ela não podia resistir”, porque o “infinitamente grande” não se adapta facilmente ao infinitamente pequeno, por isso mesmo a ajuda divina era necessária e urgente. Jesus estendeu as suas mãos e, como outrora apaziguara a tempestade no mar da Galileia, agora fez calmar aquela “grandeza” que a Alexandrina sentia nela.
Sobre este fenómeno único, que durou, como já disse até à morte da Alexandrina, escrevi há alguns anos atrás um livro intitulado “O Sangue do Cordeiro”, que o Sr. Arcebispo de Braga teve a bondade de aprovar e que foi também editado no Brasil e tem uma versão em francês.
Junto de leito da Beata Alexandrina, vinham milhares de pessoas, para lhe pedirem conselhos e orações. Aconteceram factos que merecem ser contados. Na próxima emissão vos contarei um deles.
Afonso Rocha

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