segunda-feira, fevereiro 24, 2020

A ESPERANÇA DA ALEXANDRINA


Depois de vos ter falado da fé inquebrantável da Alexandrina, vou hoje falar-vos doutra das suas virtudes: a esperança.
Começarei por afirmar que aquela frase de S. Paulo na sua carta aos romanos lhe assenta perfeitamente bem: «esperar contra toda a esperança» (Rm. 4:18).
A esperança era, na Alexandrina, uma virtude inata, porque a sua confiança em Deus era total.
No documento utilizado para a sua beatificação – Posições e artigos – podemos ler, no artigo 40 o que segue:
«A Alexandrina orientou a sua vida, desde pequena, para Nosso Senhor. Cedo sentiu uma atracção extraordinária para o Céu. As belezas naturais despertavam nela e aumentavam as ânsias do Paraíso. Viveu no desejo de se unir para sempre a Nosso Senhor, mas, conformada com a vontade d’Ele, renunciou a pedir o Céu para que essa vontade divina se cumprisse da maneira mais perfeita.»
No artigo seguinte podemos ainda ler esta afirmação que não sofre qualquer sombra de dúvida:
«Tinha a certeza do Céu, mas agiu no santo temor de Deus, com prudência e generosidade, para corresponder às graças, receosa de não dar tudo a Nosso Senhor. Por isso, pedia auxílio a Nossa Senhora e aos Santos, e recomendava-se às orações de todos.»
“Ter a certeza do Céu” é algo de muito bom para qualquer alma, mas para ter essa certeza é necessária uma outra virtude que também era natural na Alexandrina: a humildade, como é demonstrado no artigo 43 do mesmo documento:
«Tinha consciência da sua miséria e pobreza espiritual, mas mais ainda da misericórdia de Deus. Mesmo a pessoas manchadas de grandes culpas, falava da bondade e misericórdia do Senhor com tanta eficácia e força persuasiva que dissipava qualquer temor e desalento. A muitos deixou a impressão de que incarnava a misericórdia de Deus.»
Era esta humildade que fazia vergar os corações mais duros, mais empedernidos e os levava a Deus, porque sentiam nela a paz e o amor de Deus. Daí esta afirmação importante no artigo 43 do documento citado:
«Abandonava-se completamente à Divina Providência e aconselhava os outros a fazerem o mesmo. Foram inúmeras as pessoas que, por essa confiança que sabia infundir, lhe abriram os segredos mais íntimos da sua alma, como se fora a um sacerdote.»
E ainda:
«A confiança ilimitada que tinha em Deus manteve-a sempre em paz; mesmo no meio das mais tremendas provações soube calar-se sem nunca se queixar com as criaturas. Foi esta confiança que a inspirou e ajudou a dar força e resignação aos seus [entes] queridos.»
No que a Igreja chama de “Comunhão dos Santos”, a Alexandrina sempre teve uma acção importante, como podemos ver:
«Tinha a máxima confiança na oração a que unia sempre sofrimentos e esmolas para obter graças. Nunca fez presentes a Deus os seus merecimentos, mas confiava na bondade, providência e misericórdia do Senhor, como também nas orações dos outros. A Ele oferecia os merecimentos da Paixão de Jesus, da Mãe do Céu e dos Santos, juntamente com o fruto das Missas que se celebravam no mundo.»
Como é sabido de todos, ela sofreu muito e tudo ofereceu para o bem das almas, mesmo quando atravessou momentos de grandes dificuldades materiais e espirituais, mas a sua esperança nunca se alterou, como fica dito a seguir:
«Viveu vários anos — porventura os mais difíceis — sem um guia espiritual, e teve que exercitar-se de uma maneira heróica na virtude da esperança. De igual heroísmo deu mostras por causa do abandono e incompreensão das criaturas, não se deixando cair no desconforto.»
Como ela, permaneçamos sempre confiantes na misericórdia e no amor de Deus: fixemos n’Ele a nossa esperança, porque Deus é “rico em misericórdia” e fiel no seu amor por nós.
Afonso Rocha

Sem comentários: