terça-feira, fevereiro 18, 2020

PADRE ALBERTO GOMES


Desde há algumas semanas para cá tenho estado a falar-vos dos amigos da Alexandrina, aqueles que mais de perto lidaram com ela, como o Padre Mariano Pinho, seu primeiro director espiritual; o Padre Humberto Pasquale, seu segundo director; o Dr. Augusto de Azevedo, seu médico e por último o Dr. Henrique Gomes de Araújo, que não sendo, à partida, seu amigo, veio a sê-lo depois do internamento na Foz do Douro.
Mas a lista ainda se alonga um pouco mais, porque mais alguns merecem ser conhecidos e falados, para que não fiquem esquecidos, como tantas vezes acontece.
Padre Alberto Gomes, Fundador
Hoje vou falar-vos do seu confessor, o Padre Alberto Gomes.
Quando o Padre Mariano Pinho adquiriu a certeza que ia ser afastada da direcção espiritual da Alexandrina, procurou colocar ao lado dela um sacerdote santo, um sacerdote que a pudesse compreender e ajudá-la e a sua escolha não foi um outro jesuíta, mas um sacerdote simples, recatado e frágil, em suma, uma sacerdote segundo o Coração de Deus.
Segundo as informações que dele tenho actualmente, sei que o Padre Alberto Guimarães Gonçalves Gomes nasceu no dia 17 de Agosto de 1888 em Travassos, Póvoa de Lanhoso e que ali faleceu igualmente a 29 de Março de 1974. Sabemos que era o primeiro dos oito filhos do casal formado por Domingos António Gomes e Joaquina Rosa Alves, e que estes deram aos filhos uma sólida instrução cristã.
Diz um dos seus biógrafos que Alberto Gomes era de constituição muito frágil e de saúde delicada” e que “durante a infância, sofreu de graves problemas de saúde”.
Em 1904 “entrou no seminário de Santo António, em Braga, seguindo sete anos depois, para o seminário de São Tiago, onde completou o curso de Teologia”.
Com a implantação da República e as elucubrações anticlericais do Dr. Afonso Costa que queria acabar com a religião católica em Portugal, Alberto não pôde ser ordenado em Braga, mas sim no Porto, pelo Servo de Deus, Dom António Barroso, que pouco depois seria exilado pelo mesmo governo, sob pretextos falaciosos. A primeira Missa do Padre Alberto foi celebrada em Travassos, no dia 29 de Julho de 1914.
“Depois de desempenhar várias funções em algumas paróquias – escreve o mesmo biógrafo –, tornou-se, dois anos depois da sua ordenação, pároco da paróquia que o viu nascer.”
A referência ao primeiro encontro do Padre Alberto com a Alexandrina, encontramo-la numa carta escrita pela Deolinda (irmã mais velha da Alexandrina) ao Padre Mariano Pinho, a 27 de Setembro de 1934. Ela explica:
“Ontem recebeu aqui a visita de um Padre e da Candidinha Almeida. Nós não contávamos, não conhecíamos. A Candidinha chamava-lhe o Senhor Padre Albertinho; a Alexandrina confessou-se e ficou contente que já não tem de se confessar ao nosso para a primeira sexta-feira”.
Noutro documento, este da “Obra do Amor divino” fundada pelo Padre Alberto, encontramos uma explicação mais detalhada deste acontecimento, certamente escrita pelo próprio Padre Alberto Gomes:
«Em Setembro de 1934, (...) de passagem pela Póvoa de Varzim, teve conhecimento da existência, em Balazar, de uma donzela muito falada, por causa dos seus sofrimentos e muito notável pela sua virtude. Dali, em viagem de caminho-de-ferro, foi, só e oculto, fazer uma visita à veneranda, sendo recebido cristãmente pela família, que o conduziu ao leito da paralítica Alexandrina Maria da Costa, na sua humilde casinha, no lugar do Calvário. Depois de uma conversa espiritual, que durou cerca de uma hora, o Sr. Padre Alberto retirou-se santamente impressionado com tudo o que notou e nunca mais esqueceu».
Como as coincidências não existem nas coisas de Deus, que tudo planeia segundo o Seu bom prazer, podemos deduzir que esta primeira visita do Padre Alberto à Alexandrina foi o “ponto de partida” para uma colaboração que iria durar muitos anos: até à morte da “doentinha de Balasar” em 1955.
De facto, o bom Padre Alberto tornou-se, desde fins de 1940 um visitante assíduo da “casa do Calvário”. Foi todavia só no dia 20 de Janeiro de 1942 e depois de um encontro com Padre Mariano Pinho que a “função de confessor ordinário da Alexandrina” se “oficializou.
Alguns dias depois, numa sexta-feira, o Padre Alberto alugou um táxi e veio a Balasar assistir à “Paixão” da Alexandrina, que acontecia então todas as sextas-feiras, pelas 3 horas da tarde.
É útil dizer que a distância entre Balasar e Travassos, onde o Padre Alberto paroquiava é de mais ou menos 60 km.
Aconteceu que ele chegasse a Balasar molhado por ter apanhado chuva durante o longo trajecto, mas sentia-se feliz por poder cuidar daquela alma santa que o Senhor pusera no seu caminho.
A Padre Alberto Gomes foi confessor da Alexandrina de 1942 até 13 de Outubro de 1955, dia da morte da “Doentinha de Balasar” à qual ele assistiu.
A “Obra do amor divino” à qual aderiu a Alexandrina foi fundada pelo Padre Alberto e ainda hoje beneficia do carinho dos paroquianos de Travassos e não só.
Afonso Rocha

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