— Confias em Mim, minha filha ? Confias no meu amor ?”
— Só vós sabeis até que ponto vai a minha confiança. Eu confio, mas, talvez, não como devia confiar. E também, Jesus, não sofro como devia sofrer ; perdoai-me, não tenho forças para mais. Tenho-vos ofendido muito, não tenho, Jesus?
— “Sossega, tudo permito para tua humilhação. Consolo-me tanto, ao ver-te humilhada! Há quatro anos que te preveni para a luta, para lutares aparentemente sozinha. Foi aparente porque eu nunca te abandonei. Hoje não te previno para maiores lutas, porque as maiores estão passadas. Previno-te, sim, para seres forte em aguentares a tua cegueira e o sentir da minha separação de ti. Quero dar lugar àquele que virá dar-te um pouco de conforto. Dou-lhe lugar, mas fico sempre. Confia, que a Minha ausência será só aparente e não a realidade. Coragem! Depressa voarás para o Céu. Preveni-te há um ano para as amarguras. Sim, e elas continuam, porque as próprias alegrias para ti serão amargas. Sentes-te vazia, despida de tudo, até dos próprios sofrimentos? Não estranhes, que tudo do nada vem. Tudo Me deste, de tudo Me utilizei para as almas. Escuta, minha filha, é Jesus que te agradece as que, pela tua dor, no ano findo, foram salvas. Quantas já estão no Céu, quantas no purgatório, quantas ainda no mundo, mas que pelo seu arrependimento tem carta à salvação. Obrigada, minha filha, pela tua dor, pelo teu amor, pela grande mediação às almas”.
— Que vergonha, meu Jesus! Se eu pudesse esconder-me de Vós! Que grande humilhação! Um Deus a agradecer à mais pobre e miserável das suas criaturas! O que sou eu sem Vós? Se algumas almas salvei, foi com aquilo que é vosso.
Diário de 4 de Janeiro de 1946