sábado, novembro 15, 2008

SENTIMENTOS DA ALMA - 1952

2 de Fevereiro de 1952

Depois duma noite angustiosa, tormentosa, ou melhor, pavorosa, sem poder separar-me de tanto sofrer e suavizar a dor daqueles a quem tanto ano, fiz com isto a preparação para a vinda de Jesus ao meu coração, que ainda ardia com o fogo que ontem recebera. Comunguei, o fogo incendiou-se, a nova vida de Jesus fez-me reviver, e logo ouvi a Sua voz divina, que dizia :
― “É tão lindo, tão lindo o Céu ! Só à custa de dor, só à custa de sofrimento é que pode ser essa beleza celestial dada às almas. Minha filha, minha filha, tem coragem, coragem heróica, aquela coragem própria só dos santos. Minha filha, minha filha, o Céu é belo, o Céu é belo. Minha filha, minha filha, as almas fogem. O mundo está em perigo. É necessária, é urgente a imolação. É necessário, é urgente que haja dor, dor profunda, dor que faça sangrar o teu coração e o de todos os que te rodeiam e mais de perto cuidam de ti.
Diz, minha filha, ao teu Paizinho que só no Céu pode ser compreendido o porquê de tantos sofrimentos, de tantos espinhos. Pena tenho, pena tenho, filha querida, que tão poucos dos Meus sacerdotes compreendam a fundo a vida divina, a verdadeira vida de Jesus nas almas. Não a vivem e por isso não a sabem compreender.
E, depois, Jesus sofre e sofre porque não tem almas de eleição, almas vítimas que cheguem a reparar por tantos crimes. Dá ao teu Paizinho todo o meu amor e a certeza de que a luz brilha, as palavras de Jesus se cumprem, as Suas promessas se realizam.
Diz ao teu médico que se abrace à cruz, que se curve reverente, com alegria, à passagem da mão benfazeja do Senhor. Jesus passa e fere, porque muito o ama e muito se delicia no seu jardim florido. Ele tem que compartilhar da imolação e missão da minha vítima. Dá-lhe amor, amor, sempre amor”.
― Ó meu Jesus, ó meu Jesus, perco a coragem para tudo. Lembro-me que sou eu a causa de tantos males, de tantos sofrimentos.
― “És, és, minha filha, a causa de grandes bens, dos maiores bens, dos maiores bens. Pede-me, pede-me, porque tudo o que Eu faço é só por amor e para evitar grandes males. Vem, minha bendita Mãe. Conforta a nossa filhinha. Purifica-a com a tua pureza, limpa-lhe com ela toda a poeira, deixa-a alva, mais alva do que a neve”.
― Ó Mãezinha, ó Mãezinha, Vós sois toda luz, Vós sois toda amor. Só em teus braços e nos de Jesus estou bem.
― “Minha filhinha, minha filhinha, querida esposa do meu Jesus, avivo no teu coração, avivo de novo as feridas que há um mês te produziram os instrumentos que feriram o meu Coração. Tiro um instrumento do teu coração, para vir ao meu buscar mais sangue, para fortalecer mais a enxertia que foi feita em teu coração. É a enxertia das almas. Repara o meu Coração e o Coração Divino de Jesus. Repara-nos continuamente pelos crimes do mundo e pelos sacerdotes desvairados, que estão prestes a cair no inferno. Ai deles sem a tua reparação, ai do mundo, ai de Portugal ! Leva o amor de Jesus e de Maria, leva-o e dá-o ao teu Paizinho, ao teu médico, dá-o a todos os que te são queridos. É amor que dá tudo, é amor que dá coragem, toda a coragem, que vence toda a dor. Coragem, coragem”.
― Obrigada, Jesus, obrigada, Mãezinha. Depois das Vossas carícias, ó Jesus, ó Mãezinha, mais uma vez Vos peço: atendei, atendei aos meus pedidos, ás minhas preces. Obrigada, Jesus, obrigada, Mãezinha.
Alexandrina

segunda-feira, outubro 20, 2008

SENTIMENTOS DA ALMA - 1954


Continuo a sentir a perda de Jesus e da Mãezinha. Eles morreram para mim. Triste, tremenda separação. Não tenho palavras, a minha ignorância não deixa exprimir a dor desta separação. Perder a Deus, perder a Mãezinha, é perder tudo, é perder tudo. O meu coração e a minha alma estão numa angústia, estão como se estivessem sozinhos num universo de trevas, num mundo de perda eterna. Nem na terra, nem no Céu há conforto para eles, ou antes, nem existe a terra, nem existe o Céu.
Meu Deus, eu creio, creio, meu Deus. Assim o vou repetindo muitas vezes, sem ter apoio, luz e conforto de ninguém. A minha eternidade existe atrás de mim, em mim e à frente de mim. Tudo é eternidade desesperadora, revoltosa, odiosa contra tudo, contra Deus. Ai, a eternidade, ai, o que é a eternidade!... E a inutilidade que tudo me rouba?! A minha vida de tantos espinhos, de tantos punhais, de tanta contradição e humilhação é toda para ela.
Oh! Como me vejo de mãos vazias! Nenhum do meu sofrimento, nenhum do meu martírio aparece à luz do dia. Mas ele existe dia?! Há sol e estrelas no firmamento?! O que é isto, meu Deus, se sinto que não há Céu nem terra! Mas existe a eternidade? Eu vivo a eternidade. Vivo-a por Vosso amor e por amor às almas.
Não pode ser vista a profundeza do meu túmulo. Em que abismo estou! Ficam na superfície apenas a parede do meu sepulcro, mas eu desapareci, escondi-me. Fui cavando, cavando. Estou tão funda! Parece que tenho mundos, mundos sobre mim. Despi-me por mim de todas as coisas, por mim me enterrei, por mim mesma me fiz desaparecer. Os suores da alma não cessam com a canseira da escavação. É como se cavasse incessantemente sem tirar do meu punho o instrumento da escavação, mas a cavadela leva mais de um século. Por tudo seja bendito o Senhor!
No primeiro sábado não tive a visita da Mãezinha. Senti por Ela saudades de morte saudades de morte. Apesar da sagrada Comunhão desse dia ser mais íntima, mais confortante, ai de mim, se Jesus não velasse!
O meu horto não é aquele horto de outrora. A minha vida humana a em baixo sempre fugitiva sem pisar terra alguma dele. Lá em cima, a grande altura, sempre a mesma pomba a deixar cair do seu biquito muitas gotinhas que se espalham em orvalho, mas ela não se satisfaz só com isso; vai levar aos corações essa gota e com o mesmo biquito retoca-os, faz neles o ninho. Vai também às inteligências focá-las, enchê-las de luz. Como é grande a vida e o trabalho dessa pomba!... Assim esvoaçou sobre o Horto e assim hoje esvoaçou sobre o Calvário.
Eu tive o Santo Sacrifício da Missa; com a minha fé abandonada à Mãezinha pedi-Lhe que me levasse e me fosse imolar com Jesus e me desse todos os seus sentimentos. Senti em mim como que um desespero na fugida do Calvário. A minha vida morta era a vida humana, mas aquela pomba era e dava a vida do Céu. Sem sentir que Jesus morreu, senti que Ele chegou junto de mim, sentou-se e como o bom Pastor chamou a si a Sua ovelhinha:
— “Vem, minha filha, sou o teu Jesus. Descansa aqui.”
Sentei-me junto d’Ele; nos Seus joelhos coloquei a minha cabeça, sobre a minha e o meu ombro deixou Ele cair o Seu divino braço. A minha alma foi recebendo conforto.
— “Sou o teu Jesus, sou o teu amor. Confia, confia! Este colóquio doloroso, mas de fé, continua a salvar almas aos milhões, aos milhões.”
— Creio, creio, Jesus, mas custa tanto, tanto a crer! Custa tanto, tanto, a confiar! Valei-me! Sem Vós não posso! Tudo por Vosso amor e pelas almas!
Jesus tomou-me para o Seu regaço, uniu os nossos corações, fez passar a gota do Seu Divino Sangue.
— “Dou-te, esposa querida, com toda a fortaleza, a gota do meu Sangue. Nova vida para tu dares vida. Coragem! Coragem! Crê! Nova vida de fé! Confia! O Céu não te abandona! Jesus está contigo. Vai salvar almas, vai para a tua cruz!”
Obrigada, obrigada, Jesus.

terça-feira, outubro 14, 2008

A BEATA ALEXANDRINA

A Beata Alexandrina de Balasar

Aí pelos anos trinta, do passado século, a freguesia de Balasar, da Póvoa de Varzim, começou a correr mundo. Divulgava-se o denominado caso da “Santinha de Balasar”.
Alexandrina Maria da Costa nasceu em 30 de Março de 1904 no lugar de Gresufes, Balasar, onde passou a infância na casa dos avós, depois mudou-se com a mãe e a irmã até ao resto da vida, para uma casa situada no lugar do Calvário.
Filha de gente humilde, andou por algum tempo a servir, durante a adolescência, mas a sua débil constituição física aconselhava a mãe a retê-la em casa ocupando-se na costura e nos trabalhos domésticos. Tinha 14 anos, precisamente no sábado Santo de 1918, quando inquietada por alguns rapazes da aldeia, cujas intenções julgou serem maldosas, se lançou de uma janela ao quintal ficando prostrada e com violentas dores no ventre. Daí resultou um mal estar que os tempos agravaram e a levou, aos 21 anos de idade, a acamar definitivamente.
A Alexandrina revelou ter, desde criança, um coração terno e amorável, fazendo com que algumas pessoas gostassem de a ter na sua companhia. Educada cristãmente, esmerava-se nas práticas religiosas, sendo sempre a primeira no serviço da Igreja.
Quando se viu irremediavelmente perdida para o mundo e depois de ter pedido, em vão, a sua cura, compreendeu que a vontade de Deus era outra e abraçou-se a ela com todo o amor e generosidade oferecendo-se para vítima, dando início a um itinerário espiritual onde tomam expressão as grandes penitências e sublimes arroubos místicos.
De 1938 a 1944 teve como director espiritual o Padre Mariano Pinho, jesuíta, e daí em diante o Padre Humberto Maria Pasquale, salesiano.
A partir de 27 de Março de 1942 até à sua morte passou a alimentar-se exclusivamente da Eucarística e, caso curioso, ao mesmo tempo que não suportava os alimentos no seu organismo, sentia grandes saudades da alimentação.
Por um período de 17 anos (1938-1955) sofreu as dores da Paixão de Jesus. Numa primeira fase (todas as sextas-feiras, desde 3 de Outubro de 1938 até 20 de Março de 1942) sofreu sobretudo as dores físicas; na segunda (desde 27 de Março de 1942 até à morte) sofreu principalmente as dores íntimas de Jesus.
Devido aos fenómenos místicos foi submetida a repetidos exames de sacerdotes e de médicos. Por três vezes foi internada em hospitais especializados, sendo o último internamento de quarenta dias no Refúgio de Paralisia Infantil da Foz.
Morreu no quartinho onde passou a sua vida de martírio, no dia 13 de Outubro de 1955, com 51 anos de idade. O seu funeral foi uma verdadeira apoteose em que se incorporaram milhares de pessoas vindas de todo o país. O seu cadáver foi vestido, como era de sua vontade, com o uniforme de Filha de Maria. Esteve exposto, em câmara ardente, numa sala contígua ao quartinho da morte, durante vinte e quatro horas e, depois dos ofícios religiosos na Igreja Paroquial, foi a enterrar em campa rasa no cemitério da freguesia, sendo depois mudada para uma capela-jazigo e por fim trasladado o seu corpo para a Igreja Paroquial em Julho de 1978.
A fama de santidade fez de Balasar um centro de peregrinação, particularmente concorrido nos dias 13 de cada mês. Os devotos visitam a sepultura, na Igreja, e a casa onde viveu e morreu.
A autoridade eclesiástica, nove meses após o falecimento, aprovou uma oração para uso particular com o fim de pedir a Deus a beatificação da Alexandrina. Também chegavam, sobretudo do estrangeiro, listas de assinaturas pedindo a introdução da causa pelo que foi dado início ao processo, sendo nomeado para Postulador da causa o Padre Hector Calovi, salesiano, que em 1966 apresentou os Artigos introdutórios para o Processo Informático Diocesano que decorreu até 2 de Abril de 1973. De Braga passou a Roma que a declarou Venerável, reconhecendo a heroicidade com que a Alexandrina praticou as Virtudes Cristãs, em 12 de Janeiro de 1996, e a beatificou a 25 de Abril de 2004.
Escreveu o seu diário místico e deixou milhares de páginas manuscritas recolhidas em doze volumes.

Mons. Manuel Amorim

segunda-feira, outubro 13, 2008

QUERES VER OS ANJOS ?

Carta a ler atentamente e a meditar frequentemente !...

Esta pergunta de Jesus à Beata Alexandrina ― que vai evidentemente aceitar a proposta ! ― vem a seguir a algumas informações tristes e a alguns pedidos urgentes; ela é como uma “recompensa” e um estímulo não só quanto ao prosseguimento da missão que lhe é pedida : reparar pelos pecados da impureza, mas também para que não receie em tudo escrever, tudo contar ao seu Paizinho espiritual.
De facto, Jesus o afirma : — “Faço isto para te obrigar a obedeceres e a escreveres e a confiares nisto”.
Desde há algum tempo que o demónio lhe dizia que nada mandasse dizer ao Padre Mariano Pinho, porque este em nada disso acreditava. Não porque se tenha deixado convencer pelo diabo, mas sobretudo porque lhe custava escrever e contar certas coisas ― sobretudo os elogios que Jesus lhe fazia de vez em quando ! ― Alexandrina procurava não escrever, mas Jesus desejava que tudo fosse comunicado, que o Paizinho espiritual da sua querida esposa estivesse sempre informado de tudo quanto se passava na alma dela, de maneira a poder dirigi-la convenientemente.
Esta vontade de Jesus de que tudo fosse comunicado, tinha também um outro fim : instruir, demonstrar de que maneira Ele se comunica às almas. Diversas vezes Jesus dirá que o caso da Alexandrina devia ser estudado, muito bem estudado ; disse-lhe também diversas vezes que ela era mestra em ciências divinas.
Passados anos desde que nasceu para o Céu, damo-nos conta, uns após outros, que o caso da Alexandrina é na verdade um “caso muito sério” e que o estudo dos seus escritos espirituais são da maior utilidade para uma maior compreensão da acção divina nas almas.
Nesta carta que vamos ler, Jesus fala uma vez mais do pecado da impureza e dos trágicos resultados para as almas que se deixam por ele surpreender ou que nele encontram motivo para mais e mais ofenderem o Senhor.
Carta a ler atentamente e a meditar frequentemente !...

* * * * *

« Balasar, 6 de Junho de 1935
Viva Jesus !
Meu P.
Estou deveras admirada com o silêncio de Vossa Reverência. Por acaso ter-lhe-ia dado causa para assim proceder ? Estou sossegada na minha consciência ; se em alguma coisa o ofendi foi por ignorância, por isso maior deve ser o perdão.
Eu continuo muito doentinha ; mas tenho tido a consolação de receber Nosso Senhor todos os dias. Isto só por um milagre do Céu, pois o Senhor Abade nunca me fez tal. Algumas vezes recebo o meu Jesus e fico muito desconsolada. Bendito Ele seja ! Tudo é permitido por Ele, seja em tudo feita a Sua Santíssima Vontade.
No dia dois, depois das nove horas da noite, estava eu a fazer a oferta de tudo o que se passasse em mim durante a noite como actos de amor a Nosso Senhor Sacramentado. Fazia-o mais com o pensamento do que com os lábios porque não podia. Eu disse ao meu Jesus se fosse da Vossa Vontade eu ficar convosco nos vossos sacrários durante esta noite ! Sim antes queria fazer companhia a Nosso Senhor do que dormir. E dizia também :
― Vinde meu bom Jesus e vivei em mim como eu desejo viver convosco ; operai em mim tantas graças como se eu vos recebesse sacramentalmente.
Principiei a sentir a presença de Nosso Senhor em mim e logo ouvi que me chamava :
— Filha, filha, ó minha querida filha anda passar a noite comigo nos meus sacrários : anda consolar o teu Jesus. Anda com a tua reparação curar as minhas chagas que estão tão vivas ! Fui hoje tão ofendido ! Caíram tantas almas no inferno ! Cortei-lhe o fio da vida antes do tempo marcado por não as poder sofrer mais.
Eu ofereci a Nosso Senhor todo o meu corpo para Ele crucificar pelo seu divino amor para a salvação das almas; e dava-lho de tão boa vontade como Ele se deixou crucificar por meu amor. E dizia-me Nosso Senhor :
— Como me consolas ! É o bálsamo com que curas as minhas chagas. Atenção, minha filha, para mandares dizer ao teu pai espiritual. Esta noite vão cair no inferno mil almas e o pecado que me leva a condená-las é o pecado da impureza, a maldita carne. Já lá estão a cair fartas de me ofenderem e Eu abundado de as suportar. São de todas as classes : jovens e donzelas, casados e viúvos, velhos e novos. Que horror ! Como Eu sou ofendido ! Estão mais para lá cair ; se me dás o teu corpo para sofrer por eles ainda lhes acudirás. Pede-me por elas, dá-mas são minhas. Custaram-me o meu sangue. Eu não exijo de ti a noite inteira porque não podes. Mas só no Céu verás como lhes acudistes nestas horas. Eu preciso de destruir o mundo, poucas famílias deixar, mas não o faço, enquanto tiver almas que como tu sustentem o braço da minha justiça.
Parecia-me que era tão beijada e abraçada ! E dizia-me Nosso Senhor :
— Amo-te tanto, minha filha ! Amo-te tanto ! Tenho mais cuidado pela tua alma do que um da terra teria se possuísse todos os tesouros do mundo. Ama muito a minha Mãe Santíssima que Ela também te ama muito. Como me consolas quando me pedes o aumento do amor dela e da Santíssima Trindade.
No dia três, no fim da Sagrada Comunhão, falava-me Nosso Senhor :
— Minha filha, lá caíram no inferno as almas. Como Eu fui ofendido ! Como me renovaram a minha paixão ! Muitas também que mereciam lá estar, mas poupei-as pela tu reparação. Não posso exigir mais de ti, dando-me o teu corpo e dizendo tudo ao pai espiritual para ser comunicado às almas. Queres ver os anjos ?
E eu disse a Nosso Senhor :
— Mostrai-mos, Jesus, Mostrai-mos Jesus.
Principiei, então, a ver uma coisa alta do feitio do Céu com uma cor tão linda ! Via nela não sabia o quê. Não sei como fiquei. Como havia de mandar eu dizer a Vossa Reverência que eram os anjos se eu não divisava o que era ?
Dizia-me Nosso Senhor :
— Faço isto para te obrigar a obedeceres e a escreveres e a confiares nisto.
Do meio saiam à moda de uns raios dourados e dizia-me Nosso Senhor que era o amor com que eles O amavam, via também à moda de um altar em ponto grande e no meio parecia-me uma pombinha branca. Por cima tinha muitos, muitos anjinhos; estavam em torno sobre a Santíssima Trindade. Passados alguns momentos voltei a vê-los; já os divisava melhor. Eram mais bastos do que moinhos. Parecia que estavam aos montes. Via mais outras coisas, eram os querubins e os serafins. Disse-me Nosso Senhor :
— Vê-los? Há-de ir a tua alma para o Céu cercada deles.
Sentia todo aquele calor e força de que tenho falado a Vossa Reverência e uma união tão grande com Nosso Senhor que não podia deixar. E disse-me o meu Jesus :
— Manda dizer ao teu pai espiritual que Eu quero que sejam realizados os teus desejos : quero que sejas visitada por ele. Foi a ele que confiei a tua alma e teus segredos. O tempo passa. Não queiras nada do mundo : vive como se estivesses comigo em corpo nos meus sacrários que Eu vivo em ti como lá. É a paga do amor que me tens e de quereres viver lá unida a mim.
No dia seis, pouco depois da Sagrada Comunhão, falava-me Nosso Senhor:
— Ó filha, tu não te cansas de me dizer que habite em ti, e Eu não me canso de em ti viver. E como me hei-de cansar se tu és o meu anjo, a companheira fiel dos meus sacrários ! Continua a tua missão que dentro de pouco acabará. Deixa-me que te diga que o teu fim está próximo. Vive nos meus sacrários; pede-me pelos pecadores. O meu coração está angustiado nos sacrários. Eu chamo-os por todos os modos : infelizes. Estão surdos à minha voz divina, estão cegos à luz do seu Deus. Sofre, minha filha, que os teus sofrimentos e aflições transformar-se-ão, dentro em pouco, em rosas cobertas de pérolas preciosas. Minha filha, à volta de ti é o paraíso. Os anjos, os querubins, e os serafins e a minha Mãe Santíssima. Como Eu sou bem louvado por eles ! Queres voltar a vê-los ?
Eu disse que sim ao meu Jesus. Principiei, então, a ver tantas coisas ! Um movimento tão grande ! Pelo meio tinha tantos, tantos parecia fios dourados entrelaçados uns nos outros! E dizia-me Nosso Senhor :
— É o amor em que eles ardem por mim.
Sentia um calor tão forte e uma força a abraçar-me! E dizia-me Nosso Senhor :
— Amo-te tanto ! Faz que eu seja amado que, dentro em pouco, amar-me-ás e contemplar-me-ás para sempre no Céu.
Por hoje mais nada. Muitas lembranças da minha mãe, da Deolinda. da Senhora Dª Sãozinha, destes dias não sei nada, pois está para Braga.
Por caridade, não esqueça de pedir por mim que preciso muito para eu fazer em tudo a vontade de Nosso Senhor, que eu também tenho pedido muito a Jesus por Vossa Reverência e prometo continuar. Fico ansiosa por receber uma cartinha de Vossa Reverência.
Abençoe, por caridade, a pobre
Alexandrina Maria da Costa. »[1]


[1] Carta ao Padre Mariano Pinho : 6 de Junho de 1935.

sábado, outubro 11, 2008

FESTA LITÚRGICA

BEATA ALEXANDRINA

HORARIOS

13 de Outubro de 2008

12/10 — 20h30 – Procissão de Velas

13/10 — 06h30 – Oração do Rosário
— 07h00 – Eucaristia em honra da Beata Alexandrina
— 07h30 – Exposição do Santíssimo
— 10h30 – Eucaristia para doentes com Bênção do Santíssimo
— 12h00 – Exposição do Santíssimo
— 18h30 – Encerramento do Lausperene e Bênção do Santíssimo
— 19h00 – Eucaristia Solene cantada em honra da Beata Alexandrina

Durante todo o dia haverá sacerdotes disponíveis para atender de Confissão.

quinta-feira, outubro 09, 2008

SENTIMENTOS DA ALMA


Perdi o meu maior tesouro. Perdi a Jesus, perdi a Mãezinha. Parece, sinto como se Eles morressem para mim. Não posso pensar na triste, na dolorosíssima separação de sexta-feira. Triste mortório, mas é tal a diferença como da terra ao Céu. Custou mais, infinitamente mais, a separação de Jesus e da Mãezinha, este sentimento como se Eles morressem para mim, do que quando perdemos e nos separamos dos nossos entes queridos.
Ai, meu Deus, ai, meu Deus, só ao Céu é dado compreender esta dor e àqueles que a sentem. Apenas levanto um bocadinho do véu e não consigo mais nada. Foi tal a dor que me pareceu ficar sem coração, não sei se desfeito pela dor, se Jesus e a Mãezinha mo levaram. O que sei é que ficou em mim um vazio tão grande que só o Céu mo podia encher. E depois o sofrimento de cada dia e cada noite resultado de tudo isto. Chorei muitas vezes e muitas lágrimas. A dor levava-me a levantar a voz, mas logo me vencia e chorava em silêncio. Que as minhas lágrimas sejam actos de amor para Vós, Jesus e Mãezinha! Ai de mim! Perdi os meus Amores! Mas logo a confiança obrigava o coração a falar. Creio, creio que não os perdi. Todo o meu martírio reverta em favor das almas. Sou a Vossa vítima. Creio, creio, confio que não estou só. Ai quanto custa dizer: Creio! Sem crer; confio! Sem confiar.
Neste momento, a minha alma sangra de dor por não ser capaz de dizer como foi a minha separação e a ter necessidade de o dizer. Perder a Jesus e a Mãezinha foi perder o Céu. Todo o meu ser se retalha e, no meio dela, vou dizendo sempre: creio, creio, meu Deus, eu creio! Nestes dias tão dolorosos, de tão grande martírio para o corpo e de tanta angústia para a alma, ainda veio mais um tormento para o meu pobre coração. Várias cartas me chegaram às mãos a dizerem-me que o senhor Bispo de Aveiro tinha proibido a vinda aqui dos sacerdotes. Punhais tão dolorosos! A minha alma tinha a visão da consequência desta ordem. Tanta humilhação! Se eu pudesse reparar tanto escândalo que se dá! Tantas más interpretações por causa disto! A minha oferta de vítima não cessa diante do Senhor. Por Vosso amor, tudo! Faça-se a Vossa vontade! O meu túmulo, o meu túmulo, a minha arte de cavador vai continuando. Cobri-me eu mesma com a terra do meu sepulcro. Fui eu que me cobri, fui eu que desapareci, que me enterrei. Estou tão funda, tão funda!... Parece que toda a terra da humanidade me cobre e os suores da alma vão continuando assim como a eternidade e a inutilidade. Não conta, não anda a eternidade. Que pavorosa ela é! Se Jesus não velasse, só ela me tirava a vida. Tanto sofrer para tanta inutilidade! Uma vida de tanta dor para nada ter que oferecer a Jesus. Estou de mãos vazias. As minhas ânsias tão infinitas, tão infinitas não as posso fazer compreender. Quero o mundo, quero o mundo dentro do meu coração. Quero todos os corações, quero todas as almas, quero levá-las com o meu sangue. Quero amar a Jesus pelo mundo inteiro. Queria morrer, a cada momento, até ao fim dos séculos e a cada momento dar o sangue até à última gota, para que nenhuma alma se perdesse, nem nenhum coração deixasse de amar a Jesus. Queria, sim, dar todo o meu sangue e a vida, a cada momento, até ao fim dos séculos para evitar um só pecado.
Ai, ai, não posso consentir que Jesus seja ofendido! Eu não tive horto. Vou dizer o melhor que puder o que senti.
Sobre o solo do horto esvoaçava uma pomba. Tinha sempre no seu biquito uma gota que deixava cair sobre a terra e se transformava em orvalho fecundador. Uma gota caía, logo outra aparecia. Este orvalho era celeste. Era o maná que alimentava, que dava a vida, dava luz e sabedoria. Uma vida no ar, outra vida na terra. A minha alma tornava-se sábia, compreendia tudo isto, tudo o que era do Céu. A minha dor, a minha dor humana vivia-a, sentia-a o mais dolorosa que se pode imaginar.
No calvário de hoje, a mesma pomba continuava a voar, a deixar cair as mesmas gotas que se transformavam em orvalho, orvalho celeste e a dar a mesma luz e vida de sabedoria. Eu cá em baixo levava a cruz da minha vida dum martírio indizível. Não vi Jesus, não o senti. Não soube que Ele expirasse. Veio alguém que juntou ao meu coração, à minha vida terrestre a vida divina. Essa mesma vida comunicava-se a mim como quem injecta. Desapareceu a minha vida terrena para viver a outra. O coração e a alma fortaleceram-se mais. A casa do meu interior tinha mais luz. Diz-me Jesus nesta altura:
— “Sou o Senhor do mundo, o Senhor da paz, o Senhor da fé e da confiança. Crê, crê, vive da fé. É colóquio de fé.”
Creio, creio, Jesus. A gota de sangue Jesus não disse que ma ia dar; senti o choque e o meu coração ficou unido ao outro Coração, a chupar dele como a criancinha no seio de sua mãe. Novas palavras de Jesus.
— “Coragem! Vive para as almas. Recebe as carícias de minha Bendita Mãe. Sou Eu o portador delas, já que amanhã Ela não te vem falar.”
— Obrigada, Jesus. Dizei à Mãezinha o meu muito obrigada.
Não disse tudo da minha separação. Que saudade das carícias da Mãezinha e saudade da Santíssima Trindade. Toda Ela me abraçava com a Mãezinha, e o Divino Espírito Santo em forma de pomba irradiou-me toda com a Sua luz, que iluminou todo o meu ser; prendia-me a Ele com fitas de várias cores que d’Ele pendiam. O que foi! Quanto custou! Não digo nada. Fico na minha dor e na minha eterna saudade.

quarta-feira, outubro 01, 2008

SENTIMENTOS DA ALMA


Não sei como dizer algumas palavras, mostrando um nadinha o muito que me vai na alma. Não sei como obedecer.
― Meu Deus, meu Deus, quanto se sofre! Seja tudo por Vosso amor! Ó dor, ó dor, tu só és doce, levada por amor de Jesus. Mas custas tanto! Há tão pouco quem te compreenda e se compadeça dos que sofrem! Sede louvado e bendito em todas as coisas; seja feita, Senhor, a tua vontade. É tal o sofrimento que tenho no corpo e na alma que me faz sentir imensa necessidade de pedir a Jesus para me levar para o Céu. Só com a força de um Deus se pode sofrer assim. Não posso pensar na perda de Jesus e da Mãezinha; a minha alma não suporta tal dor. Não me aproveitaria eu das graças que pelo Céu me foram dadas?
Meu Deus, meu Deus, compadecei-Vos de mim, compadecei-Vos desta pobre alma nas maiores trevas, no maior abandono e sem um guia! Ai, Jesus, ai, Jesus, ai, Mãezinha! Junto ao meu sepulcro, mas na maior profundidade, que nunca olhares humanos podem penetrar, estou eu nos meus suores, na minha cavação incessante. Não sei o que faço nem sei onde vou parar. Ai de mim, para onde vou! Que pavor! Na superfície da terra estou como sozinha no mundo; é um mundo sem luz, um mundo sem fôlego vivo.
Sinto uma velhice, como não houve nem haverá jamais. Esta velhice é no corpo e na alma. É uma velhice; quase junto a cabeça aos pés e varro a terra com o rosto. Foi o corpo que envelheceu a alma e a afeiou.
Só deixei o mundo, quando ele me deixou, quando me escarneceu e no rosto escarrou, quando com vozearias e maus-tratos tentava tirar-me a vida. Tudo passou, só eu fiquei nessa velhice morta e apodrecida. Quase nada tenho rezado com os meus sofrimentos, com tão doloroso martírio. Fiquei quase por completo esquecida das coisas do Céu. Tenho dito a Jesus e à Mãezinha que isto não representa a diminuição do meu amor, mas sim do meu muito sofrer. Faço repetidos actos de fé: creio, Jesus, eu creio. Perder a Jesus, perder a Mãezinha, foi perder o Horto, perder o Calvário, foi perder tudo. Caminho por aqui e além, fito um e outro lugar sem proveito algum e a ninguém encontrar.
Foi neste estado de alma que se aproximaram as três horas de hoje. De repente, fiquei num mar imenso de naufrágio; a todo o custo lutei com as ondas, entrando sempre pelo mar imenso a apanhar e a trazer comigo os náufragos. Precisava de conforto, estava perdida, desfalecida de tanto lutar. Veio Jesus e disse-me no meio do naufrágio:
― “Minha filha, minha filha, mar de dor, mar de sangue, mas mar de salvação das almas sem número, aos milhões, aos milhões, aos milhões. Muita dor exijo de ti, porque muita reparação exigem os crimes da humanidade. Como o mundo peca, como o mundo peca! E há tão pouco quem sofre e repare!”
Dito isto, Jesus desapareceu e eu fiquei no mesmo mar e em trevas apavoradoras.
― Sois Vós, Jesus, sois Vós ou estou enganada? Onde é que estais? Valei-me, valei-me.
Ele não se apressou, deixou que a luta e as trevas continuassem, até que depois veio e disse-me:
― “Colóquio de fé, colóquio de fé, minha filha, colóquio de amor. Muito sofres, porque muito amas e és amada. Eu tenho que fazer milagres, para que possas resistir à dor que te causam as ofensas feitas ao meu Divino coração.”
Fiquei no Seu regaço, entre os Seus braços, muito estreitada ao Seu Coração divino. Jesus acariciava-me e fitava-me com doçura e amor. Já se passaram umas poucas de horas e eu ainda sinto no coração aqueles olhares tão ternos e penetrantes. Com a máquina do Seu Coração parece que sulfatava o meu. Aquele fogo ateou-me no meu peito.
― “Qual queres, minha filha, ver-me a sofrer ou ver-me na alegria?”
― Ó Jesus, a dor para mim e a alegria e consolação para Vós.
Ele chegou a suspirar, mas eu bradei-Lhe:
― Sofrer não, sofrer não, meu Jesus.
― “Coragem, filha, e confiança: está perto, está perto o teu Céu. Recebe a gota do meu Divino sangue. É o Sangue de Cristo, é a mesma vida de Cristo a viver em ti. Comunica ao mundo, comunica às almas esta vida; deixa-as servir e aproveitar-se dela, conforme as suas ânsias de união comigo. Sofre pelo mundo, salva o mundo; sofre, sê vítima no mais alto grau pelos sacerdotes. Como eles pecam, como eles pecam em tão grande número!”
― Sou a Vossa vítima, Jesus. Lembrai-Vos de todas as minhas intenções. Creio que estivestes em mim, creio que viveis em mim.
Alexandrina Maria da Costa

sexta-feira, setembro 26, 2008

UN ANJO PASSA - I

Alexandrina Maria da Costa
– Esboço biográfico –
I

Tal como a aurora

« Eu chamo-me Alexandrina Maria da Costa »
« Depois de uns momentos de oração, a implorar auxílios do Céu e a luz do Divino Espírito Santo para poder fazer o que o meu Padre espiritual me determinou, principio a descrever a minha vida, tal qual como Nosso Senhor ma for recordando, embora com grande sacrifício » (A) [1].
Assim começa a Autobiografia da Alexandrina, escrita a partir de 20 de Outubro de 1940.
Vamos utilizar grande parte deste importante documento para o trabalho que nos propomos levar a cabo, “tal como Nosso Senhor nos for recordando, embora com grande sacrifício”, mas com um prazer não dissimulado, visto que falar da “Doentinha de Balasar” é para nós um prazer, além dum dever de gratidão.
A Alexandrina escreveu igualmente um importante Diário ― “Sentimentos da alma” ―, assim como um impressionante número de cartas ao seu primeiro Director espiritual o Jesuíta Padre Mariano Pinho.
« Eu chamo-me Alexandrina Maria da Costa, nasci na freguesia de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, a 30 de Março de 1904, numa quarta-feira de trevas, e fui baptizada a 2 de Abril do mesmo ano, era então sábado de Aleluia.
Serviram de padrinhos um tio de nome Joaquim da Costa e uma senhora de Gondifelos, Famalicão, de nome Alexandrina » (A).
Assim começa ela a contar a história da sua vida. Depois, confessa humildemente :
« Até aos três anos de idade não me recordo de nada, a não ser de algum carinho que dos meus recebia » (A).
Pensa todavia que não foi exemplar e que nela os defeitos abundam :
« Encontro em mim, desde a mais tenra idade, tantos, tantos defeitos, tantas, tantas maldades que, como as de hoje, me fazem tremer. Era meu desejo ver a minha vida, logo desde o princípio, cheia de encantos e de amor para com Nosso Senhor ».
Depois disso, lembra-se que foi traquina, nem sempre obediente, e de certo modo bastante teimosa.
Dos seus quatro ou cinco anos, ou por volta destes, já tem melhor recordação das coisas que a rodeavam e das aspirações que então começaram a nascer no seu infantil coração.
Conta ela deste período da sua infância :
« Pelos quatro anos e meio de idade, punha-me a contemplar o céu (abóbada celeste) e perguntava aos meus se poderia chegar-lhe se pudesse colocar umas sobre as outras todas as árvores, casas, linhas dos carrinhos, cordas, etc., etc. Como me dissessem que nem assim chegaria, ficava descontente e saudosa, porque não sei o que me atraía para lá » (A).
“Não sei o que me atraía para lá?”
Alexandrina não sabia o que a atraía para o Céu, mas Aquele que tudo rege, porque tudo criou, sabia o porquê dessa atracção ; aliás, mais tarde Jesus lhe dirá que a amou e escolheu desde que nascera nas águas do baptismo.
Mas, antes de ir mais longe, plantemos o cenário, se assim nos podemos exprimir, para uma melhor compreensão do que seguirá.

*****

[1] (A) = “Autobiografia”.

quarta-feira, setembro 24, 2008

SENTIMENTOS DA ALMA

26 de Setembro de 1947
(sexta-feira)

Passo o dia, vem a noite, e eu vazia, sem nada ter dado a Jesus e sem nada ter para Lhe oferecer. Não posso examinar a minha consciência. Um dia, um mês, um ano e outro ano, sempre a sofrer, e sem ter que dar e sem amar o meu querido Jesus. Que pobreza, que miséria! De cada vez mais vazia, de cada vez mais defeitos. Ó meu Deus, poderei eu dar-Vos menos do que Vos tenho dado? Oh! Não; sei que não, e não tenho mais, não sei mais nem melhor. Ai, pobre de mim, a minha cegueira só me mostra miséria e maldade; e para melhor eu ver esta maldade, sinto-me, por vezes, tão sábia, capaz de enganar toda a gente com a minha sabedoria. Sinto-me até vaidosa por saber e poder enganar toda a gente. Que horror, ó meu Jesus, que horror! Se eu quiser enganar! Se eu pensasse em enganar! Mas nem ao menos isso. É pela graça de Deus que não o penso nem faço. Mas oh! que doloroso martírio, ver e sentir tudo isto em minha alma! Poderei vencer? Poderei passar assim os meus dias, ó meu Jesus? O que seria ou será de mim sem a graça e a protecção do Céu! Sou tão miserável e cheia de defeitos, sou um nada capaz de todas as maldades, sou um nada incapaz de fazer algum bem.
A minha alma chora e o coração anseia, quer só pertencer a Jesus, quer dar-se a Ele, perder-se Nele.
Passei quatro dias sem O receber. Que fome indizível! Que ânsias insuportáveis! Quantas vezes voava em espírito para junto da Eucaristia e Lhe dizia: Jesus, meu Amor, vinde a mim, estou a morrer de fome, desfalece-me a alma e o corpo; vinde, vinde, enchei-me e operai em mim tantas graças como se Vos recebesse Sacramentado. Nestes momentos, ficava a nadar num mar de paz, mas sempre com as mesmas ânsias e fome devoradora. Não sei; sinto que só no Céu posso ser saciada de Jesus; aqui, na terra, por mais que corra e voe para Ele, mais vazia me sinto e mais Ele me foge. Eu já não vivo, de mim ficou a dor, essa é a que eu sinto, mas nem essa agora me pertence. Ah! Se eu amasse ao menos O meu Jesus, e se nunca O ofendesse! Eu não sei, mas sinto que Jesus deve estar muito desgostoso comigo; não Lhe dei, com certeza provas de toda a minha confiança Nele.
No dia 21, passou o aniversário do meu médico. Veio visitar-me com a esposa e 7 filhinhos entre os quais vinham todos os meus afilhados. Não digo que senti alegria, porque essa Jesus não me permite senti-la, mas, sim, uma grande estima junto com um grande conforto. Retiraram-se ao ser noite. Passados uns momentos, principiei a sentir em mim uma grande preocupação; cheguei a perguntar se o carro teria luz. Não pude orar, para que tivesse boa viagem, porque estava acompanhada, mas nem por isso o meu coração deixava de Lha desejar. Passava já de uma hora solar, quando nos parou à porta um carro; bateram; minha irmã, sobressaltada, foi ver o que se passava. Era o filho mais velho do meu querido médico, que vinha à procura do Pai, da Mãe e dos irmãos. Não sei dizer o que senti, pareceu-me que fiquei louca; não pude conter as lágrimas, chorava em grande aflição; vi tudo pelo pior. Ao ver esse querido filhinho com sinais de profunda dor, sem pensar o que dizia, exclamei: eu sou uma desgraçada e a desgraça de toda a gente. Ao acabar de pronunciar a última palavra e a reflectir no que dizia, veio-me logo o arrependimento, e, ao mesmo tempo, o remorso pelo mau exemplo que acabava de dar. Meu Jesus, perdoai-me, já não tem cura; é desta forma que eu Vos amo, tende compaixão de mim.
Travou-se um combate, dos mais aterradores da minha vida. Estava Jesus, o demónio e eu. Eu vi-os todos em estilhaços e em sangue, sem vida, onde só depois de dia se podiam encontrar. Nove pessoas! Ai tanta criancinha, exclamava eu, e por minha causa; se não fosse eu, eles não vinham aqui. Nesta dor indizível, Jesus, no íntimo do coração, dizia-me:
― Sossega, Minha filha; não houve desastre, não há o mais pequenino ferimento. Eu não permitia isso àquele a quem tanto amo e tão firme e fielmente tem cuidado e velado pela Minha divina causa. Sossega, confia em Mim. Estou para ver a tua coragem. Permiti isto para grande reparação; repara. Sou, nesta noite, tão ofendido.
Jesus segredava-me isto docemente, e o demónio, forte e bruscamente, dizia-me:
― Só assim a tua vida será descoberta. Que grande castigo! Já todos estão no inferno, até mesmo dois dos teus afilhados. Olha que horror; foram as tuas maldades! Eles eram inocentes, mas foi por ti que foram condenados. Este já não chega a casa.
Referia-se ao tinha vindo procurá-los.
― À procura deste vêm os que estão em casa; acabam, nesta noite, todos os descendentes daquele a quem tanto odeio. Só assim me satisfaço do mal que ele me tem feito e podia vir a fazer. Que castigo, que vergonha!
Jesus, no íntimo, repetia-me sempre o mesmo, e o maldito, muito satisfeito, maltratava-me de insultos. Eu orava, orava, e chorava, não podia estancar as lágrimas. Ardiam duas velas a Jesus e à Mãezinha; pedia-Lhes sossego, pedia-Lhes conforto. Oferecia a Jesus todo o sofrimento para reparar o Seu divino Coração e O da Mãezinha e por várias intenções. Mas eu não podia mais, o meu espírito já não resistia. O demónio tentava vencer-me e calar a Jesus. Eu temia vacilar. Senti que Jesus veio expulsar, para longe, o demónio. Fiquei mais calma por um pouco; deixei de chorar e continuei a orar. Oferecia a Jesus o cântico dos galos, que duma e doutra parte, se ouviam e as festas de um gatinho que junto de mim estava. Aceitai todo este louvor, já que eu não vo-lo sei dar. Queria pedir para me porem no chão duro, para fazer penitência, com uma firme confiança de que, ainda que todos estivessem mortos, Jesus a todos podia ressuscitar. Porque, nesta altura, já o demónio tinha voltado com as suas falsas manhas e mentiras. Eu então vi-os a todos conduzidos ao hospital, em mísero estado. E um caderno e uma carta que o senhor doutor levava, visto e lido por quem queria; já tudo se sabia. Jesus ia bradando:
― Confia no teu Jesus, não há ferimento nenhum. Prova-Me a tua confiança em Mim. Foi o meu divino amor, que assim vos quis associar.
Chegou a hora em que eu tinha dito ao filhinho do senhor doutor, se não aparecesse ninguém que ficava sossegada, que tudo estava bem; mas não foi para mim, não consegui sossegar. Era já dia; eu não pedia para mandarem saber o que se tinha passado, para mostrar a Jesus que confiava Nele e não dar alegria ao demónio. Depois de insistirem, aceitei. Ao ser informada pelo senhor doutor do que se tinha passado e de que, na verdade, não havia ferimento algum, chorava, agradecia e louvava ao Senhor; oferecia-Lhe os meus suspiros e continuei a oferecê-los, por espaço de alguns dias, porque, sem querer, tinha que suspirar e respirar fundo. Não sei dizer o mal que esta aflição deixou em mim. Por tudo bendigo Nosso senhor, mas a dor das palavras que, sem querer, pronunciei, continua ainda. Tenho confiança que Jesus me perdoou.
Ontem, logo de manhã senti, além dos espinhos, que diariamente me cingem a cabeça, nova coroa deles por cima; parecia-me que eles me chegavam ao coração. Sentia os meus vestidos ensopados em sangue, colados ao corpo. Sentia isto em mim, e via ao mesmo tempo, em mim Jesus, com esses espinhos, com esses vestidos em sangue no Seu Santíssimo Corpo. Isto repetiu-se, durante o dia. Ao cair da tarde, quando se repetiu este sentimento e visão senti uns arrepios de frio, que me fizeram tremer; e vi Jesus muito triste a tremer também.
Não vi Jesus, ao sair da sala da ceia, despedir-se da Mãezinha, mas via a Ela, no cimo das escadas, a seguir os passos de Jesus para o Horto. Por Jesus vi os Seus olhares dolorosos, já sem O ver, e quanto ao Seu Santíssimo Coração O seguia e adivinhava o que Ele ia padecer. Que união de dor e amor era o daqueles dois Corações! Jesus caminhava, à frente dos Apóstolos não se preocupavam nem sofriam pelo que iria acontecer; iam cheios de cansaço, e, já no Horto, adormeceram. Jesus orou, suou sangue, viu-se desfalecido a caminho com a cruz, prestes a dar a vida; bebeu o cálice até à última gota. Que amargura que produzia trevas e fazia tremer a terra!
De madrugada, fui encontrá-Lo na prisão. Tremia de frio. Tinha perdido tanto sangue! Ó que desfalecimento era o Seu! Associei-me à Sua dor e tristeza, e como Ele fiquei desfalecida. Saí da prisão, nesta santa união; acompanhei-O, segui os mesmos passos. Depois, de açoitada e ferida com os mesmos espinhos de ontem, tomei a cruz, segui o Calvário, com a lança atravessada no coração. Sentia nos meus joelhos e no meu rosto as feridas, e parecia que em mim batiam as duas lajes: ou antes que eu com Jesus batia nelas. Como eu sentia todo o meu corpo ficar sem vida e sem sangue! Junto a Jesus, caminhavam os dois ladrões com as suas cruzes; ao lado de Jesus, foram crucificados. Eu sentia que os sofrimentos, as cruzes deles sobrecarregavam sobre mim, sobre a cruz de Jesus, que em mim estava. Sentia sair do Coração divino de Jesus o mesmo amor; as mesmas graças. Eu aceitava-as, o outro repelia-as. Jesus sofria, agonizava.
Hoje, no Calvário, e, ontem, no Horto, eu sentia que quanto maior era o sofrimento, a agonia de Jesus, mais o peito arquejava e coração batia! Sentia no meu as palpitações do Dele! Quando Jesus fazia romper o Seu brado ao Eterno Pai, eu sentia, como se o mundo viesse abafar-lho, ao sair dos Seus divinos lábios; ficava como se não subisse ao Céu; sumia-o a maldade do mundo. Neste abafamento angustioso Jesus expirou. Senti-me também morrer e a minha alma deixar. Passou-se algum tempo em silêncio e noite morta. Veio Jesus, e disse-me:
― Minha filha, tabernáculo de delícias, coração de fogo, coração de amor. Aqui, como em nenhum outro coração, Eu Me delicio e sou amado; aqui, como em nenhuma outra vítima, Eu recebo reparação. Repara, repara; a dor é cruz, a cruz é amor. A dor e o amor dá aos ingratos, dá aos pecadores o Céu. Se não fosse a dor e o amor abrir-lhes as portas, não havia Céu para eles apesar de existir. Continua comigo a obra da redenção; acode ao mundo, acode ao mundo. Tu és alma pura, trigo loiro joeirado, seara florescente das almas. Coragem, Minha filha! Salva-Me os pecadores. O número dos criminosos aumenta e o das almas vítimas diminui; atemorizam-se ao sentirem os sofrimentos; ao verem a cruz fogem, fogem, fogem; tornam-se tíbias e ingratas para o Meu divino Coração.
― Ó meu Jesus, ao número desses infelizes pertenço eu também. Eu fui ingrata para Vós, não soube sofrer, não aceitei também a cruz que de novo me enviastes. Que confusão a minha, ao ouvir-Vos dizer que Vos deliciais em mim, depois de eu ter sido tão má! Perdoai-me, meu Jesus, perdoai-me; dei mau exemplo, tende misericórdia de mim.
Jesus sorriu, cheio de bondade, e disse:
― Não Me ofendeste, não, Minha filha. Eu sorri, ao ouvir-te falar assim em tão grande aflição. Permiti que assim falasses, para tirar da tua dor a reparação, que desejava. Não Me ofendeste, não; confia em Mim. É no meio da luta, no combate mais renhido que a alma fiel, a alma forte mostra o seu amor a Jesus. Se o combate só fosse um não custava nada vencer. Consola-Me tanto ver-te na Minha divina presença humilhada! Tem coragem! Sê forte na cruz. Sê forte na dor. É com essa fortaleza, é com esse conjunto de dor e amor que acodes às almas, que acodes ao mundo, que te confiei, e que é tão ingrato para Comigo. Vê no estado em que Me põem os pecadores. Sou por eles ferido com as suas horrendas maldades, como o caminhante que é assaltado por ladrões, que procuram todos os meios para lhe tirarem a vida. Não morro, porque não posso morrer, mas repara bem no estado em que Me puseram.
Vi Jesus, caído à borda de uma estrada; era um mendigo chagado, esfarrapado, a tiritar de frio; parecia estar nos últimos momentos de vida. Acudi logo:
― Meu Jesus, quero levantar-Vos e não posso, quero curar-Vos as Vossas chagas e não sei quero consolar-Vos e não tenho com quê. Sou a Vossa vítima. Quero perder eu a vida, e assim chagada como Vós estais a tiritar, não de frio, mas de dor. Alegrai-Vos, Jesus, com a alegria, consolai-Vos com a Vossa divina consolação; aceitai-a, como se fosse minha, tomai a Vossa formosura e deixai-me sofrer a mim.
Jesus ficou formoso, ficou o mesmo Jesus, e disse-me:
― Ó Minha esposa querida, ó grande heroína do Calvário, em ti encontrei tudo, a ti tudo entreguei: o mundo e todos os Meus divinos tesouros; utiliza-te deles e brada incessantemente a toda a humanidade: convertei-vos, vinde a Jesus, orai e fazei penitência, se quereis salvar-vos. Deixa agora, Minha filha, que te dê o Meu divino Sangue; sem ele não tens vida, sem ele não podes dar a vida às almas.
Foi um momento para Jesus introduzir o tubo doirado no meu coração e deixar cair no meu a gotinha do Seu Sangue. Senti-me grande, tão grande, sem poder com tanta grandeza. Jesus colocou sobre o meu peito Sua divina mão, como para cicatrizar a abertura que o tubo fez. Deixei de sentir aquela grandeza; pude resistir.
― Vai, luz brilhante; vai, relâmpago faiscante; vai, farol, que guias os errantes para o Meu divino Coração, para o Meu Coração de Pai. Leva o Meu amor, leva a Minha paz, braça a cruz que te espera e vem já ao teu encontro.
― Obrigada, meu Jesus. Vou para a cruz, vou contente; vinde comigo, sem a vossa graça não tento abraçá-la.

Alexandrina

terça-feira, setembro 23, 2008

APELO AOS LEITORES

Caros amigos, leitores deste Blog,

Nós sabemos que vós sois numerosos a visitar este Blog e a ler os artigos que aqui publicamos, como sabemos que sois também numerosos a amar e a venerar a Beata Alexandrina de Balasar.
O destino e o próprio de um Blog é de proporcionar aos leitores deste, curtos artigos tendo como “guia” o fim para o qual o Blog foi criado; neste caso, fazer conhecer e amar a Beata Alexandrina.
Sabemos igualmente que os nossos amigos brasileiros visitam numerosos o site oficial da Beata, do qual temos a honra de ser Webmaster...
O nosso desejo sincero é de encontrar aqui as vossas reacções, as vossas apreciações e as vossas sugestões, não só sobre os artigos publicados no Site oficial da Beata, mas também e, mais particularmente os que neste Blog publicamos.
Ainda que os comentários que os visitantes deixam nos blogues não sejam o mais importante para o bom funcionamento destes, eles ajudam de um certo modo a corrigir certas tendências ou caminhos enveredados que possam não ser do gosto de todos.
Aqui fica pois este apelo feito a todos vós, esperando que ele seja ouvido e posto em prática por todos aqueles que nos visitam e que são cada vez mais numerosos.
Façam comentários! Ajudem-nos na nossa tarefa de divulgação expressando as vossas sugestões.
Agradeço a vossa atenção e peço à Beata Alexandrina de obter de Deus, para todos vós, as maiores bênçãos celestes.


O Webmaster
Afonso Rocha

domingo, setembro 14, 2008

“Ó SE EU PUDESSE FUGIR-VOS...”

Extrato dos “Sentimentos da alma”

Alexandrina acabara de “viver” a paixão, como todas as sextas-feiras. O seu coração está triste por ver e sentir que Jesus sofre por causa dos pecados do mundo... Ele fala e desabafa com a sua vítima; explica-lhe que o mundo e os homens pecadores “dormem no sono dos vícios e das paixões” e, que se assim continuam, terão de sofrer as consequências dos seus pecados, da falta de amor que lastimosamente demonstram perante a Bondade e Misericórdia divinas...
Os homens devem arrepiar caminho, voltar à penitência e à oração... Mas os seus corações endureceram e poucos são aqueles que imploram o perdão pelas faltas cometidas... o homem quer ser deus e revoltar-se contra o seu Criador...

« Toda a terra escureceu, fez-se noite. Jesus expirou e por uns momentos pareceu-me também passar pela morte. Jesus, a verdadeira vida, deu entrada no meu coração. Pareceu que abriu portas e janelas, iluminou-o todo e falou-me assim :
— “O mundo dorme num sono profundo, mas pavoroso sono. Os pecadores dormem no sono dos vícios e das paixões. Os pecadores dormem no sono da perdição, o sono que os leva ao inferno. Minha filha, minha filha, estou no teu coração. Estou em ti para desabafar, estou em ti para conformar-te. Tem coragem, tem coragem, é indispensável a tua dor. Acorda, acorda, desperta os pecadores deste sono de perdição. Ai deles, ai deles, minha filha. Sofre, sofre, alegra o meu Divino Coração. Repara o Meu Divino Coração. Eu quero oferecer ao meu Eterno Pai uma reparação que aplaque a Sua divina justiça. Minha filha, minha filha, se os pecadores não exigissem tal sofrimento, Eu não consentia, Eu não dava tanta larga aos homens que se opõem contra a minha divina vontade”.
— Ó meu Jesus, ó meu Jesus, eu sinto que Vós estais no meu coração, mas não me pareceis aquele Jesus cheio de ternura, de bondade e amor. Sinto que a minha alma Vos vê como juiz, mas um juiz severo e justiceiro. Ó Jesus, ó Jesus, parece-me, sinto que tenho medo de Vós. Não recebo nenhum conforto… oh ! se eu pudesse fugir-Vos ! »

Alexandrina: “Sentimentos da Alma”, 19 de Setembro de 1952.

sexta-feira, setembro 12, 2008

SENTIMENTOS DA ALMA - 1954


1º de Janeiro de 1954 – Primeira Sexta-feira


Perdi o meu maior tesouro. Perdi a Jesus, perdi a Mãezinha. Parece, sinto como se Eles morressem para mim. Não posso pensar na triste, na dolorosíssima separação de sexta-feira. Triste mortório, mas é tal a diferença como da terra ao Céu. Custou mais, infinitamente mais, a separação de Jesus e da Mãezinha, este sentimento como se Eles morressem para mim, do que quando perdemos e nos separamos dos nossos entes queridos.
Ai, meu Deus, ai, meu Deus, só ao Céu é dado compreender esta dor e àqueles que a sentem. Apenas levanto um bocadinho do véu e não consigo mais nada. Foi tal a dor que me pareceu ficar sem coração, não sei se desfeito pela dor, se Jesus e a Mãezinha mo levaram. O que sei é que ficou em mim um vazio tão grande que só o Céu mo podia encher. E depois o sofrimento de cada dia e cada noite resultado de tudo isto. Chorei muitas vezes e muitas lágrimas. A dor levava-me a levantar a voz, mas logo me vencia e chorava em silêncio. Que as minhas lágrimas sejam actos de amor para Vós, Jesus e Mãezinha! Ai de mim! Perdi os meus Amores! Mas logo a confiança obrigava o coração a falar. Creio, creio que não os perdi. Todo o meu martírio reverta em favor das almas. Sou a Vossa vítima. Creio, creio, confio que não estou só. Ai quanto custa dizer: Creio! Sem crer; confio! Sem confiar.
Neste momento, a minha alma sangra de dor por não ser capaz de dizer como foi a minha separação e a ter necessidade de o dizer. Perder a Jesus e a Mãezinha foi perder o Céu. Todo o meu ser se retalha e, no meio dela, vou dizendo sempre: creio, creio, meu Deus, eu creio! Nestes dias tão dolorosos, de tão grande martírio para o corpo e de tanta angústia para a alma, ainda veio mais um tormento para o meu pobre coração. Várias cartas me chegaram às mãos a dizerem-me que o senhor Bispo de Aveiro tinha proibido a vinda aqui dos sacerdotes. Punhais tão dolorosos! A minha alma tinha a visão da consequência desta ordem. Tanta humilhação! Se eu pudesse reparar tanto escândalo que se dá! Tantas más interpretações por causa disto! A minha oferta de vítima não cessa diante do Senhor. Por Vosso amor, tudo! Faça-se a Vossa vontade! O meu túmulo, o meu túmulo, a minha arte de cavador vai continuando. Cobri-me eu mesma com a terra do meu sepulcro. Fui eu que me cobri, fui eu que desapareci, que me enterrei. Estou tão funda, tão funda!... Parece que toda a terra da humanidade me cobre e os suores da alma vão continuando assim como a eternidade e a inutilidade. Não conta, não anda a eternidade. Que pavorosa ela é! Se Jesus não velasse, só ela me tirava a vida. Tanto sofrer para tanta inutilidade! Uma vida de tanta dor para nada ter que oferecer a Jesus. Estou de mãos vazias. As minhas ânsias tão infinitas, tão infinitas não as posso fazer compreender. Quero o mundo, quero o mundo dentro do meu coração. Quero todos os corações, quero todas as almas, quero levá-las com o meu sangue. Quero amar a Jesus pelo mundo inteiro. Queria morrer, a cada momento, até ao fim dos séculos e a cada momento dar o sangue até à última gota, para que nenhuma alma se perdesse, nem nenhum coração deixasse de amar a Jesus. Queria, sim, dar todo o meu sangue e a vida, a cada momento, até ao fim dos séculos para evitar um só pecado.
Ai, ai, não posso consentir que Jesus seja ofendido! Eu não tive horto. Vou dizer o melhor que puder o que senti.
Sobre o solo do horto esvoaçava uma pomba. Tinha sempre no seu biquito uma gota que deixava cair sobre a terra e se transformava em orvalho fecundador. Uma gota caía, logo outra aparecia. Este orvalho era celeste. Era o maná que alimentava, que dava a vida, dava luz e sabedoria. Uma vida no ar, outra vida na terra. A minha alma tornava-se sábia, compreendia tudo isto, tudo o que era do Céu. A minha dor, a minha dor humana vivia-a, sentia-a o mais dolorosa que se pode imaginar.
No calvário de hoje, a mesma pomba continuava a voar, a deixar cair as mesmas gotas que se transformavam em orvalho, orvalho celeste e a dar a mesma luz e vida de sabedoria. Eu cá em baixo levava a cruz da minha vida dum martírio indizível. Não vi Jesus, não o senti. Não soube que Ele expirasse. Veio alguém que juntou ao meu coração, à minha vida terrestre a vida divina. Essa mesma vida comunicava-se a mim como quem injecta. Desapareceu a minha vida terrena para viver a outra. O coração e a alma fortaleceram-se mais. A casa do meu interior tinha mais luz. Diz-me Jesus nesta altura:
— “Sou o Senhor do mundo, o Senhor da paz, o Senhor da fé e da confiança. Crê, crê, vive da fé. É colóquio de fé.”
Creio, creio, Jesus. A gota de sangue Jesus não disse que ma ia dar; senti o choque e o meu coração ficou unido ao outro Coração, a chupar dele como a criancinha no seio de sua mãe. Novas palavras de Jesus.
— “Coragem! Vive para as almas. Recebe as carícias de minha Bendita Mãe. Sou Eu o portador delas, já que amanhã Ela não te vem falar.”
— Obrigada, Jesus. Dizei à Mãezinha o meu muito obrigada.
Não disse tudo da minha separação. Que saudade das carícias da Mãezinha e saudade da Santíssima Trindade. Toda Ela me abraçava com a Mãezinha, e o Divino Espírito Santo em forma de pomba irradiou-me toda com a Sua luz, que iluminou todo o meu ser; prendia-me a Ele com fitas de várias cores que d’Ele pendiam. O que foi! Quanto custou! Não digo nada. Fico na minha dor e na minha eterna saudade.

Beata Alexandrina

terça-feira, setembro 09, 2008

HOMILIA DE D. POLICARPO

“Evangelizar é anunciar o amor”


Homilia de D. José Policarpo,
no Encerramento do Congresso Missionário Nacional
(7 de setembro de 2008)


1. Com esta celebração, encerra-se o Congresso Missionário Nacional. E fazemo-lo aos pés de Maria, Mãe da Igreja, que acompanha com ternura maternal todos aqueles e aquelas que anunciam o Seu Filho Jesus Cristo. Mais do que qualquer outra criatura, Maria ensina-nos que só se pode anunciar Jesus Cristo com amor, a Ele e aos homens que hão-de sentir-se amados por Ele, que encontrarão nesse amor a sua redenção. Maria ensina-nos que evangelizar é anunciar o amor, com amor.São Paulo, na Carta aos Romanos, fala-nos da redenção como libertação. O cristão que mergulhou no amor de Jesus Cristo e d’Ele recebeu o Espírito de amor, é um homem livre; só uma realidade o obriga e o dinamiza: amar. A exigência do amor situa o cristão para além da Lei, porque o amor é a plenitude da Lei. É certo que o Senhor Jesus, continuado na Igreja, nos apresenta mandamentos que nos indicam o caminho da vida. Mas eles cumprem-se todos no amor do próximo e nenhum deles é válido se não indica o caminho do amor.Toda a missão, na Igreja, se resume a isso: anunciar o amor infinito com que Deus ama todos os homens e que exprime, de forma total e radical, no Seu Filho Jesus Cristo e no amor com que nos amou, ao dar a vida por nós. A missão é o anúncio desse amor, procura levar todos os homens a sentirem-se amados: amados porque perdoados; amados porque convidados para novos horizontes de liberdade; amados porque sentiram um sentido novo na vida, um novo horizonte de esperança. Ao sentirem-se amados, os seus corações abrem-se para o amor a Deus e aos irmãos.Mas a Igreja só pode anunciar o amor, amando e deixando-se amar. Ela é o fruto fecundo do infinito amor de Deus que a ama em Jesus Cristo. E ao mergulhar nesse amor, ela abraça o mundo com o amor de Jesus Cristo, porque ela é o sacramento da salvação, realizada pelo amor de Cristo. Evangelizar é levar os homens a sentirem a força transformadora do amor de Cristo na Cruz; os homens sentirão a força desse abraço se se sentirem amados pela Igreja.Evangelizar não é um programa, uma atitude de estratégia proselitista, é uma loucura de amor. Só o amor fará a Igreja não desistir de anunciar Jesus Cristo, em todos os tempos e circunstâncias e a abrirá às surpreendentes maravilhas que só o amor de Deus pode realizar.2. Anunciar o amor a homens concretos, em situações concretas é também ter consciência das prisões que tolhem os corações impedidos de se abrirem ao amor. Como os Profetas do Antigo Testamento, os evangelizadores são sentinelas, atentos ao que se passa, conscientes dos perigos e das ameaças, prontos a indicar o recto caminho da liberdade. É que a evangelização é anúncio, não de um amor qualquer, mas do amor redentor, daquele que liberta e introduz no autêntico caminho da vida. Ajudar as pessoas a libertarem-se daquilo que as mantém prisioneiras, é a primeira expressão do amor. Não como quem julga ou condena, mas também sem aquela compreensão enganadora de quem tudo explica e tolera. Não esquecer a máxima de Paulo: “A caridade não faz mal ao próximo”.Isto exige dos cristãos, na complexidade da sociedade contemporânea, a coerência com o Evangelho do amor. Por vezes o seu testemunho coerente, porventura silencioso, é essa denúncia do que aprisiona o homem, e a afirmação da verdadeira liberdade do coração. Não são só as pessoas individualmente, mas as sociedades, os grupos, as estruturas, que precisam de ser ajudadas a superar tudo o que aprisiona o homem e impede a harmonia e a felicidade. E essas sentinelas sempre alerta, sempre com amor e por amor, são tanto a Igreja no seu todo, como cada cristão, inserido na realidade concreta do mundo, mas coerente com a liberdade dos filhos de Deus. No Evangelho de São Mateus, Jesus recomenda aos discípulos que quando a sentinela que cada um deve ser não conseguir mudar o rumo daqueles que quer ajudar, que entreguem o caso à Igreja, a grande sentinela vigilante, não para que os julgue ou condene, mas para que os envolva no seu amor, porque com ela está sempre o Senhor: “Digo-vos: se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhe-á concedida por Meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde dois ou três estão reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles”. A Igreja missionária reza continuamente por aqueles a quem anuncia o amor, a quem quer ensinar os caminhos da liberdade.3. O ardor missionário é a página mais gloriosa do Povo Português. Parece que cerca de 500 Dioceses actuais receberam a fé dos missionários portugueses. Entreguemos a Maria, a primeira mensageira do amor redentor, todos aqueles e aquelas que ainda hoje gastam as suas vidas ao serviço do Evangelho do amor. Que eles aprendam com Maria, a inquietação que não lhes permite parar, a alegria de quem anuncia boas-novas, a coragem para não desistir, a confiança para acreditar que cada pessoa humana pode ser um santo, se se abrir ao amor.
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca de Lisboa

quinta-feira, julho 31, 2008

EXTRAORDINARIA SURPRESA !

A Bulgária em segundo lugar!

As estatísticas mensais do Sítio oficial da Beata Alexandrina de Balasar, “acusam”, para o mês de Junho passado, uma surpresa muito extraordinária: a posição no segundo lugar do “Palmarés” de visitas da Bulgária.
Depois de diversas investigações, tivemos que nos render à evidência: este país ocupa exactamente o segundo lugar, com 21,47% de visitantes, seguido por Portugal com 13,80% de visitantes.
O primeiro lugar é ocupado, como de costume, pelo Brasil que conta 38, 65% de visitantes.
Este facto é digno de realçar, visto que é a primeira vez que um país que nunca ocupou os três primeiros lugares, venha assim “desalojar” Portugal do seu habitual segundo lugar.
Esperemos pelas estatísticas do mês de Julho, para vermos se tal facto se confirma ou se apenas foi “ocasional”.

domingo, julho 06, 2008

NOVOS SANTOS E BEATOS

Promulgados 14 decretos da Congregação das Causas dos Santos


É uma boa notícia que nous chega de Roma: vamos ter mais um Santo Português!...


CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 3 de julho de 2008 (ZENIT.org).- Nesta quinta-feira pela manhã, Bento XVI recebeu em audiência privada o cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, e autorizou à Congregação a promulgação dos seguintes Decretos relativos a milagres, martírios e virtudes heróicas de Beatos e Servos de Deus.

MILAGRES
Um milagre atribuído à intercessão do Beato Damião José de Veuster, sacerdote professo da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria e da Adoração do Santíssimo Sacramento do Altar, belga (1840-1889).
Um milagre atribuído à intercessão do Beato Nuno de Santa Maria Álvares Pereira (no século, Nuno), leigo professo da Ordem dos Frades da Beata Virgem Maria do Monte Carmelo, português (1360-1431).
Um milagre atribuído à intercessão do Venerável Servo de Deus Luís Martin, leigo e pai de família, francês (1823-1894) e da Venerável Serva de Deus Maria Zélia Guérin Martin, leiga e mãe de família, francesa (1831-1877).
MARTÍRIO
Do Servo de Deus Francisco João Bonifácio, sacerdote diocesano, italiano, nascido em 1912 e assassinado por ódio à fé em Villa Gardossi (Itália), em 1946.
VIRTUDES HERÓICAS
Do Beato Nuno de Santa Maria Álvares Pereira (no século, Nuno), leigo professo da Ordem dos Frades da Beata Virgem Maria do Monte Carmelo, português (1360-1431).
Do Servo de Deus Estevão Douayhy, Patriarca de Antioquia dos Maronitas, libanês (1630-1704).
Do Servo de Deus Bernardino dal Vago da Portogruaro (no século, José), arcebispo titular de Sardica, da Ordem dos Frades Menores, italiano (1822-1895).
Do Servo de Deus José di Donna, bispo de Andria, da Ordem da Santíssima Trindade, italiano (1901-1952).
Da Serva de Deus Maria Bárbara da Santíssima Trindade Maix (no século, Bárbara), fundadora da Congregação das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, austríaca (1818-1873).
Do Servo de Deus Pio Keller (no século, Johan), sacerdote da Ordem de Santo Agostinho, alemão (1825-1904).
Do Servo de Deus Andrés Hibernón Garmendia (no século, Francisco Andrés), irmão professo do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, espanhol (1880-1969).
Da Serva de Deus Chiara Badano, jovem leiga italiana (1971-1990).

sábado, junho 28, 2008

ESTATISTICAS

Estatísticas parciais

A afluência de visitantes no “velho” Site consagrado à Beata Alexandrina de Balasar é verdadeiramente animadora. Efectivamente, até ao dia 23 do corrente mês de Junho o Site recebeu 4 400 visitantes e 9 000 páginas foram consultadas.
Os quatro primeiros lugares na classificação por países, é também surpreendente, como podem ver a seguir:

França :.................24%
Brasil :...................21%
Portugal :...............21%
Estados Unidos :....18%

Pensamos que daqui até ao fim do corrente mês estes números vão evoluir, mas pareceu-nos bem indicá-los desde já, que mais não seja, para agradecer a vossa fidelidade.
A igualdade entre portugueses e brasileiros é muito engraçada, quando se sabe que no Site Oficial o Brasil ultrapassa de longe Portugal.
Os 18% dos Estados Unidos provam que os emigrantes portugueses e brasileiros que por lá vivem, precisam de fontes de espiritualidade, e demonstram uma grande devoção à “Santinha de Balasar”.
Tudo isto é motivo para nós não só de grande satisfação, mas também de maiores esforços para vos oferecer assuntos que despertem sempre e cada vez mais o vosso interesse, mas sobretudo o vosso amor para com a Beata Alexandrina.
Que o Senhor vos recompense e permita à Beata Alexandrina de estar sempre atenta aos vossos pedidos.
O Webmaster.

sexta-feira, junho 27, 2008

CARTAS A UM AMIGO – 02



França, 2 de Fevereiro de 2005


Meu caro José,


Fiquei surpreendido de me dizeres que tinhas lido a minha última carta aos teus amigos, a quando de uma reunião da tua Associação e que eles estão entusiasmados e desejosos de conhecer algo mais sobre a “Santinha de Balasar”.
Tu sabes bem que eu não sou escritor e que as minhas cartas nada mais têm que o desejo de informar e de mostrar que a santidade é para todos e não para alguns “privilegiados”: todos nós podemos ser santos se cumprirmos os mandamentos de Deus e mais particularmente os dois primeiros, visto que todos os outros dependem destes.
Continuando a falar do que me pediste, vou então contar-te algumas coisas da vida da Beata Alexandrina de Balasar.
Antes, todavia, como ela mesmo o fez, imploro a ajuda do divino Espírito Santo de maneira que tudo quanto terei a escrever, seja para a maior glória de Deus e o bem das almas que estas linhas irão ler. Como nada sou, nada pretendo para mim, senão para o bem da minha alma que humildemente coloco entre as Mãos de Deus, a quem toda a glória e toda a honra seja prestada por todos os séculos. Amem.
Na sua Autobiografia ― datada de 20 de Outubro de 1940 ― a Beata Alexandrina escreve:
« Nasci na freguesia de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, a 30 de Março de 1904, numa quarta-feira de trevas, e fui baptizada a 2 de Abril do mesmo ano, era então Sábado de Aleluia ».
A Alexandrina nasceu durante a Semana Santa, como aqui se pode ler. Um certo número de factos notáveis da sua vida ocorrerão também durante a Semana Santa, como veremos mais tarde.
« Serviram de padrinhos ― continua ela a explicar ― um tio de nome Joaquim da Costa e uma senhora de Gondifelos, Famalicão, de nome Alexandrina », razão pela qual ela mesma foi chamada Alexandrina, como era então a tradição: era a madrinha que escolhia o nome da afilhada.
Este tio de quem ela fala e que foi seu padrinho de baptismo e protector da família nos momentos difíceis que esta atravessou, foi sepultado na campa familiar, no cemitério de Balasar, onde mais tarde foram igualmente sepultadas Maria Ana, à mãe da Alexandrina e Deolinda, a irmão mais velha.
Uma das grandes virtudes da Beata foi a humildade. Aqui tens, meu amigo, um exemplo dessa virtude que ela “cultivou” no jardim da sua bela alma:
« Encontro em mim, desde a mais tenra idade, tantos, tantos defeitos, tantas, tantas maldades que, como as de hoje, me fazem tremer. Era meu desejo ver a minha vida, logo desde o princípio, cheia de encantos e de amor para com Nosso Senhor. »
Preparando-se ― depois de ter identificado ― para nos contar a sua vida, ela afirma:
« Até aos três anos de idade não me recordo de nada, a não ser de algum carinho que dos meus recebia. Com os meus três anos recebi o primeiro mimo de Nosso Senhor. »
Para que saibas, caro José, que são estes “mimos” do Senhor, dir-te-ei que esta palavra tem aqui o sentido oposto ao que ela quer na verdade dizer. Quando ela fala de “mimos” do Senhor, fala-nos de sofrimentos livremente aceites que Jesus permitia para o bem das almas.
Este primeiro “mimo” de que aqui fala refere-se a um incidente causado pela sua teimosia e desobediência ao que lhe dissera a mãe. Serviu-lhe de exemple e, daí em diante, foi mais obediente, mas mesmo assim sempre traquina. É que os santos são como toda a gente, também têm os seus defeitos, mas a vantagem deles é que sabem corrigi-los e arrepender-se... o que nem sempre é o nosso caso, amigo José.
Desde muito pequena, Alexandrina sentiu-se atraída pelo Céu. Ouçamos o que ela escrever na sua Autobiografia:
« Pelos quatro anos e meio de idade, punha-me a contemplar o céu (abóbada celeste) e perguntava aos meus se poderia chegar-lhe se pudesse colocar umas sobre as outras todas as árvores, casas, linhas dos carrinhos, cordas, etc., etc. Como me dissessem que nem assim chegaria, ficava descontente e saudosa, porque não sei o que me atraía para lá. »
Santa inocência!...
Mas não era só o Céu que a atraía: a oração também, como ela no-lo conta:
« Já nesta idade amava muito a oração, pois lembra-me que minha tia pedia-me para rezar com ela a fim de obter a sua cura. »
Lembra-te, meu amigo, que ela apenas tem quatro ou cinco anos...
Depois, como ela conta, começou a frequentar a catequese, onde depressa vai aprender o que lhe será necessário para ser mais tarde catequista.
Estas frequentes visitas à igreja paroquial, proporcionavam-lhe ocasião de vislumbre, de meditação:
« Quando me encontrava na igreja, punha-me a contemplar os santos, e os que mais encantavam eram as imagens de Nossa Senhora do Rosário e S. José, porque tinham uns vestidos muito bonitos e eu desejava ter uns iguais aos deles. Não sei se seria já princípio da manifestação da minha vaidade. Queria ter uns vestidos assim, porque perecia-me que ficava mais bonita com eles. »
Seria mesmo vaidade?
Penso que não e, note-se que ela mesmo o não afirmar, nada mais faz do que fazer uma pergunta. E na verdade, a Alexandrina que gostava de andar “asseadinha”, nunca foi pessoa vaidosa.
Depois de apontar os seus “defeitos” ela aponta também algumas das suas virtudes, entre as quais o seu amor a Nossa Senhora:
« E, se nesta idade manifestava os meus defeitos, também mostrava o meu amor para com a Mãe do Céu, e lembra-me com que entusiasmo cantava os versinhos a Nossa Senhora e até me recordo do primeiro cântico que entoei na igreja, que foi “Virgem pura, tua ternura, etc.” »
Começava já a despontar nela aquele amor indizível que crescerá mais ainda no que toca à nossa Mãe do Céu, que muito em breve ela começará a chamar “Mãezinha”.
Como vês, meu amigo, a vida da Alexandrina tem muito que contar e não serão apenas algumas páginas o suficiente para a descrever. Resumir uma vida tão cheia de Deus e das coisas de Deus, seria, a meu ver, traí-la. E eu não posso trair a querida Alexandrina...
Ficamos hoje por aqui, caro José. Na próxima carta te contarei mais algumas “aventuras” desta jovem extraordinária que a Igreja considerou digna das honras dos altares.
O teu amigo dedicado.


quinta-feira, junho 26, 2008

CARTAS A UM AMIGO – 01


França, 2 de Janeiro de 2005

Caro amigo José,

Na tua última carta, motivado pelo que por aí na Califórnia tens ouvido, pedes-me que te fale da Alexandrina de Balasar, ou mais exactamente Beata Alexandrina Maria da Costa, visto que o Santo Padre João Paulo II a beatificou em Roma no dia 25 de abril de 2004.
Falar daqueles que se ama, é sempre um grande e indiscritível prazer, mas no casa da Beata Alexandrina esse prazer é ainda maior, visto ter por ela uma grande admiração, uma devoção verdadeira e um amor que só Deus e ela podem conhecer.
Um dia te direi como a conheci, visto que essa graça merece ser publicada, não só para a maior glória de Deus e honra dela, mas também para lhe agradecer tudo quanto por mim fez e fará ainda, estou disso certo.
Devo dizer-te, meu bom amigo, que para te contar, ainda que sucintamente a vida de tão extraordinária personalidade, uma só carta não chegará, nem mesmo três ou quatro, visto que uma vida tão repleta como a da Bem-aventurada, necessita muito mais.
Dizes-me que ouviste falar dela aí na Califórnia, no meio de algumas associações de portugueses que por aí vivem e que alguns dos teus amigos são nativos do Porto, Braga, Famalicão, Barcelos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, vilas e cidades pouco distantes de Balasar. Dizes-me ainda que alguns dos mais idosos afirmam tê-la conhecido pessoalmente e tê-la visitado, o que nada tem de impossível, visto que ela voou para o Céu na quinta-feira 13 de Outubro de 1955, aniversário da última aparição de Nossa Senhora em Fátima.
Essas pessoas que tu conheces e que conheceram a Alexandrina poderiam informar-te, contar-te a vida dela, uma vida toda cheia de Deus e do amor do próximo. Tendo-a conhecido, eles devem conhecer igualmente numerosos factos ocorridos na casa dela, casos talvez ignorados pelos biógrafos e que seria bom conhecer... sendo estes verdadeiramente autênticos, como é óbvio.
Devo informar-te igualmente que por intermédio da Internet, podes ter acesso ao “Site” que consagrei à Beata Alexandrina, onde podes ler, mais rapidamente, não só a Autobiografia, mas igualmente diversos artigos. Mesmo se a maior parte deles estão escritos em francês, existem também numerosas páginas em Português.
http://alexandrina.balasar.free.fr/
Ainda não existe “Site oficial” da Beata Alexandrina, mas eu penso que isso acontecerá muito em breve, visto que é absolutamente necessário que ela seja conhecida e amada por um maior número de católicos; que ela venha a ter um maior número de devotos e sejamos numerosos a pedir ao Senhor a sua canonização.
Como vês, nesta primeira carta pouco te direi sobre ela, visto que era necessário, como deves compreender, assentar as bases de quanto terei para te escrever, porque a vida da Beata Alexandrina, para ser bem conhecida, necessita de um mínimo de informações, informações essas que não devem ser encurtadas por motivos de espaço ou de tempo.
Dir-te-ei desde já que vou utilizar regularmente a Autobiografia e depois, quando isso for necessário extractos das cartas que escreveu ao seu primeiro Director espiritual, o Padre jesuíta Mariano Pinho.
Um outro documento que utilizarei no momento oportuno será o seu Diário ― intitulado “Sentimentos da alma” ― cuja densidade mística é admirável et a coloca no cimo da lista dos grandes místicos da Igreja Católica, ao mesmo nível que Santa Teresa de Ávila, S. João da Cruz, Beata Ângela de Foligno e de alguns mais, sem esquecer a grande Doutora da Igreja por quem Alexandrina tinha uma grande devoção: Santa Teresinha do Menino Jesus.
Para tua informação, posso dizer-te que Balasar é uma aldeia situada no norte de Portugal, entre Braga e o Porto. Pertence à diocese de Braga.
Balasar tem uma particularidade: a aldeia é formada por um conjunto de lugares, separados uns dos outros por campos, pinhais e ramadas de vinha, tendo como ponto central a Igreja paroquial que se situa sobre uma pequena elevação e pode ser vista de todos esses lugares que constituem a paróquia.
Foi junto à igreja paroquial que em 1832, em manhã de domingo, quando os paroquianos vinha assistir à missa, apareceu uma cruz de terra negra que ninguém mais conseguiu apagar e que ainda hoje existe, protegida por uma simples capela, chamada a Capela da Santa Cruz.
Mais tarde, Jesus falará à Beata Alexandrina dessa cruz misteriosa: era o “presságio” anunciando a vítima futura. Mas, não quero antecipar...
De maneira que na próxima carta possa começar a falar-te de Alexandrina, devo dizer-te, desde já, que ela era filha de Maria Ana da Costa.
Alexandrina tinha uma irmã mais velha: a Deolinda, que virá a ser mais tarde a “secretária” paciente e bondosa a quem a Beata ditará o seu Diário.
E o pai? Poderás tu perguntar.
O pai da Alexandrina não chegou a casar com a Maria Ana. De facto, prometendo-lhe casamento, fez-lhe duas filhas mas decidiu depois casar com outra mulher, abandonando a mãe e as filhas.
Maria Ana desde então mudou de vida e educou cristãmente as duas filhas e veio mesmo a ser um bom exemplo de conversão e de amor de Deus, perante os seus conterrâneos.

O teu amigo fiel e dedicado.

segunda-feira, junho 23, 2008

JUNTO DO ALTAR



A primeira referência ao Sagrado Coração de Jesus que encontramos nos escritos da Alexandrina, encontramo-la na sua Autobiografia, quando ela nos conta como aconteceu a sua primeira confissão geral, em Gondifelos a Frei Manuel das Chagas. Ela no-la descreve com a sua simplicidade habitual:

«Foi aos nove anos que fiz pela primeira vez a minha confissão geral e foi com o Sr. Padre Manuel das Chagas. Fomos, a Deolinda, eu e a minha prima Olívia, a Gondifelos, onde Sua Reverência se encontrava, e lá nos confessámos todas três. Levámos merenda e ficámos para arde, à espera do sermão. Esperámos algumas horas e recorda-me que não saímos da igreja para brincar. Tomámos nosso lugar junto do altar do Sagrado Coração de Jesus e eu pus os meus soquinhos dentro das grades do altar. A pregação dessa tarde foi sobre o inferno. Escutei com muita atenção todas as palavras de Sua Reverência, mas, a certa altura, ele convidou-nos a ir ao inferno em espírito. Para mim mesma disse: “Ao inferno é que eu não vou! Quando todos se dirigirem para lá, eu vou-me embora”, e tratei de pegar nos soquinhos. Como não vi ninguém sair, fiquei também, não largando mais os soquinhos».

A escolha do confessor não deve ter sido um acaso, mas uma escolha divina, visto que Frei Manuel das Chagas era naquele tempo muito conhecido, não só como um confessor atento e experimentado, mas ainda como um pregador de grande renome.
Nascido a 17 de Novembro de 1850, no lugar da Borralha, perto de Águeda, entrou na Ordem Franciscana a 22 de Maio de 1868, professou no ano seguinte, a 22 de Maio de 1869 e foi ordenado presbítero a 27 de Agosto de 1873.
Como dizíamos acima, Frei Manuel das Chagas foi um pregador de grande valor, muito prolífero. Vejamos:
Pregou o seu primeiro sermão durante a Quaresma de 1875, e o seu último a 15 de Abril de 1923, antes de falecer em Tuy, na Espanha, a 17 de Maio de 1923. Durante estes quarenta e oito anos de apostolado intenso, pregou 8.140 sermos. Sim, leram bem e, para que não hajam dúvidas, repetimos: 8.140 sermões.
Para ouvi-lo, a Alexandrina e as suas companheiras não hesitaram em ir a Gondifelos, paróquia vizinha de Balasar, onde se confessaram e depois esperaram “algumas horas” e, recorda-se ela anos mais tarde, que nem saíram “da igreja para brincar”.
Para não perder a mínima migalha do sermão do bom frade, Alexandrina foi postar-se, com a irmã e a prima “junto do altar do Sagrado Coração de Jesus”.
Esta é, como já dito, a primeira referência ao Sagrado Coração de Jesus. Depois desta, muitas outras virão e, será dessas referências ou alusões ao Coração divino do Senhor que iremos dissertar um pouco mais adiante.
Para já, e mesmo antes de qualquer outra afirmação ou comentário, como o Padre Mariano Pinho, podemos dizer que «da abundância do coração falam os lábios. Foi da abundância do coração, do seu intenso viver íntimo que brotaram todas essas páginas da Alexandrina e elas revelam-nos tantas coisas extraordinárias. Apesar da sua feição tão angelical, tão simples, tão verdadeira, tão serena, tão sem complicações: aprouve à divina Providência levá-la por vias nada vulgares e de autênticas maravilhas»[1].
O nosso intento é de mostrar, tanto quanto nos for possível, o lugar ocupado pelo Coração de Jesus na vida interior da Alexandrina.
Jesus falou-lhe muitas vezes, e muitas vezes lhe mostrou e explicou as características do seu divino Coração, como veremos. São estas características que nós iremos procurar e desenvolver, uma a uma, na sua ordem cronológica.
Todavia, antes de começarmos esse estudo, teremos de sobrevoar a história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, o que nos ajudará a melhor compreender o percurso extraordinário da “Doentinha de Balasar” nos caminhos espinhosos da vida íntima com o Senhor.


[1] P. Mariano Pinho, SJ: No Calvário de Balasar, Introdução.

sábado, junho 07, 2008

CARTA A BEATA ALEXANDRINA

Algures, 3 de março de 2008


Cara Alexandrina,


Quando eu leio os teus escritos, os teus “Sentimentos da Alma”, sinto uma grande vontade, um grande desejo de te imitar, mas depressa me dou conta que estou longe, muito longe de ti, para verdadeiramente poder procurar imitar-te.
O meu quotidiano nada mais é do que um rio cheio de detritos, de imundices, de pecado: a minha miséria é maior do que eu e submerge-me.
Que podes tu fazer por mim? Como podes tu ajudar-me? Não tens dó de mim, eu que sou o teu irmãozinho?
Ó irmãzinha querida, ajuda-me! Ajuda-me a fugir ao pecado e à ocasião de pecar, para que eu possa marchar na direcção do Senhor como tu o fizeste, tu que, apesar dos grandes sofrimentos, tão maravilhosamente o conseguiste fazer.
Irmãzinha querida, vê como sou miserável et tem piedade!
Tu sofreste pelos maiores pecadores: fazia eu já parte do número desses?
Sofreste tu por mim quando ainda te não conhecia?
Penso que sim e, quero agradecer-te e a minha maneira de te agradecer será de procurar imitar as tuas virtudes. Mas, mesmo para fazer isso, preciso da tua ajuda, porque sou verdadeiramente miserável e frágil... A minha vontade é como uma esponja: quando está cheia de água, encontra-se confortada, mas quando a água se esvai, logo seca, torna-se rígida, incapaz do mínimo esforço, do mínimo movimento...
Minha irmãzinha, estou agora a escrever-te, agora neste momento... e nem sei porque razão o faço... mas faço-o como se obedecesse a uma impulsão... Se és tu que me inspiras, recebe os meus agradecimentos sinceros e agradece por mim ao Senhor que de ti se serve uma vez mais para me prevenir que devo arrepiar caminho...
Estas palavras “arrepiar caminho”, tu as conheces bem: muitas vezes as ouviste da boca de Jesus e, tu mesma muitas vezes as disseste àqueles irmãos que te vinham visitar...
Tu sabes que eu te amo dum amor particular, porque eu só me sinto bem ― pondo de parte os mementos em que o “outro” me puxa pelos pés! ― que eu só me sinto bem, dizia, quando leio os teus escritos e quando falo de ti e de tudo o que foste e fizeste...
Mas, não será isso também uma “fachada”, uma árvore que esconde a imensa floresta da minha alma, esta alma que se sente triste a morrer, que não sabe o que fazer, que já não sabe para que santo se voltar?
Irmãzinha querida, ajuda-me a viver em Jesus, de Jesus e para Jesus, como tu mesma tão bem o fizeste. Ajuda-me a lavar toda esta sujidade que cobre a minha pobre alma, para que, ficando “limpo”, eu possa apresentar-me diante do Senhor, cheio de alegria e o coração repleto de amor...
Como tu, também eu possa dizer: “Jesus, eu não sei quanto te amo, não sei como te amo, mas sei que quero amar-te!”
Alexandrina Maria, minha irmãzinha do Céu, roga por mim a Jesus!
Eu não assino, mas tu sabes quem eu sou...

domingo, janeiro 13, 2008

MOVIMENTO MUNDIAL

Para a santificação do Clero

O Cardeal brasileiro, Dom Cláudio Hummes, antigo arcebispo de São Paulo – apresentado pela imprensa, a quando do último conclave, como um “papabile” progressista — acaba de lançar um “movimento mundial” que nada tem de progressista, mais que integra a mais pura tradição da Igreja universal: a adoração eucarística permanente e a “maternidade espiritual” para a santificação do clero.
Se é isso ser “progressista”, também eu o quero ser!...
O documento enviado a todas as dioceses do mundo comporta 5 textos importantes, como o podereis verificar, consultando-os aqui neste Sítio.
Vamos empenhar-nos, tanto quanto nos for possível, a dar a este movimento toda a publicidade que estiver ao nosso alcance e segundo os nossos meios de acção evangélica.
Convidamos todos os nossos amados visitantes a fazer o mesmo, visto que se trata dum movimento para o bem do clero, para o aumento das vocações sacerdotais e religiosas de que o mundo actual tanto carece e, por isso mesmo para o bem das almas.
Mas deixemos que o Prefeito da Congregação para o Clero explique ele mesmo o porquê desta sua iniciativa.
Reproduzimos a seguir o texto da Agência romana Zénit:
*** *** ***
« CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 7 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- O cardeal Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero, comentou ao jornal vaticano “L’Osservatore Romano” a iniciativa, lançada pelo dicastério que ele preside, de celebrar uma adoração eucarística perpétua no âmbito mundial para orar pela santidade dos sacerdotes.
O purpurado brasileiro indica que os sacerdotes infiéis a seu compromisso de celibato são menos de 1%.
O cardeal Hummes reconhece, na entrevista publicada pelo jornal vaticano em 5 de janeiro passado, que “sempre houve problemas porque todos somos pecadores”, mas “na actualidade, factos verdadeiramente muito graves foram denunciados”.
A iniciativa foi convocada pela Congregação vaticana para o Clero com uma carta datada de 8 de dezembro de 2007 (Carta pela santificação dos sacerdotes).
Obviamente, sublinha o cardeal Hummes, deve-se recordar que estes factos afectam só a uma mínima parte do clero: “Nem sequer 1% tem a ver com problemas de conduta moral e sexual. A grande maioria não tem nada a ver com factos desse tipo”.
Apesar disso, acrescenta, todos os sacerdotes precisam “de ajuda espiritual para viver a própria vocação e a própria missão no mundo de hoje” e daí a proposta de uma iniciativa que tem dois aspectos: “a adoração eucarística, perpétua se for possível, e a maternidade espiritual em favor dos sacerdotes”.
“Propusemos aos bispos que promovam nas dioceses autênticos ‘cenáculos’ nos quais consagrados e leigos se dediquem, unidos e em espírito de verdadeira comunhão, à oração sob forma de adoração eucarística continuada”, assinala o purpurado.
O objectivo é que “de cada ângulo da terra se eleve sempre a Deus uma oração de adoração, acção de graças, louvor, súplica e reparação. Uma oração incessante para suscitar um número suficiente de vocações ao sacerdócio santas e, juntos, acompanhar espiritualmente, com uma espécie de maternidade espiritual, todos que já foram chamados ao sacerdócio”.
O cardeal recordou que se escolheu a adoração eucarística porque “é o próprio centro da vida da Igreja, o ponto mais alto”.
Acrescentou que “o sacramento da Eucaristia está totalmente ligado ao sacerdote, que é ordenado sobretudo para celebrá-lo” e que, por este motivo, “a adoração eucarística em favor dos sacerdotes recorda a própria natureza do sacerdócio”.
Os destinatários da iniciativa são “todas as forças vivas, a partir das crianças que se preparam para a primeira comunhão”.
Acrescenta que corresponde um papel especial às religiosas. “A exemplo de Maria, as almas femininas consagradas podem adoptar espiritualmente os sacerdotes para ajudá-los com sua entrega, oração e penitência.”
O purpurado assinala que a vocação a ser mãe espiritual dos sacerdotes é “pouco conhecida, escassamente compreendida e por isso pouco vivida, apesar de sua importância fundamental e vital”.
“Independentemente da idade e estado civil, todas as mulheres podem converter-se em mães espirituais de um sacerdote”, indica, e recorda que isso implica orar “por um sacerdote específico e acompanhá-lo assim durante toda a vida”, em geral de forma anónima.
“Isso, diz-nos a história, produz grandes frutos espirituais em favor dos sacerdotes” que “gastam toda a vida, ainda com seus limites, por Deus e pelo próximo”, “pregam e cultivam o bem, ajudam as pessoas”.
Em uma sociedade na qual a cultura é “muito crítica, inclusive adversa à religião” e com frequência se actua “como se a fé tivesse de desaparecer”, todos os cristãos estão chamados a rezar por seus ministros e por sua santificação, conscientes de que os sacerdotes são “grandes benfeitores da humanidade” ».
Aqui fica pois a explicação do “audaz” cardeal do país irmão.
No documento principal (o número 5), fala-se mais pormenorizadamente da “maternidade espiritual”, e alguns exemplos desta maternidade são dados. Lá podemos ver quão grande foi a “maternidade” de Santa Mónica, da mãe de Santo Agostinho, das mães de João Paulo I e de João Paulo II, da maternidade de Berta Petit, mística belga e da maternidade da nossa querida compatriota, Beata Alexandrina Maria da Costa.
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Orai e fazei que orem as vossas famílias, os vossos amigos e os amigos destes e orai em união com todos aqueles que habitualmente nos pedem para que oremos por eles nos Sítios Internet dos quais sou o humilde Webmaster.
Informamos igualmente que todos os dias 13 de cada mês, e isto a partir do dia 13 de janeiro 2008, uma missa será celebrada pelas intenções que aqui nos são confiadas.
Nos Sítios Internet a seguir indicados, podem aí encontrar a “publicidade” deste movimento que no começo deste novo século, é importantíssimo.

http://alexandrinabalasar.free.fr/ Sítio oficial da Beata Alexandrina;
http://alexandrina.balasar.free.fr/ Sítio francês poliglota;
http://nouvl.evangelisation.free.fr/ Sítio francês onde se encontra uma página dedicada à oração e uma capela consagrada ao Santíssimo Sacramento.

Que Deus abençoe esta iniciativa e proteja o Cardeal Hummes que teve tão excelente ideia.
Para ver todo o documento, pressione aqui : http://alexandrina.balasar.free.fr/adoracao.pdf
O Webmaster