quinta-feira, outubro 13, 2022

O UTIMO DIA DA ALEXANDRINA

Durante a manhã de 12 de Outubro, dizia repetidas vezes:

“Eu queria o Céu! Eu não tenho peninha nenhuma de deixar a terra! Acabaram todas as trevas da alma! Acabaram todos os sofrimentos da alma! É sol, é vida, é tudo, é tudo, é Deus!”

A irmã perguntou-lhe: — Tu que querias?

“O Céu, porque na terra não se pode estar. Eu queria receber a Extrema-Unção, enquanto estou viva (lúcida). Vai ser muito bonito aqui. Ó Jesus, seja feita a vossa vontade e não a minha!

Neste dia, 12 de Outubro, pelas 15 horas, tendo sido autorizado, fez o seu acto de resignação à vinda do Paizinho. Todos de joelhos, a Alexandrina acompanhada pelo Sr. P. Alberto Gomes, recitou o seguinte acto:

“Ó Jesus Amor, ó Divino Esposo da minha alma, eu, que na vida sempre procurei dar-Vos a maior glória, quero na hora da minha morte fazer-vos um acto de resignação à vinda do meu Paizinho Espiritual; e assim, meu amado Jesus, se neste acto der maior glória à Trindade Santíssima, eu jubilosamente me submeto aos vossos eternos desígnios, renunciando à felicidade que a presença do meu Paizinho me daria, para só querer e implorar da vossa misericórdia o vosso reinado de amor, a conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o alívio das almas do Purgatório”.

Imediatamente seguiu-se o acto da resignação da sua morte, assim:

“Meu Deus, como sempre vos consagrei a minha vida, vos ofereço agora o fim dela, aceitando resignada a morte, acompanhada das circunstâncias que vos derem maior glória”.

 

No fim destes dois actos, foi-lhe ministrada a Extrema-Unção pelo reverendo Pároco desta freguesia. Antes de receber este Sacramento, pediu singularmente perdão à mãe, à irmã, ao confessor Sr. P. Alberto, ao Sr. Abade, ao Sr. Doutor, às primas, às pessoas amigas e à criada. Enquanto pedia perdão, disse estas frases:

 

1º “Minha mãe, perdoe-me as minhas impertinências e agradeço todos os cuidados que teve comigo”.

2º “Deolinda, perdoa-me. Foste uma sacrificada por mim. Agradeço tudo o que fizeste por mim”.

3º Ao Sr. Dr. Azevedo: “Agradeço-lhe tudo e peço-lhe perdão. Eu não o esquecerei no Céu”.

4º Ao Sr. Abade: “Peço-lhe perdão. A minha eterna gratidão por me trazer Nosso Senhor todos os dias. Peço que em meu nome peça perdão ao povo todo”.

5º Ao Sr. Dr. João: “Agradeço-lhe tudo, e não esqueça a minha família e sobretudo a Deolinda. Perdoe-me tudo por alguma palavra que o tivesse ofendido”.

6º À Sr.ª D. Germana: “Perdão por tudo, por alguma palavra em que a tivesse ofendido”.

7º “Para ti, Sãozinha, a minha gratidão eterna, que bem o mereces”.

8º “Maximina, perdoa-me tudo, se te ofendi. Só do Céu te poderei pagar tudo. Amai-vos como irmãs. Sê amiga da Deolinda”

9º “Laura, perdoa-me tudo. Não me esquecerei de vós, quando estiver no Céu. Tenho-vos sempre presente como aqui. Amai sempre a Jesus. Sede amigas da Deolinda, que ela continua a ser vossa amiga.

10º À Auxília (criada): “Tens sido muito minha e nossa amiga. Continua a sê-lo, que eu vou pedir por ti no Céu.

À Sr.ª D. Conceição Azevedo disse: Peço por todos.

À Ireninha disse: Ireninha, Ireninha!

À Manuela: Adeus, meu amor.

Às pessoas que lhe tinham feito bem: Agradeço a todas as pessoas que nos fizeram bem e peço por elas no Céu.

 

Depois de pedir perdão, falou assim: “Já estarei com a minha alma pura para receber a Extrema-Unção?”. Foi ministrado este sacramento. Depois, foi dizendo: “Ai, Jesus, não posso mais na terra! Ai, Jesus! Ai, Jesus! A vida, o Céu custa, custa. Sofri tudo nesta vida pelas almas. Esmirrei-me, pilei-me nesta cama, até dar o meu sangue pelas almas. Perdoo a todos. Foram tormentos para meu bem. Perdoo, perdoo. Ai, Jesus, perdoai ao mundo inteiro. Ai, estou tão contente, tão contente por ir para o Céu! (Sorriu-se com os olhos no Céu). Ai, que claridade! Ai, Sr. Dr. Azevedo, que luz! É tudo luz! (Sorriu-se). As trevas, as trevas, tudo desapareceu. Bem dizia o Sr. Doutor!...”

 

Às 6 horas da manhã do dia 13:

“Meu Deus, meu Deus, eu amo-vos! Sou toda vossa! Tenho necessidade de partir! Não gostava de morrer de noite! Morrerei hoje?! Gostava”. (Sorria-se de um sorriso angelical).

Pediu à irmã que lhe desse a beijar o crucifixo e a Mãezinha. A irmã perguntou-lhe: Para quem te sorrias? “Para o Céu”.

Durante a manhã foi visitada por várias pessoas. Quando entrou um grupo, exclamou, assim, com voz mais forte: “Adeus, até ao Céu!”. Não pequem! O mundo não vale nada! Isto já diz tudo! Comunguem muitas vezes! Rezem o terço todos os dias!”.

Às 11 horas, disse ao Sr. Dr. Azevedo: “Está para breve”. Ele perguntou-lhe se os breves dela eram iguais aos de Nosso Senhor. E continuou: Certamente amanhã, às 3 horas, Nosso Senhor ainda lhe quer falar.

Ela sorriu-se levemente.

Às 11h25: “Eu sou muito feliz porque vou para o Céu!”

O Sr. Dr. Azevedo disse: No Céu peça muito por nós. Ela acenou que sim.

Às 11h35 pediu que lhe rezassem o ofício da agonia.

Às 17 horas, disse para um homem: “Adeus, até ao Céu!”

Às 19 horas, disse: “Vou para o Céu!”

Às 19h30, exclamou: “Vou para o Céu! A irmã retorquiu: Mas não é já. A Alexandrina respondeu: “É, é”.

Às 20h29 expirou. Conservou-se perfeitamente lúcida até ao último momento da sua existência. Assistiu à morte Mons. Mendes do Carmo, a família e pessoas amigas. (Sentimentos da alma: 12 de outubro de 1955)

 


terça-feira, junho 22, 2021

O AMOR VENCEU

Sofro e morro de dor


Jesus continua na cruz e dentro de mim, de mim que não vivo nem existo. Ai, o doce Jesus de braços e Coração abertos! Queria dizer quanto Ele sofre e ama; sei sentir, não sei dizer, não me chega a língua, não sou capaz. Sofro e morro de dor. O que daria eu para poder fazer compreender a todos uma ofensa feita ao Coração Divino de Jesus, e quanto Ele nos ama apesar de tudo! Assim caminhei para o calvário com esta sede de me dar a conhecer às almas, de me dar a elas, de morrer por elas. Nunca caí tantas vezes como hoje. Que repetidas quedas! Que desfalecimento tão grande! O meu corpo gelava-se sem sangue; o coração não palpitava, os lábios não tinham vida. O amor venceu, foram as cordas que me arrastaram. Os meus lábios moribundos tinham sede ardente, mas o coração mais sequioso estava; quer beber a amargura até à última gota, tudo quer sofrer, porque a todos ama. Tudo quer dar para tudo receber. No alto da cruz sentia no meu corpo os maus-tratos do mundo, era como se fosse por todo ele apedrejado; sentia mesmo como se as pedras me ferissem. No Coração Santíssimo de Jesus, que estava em mim crucificado, vi sair uns raios de fogo, pareciam raios de sangue. Aqueles raios vinham estender-se sobre todos aqueles de quem o meu corpo sentia os maus-tratos, as pedradas. Que ternura e compaixão saía daquele Coração tão amante! Dos meus olhos moribundos, já sem vista para o mundo, saíam para ele os olhares mais doces, mais ternos e amantes; eram olhares que penetravam tudo e a todos; viam toda a maldade e ingratidão. Foi assim que veio Jesus. Veio, prendeu-me e demorou-se bastante tempo sem me falar. Tomou em Suas divinas mãos o meu coração e fez dele uma grande bola que momentos depois colocou no lugar do coração. (Alexandrina Maria da Costa: 22 de Junho de 1945)

segunda-feira, junho 21, 2021

SINTO QUE ESTOU MORTA

Preocupa-me tanto a salvação do mundo!


Sinto que estou morta com o peso do mundo; reduziu-me ao nada, e é este nada que continuamente se mergulha em trevas. Quantas mais me cobrem, mais me infundo nelas, mais trevas vejo. Quando deixarei de as ver? Quando deixarão elas de me aterrorizarem? E eu tão só, mesmo sem ninguém! Oh terrível desprezo e abandono! Não vejo, não sinto o conforto da terra nem o do céu.

— Ó meu Deus, como hei-de estar aqui assim? Preocupa-me tanto a salvação do mundo!

Não posso sentir Jesus tão ferido. Não tenho corpo nem coração para Ele se consolar em mim. Foi o mundo das maldades que me destruiu. Quero amar o meu Jesus e não tenho coração para O amar, desapareceu de mim, não sei a quem pertence. Confio, confio que será a Jesus. Queria sangue para dar por Seu divino amor, gota a gota, e não o tenho; sinto que as veias do meu corpo desapareceram. Não tenho nada, nada posso fazer por Jesus e pelas almas. Só o demónio não cessa. Que grande tormento! Vieram uns poucos para a minha frente em forma de cães. Que cenas tão feias e maliciosas! Eram cenas e palavras só do inferno. Pedi logo a Jesus para não O ofender; ofereci-me como vítima, enquanto o maldito me deixava falar. Ao terminar da luta, fiquei insatisfeita, parecia-me que queria ter pecado, e gravemente. Mas não era assim, o que eu queria era não ter desgostado Jesus, não O ter ferido. Eu não sabia como se podiam ter dado tais cenas. Sentia em meu coração uma dor profunda. Eu não podia tomar a minha posição. Sofria tudo, o mal-estar do corpo e as aflições da alma. Jesus velou por mim, defendeu-me. Ouvi-O dizer:

— Ordeno-te, minha filha, que tomes a tua posição. É o Esposo que manda, e a esposa obedece. É o Rei que quer, e a rainha sujeita-se, aceita. Filhinha, coragem! É a reparação mais fina e delicada que te peço. É a flor mais pura. (Alexandrina Maria da Costa: S. 21-06-1945)

sábado, junho 19, 2021

QUE HORROR, MEU SENHOR !

Jesus fez-me ressuscitar

 

São indizíveis as amarguras e torturas da minha alma. Custa-me imenso falar. A cada movimento, parece que é fora de mim arrancado com toda a violência o coração e, em seguida, as entranhas. Digo pouco, por não poder e por a minha ignorância nada saber dizer, mas sofro e sofro muito por não poder e não saber. Pois sinto uma fome, uma necessidade, posso dizer infinita, de desabafar. Eu não quero de forma alguma queixar-me, não quero entristecer o meu Jesus. O esforço que faço, o nada que digo, é para obedecer. É Jesus, é a glória do meu Senhor e o bem das almas que me levam ao máximo do sacrifício. Vi-me, senti-me nas garras do demónio; ouvi os uivos do inferno, o desespero das almas. Meu Deus! Como é desesperador! Se eu pudesse dizer a forma provocadora, descarada e maldosa, com que são praticados tantos e tantos crimes. Meu Deus, meu Deus, compadecei-Vos de mim. Que maldade infernal! Parecia-me que era em mim, e era eu a praticar crimes tão hediondos. Era eu a cair no inferno, era eu a entregar-me toda à devassidão e prazer, sem nada me satisfazer, mas sem poder naqueles momentos pecar mais; não tive um momento de arrependimento, não tive um olhar para Jesus a pedir-Lhe compaixão. Corri logo à busca de novos instrumentos, de novos lugares e ocasiões, para poder continuar a minha obra infernal. Que horror, meu Senhor, que horror! Disse que não tive um momento de arrependimento, nem um olhar para Jesus, mas tive. Pedi-Lhe bem que não queria pecar. Mas isto foi como se não fosse eu. Foi tudo e tudo é inútil para mim. Não sei como encontrar Jesus, não sei como dar-Lhe as minhas lágrimas, os meus suspiros, os meus sofrimentos, tristezas e amarguras. Tudo morre, tudo é inutilidade, tudo é perdido para mim. Passam-se os dias grandes, os dias festivos da Santa Igreja, e a minha alma não encontra um favozinho de doçura; tudo é perdido, tudo é morte. Estou a comemorar o aniversário da minha estadia na Foz. Sem querer recordar, surge-me de repente uma e outra cena. Fica-me o coração cercado de espinhos, e a cruz atravessa-o dum lado ao outro. Tudo sofro por amor de Jesus, sem sentir que O amo, sem saber que Ele se consola em mim. O abandono é o meu lema. Confio que sou conduzida ao porto de salvação. Nesta imensidade tempestuosa, em que só prevalece a inutilidade, a minha alma conserva-se em paz, a não ser de longe a longe uns momentos de agitação, dúvidas de toda minha vida, tentações contra a Fé, que me levam quase que a cair no desespero. Para que vim ao mundo? Para que serve tanto sofrer e uma vida presa no leito? Isto é sem eu querer, sinto mesmo serem tentações do demónio, ser ele a querer roubar-me a paz. O meu Horto, tão diferente do já foi, não teve outra coisa senão a inutilidade. Eu fui morte para ele, e ele morte para mim. Foi assim, porque eu não quis aproveitar da vida que ele me oferecia. E Jesus, que via infinitamente, aos Seus olhares tudo era presente, sofria, sofria dor infinita, e fez-me sentir a mesma dor, ao mesmo tempo que se mostrou e fez sentir o quanto me amava, o quanto amava as almas. Neste momento afoguei-me n’Ele, perdi-me n’Ele, desapareci como gotinha de água perdida no universo. Hoje, na Sagrada Comunhão, não digo que tive consolação; perdi-me novamente neste Oceano, como gota de orvalho, que com o sol desaparece. A alma ficou mais forte. Foi com esta fortaleza que venceu a inutilidade do Calvário. Na viagem para lá, ao sentir-me desfalecer com tão pavorosa inutilidade, espontaneamente o coração bradou: valei-me, Jesus, ai de mim se não vindes em meu auxílio. Pude chegar ao cimo; mesmo assim, inútil, fiquei na cruz crucificada. O coração continuou a bradar constantemente; eu sou inútil, Jesus, mas sois Vós útil para todos nós. Meu Pai, meu Pai, vinde em meu auxílio.

E foi neste brado que eu caí no sono da morte. Senti como se a alma morresse na maior escuridão. Passou-se algum tempo, e Jesus fez-me ressuscitar. Rasgou no meu peito o véu preto da morte e fez aparecer um véu de luz. (Alexandrina Maria da Costa: S. 20 de Junho de 1952)

sexta-feira, junho 18, 2021

CREIO, JESUS, CREIO

O meu pão de cada dia


Estou no meu martírio a redobrá-lo ainda mais por ter de falar de mim, ou melhor, da minha dor. Custa-me imenso. Não queria dizer nada. Tenho vergonha, escandalizo-me a mim mesma. Não escandalizarei mais alguém? Sempre a falar da dor, deste sofrimento inexplicável! Mas como modificá-lo, se outra coisa não tenho?! O meu sofrimento é tão grande, tão grande, tão infinito!... Só Jesus o conhece, só Ele o pode vencer. Eu sei que não sou eu.

O dia da festa da Santíssima Trindade e da Mãezinha no Sameiro foi para mim uma agonia mortal. Tinha morrido, se Jesus não fizesse a graça de me conservar a vida. O meu Paizinho espiritual estava na minha mente ligado com a Mãezinha do Céu. Era uma festa em que não devíamos nem podíamos estar separados. Daqui nasciam as mais dolorosas e tristes recordações. Deus e o homem! Como este veio ao contrário dos desígnios do Senhor! Na terra nunca, nunca poderei dizer o que sofri e sofro. Só à luz da eternidade haverá tal visão. Com tão variadas e tristes recordações, com tão tremenda e dolorosa agonia fixei no Céu os olhos da minha alma. Não podia movê-los. Tinham que estar sempre firmes para não cair no desespero.

Estou a passar a data da minha estadia na Foz, 11 anos; martírio sobre martírio. Quanto mais dor e humilhação, mais ódio e incompreensão. Por tudo o Senhor seja bendito!

O meu pão de cada dia, o meu pavor são as almas que se abeiram de mim. Causa-me pavor, e o coração não pode separar-se delas. Por elas quero dar o sangue e a vida. Quero-as todas para Jesus, com todos os corações numa só chama de amor. Não posso falar das almas nem desta ânsias. Não resisto. Estou sempre à espera das consolações e alegrias.

— Senhor, quem poderá dar-mas?! Que angústia, que angústia!

O meu túmulo, a minha escavação, a minha inutilidade e eternidade não param. Tenho que viver tudo isto, mesmo sem vida. Tenho que sentir toda a dor e sempre estar de mãos vazias. Nesta manhã, depois de receber o meu Jesus, foi tão dolorosa a minha morte e inutilidade, um abismo se abriu a engolir tudo. Repeti tanto o meu “creio” a Jesus…

— Meu Senhor, parece-me mentir-Vos a Vós e mentir-me a mim mesma. Dai-me coragem para que eu repita o meu “creio” sem crer, sem acreditar e Vos diga que Vos amo, sem ter vida, sem viver para Vós, sem sentir o Vosso amor.

Apunhalava-me a mim mesma. Fazia-o com toda a crueldade. Subi para o Calvário, sempre num desprezo e ódio infernal contra ele. Estendi-me no mundo. Nele bebi todo o veneno. Em seguida, apertei o coração, enleei nele grossas e negras cadeias para que nenhum veneno saísse dele. Fiz o mesmo à língua para a não deixar mover, nem deitar fora o veneno apanhado.

— Creio, Jesus, creio! (Alexandrina Maria da Costa: S. 18 de Junho de 1954).

quinta-feira, junho 10, 2021

A ACÇÃO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Com o seu bico de fogo alimentou o meu coração


No meio destas ânsias de amor e de dor dolorosa das minhas culpas, bateu asas o divino espírito Santo no mais íntimo da minha alma. Procedeu para comigo como as avezinhas para com os filhinhos quando estão no ninho. Com o seu bico de fogo alimentou o meu coração e depois escondendo-o dentro em meus lábios, alimentou todo o meu ser. (S. 07-11-1944)

NADA POSSUO

Eu lá vou, de queda em queda


Hei-de repetir sempre o meu “creio” com a Vossa graça, Senhor. Se eu tivesse ao menos um fiozinho de aranha a que pudesse agarrar-me! Mas nada, nada possuo, meu Deus! Mundo e mundos de inutilidade! Mundos e mundos de trevas e morte! Eu lá vou, de queda em queda, para os abismos sem fim. Quanto sofre o meu corpo, Jesus, e quanto sofre a minha alma!... (Alexandrina Maria da Costa: 10-06-1955)

CREIO ÀS CEGAS

Que tremenda confusão!


Não poderei viver assim! Quem me acode? Quem me acode? Estou sozinha, num abandono completo! Não tenho quem me ilumine, não tenho quem me conforte! Quem poderá valer-me? O meu brado é morto; toda a minha vida é morta. Esta morte traz em mim e à volta de mim, que confusão, que tremenda confusão! Quem me deita a mão, quem acode à minha alma? Ó Céu, ó Céu, vinde em meu auxílio! Mas eu tenho alma?!... Existe Deus com a eternidade?!... Perdão, Jesus, perdão, Senhor!... Parece que nada existiu nem existe. Mas eu creio às cegas. (Alexandrina Maria da Costa: 10-06-1955)

EM NADA, MESMO NADA TENHO ALEGRIA

Eu já tinha sofrido tanto!


O demónio principiou de novo com as suas ameaças. Ontem à noite, quando rezávamos, ele veio atormentar o meu espírito, abanar-me com a cama, até ser notado por alguém; e bailava de contentamento. E eu já tinha sofrido tanto! Tive um dia tão cheio de espinhos! Oh! quanto se sofre! Oh! agonias das almas que não sois compreendidas! E eu sozinha e só miséria. Jesus espreme e tira para Si toda a substância. Em nada, mesmo em nada, tenho alegria. Que Ele se alegre e console nesta noite, nestas trevas do meu espírito. Elas surgem cada vez mais; infundo-me nelas e momento a momento mais tenho que atravessar. Hoje revivi, momento a momento, pormenor por pormenor, a minha ida para a Foz. Dois anos são passados. Foi um painel que se apresentou à minha frente, passei hoje novamente por tudo. Eu dizia para mim mesma:

— Por quem obedeci? Por quem sofri tudo isto? Só por Jesus e pelas almas. (Alexandrina Maria da Costa: 10-06-1945)

quarta-feira, junho 09, 2021

PERDOAI-LHES, MEU JESUS

Eles não sabem o que fazem


Deixai-me dizer a Vós o que Vós dissestes ao vosso Eterno Pai: Perdoai-lhes, meu Jesus, porque eles não sabem o que fazem, estão ceguinhos, falta-lhes a vossa luz divina: iluminai-os a todos e a todos dai o vosso amor. O Jesus, todos os meus pressentimentos me tem saído certos. Poderão eles ainda proibirem que vos receba sacramentalmente? Ai de mim, seria como o golpe que me tiraria a vida se vós com o vosso divino poder me não conservásseis. Digam o que disserem, façam eles o que fizerem, o que nunca conseguirão é tirar-me desta união íntima com vós. (Alexandrina Maria da Costa: 19-02-1942)

O IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

A sua presença consolou-me


Por uns minutos me tem desaparecido para novamente me aparecer, agora mais junto de mim, do lado direito, e pude ver distintamente que agora era o Imaculado Coração de Maria. Também me acariciou como da primeira vez, porém não fez o gesto de apontar o Céu. A sua presença consolou-me profundamente e essa consolação celeste permaneceu na minha alma, que por alguns dias gozou aquele conforto maravilhoso. Este conforto era como que um íman que me elevava para Jesus, sentindo-me então na bem-aventurança. (Alexandrina Maria da Costa: 09-06-1942)

OUVIA UMAS HARMONIAS SUAVES

Aparição de Maria


Em alguns dias precedentes eu ouvia umas harmonias muito suaves, como toques de acordes de instrumentos celestes, executando música angélica; e apreciando a doçura dessa música divina, eu esquecia-me do mundo e da vida terrena, perdia a noção de mim própria e parece que passava a viver numa região estranha onde tudo é ventura inefável.

Foi então que no dia 9 de Junho de 1942, pelas 13 horas, me apareceu sobre a cama descendo do Céu a figura deslumbrante da Mãezinha que parece se fixou em minha frente um pouco para a minha esquerda. Vestia ricos vestidos brilhantes, de cores variadas, trazia os pés nus, chegou-se a mim para me acariciar e com sua mão direita apontou para o Céu. Parecia comovida com o meu sofrimento a prometer-me a recompensa e a inspirar-me confiança. O trono em que veio era brilhantíssimo como ouro pálido em que o sol projectava os seus mais brilhantes raios. Foi inefável a consolação que me deixou a primeira aparição. (Alexandrina Maria da Costa: 09-06-1942)

terça-feira, junho 08, 2021

VEM PARA OS MEUS SACRÁRIOS

Caíram tantas almas no inferno!


— Filha, filha, ó minha querida filha anda passar a noite comigo nos meus sacrários: anda consolar o teu Jesus. Anda com a tua reparação curar as minhas chagas que estão tão vivas! Fui hoje tão ofendido! Caíram tantas almas no inferno! Cortei-lhe o fio da vida antes do tempo marcado por não as poder sofrer mais.

Eu ofereci a Nosso Senhor todo o meu corpo para Ele crucificar pelo seu divino amor para a salvação das almas; e dava-lho de tão boa vontade como Ele se deixou crucificar por meu amor. (Alexandrina Maria da Costa: Carta ao Padre Mariano Pinho: 06-06-1935)

VINDE, MEU BOM JESUS

Vivei em mim como eu desejo viver convosco


No dia dois [de Junho], depois das nove horas da noite, estava eu a fazer a oferta de tudo o que se passasse em mim durante a noite como actos de amor a Nosso Senhor Sacramentado. Fazia-o mais com o pensamento do que com os lábios porque não podia. Eu disse ao meu Jesus se fosse da Vossa Vontade eu ficar convosco nos vossos sacrários durante esta noite! Sim antes queria fazer companhia a Nosso Senhor do que dormir. E dizia também: “Vinde meu bom Jesus e vivei em mim como eu desejo viver convosco; operai em mim tantas graças como se eu vos recebesse sacramentalmente.” Principiei então a sentir a presença de Nosso Senhor em mim. (Alexandrina Maria da Costa: Carta ao Padre Mariano Pinho: 06-06-1935)

O DIVINO ESPÍRITO SANTO HABITA EM TI

Vem, minha pomba


Diz tudo, escreve tudo, o Divino Espírito Santo não desceu, habita sempre no cenáculo do teu corpo. Tudo o que disseres é Ele, e são as tuas inspirações. Quando os teus lábios se moverem para falares, sou eu que os movo e falo em ti. Vem, minha pomba, não me canso de te chamar minha pomba, meu lírio, minha açucena, e é-lo de verdade. Vem novamente receber o sangue do meu Divino Coração. Por amor o dás, por amor o recebes. Não to dou até te fortalecer, porque és vítima. Dou-to para sofreres, dou-to para teres que dar, dou-to para operar milagre e conservar-te a vida. (Alexandrina Maria da Costa: 08-06-1945)

VENHAM OS SÁBIOS

Venham uns provar e outros aprender


Eu subia o meu calvário e sobre os meus ombros levava a cruz. Os meus olhos não queriam ver os horrores das misérias que sentia; cerrei-os a tudo. Subi a encosta com todo o sofrimento, mas com todo o amor para dar a vida. Sempre a sentir o peito e o coração abertos com a imensidade dos crimes, fui crucificada; e não cessei mais o meu brado ao céu: Socorro! Socorro! Veio Jesus, fortificou-me, aqueceu-me e disse:

— Venham os sábios e os que se dizem sábios ao livro das maiores maravilhas, de todas as maravilhas, de todas as ciências divinas. Venham uns provar e outros aprender o que é a alma vítima, os prodígios da graça e a acção de Jesus em sua alma. Coragem, minha filhinha! O que sentes em ti são meios de salvação. Tu recebeste o meu divino amor com toda a abundância. O que hoje sentes em ti também eu o senti no meu calvário. O que dentro de ti se levantou e o teu coração ferido são os crimes da humanidade, de verdade não podem aumentar mais. (Alexandrina Maria da Costa: 08-06-1945)

Na imagem:
A beata Alexandrina e Monsenhor Mendes do Carmo.

JESUS NÃO PODE MAIS

Bendita seja a minha cruz!


Pensava hoje amar tanto, tanto, o meu Jesus! Pedi-Lhe no dia do Seu Divino Coração todo o Seu amor até me perder nele. E não fui capaz de O amar e nada soube dizer-Lhe. Esperava até, ao recebê-Lo, ouvir d’Ele umas palavrinhas, mas nada ouvi. Fiz a preparação friamente, recebi-O como a um estranho, não sei falar-Lhe. Pedi-Lhe amor, mas, não sei como, não tinha nada de meu para receber e depositar esse amor. Sofro por ditar os sentimentos da minha alma e sofro por não os saber ditar. Bendita seja a minha cruz! Hoje sofro como nunca sofri. Logo após a comunhão, levantou-se em mim um mundo de tantas maldades, de tantos crimes. Pareceu-me que me abriram o peito, subiram tão alto, chegaram ao céu, feriram o Coração de Jesus. Estas maldades, que atingiram a maior altura, caem por todos os lados, encobrem o mundo, tiram-lhe a vida. E, assim, tenho passado as horas com o peito aberto, o coração ferido sem nada poder fazer. Jesus não pode mais. (Alexandrina Maria da Costa: 08-06-1945)

segunda-feira, junho 07, 2021

É COMO ARAGEM QUE CORRE

Sinto um mundo de amor


— Onde poderei encontrar bálsamo para as minhas dores? Ó meu Deus, na terra parece-me que já não posso encontrá-lo. Tudo é para mim causa de maior sofrimento.

Só em Jesus, só de Jesus poderei receber algum alívio. E esse bem depressa passa, é como aragem que corre, deixando só no próprio momento o seu frescume suavizador. Na minha comunhão de ontem e de hoje senti-me mais unida com o meu Jesus. Ele passava do Seu Divino Coração para o meu cadeias puras, cadeias finas, cadeias de amor. Desde então tenho no meu coração novo coração, e neste coração está alguém a atirar estas cadeias, a formar laçadas ao mundo das almas. Faz-me lembrar o marinheiro dentro da sua barquinha a atirar as redes ao mar para apanhar a pesca. Eu sinto dentro de mim o marinheiro das almas a fazer o mesmo canseirosamente. Sinto um mundo de amor sobre o meu coração. Este amor, este mundo, é o mundo do Coração de Jesus. É um mundo e é para o mundo. Que ânsias tão grandes a querer possuí-lo! Que ternuras, doçuras e amor! Outro coração de lágrimas se colocou dentro do meu. Estas lágrimas são choradas sobre a humanidade inteira, cobrem-na. São lágrimas de agonia por este coração cheio de riquezas desprezado. Está este coração de chaga profunda tão aberta para receber a todos. Faz lembrar a avezinha de asas abertas para cobrir seus filhinhos. Sinto as veias do meu corpo todas unidas, todas abertas a darem ao mesmo tempo as últimas gotas de sangue. Como elas são espremidas! As gotas escasseiam, elas já não têm mais que dar. E no meio disto sempre as ânsias de possuir universos de sangue para todo derramar pelas almas. Tanto queria amar a Jesus e sofrer todas as dores para O consolar. (Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma de 7 de Junho de 1945).

domingo, junho 06, 2021

O MUNDO QUE EU SOU

Este mundo não quer Jesus


Por vezes, a minha alma vê Jesus, feito enfermeiro, a querer entrar a este mundo, que sou eu mesma. Rodeia, rodeia uma e outra vez este monstro mundial, para curar-lhe as chagas de entro e de fora. Jesus anda cheio de amor e doçura, mas não tem estrada. Esta rocha dura não quer ouvir o Seu convite de ternura, não quer deixar-se curar. Que pena eu tenho não consentir que Jesus seja o meu enfermeiro! Ele quer acariciar-me, e eu não deixo, revolto-me contra Ele, obrigo-O a afastar-se de mim. Apesar de ser eu que O não quero, nem quero a Suas bondades, ternuras e carinhos, a alma chora por não O querer, por não lhe dar entrada, por não O amar. Que pena eu tenho de Jesus! Sofro ao mesmo tempo com Ele. Sou o mundo e sou Jesus; peco e quero pecar; amo e quero amar; e este amor é louco, não tem limites, ama e não olha a quem; o que quer é ser aceite. Se este amor fosse eu, e minhas não fossem as maldades! Mas ai pobre de mim! O amor é de Jesus, as maldades são minhas. Abracei-me à minha cegueira com tal afecto, com tal amor, que não mais a largarei; ela só me causa sofrimento, só me mostra que sou lodo e lama, mas eu quero e neste estreito abraço mais me vou mergulhando nela. O que é bom, o que é de Jesus, não aparece nas minhas medonhas trevas. Mas o que posso eu esperar, o que posso eu ver, se nada há em mim de bom, nada tenho de encantador que a mim pertença. Sou miséria, só miséria; ó Jesus, compadecei-Vos de mim! Tenho recebido, nestes dias algumas, algumas graças, alguns mimos do Céu, que eu não mereço. Agradeço-as a Jesus e à querida Mãezinha, mas este meu agradecimento não chega. (Alexandrina Maria da Costa: S. 6 de Junho de 1947).

COMO A AVEZINHA

Que tristeza amar e não ser amado


— Minha filha, minha filha, Jesus anda como a avezinha que não pode poisar, que não pode descansar. Jesus anda louquinho a pedir amor, amor a todos os corações. Que tristeza amar e não ser amado; amar e ser ofendido! Mas ainda bem que a louquinha do amor divino ama-o apaixonadamente, ama-o como Jesus o deseja, ama-o com o amor mais puro e desprendido de tudo o que é terreno; é amor santo, é amor divino. Foi por este amor que Jesus se enlouqueceu pela sua louquinha; é pelo amor da louquinha da Eucaristia que Jesus se apaixona pelas almas que a amam. É por este amor tão puro que Jesus lhe vai dar uma morte de amor, amor, só amor. Jesus está louco de alegria, Jesus está contentíssimo com o Paizinho da sua benjamina querida. São as humilhações por que está a passar que o hão-de glorificar e exaltar. O prémio é grande no Céu e grande será na terra ainda a recompensa. Jesus está louco, louco de alegria com o Sr. Doutor, com o santo cuidado com que ele está a desempenhar tão grande missão. Jesus escolheu-o para velar pela sua crucificada e as almas a quem mais amo. O Coração divino de Jesus está superabundante de graças para derramar sobre todas elas. O mundo, Satanás odeia-as e odiá-las-á. A sua causa é só a soberba e o orgulho: só isso é a razão da sua raiva. Porém Jesus ama-as com sua bendita Mãe, triunfa e vence com elas, e só isso basta.

― Ó meu Jesus, defendei-as sempre, amai-as sempre apaixonadamente, triunfai e vencei com elas. Levai-me então depressa para o Céu para eu fazer descer sobre elas as vossa graças e as vossas bênçãos. Sim, sim, meu Jesus; confio que sim, meu Amor. (Alexandrina Maria da Costa: S. 6 de Junho de 1942).