segunda-feira, março 30, 2009

ALEXANDRINA E A PAIXÃO II

A Paixão na Alexandrina

O fenómeno da Paixão de Jesus na Alexandrina verificou-se durante 17 anos: de 1938 a 1955, ano da sua morte.
Neste longo período de tempo é necessário distinguir duas fases, durante as quais o fenómeno se manifestou com características diferentes. Classificaremos respectivamente de “participação física” e “participação interior” estas duas formas ou maneiras de o fenómeno se manifestar, para facilidade de denominação; frisamos, no entanto, que a Paixão é substancialmente única, pois abrange ao mesmo tempo sofrimentos do corpo e da alma, físicos, morais e espirituais, inseparáveis.
1.ª Participação física
No primeiro período, desde 3 de Outubro de 1938 a 27 de Março de 1942, o fenómeno dava-se em dias e horas fixas: das 12 às 15 horas de cada sexta-feira. A Alexandrina revivia, umas atrás das outras, as várias fases da Paixão, desde a agonia no Horto até à morte, em estado de êxtase. Os seus sentimentos e as suas reacções às dores exteriorizavam-se através de atitudes, gestos, expressões do rosto e do corpo todo, facilmente interpretáveis por quem podia assistir ao fenómeno. [1]
O seu primeiro director espiritual, P.e Mariano Pinho, S. J., deixou escrito a esse respeito:
«Nós presenciámos ao vivo o desenrolar-se do drama da Paixão, embora não fossem visíveis os estigmas, porque a Alexandrina pedira ao Senhor que nada aparecesse exteriormente. A Paixão foi violentíssima e as pessoas presentes choravam e soluçavam perante aquele espectáculo visibilíssimo de sofrimento» (Cfr. Cristo Gesù in Alexandrina, pág. 730).
Mons. Mendes do Carmo, professor de mística no Seminário da Guarda, afirmou: «É um anjo crucificado!».
A professora primária de Balasar, D. Maria da Conceição (Sãozinha), e outros testemunharam: «Sentíamo-nos transportados em espírito aos vários sítios da Paixão de Jesus. Ninguém conseguia acompanhar aquelas cenas sem se comover».
A irmã da Alexandrina, Deolinda, numa carta dirigida ao P. Pinho, refere-se assim ao fenómeno da Paixão de 7-4-1939:
“Ai, meu Padre, o que foi o dia de Sexta-feira Santa! É bem sexta-feira de Paixão! Antes de princi­piar, oh, como se via nela cara de aflição! Ela temia passar este dia! E dizia-me: Ai, se eu vejo este dia passado!...
“Eu confortava-a quanto podia e acariciava-a, apesar de estar eu também cheia de medo e muito aflita.
“Durante a Paixão, eu não podia passar sem chorar e vi correr lágrimas pelas faces de quase todos os assistentes. Que espectáculo tão comovedor!
“A agonia do Horto foi muito demorada e aflitiva... Ouviam-se gemidos muito profundos e por vezes via-se soluçar.
“Mas a flagelação e coroação de espinhos, isso é que foi! Os açoites foram tomados de joelhos, com as mãos (como que) atadas. Eu cheguei-lhe uma almofada para debaixo dos joelhos, e ela retirou-se dela, não quis. Tem os joelhos em mísero estado. Os açoites não tinham conta! Levaram tanto tempo! Ela desfalecia tanto! Os golpes na cabeça (com a cana na coroa de espinhos) foram também inumeráveis.
“Vomitou por duas vezes durante a Paixão: era água, porque mais nada tinha que vomitar.
“O suor era tanto, que os cabelos estavam empastados e, ao passar-lhe a mão por cima de toda a roupa, ficava molhada.
“Quando acabou a coroação de espinhos, ela parecia um perfeito cadáver.
“O Sr. Cónego Borlido veio assistir com mais duas pessoas. Também veio o Dr. Almiro de Vasconcelos (de Penafiel) com a esposa e a irmã, D. Judite».
A propósito do peso da cruz que oprimia os ombros da Alexandrina durante a fase da subida ao Calvário, referimos o seguinte episódio. No decorrer da Paixão do dia 29-8-1941, o médico assistente da Alexandrina, Dr. Manuel Dias de Azevedo, convidou um dos sacerdotes presentes a levantar do chão a vidente que jazia prostrada sob o peso da cruz (mística). Prontificou-se o mais robusto; pegou-lhe sob os braços, mas os seus esforços foram baldados. E confessou: «Apesar de toda a minha força, não consigo!».
Nessa altura, a Alexandrina pesava cerca de 40 quilos!
Na fase a seguir, quando o Cireneu carregou com a cruz, o Dr. Azevedo convidou o mesmo sacerdote a erguer a Alexandrina, o que ele fez sem o menor esforço. A explicação é evidente: antes, os pesos eram dois; da segunda vez, tratava-se apenas do peso da vidente.
Noutra ocasião, durante o fenómeno em estado de êxtase, o P. Pinho impusera-lhe que dissesse quanto pesava a cruz. A Alexandrina respondeu, em atitude muito grave: «A minha cruz tem um peso mundial».

[1] Só eram admitidas poucas pessoas, devidamente autorizadas: médicos, sacerdotes, além dos familiares mais íntimos.

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