Passei deste martírio ao Horto

Passei deste martírio ao Horto, para ali me unir a mais padecimentos. Foi o meu rosto escarrado, os olhos vendados, mas tinha outros olhos que viam passarem pela minha frente por escárnio, ajoelhando, fazendo grandes continên-cias. Sobre os meus ombros, tinha uma velha capa, sobre a cabeça uma velha coroa, e eu, no maior abatimento, no meio de tantos algozes. Eu digo eu, mas não era eu, era Jesus revestido em mim. Se fosse eu não sofria, porque tudo mereço. Sou muito humilhada, sinto-me desesperada, e reconheço que sou digna de tudo. Mas ver e sentir Jesus sofrer assim, não tenho coração para aguentar! Tenho por vezes que esforçar meus olhos e os meus sentimentos a retirarem-se de tão grande suplício. Quanto sofreu Jesus, que dor sem igual; e tudo por nosso amor. No solo do Horto levantaram-se como que quatro negras paredes de tal altura, que não lhes via o fim; fiquei entre elas, apertada como numa prensa com a visão de todos os sofrimentos. E então de todo o meu cor-po saía suor de sangue; fiquei banhada e como nunca só ferida.
Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma; 28 de Março de 1947.
Sem comentários:
Enviar um comentário