domingo, julho 29, 2012

O CORAÇÃO FALA SEMPRE...


— O que poderei eu dar ao meu Senhor?

Perder a Deus como se nunca O possuísse, perder a vida como se nunca vivesse, deixar de amar a Jesus e à Mãezinha como se nunca os tivesse amado, é o meu viver doloroso, é o tormento da minha alma, é uma agonia mortal.

— Meu Deus, sempre, sempre a viver sem vida, sempre, sempre a viver sem Vós, sem Vos amar e sem o Vosso amor. É uma luta, é um combate tremendo.

Por vezes reconheço que Jesus faz o milagre de amparar-me, de outra forma desesperava.

— Ó Jesus, querer o Céu e não o possuir, querer-Vos a Vós e sentir a Vossa perda! Viver uma vida de doloroso martírio de alma e corpo, e tudo inútil, tudo inútil! Vejo-Vos, meu Deus, em todas as coisas. Nada há em mim que não tenha o fim de Vos dar glória, amor e reparação. E a minha vida morta e inútil é como se nada Vos desse, nunca Vos conhecesse, nunca Vos amasse, nada Vos reparasse e nunca Vos possuísse.

O coração fala sempre. Ele quer chupar, chupar na humanidade, em toda a humanidade como a abelhinha a sugar o néctar das flores.

Ele fala, mas esta voz, este eco não é para mim. Parece que este eco vai entoar e destruir montanhas; e eu quero almas, muitas almas, todas as almas, corações, todos os corações para entregar a Jesus. Que eles estejam todos numa só chama de amor divino é a minha ânsia, a minha loucura, noite e dia.

— O que poderei eu dar ao meu Senhor? O que poderei eu fazer por Ele e pelas almas? Não sei. Tudo fiz e nada sei. Vivi por Ele sem ter vivido! Valei-me, meu Deus, valei-me!

As minhas forças não me permitem falar mais dos sentimentos da minha alma e a minha ignorância priva-me de tudo, mas fico num sofrimento inaudito por não poder descrever neste caderno o que está gravado neste livro sem fim que tenho no coração. Segui hoje para o Calvário, como sempre, escarnecendo, calcando, rasgando os meus vestidos em sinal de desespero. Todos os sofrimentos que já descrevi me atormentavam. Dúvidas contra Deus, contra a fé, mas sobre elas sempre o meu “creio”, o meu “creio”, o meu “confio”, o meu “espero em Vós, meu Deus”.

Sentimentos da alma, 2 de Julho de 1854 – Sexta-feira.

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