25 de
Abril de 1947 - Sexta-feira
(Domingo 25 de Abril de 2021, 17° aniversário da beatificação)
O meu sofrimento
aumenta, a minha cruz pesa-me mais de momento para momento. Sinto-me como se
estivessem a terminar os meus dias aqui na terra. O meu pobre corpo é uma massa
em sangue, desfeito pela dor. Vivo como se não vivesse. O que será de mim, meu
Jesus! Amo a cruz e não tenho forças para a abraçar. Sinto-me arrefecer, estou
gelada. Quanto mais sofro, menos sinto amar a Jesus. Quanto mais Lhe ofereço os
meus sofrimentos, nas minhas negras e dolorosas trevas, menos sinto que Lhe
dou. Não tenho para Ele um sorriso, um acto de amor ou reparação. Sou pobre,
mísera pobre; o que Lhe dou, nada me pertence. Sinto-me, por vezes, na divina
presença de Jesus, de mãos vazias, olhos baixos, cabeça inclinada, envergonhada
de mim mesma. Que contas Vos hei-de dar, meu Deus, a Vós, de quem tudo recebi a
quem nada dei e nada tenho para dar. Triste confusão a minha! Poderei viver sem
sofrer e sem amar O meu Jesus? Oh! não, não posso sem isso a vida seria para
mim já um inferno. Ó Jesus aceitai para Vós o meu sofrimento e mesmo sem sentir
amor fazei que Vos ame, deixai-me enlouquecer por Vós. Os espinhos nascem para
mim, noite e dia, como noite e dia nascem e crescem as flores dos campos e
jardins. Por todos os lados os sinto e vejo a ferirem-me. Eu quero-os e amo-os,
mas desfaleço em recebê-los; recebe-os como mimos do Céu, como carícias de
Jesus. Pressinto que novos e agudos espinhos alguém prepara para me cravar;
parece-me ouvir o rumor de nova tempestade. Levantam-se contra mim novas ondas
furiosas. De novo me estendo na cruz; deixo-me crucificar à semelhança do meu
Senhor.
O demónio
atormenta-me com dúvidas que sem a força do Céu seriam um desespero. Aparece-me
em formas feiíssimas e, por vezes, abre-se todo o inferno com todos os seus
sofrimentos para me receber. Numerosas feras infernais correm para mim com todo
o seu furor. Ó meu Deus, parece-me que todo o mundo é inferno, que todo o mundo
é pecado, que todo o mundo tem a malícia e a maldade do demónio. O maldito
instrui as almas em grandes crimes.
Na tardinha de
ontem, avivou os sofrimentos do meu corpo, que eram enormes, a visão, a visão
do Calvário. Dentro de mim, vi Jesus, depois de morto, ser descido da cruz e
ser posto nos braços da Mãezinha; vi os Seus olhos agoniosos, senti o Seu
coração trespassado; senti e vi o caminho com que Ele O estreitava e limpava o
sangue e o pó das Suas feridas. Todo o Calvário se mexia, as pedras estalavam e
faziam grandes fendas. Esta agonia e sofrimentos tão dolorosos preparam-me o
Horto; e lá fui para ele; lá se me rasgaram as veias, suei sangue e vi o
cálice. Jesus foi que o levantou e ofereceu ao Pai, cheio de amargura. O solo
estremeceu e com todos os ramos das oliveiras. Debaixo de cruéis maus-tratos,
deixei-o para ir para a prisão. E hoje, num canal de sofrimento, como se fosse
uma prensa fui subindo as ladeiras do Calvário. Senti as cordas na cintura e no
pescoço; cortavam-me, feriam-me. Vi Jesus a ser despido e, neste momento, o Seu
rosto divino ficou como que incendiado; levantou ao Céu os Seus olhares e
baixou-os, depois, em profunda tristeza e grande vergonha. Vi, junto à cruz, a
escada, pela qual Jesus havia de ser descido; vi o lençol onde Ele havia de ser
embrulhado. Jesus, antes de expirar, viu a cena comovedora, ao ser depositado
nos braços da Mãezinha; viu os Seus carinhos e lágrimas, viu as espadas que A
feriam, viu-A em igual dor e agonia. Quando expirou, o Seu espírito voou como
pomba de todas as Suas chagas saíram raios de luz como sol por frestas. Quando
o Seu espírito divino voou foi-Lhe aberto o coração. Senti a Sua grande prova
de amor e que Ele nada mais podia fazer por nós. Pouco depois, de novo vivi com
Ele.
― Minha
filha, Minha filha, um coração puro, um coração abrasado, com a mistura da dor
alcança do Meu divino Coração tudo quanto Lhe pedir em benefício das almas,
isto não falando em outras graças. Assim és tu, vítima poderosa, sem seres
igualada. Não és igualada na dor e também o não és no poder. Eu tenho em Minhas
divinas mãos o teu martírio com todo o teu amor; sou Eu mesmo a colocá-lo como
escora firme a sustentar o braço do Meu Eterno Pai, para não cair sobre o mundo
culpado a castigá-lo. Podia dizer-te, esposa querida, que ele cai e cai sem
remédio, por não virem a mim, seguindo a Minha divina voz. Não quero fazer-te
tal afirmação, para não entristecer-te.
― Meu Jesus,
meu doce Amor falardes-me assim é dardes-me a certeza do que nos espera; bem
sinto eu que nada Vos dou e de nada valem os meus sofrimentos.
― Coragem,
coragem, Minha filha, parece que nada Me dás, porque já tudo tenho em Meu
poder. Sentes que nada valem os teus sofrimentos, porque, sofrendo Eu, em ti
tomo-os como meus; e, para maior sofrimento teu, nada em ti deixo aparecer.
Confia em Mim. Todo o teu martírio, em união comigo, forma os selos com os
quais selo as almas e as deixo com o sinal da salvação. Confia, vítima amada,
se não acudires aos corpos, as almas são sempre de salvação. O que vale a tua
dor e o teu amor com o Meu! Coragem, vítima generosa, vítima de dor e amor. Vê,
Minha querida, o Mendigo divino a estender para ti o braço, a pedir-te a
esmola. A taça, em que a vais deitar, foi feita do ouro do teu martírio. Os
espinhos, que a rodeiam, foram feitos das pedras preciosas das tuas virtudes; é
a taça das almas, é a taça da salvação. Dá-Me a esmola, dá-Me a esmola. Só uma
alma e um coração puro podem combater com Satanás e reparar-Me das maldades e
crimes a que ele leva as almas. Como prova do teu amor, da tua generosidade,
vou dar-te, em breves dias duas felizes novas que vão ser de alegria para o teu
coração e para mais alguns dos que te rodeiam. Se o mundo bem compreendesse as
Minhas maravilhas em ti e o valor do teu sofrimento, ter-te-iam suavizado o teu
calvário e o daqueles que escolhi para te ajudarem a subi-lo.
― Meu Jesus,
meu Jesus, peço-Vos força e amor. Sobre essa taça me coloco, sacrificai-me
Jesus, imolai-me como Vos aprouver. Jesus retirou a taça doirada, cercada e
adornada de belos espinhos.
― Vou dar-te
ainda, Minha filha, a gota do Meu sangue divino; recebe que é vida, a vida do
Céu, a vida de que vives. Recebe ara sofreres, recebe que é para viveres e para
dares a vida às almas. É o Meu sangue com a tua dor e amor que lhes dás a vida
e mais ainda faz com que Eu por muitos seja amado, o que não seria sem ti,
Minha esposa querida.
Jesus uniu logo
os nossos corações, e, logo que caiu a gota do Seu precioso sangue, desuniu-os
e deixou por algum vir do Seu lado aberto para o meu peito fortes chamas de fogo.
Com as Suas divinas mãos cerrou a abertura do Seu peito e disse:
― Trabalho
em ti como quero, faço do Meu divino coração e do teu o que Me apraz. Vai levar
a vida às almas, esta vida que é a verdadeira vida. Vai levar a todos o Meu
divino amor, mas mais, muito mais aos que mais te amam, aos que mais de perto
te rodeiam. Amar a Minha vítima é amar a Mim; cuidar dela é cuidar de Mim.
Coragem! Vai em paz, vai em paz.
― Obrigada,
meu Jesus; um eterno obrigado, meu amor! São tantos e tão grandes os meus sofrimentos
que mesmo no meio das minhas negras trevas obriga-me a dizer: para ditar tudo o
que fica dito, vi aqui só a mão e a força de Jesus com a luz do divino Espírito
Santo; sem isto nada teria dito. Ó meu Jesus, ó meu Deus, quanto sofre a mais
indigna das Vossas filhas; e só vê nela miséria e nada mais! Dai-me graça,
dai-me perdão para as minhas culpas e para as do mundo inteiro.
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